Aquela manhã de terça-feira começou muito agitada, o campus inteiro comentava sobre a nova aluna do curso de Ciência da Computação que chegaria naquele dia. é o nome da nova aluna. Mas, por que essa agitação toda? Simplesmente por se tratar da mais famosa jogadora de beisebol da província. Além, é claro, de uma excelente programadora de jogos. Ela fará parte do time misto da universidade, por isso todo esse alvoroço.
Há muitos boatos a respeito da vida de , uns bons e outros absurdamente exagerados. Um exemplo, é que espalharam pela província que namorava todos os companheiros de equipe por onde ela passava, incluindo as mulheres. Isso nunca a incomodou, ela até já confirmou esse boato, apesar de ser mentira, só para pararem de persegui-la com perguntas descabidas. é o tipo de garota que não se dá por vencida e não se deixa enganar nunca.
A paixão da moça pelo beisebol vem do berço. Seu pai foi um grande arremessador da província onde morou, hoje, o falecido sr. é considerado uma lenda do esporte. Desde muito nova, brincava com o pai de arremessar as bolas no grande campo de beisebol do time que seu pai jogava. Ia a jogos, aos treinos, nos fins de semana em casa também jogava com o pai. Sua técnica de arremesso é uma das melhores da região, quem sabe a melhor. A prática do esporte exige muito treinamento, agilidade, condicionamento físico e precisão dos jogadores. O que nunca foi um problema para ela. Além de ser pitcher (arremessador), a moça também é rebatedora.
— Olha lá, é a ! — Comentou um dos alunos que a via caminhar pelo caminho que dava no campo de beisebol.
— Ela é muito mais bonita pessoalmente. Algum dia irei namorar com ela — disse o outro rapaz, convencido, arrancando risadas de seu amigo.
estava com seus equipamentos próprios, todos presentes de seu pai, que lhe deu antes de morrer de uma doença fatal há dois anos. Essa é uma lembrança dolorida na vida da moça, que evita ao máximo falar sobre.
A chegada da garota no campo de treinamentos ao ar livre foi um verdadeiro acontecimento. Parecia dia de jogo: os murmúrios dos jogadores mais novos que se cutucavam para ver a moça mais de perto, os olhares invejosos das team-leaders que já sentiram-se ameaçadas pela beleza e destreza da novata, o olhar de admiração da comissão técnica que foi só elogios à moça. E por último, o olhar dos jogadores do time misto, que curiosamente, não tinha nenhuma mulher na equipe, até então.
— Boa tarde a todos! — disse, educada e tirou a mochila, onde leva seus tacos e suas bolas preciosas, das costas e apoiou no pé esquerdo.
— Seja bem-vinda srta. ! — Disse o treinador, sorridente.
— O prazer é meu em estar aqui — devolveu a gentileza, também sorrindo.
— A senhorita tem algum compromisso agora?
— Só o beisebol — alguns jogadores e membros da comissão técnica riram, menos dois deles. Foi justamente isso que chamou a atenção da moça.
— Então, vamos treinar! — decretou o treinador, tão empolgado quanto um jogador estreante.
— Vou apenas me trocar. Já volto, treinador. Ah, me chamem de , está bem? — todos concordaram e ela foi até o vestiário que tinha ali perto se trocar.
Após mudar de roupa, voltou para o campo, com um taco apoiado no ombro e uma bola nas mãos, que ela arremessou para cima e catou de volta sem ao menos olhar. Alguns jogadores não deixaram de olhar para a silhueta sensual da moça, alguns olhavam e desviavam o olhar quando percebiam que os encarava séria. Ela, ao contrário do que fofocavam por aí, não gostava de brincadeiras na hora de treinar ou jogar. Se o assunto é beisebol, sempre dará cem por cento de si e quer, no mínimo, que seus companheiros de equipe façam o mesmo. O treinador sabe da fama da moça de ser boa rebatedora e arremessadora excepcional igual a seu pai.
Hoje, no primeiro dia de treinos com a nova equipe, o treinador quis mudar algo: colocou como rebatedora no lugar do atual. O rapaz odiou ser substituído. Xingou muito e quase saiu do treino, mas foi convencido pelo melhor amigo a ficar. Após o treino, ainda furioso, o rapaz foi confrontar a moça no vestiário.
— Quem pensa que é, ? — gritou ele, ao entrar no vestiário de uma vez, assustando a moça que ainda não tinha trocado de roupa.
— Primeiramente, quem é você? Segundo, não vê que irei trocar de roupa? Ou seu pai não lhe ensinou bons modos? — sem se intimidar, o encarou. O rapaz chegou mais perto, quase encostando seu nariz no rosto da moça.
— — ele disse o próprio nome, sibilando e concluiu: — e você roubou minha vaga no time, . Vai ter volta!
— Hm, … — disse ela, pensativa. — Você sabe que foi apenas um treino, não sabe, -chan? – o rapaz sentiu seu corpo estremecer de raiva. Ele sentiu a ironia transbordar da fala dela.
— Eu sei.
— Então, também sabe, que isso não é definitivo. Mesmo assim, caso queira, lute pela sua tão preciosa vaga como rebatedor. Eu posso jogar como arremessadora também — ela sorriu ao fim da frase e ele tremeu os lábios ao falar:
— Eu também sou arremessador.
— Oh, então roubei sua vaga duas vezes. Interessante! — zombou ela e riu. ia fazer uma besteira, quando seu amigo o puxou para trás.
— Hey, vamos nos acalmar, ok? — falou o rapaz, empurrando para trás. — Está tudo bem aqui?
— Está. — respondeu , sem tirar os olhos de que também a encarava, de repente, ele sai do local furioso. — Parece que seu amigo está irritado demais para conversar. — provocou .
— Não liga para ele. Ser do time é importante para o — ele sorriu e estendeu a mão para ela. — Sou o , sou o catcher (apanhador). Prazer, srta. — ele disse muito educado.
— Um catcher!? Fascinante! Teria sido também caso não fosse totalmente influenciada pelo meu pai. — ambos riram, divertidos — Prazer, , pode me chamar de , por favor.
— Está bem, .
se mostrou ser diferente de . Mais gentil, mais educado, mais bonito… bonito? Mas, por que ela pensou justamente nessa qualidade? também é bonito…
Bom, ignorando os pensamentos sobre os rapazes que acabara de conhecer, terminou de se arrumar, após a saída de , e foi para sua casa. Ainda tinha muita coisa para ela conhecer sobre os rapazes, mas isso ela não faz ideia.
[⚾]
— Eu não gosto dela, !
Era a vigésima sétima vez que repetia a mesma frase, andando de um lado a outro do fundo da sala de aula onde ele e o amigo estavam, aguardando a aula seguinte que seria em quinze minutos. brincava com uma bola de beisebol, jogando ela na parede e apanhando de volta. Fazia isso como uma espécie de treinamento.
— Ela é muito arrogante! Fica se exibindo só porque é filha do pai dela! — ainda bravejava, irritado.
— E ela seria filha do tio dela, por acaso? — Questionou , rindo.
— , cala essa boca! — riu ainda mais da reação do amigo.
Dias haviam se passado e já era a queridinha do treinador, jogadores do time de beisebol e dos professores de seu curso. Todos sempre traçando elogios para a moça. se irritava só de ouvir a menção do nome da moça e sempre ria dessa reação dele.
[⚾]
Meses se passaram e o time de beisebol preparava-se para a grande competição interescolar que haveria no fim do mês. A convivência de todos no time estava mais harmônica. O treinador praticamente obrigou a parar de birra toda vez que ia treinar. Resolveu deixar de rebatedor e de arremessadora, só para evitar as brigas constantes entre os dois atletas. Hoje, consegue trocar duas palavras com a moça sem xingá-la mentalmente. Ele até está começando a achar ela interessante.
— O que te fez mudar de ideia? — Questionou ao amigo, ambos estavam no vestiário. Haviam chegado mais cedo para treinar.
— Acho que o fato dela parar de se gabar por causa do pai. — respondeu enquanto vestia a calça do uniforme.
— Cara, literalmente, nenhuma vez eu a vi se exibir por causa do pai. — Rebateu .
— Para mim, eu só conseguia ouvir ela falar o quanto era boa no que faz!
— E é alguma mentira?
— Ah, , você está insuportável hoje! — riu e levantou-se, indo na direção da porta. — Aonde vai? — Perguntou , curioso.
— Esqueci uma coisa na sala, já volto.
nem se deu ao trabalho de explicar mais, apenas saiu e largou sozinho. Correu pelo campo em busca de seu objetivo. Objetivo este que ele havia desistido, mas, após a mudança de ideia de , fez o rapaz se alertar a não perder a oportunidade. Seus olhos, sempre atentos, como os de uma águia que caçam sua comida, buscavam a figura de entre as pessoas do campus. entrou no prédio de Ciências Exatas e correu pelos corredores ainda vazios. Ao longe, viu descer a escada com seu taco às costas. Ela brincava com uma bola de beisebol, jogando-a para cima e a catando de volta. Distraída, a moça não notou a presença dele ali.
— ! — Ele disse, lhe chamando a atenção. catou a bola uma última vez e encarou .
— , oi… está tudo bem? Sua cara está estranha. — sorriu e suspirou ofegante.
— Eu vim correndo. — disse ele, arfando.
— Notei. Então, quer falar comigo?
— Sim, preciso te fazer uma pergunta. — Ele tomou coragem e falou, após ela sinalizar com a cabeça que ele poderia perguntar. — Quer sair no sábado à tarde?
— Hm, sábado… — pensou ela e sorriu — Sim! Quem mais vai?
— Só nós dois, … — respondeu ele, um pouco sem jeito, com a mão na nuca.
— Ah — ficou pensativa, de repente, e quis saber ler mentes só para saber o que se passava na mente dela naquele momento. — Eu não sei, , nós…
— Achei que você aceitasse o convite de todos os caras… — pensou, mas sua boca transmitiu esse pensamento. Quando notou que havia falado alto demais, ele se arrependeu. O olhar irritado de quase o queimou vivo.
— O quê?! — Bradou ela, irritada.
— Não! Nossa, perdão, . Fui babaca, me perdoa! — Sem dizer nada, dá um forte tapa na cara dele, que cambaleia para trás.
— Não sabia que você era um babaca, !
— Eu mereci… desculpa. — o rosto dele ardia pelo tapa que levou. "Nossa, ela é forte!", pensou o rapaz.
— Ainda bem que sabe. Não fala comigo!
saiu furiosa com a atitude dele. Como pôde falar aquilo?! Quem ele pensava que ela era? seria capaz de esmurrar a cara do primeiro que lhe provocasse. A raiva de a fez andar na direção ao vestiário, sem nem perceber. Não percebeu também os gritos de , tentando chamar sua atenção.
— ! Meu Deus, , você está vermelha. Está com febre? — disse e aproximou a mão para verificar a temperatura da moça. Antes da mão do rapaz encostar na testa dela, a estapeou. — Calma! O que aconteceu?!
— Não encosta em mim! Estou com raiva! — Bradou ela, arrancando uma risada do . — Qual a graça, ?
— Sua cara de louca… hilário!
— Imbecil! — ergueu o braço para bater nele, mas o segurou a tempo.
— Hey, calma! — os corpos de ambos ficaram muito próximos. pôde sentir o perfume dela bem de perto e os batimentos desnorteados de seu coração se confundiam com os dele. — Vamos sair juntos, ? Só nós dois. — ele fez o pedido que afirmou que faria. Aliás, esse foi o motivo do surto repentino de em chamá-la para sair.
— Não — respondeu ela, não muito certa de sua resposta. Ela não queria mesmo sair com ?
— Por que com todos e não comigo? — Novamente a mesma pergunta que fazia seu sangue quase estourar suas veias, tremenda era a raiva que ela sentia ao ouvi-la.
— Você é igualzinho ao ! — deu um tapa tão forte em quanto o que deu em . O rapaz balançou para o lado e quase caiu.
Mais uma vez, saiu sem ouvir qualquer tipo de explicação. Foi direto para seu dormitório, não treinaria mais hoje. Não queria ver a cara dos dois idiotas que a ofenderam dessa forma, repetindo uma afirmativa que nem verdadeira era. Uma fofoca que inventaram sobre sua vida amorosa. Jogada na cama, se permitiu chorar e desabafar o que estava acumulado há meses. Sua amiga e companheira de quarto a consolava, enquanto chorava ouvindo sua música favorita. Música essa que ela encontrou há meses, por acaso, na internet. Não sabe quem é o autor, mas sabe que ela toca fundo em sua alma. Parece que o compositor dela a conhece tão profundamente que chega a lhe dar medo. Claro que a música não poderia ter sido feita justamente para ela, mas ela gostava de pensar assim. Do cantor e compositor misterioso ela sabia apenas seu usuário: "".
— ! , apareça, sabemos que está aí! — a voz de estava baixa, mas audível. Certamente, ele estava abaixo da janela do dormitório.
— Vamos lá, ! Queremos pedir desculpas! — Dessa vez, a voz ouvida era do . — Deixa a gente explicar, por favor!
Sem pensar, levantou-se de repente e foi ao banheiro. Pegou um balde e o encheu com água. e ainda gritavam por ela, pedindo que ela descesse ou aparecesse na janela. resolveu atender ao chamado deles e apareceu na janela. Antes deles esboçarem felicidade ao verem a moça, jogou toda a água em cima dos dois, que gritaram de susto e irritação. jogou o balde no chão e sentou-se na cadeira em frente à escrivaninha. Bufando de raiva, ela girava a cadeira, batendo os pés no chão.
— !!! — gritou. ignorou e respirou fundo. Sua vontade era de ir ao banheiro encher o balde novamente com água. — Eu preciso te mostrar algo…
— Ouve o que o tem para te mostrar, ! — Gritou , apoiando o amigo, ambos encharcados. — Canta, cara. Ela está ouvindo, com certeza. — encorajou o amigo que respirou fundo e começou a cantar, na capela.
mal conseguiu crer. Aquela era a música que estava impregnada em sua mente nos últimos meses? Sim, era. também a conhecia? Não seria tão difícil, já que a música está na internet para qualquer um ouvir. Na melhor parte da música, sentiu que choraria.
"...Dentro do meu coração está acontecendo uma revolução
Vamos jogar o jogo do sério, quem rir primeiro, perde
Ainda não estou dando tudo de mim, mas a verdade é que
por algum motivo já estou sorrindo..."
não se segurou, precisava confrontar . Ela sentia que ele era o "". É uma loucura!!! Porém, quer que seja verdade. Desceu as escadas do dormitório correndo e, quando saiu, pôde ouvir melhor a voz do rapaz e ver o estrago que o balde de água jogado por ela havia feito com ele.
"...Não há ninguém nesse mundo que pode viver sem se machucar
E para aqueles que conhecem essa dor, amem mais a si mesmos…"
Ao ver a parada o observando, parou de cantar e a encarou. Ela aproximou-se dele, suas mãos tremendo, os lábios também, mas firme e direta foi a pergunta feita por ela.
— " "? É você? — ainda a encarava, receoso em ser rejeitado por ela.
— Sim — respondeu ele, engolindo em seco. Algumas gotas d'água ainda pingavam de seus cabelos e passavam na frente de seus olhos. — Há alguns meses eu escrevi essa música para você. Eu não sabia se algum dia teria coragem de dizer o que eu sentia, então resolvi escrever e gravar essa canção. — ainda tremia, emocionada, ouvindo atentamente o relato do rapaz. — Eu não queria me envolver tanto assim com alguém que eu nem sei se sente algo por mim. Eu estava tão inseguro em te mostrar essa música, em revelar o que eu sinto que acabei demorando tempo demais… — num impulso, chega perto dele e o abraça, ainda sem tirar os olhos dele. As gotas de água ainda pingavam e a roupa encharcada dele agora molhava a dela. A moça encostou sua mão no rosto dele que sentiu o calor emanando dela.
— Eu gosto de você, — um sussurro foi o suficiente para transmitir o sentimento dela. Mais que isso, só o beijo que ela deu nele em seguida. Um beijo literalmente molhado.
Depois de se beijarem, e ficaram abraçados por um tempo. já havia deixado o local, ele sabia de toda a história e sentimentos do amigo. O convite para sair com ele foi apenas a maneira que ele encontrou de dar uma injeção de coragem no amigo. E deu certo.
De repente, começou a chover. Não se importando com as gotas de chuva que os molhavam, o mais novo casal do campus se manteve parado e abraçado. Outro beijo, na chuva, completou a estada deles ali. Logo, subiram até o dormitório dela, escondidos do segurança, já que aquele era o dormitório feminino, e entraram no quarto dela. emprestou uma camisa de seu irmão, que por acaso ela tinha roubado de seu guarda-roupas, e uma calça de moletom junto com um casaco para se trocar.
Já limpos e aquecidos, os dois conversaram sobre os sentimentos que cultivam um pelo outro. Deixando de lado as incertezas que esses sentimentos lhe traziam, e se expuseram por completo e resolveram iniciar um namoro. Afinal, mesmo com tais incertezas, ambos só queriam ter a oportunidade de serem felizes e, serem a felicidade na vida do outro, era perfeito para eles.
"Isso é o amor, amor, o amor supremo
Baby, está tudo bem
Meus olhos refletem um mundo brilhante
Hoje a noite você vai dar boa noite ao passado tedioso
E para essas incertezas que fazem seu coração tremer." Ai ai ai ni Utarete Bye bye bye, FLOW
Fim.
Encontrou algum erro de script na história? Me mande um e-mail ou entre em contato com o CAA.
Nota da autora: Mais um bebê nasceu!
Essa música é uma de minhas favoritas da FLOW, quando vi esse clipe (lá por agosto de 2020) eu pensei na hora nesse plot, porém nunca escrevi. Sempre "empurrei com a barriga", mas dessa vez saiu! E saiu do jeito que pensei inicialmente.