Como Dói Te Amar


    Autora: ClaryBluex
    Beta-Reader: Aurora
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Última atualização: 26/09/2024
Capítulos: 01 | 02 | 03


Stratford, Setembro, 2015.



Ao abrir os olhos naquela manhã de primeiro de setembro, eu sabia que o inferno ia começar na minha vida. Só não imaginava que ia começar tão cedo.

Quando me dei conta da data, desejei ter morrido dormindo. Minha paz interior ia acabar assim que pusesse meus pés no chão.

Suspirei fundo. Captando as vozinhas dos meus irmãos, Jazmyn e Jaxon conversando no corredor com algum adulto. Minha mãe, talvez.

Lembre-se de contar até dez e respirar fundo.

O mantra da minha psicóloga, Karin, me veio à mente.

Eu tinha que enfrentar isto, mesmo que eu não quisesse. Eu tenho que enfrentar Justin, mesmo que seja muito doloroso.

Contei até dez e afastei o cobertor que me enrolava da minha cama king zise.

Eu tinha mesmo que fazer isso? Poderia pedir para meu pai me levar para a casa de Hannah, minha melhor amiga e ficar até lá, até Justin ir embora de novo. Mas, é claro que isto nunca iria acontecer, minha mãe ia estranhar e iria perguntar o porquê eu estava fugindo do meu meio irmão mais velho.

Meio-irmão.

Essa palavra foi o meu tormento durante todo o final do ano de 2014, e até agora.

E hoje. Tudo iria acontecer de novo, assim que eu olhasse para Justin. Ele deve estar numa situação melhor que a minha, é claro. Porque ele nem deve se lembrar o que houve entre nós. Ele estava bêbado e drogado… bem, eu dizia isso para mim mesma, mas Justin falou o contrário.

Ele queria que tivesse acontecido.

Me olhei no espelho ao entrar na minha suíte, ignorando sua maldita voz rouca da minha mente. Odiei a imagem do meu eu naquele espelho. A minha vontade era de quebrá-lo com um soco e me machucar.

Sangrar até a morte seria ótimo.

Mas apenas lavei meu rosto e passei o fio dental. Não gostava de escovar os dentes antes do café da manhã, mas também não gostava de ficar com mau-hálito. Limpei a boca e lavei os olhos também. Fiz um coque solto no meu cabelo e até pensei em mudar de roupa, mas o moletom preto e o meu shorts de pijama já estavam suficientes.

Justin não merecia mais nada de mim. E ele deveria saber disso, pois o ignorei o verão inteiro.

Oh, Maya. Ele deve estar tão puto com você.

Suspirei fundo e me preparei para ir à cozinha.

Assim que cheguei no recinto, logo de cara já avistei minha mãe. Ela tentava fazer com que Jaxon, aquele pequeno menino louro e muito agitado, enfiasse o morango dentro da boca. Jazmyn, por outro lado, saboreava sua salada de frutas tranquilamente.

Como eu queria voltar a ser criança.

— Eu quero as panquecas da May! — A voz de Jaxon soou estridentemente pela cozinha quando ele direcionou os olhos para mim.

— Eu também! — Jazmyn concordou e começou a bater com a colher no caldeirão em forma de protesto.

— Não, crianças! — Minha mãe negou. Ela já estava bem atarefada e mal tinha acordado. — Panquecas da Maya hoje não!

Sorri e beijei meus dois irmãos na bochecha, rindo com a situação. Eu era especialista em fazer panquecas. E isto se tornou algo famoso em nossa casa.

— Bom dia, mãe. — A cumprimentei com a voz ainda rouca pelo cansaço. — Cadê o papai?

— Bom dia, meu docinho. Seu pai foi buscar o Justin no aeroporto. — Ao ouvir aquilo, meu coração começou a palpitar. Então, ele poderia chegar a qualquer momento.

— Então, mãe. Eu queria saber se posso ir passar uns dias na casa do vovô e da vovó. Você sabe, faz quase um ano que não os vejo.

Foi a minha última tentativa de me livrar de passar longe do meu irmão e de tudo aquilo.

Mas ao receber o olhar sério de minha mãe eu já sabia a resposta que teria.

— Não, querida. Agora não. O seu irmão quer que todos viajemos com ele no começo desta turnê. Então, vamos começar as nossas férias em família ao lado do seu irmão. Deixe seus avós mais para o fim do ano. Tudo bem?

Não estava tudo bem.

Suspirei fundo e apenas dei de ombros como resposta. Ia começar a preparar minha salada de frutas quando eu ouvi o barulho da porta da sala sendo aberta.

— O Justin chegou! — Jaxon anunciou todo alegre, e então ele e Jazmyn pediram para sair do caldeirão.

Eu derrubei o copo de minha mão de propósito. Foi uma desculpa para não ir para a sala cumprimentá-lo.

O barulho do copo quebrado assustou Jazmyn e Jaxon, e então minha mãe se apressou para tirá-los do caldeirão, enquanto ela me olhava desgostosa.

— Desculpa, mãe. Eu limpo — falei à ela, fingindo um tom de voz de culpa. A mesma concordou e levou as crianças para a sala.

E então, com a distração e sem me importar em deixar uma bagunça, fugi para o meu quarto, passando depressa para subir as escadas ouvindo os barulhos e a voz dele provavelmente esmagando Jazmyn e Jaxon em um abraço.

Quando eu estava no último degrau, me escondi entre a parede do corredor dos quartos e observei os cinco, junto com Kenny, o segurança da família, adentrarem na cozinha. Eu gelei quando o vi, mesmo que só através de suas costas passando por aquela porta.

— Ué! — Ouvi a minha mãe exclamar. — A Maya estava aqui até agora!

E foi o momento em que senti a maior vontade de chorar.

Corri para me esconder em meu quarto e foi lá que derramei minhas lágrimas com a porta fechada.

Mas a minha solidão não durou nem cinco minutos.

Jazmyn bateu na minha porta, gritando toda animada.

— Mimi! — Mimi era o meu apelido que Jazmyn me deu, já que quando ela era mais nova não conseguia dizer Maya com clareza. — Abre a porta. O boo boo chegou!

Boo boo era o apelido que Jazmyn deu a Justin quando ela começou a sentir muita falta dele. Ela só era uma bebê, mas entendia muito bem quando o irmão não estava presente em sua vida.

Engoli em seco e limpei o meu rosto com o cós do meu moletom. Não queria deixar nenhum vestígio de que havia chorado.

Contei até dez e abri a porta.

Não era nenhuma surpresa que ele iria estar com ela.

Ele me deu aqueles olhos caramelo e parecia muito magoado ao ler o meu rosto. Nossos olhares de mágoa se cruzaram, mas foi cortado com a presença de Jazzy, que me pegou em um abraço. Abracei a minha irmã, mesmo que ela só conseguisse chegar na altura de minhas coxas. Enquanto ela não enxergava o que estava a acontecendo em sua volta, eu e o Justin voltamos a nos encarar. Não pude deixar de notar o quanto ele estava diferente desde a última vez que o vi.

Seu cabelo louro estava mais crescido e dividido em dois lados pelo couro cabeludo. Estava mais forte. Sua mandíbula denunciava a ida à academia. E com certeza, havia feito mais tatuagem. Usava seu moletom favorito e calça larga, com os seus famosos supras. E estava deixando a barba crescer.

Porra. Por que ele tinha que ser tão gostoso?!

Ei! Você tem que odiá-lo!

Apaguei os pensamentos e deixei Jazzy se afastar.

— O que foi, Jazzy? Você quer entrar no meu quarto? — Foi uma forma de tentar não ficar sozinha com Justin.

— Que...

— Ei, Jazzy! — Justin a interrompeu. Senti calafrios em meu corpo ao ouvir sua voz tão perto, depois de meses. — Você disse que ia pegar uma coisa para mim? Que tal ir lá? Eu quero ver a sua surpresa.

Cretino!

— Não, Jazzy! Você pode ir depois! — A impedi.

Jazmyn intercalou um olhar confuso entre nós dois. Ela estava se sentindo muito perdida.

— Não, Jazzy — ele frisou em um tom impaciente enquanto me fuzilava com aquele olhar deprimente. — Você vai lá pegar o presente do boo boo, ok?

— Mas… — A pequenina olhou para Justin e apontou para dentro do meu quarto. — Eu quero ver o quarto da Maya!

— Eu tenho que ter uma conversa com a Maya, está bem? É uma conversa de adultos. — Justin a cortou.

Arregalei os olhos com a audácia de suas palavras. Minha irmã era tão inocente que nem notou a raiva com que Justin pronunciou essa frase.

Cruzei os ombros e me odiei quando Jazzy se afastou.

Agora era só nós dois.

— Vai me deixar entrar ou vai fingir que eu não existo?

Ele nem me deixou responder. Já que me enfiou com força dentro do meu próprio quarto.

— Ei! Isso não se faz! — Cuspi as palavras enquanto o mesmo trancava a porta do meu quarto. Droga. Por que eu tinha que ter o costume de deixar a chave na trinca?

Eu nunca vi o meu irmão tão bravo quando ele decidiu me encarar de novo.

— Você é a porra de uma criança, Maya?! — ele me questionou e eu podia ver sua veia se comprimindo por conta dele pressionar a mandíbula.

— Ah, Justin. Me erra, eu não te devo a porra de nenhuma explicação! — gritei.

— Me deve sim! Deixa de ser otária! Você tem sorte que eu não contei para a Erin que você me bloqueou no WhatsApp e na porra da dm do seu Instagram! — ele elevou o tom de voz e eu torci para que ninguém do andar de baixo ouvisse.

— E o que isso ia adiantar?! Qual a explicação que você daria para a minha mãe?! — esbravejei — Ah, com licença, Erin. Eu estou tentando falar com a sua filha, mas ela me bloqueou. É urgente. Eu estava drogado e acabei a beijando!

Levei um susto quando meu corpo foi pressionado com força em seu peito. Justin tinha se esgotado. Ele me pegava pelos meus bíceps com muita força. Como se quisesse me machucar.

— Quantas… — ele deu uma pausa e suspirou fundo antes de continuar. — Eu tenho que te dizer que eu não estava drogado!

— Me solta! Você vai me machucar! — rosnei com ódio.

— Dane-se, caralho! Eu quero que você me responda! — pediu no tom mais grosso e rude que só Justin Bieber sabia dizer.

— Fala baixo, seu idiota! Você quer que eles ouçam?!

— Eu não estou nem aí! Você me ignorou a porra do verão inteiro! Eu quero mais é que eles saibam de tudo!

— Do quê?! Que você voltou a fumar drogas de novo? Que a porra da sua reabilitação não adiantou de nada?! — O provoquei — Você é um fraco, Justin Bieber!

Não devia ter dito essas coisas, pois Justin me empurrou em direção da cama, mas ao invés de bater no colchão, eu acabei caindo com tudo no chão.

Senti uma dor horrível quando minha nuca bateu com a parte sólida da minha cama.

— Ai! — Não aguentei a dor e comecei a massagear o local.

— Maya, me descul...

— Vai se foder, Justin Bieber! — gritei com toda a raiva que os meus pulmões pediam. — Você acabou de me machucar!

— Maya, eu não queria. Por favor, vamos conversar. — Justin implorou, desesperado. Ele se agachou ao meu lado e tentou pegar a minha mão, mas eu o afastei.

As lágrimas começaram a rolar em minhas bochechas. Justin me olhou com muita culpa e dor.

— Eu não quero conversar com você. Me deixa em paz, por favor. Você me machucou desde que me beijou e foi embora. Só me deixa sozinha. Eu não quero mais ter que te olhar, por favor.

— Maya... Não! Eu não voltei por voltar. Eu voltei porque eu vim para ficar com você!

Para a minha surpresa, Justin é quem começou a chorar.

— Por que isto aconteceu com nós? É tão errado, mas eu não sei. Eu simplesmente me... — ele começou a falar.

— Não diz essas palavras, por favor! — implorei.

Justin engoliu em seco e pude ver seu pomo de adão descer e subir em sua garganta muito rápido. Isso demonstrou que ele ficou desconfortável.

Ele suspirou fundo e limpou o rosto com as mãos.

— Tudo bem. Eu vou te deixar em paz, mas quero que saiba que eu t...

Batidas na porta interromperam sua fala. Eu e Justin paralisamos no lugar.

Estávamos ferrados.

— Ei, Justin! Peguei o seu presente! — A vozinha de Jazzy soou do outro lado da porta.

Justin se levantou, mas não deixou de me olhar profundamente. Eu desviei o meu rosto e isto bastou para que Justin se afastasse.

Ele abriu a porta do meu quarto.

— Ei, Jazzy! Você realmente trouxe o meu presente.

E então cruzei os braços, rezando a Deus para que esse pesadelo acabasse.

Mas era só o começo.






One Less Lonely Girl


Justin foi embora com Jazzy para o andar de baixo, assim que nossa discussão foi encerrada.

Senti meu coração palpitar em minha garganta, ainda não acreditando que tudo aquilo tinha acontecido.

As palavras de Justin machucaram o meu coração em uma facada. Era por isso que eu não queria ter que ficar aqui. Não queria ter que ouvir essas coisas e ainda por cima brigar com ele.

Eu odiava tudo isto! Eu me odiava!

Peguei o meu celular e cliquei na minha conversa com a minha psicóloga.

Precisava desabafar urgentemente.

“Ele voltou e já me destruiu. O que eu faço?”

Eu sabia que Karin ia demorar para me responder, então decidi me preparar para a próxima confraternização em família, desanimada.

Fui até o banheiro e tomei um banho. Enquanto a água caía em meu corpo, tentei esquecer a imagem de nós dois juntos se beijando naquela água.

Exatamente como foi da última vez.

Me ensaboei tanto que minhas mãos ficaram enrugadas, mas era para tirar a sensação horrível que subia em meu corpo e as imagens de Justin na minha mente. Era uma batalha crucial e impossível.

Passei o shampoo e o condicionador com o cheiro de erva doce que eu tanto amava, então, finalizei o banho. Me enrolei no roupão branco e dei um suspiro de alívio ao ver o quanto o meu rosto estava melhor do que ao acordar. Para tentar melhorar a minha autoestima, fiz uma pequena e rápida limpeza de pele com produtos de skincare, água micelar e água tônica. E isso já era o suficiente.

Como já tinha certeza de que iríamos sair para fora de casa, passei um corretivo nas imperfeições de meu rosto e fiz um rápido e delicado delineado nos olhos. Não ficou perfeito, mas deu pro gasto.

“Eu odeio quando você passa essas maquiagens. Você não tem nenhum defeito. Eu amo olhar para o seu rosto do jeito que ele é.”

DROGA, JUSTIN BIEBER!

Por que você tem que me atormentar tanto?!

Respirei fundo e decidi me aprontar rapidamente. Deixaria secar o meu cabelo na luz do sol mesmo. Pouco me importava se ele estaria com pontas duplas ou bagunçado.
Troquei de roupa. Escolhi um vestido de malha florido azul. As florzinhas eram amarelas, o que mesclava perfeitamente com a cor azul do vestido. Calcei minhas botinhas marrons e peguei uma jaqueta jeans.

Eu não tinha tomado café da manhã direito, mal toquei em minha salada de frutas, e como consequência, meu estômago roncou. Dane-se. Preferiria desmaiar de fome e ficar no hospital.

Me preparei mentalmente para sair do quarto.

E então desci.

Tive vontade de vomitar quando encontrei todos eles sentados no sofá. Justin se sentava ao lado de Jaxon e Jazmyn e fazia cócegas em ambos.

Fui pega de surpresa quando Kenny me pegou em um abraço.

— Nossa, Maya! Você está crescendo muito rápido! — ele exclamou animado entre o abraço.

— E você fica mais assustador cada vez que te vejo! — brinquei e nos afastamos. Kenny riu.

— Eu tenho que ser assustador, né? — Zombou. — Como você está?

Veja bem. Eu não tinha uma resposta certa para isto.

— Bem. — Senti o choro enroscar em minha garganta e Kenny deve ter notado, pois franziu o cenho e eu mudei minha postura rapidamente. — Bem. Muito bem!

Kenny arqueou as sobrancelhas, desconfiado.

— Aham. Estou vendo mesmo. — ele falou em um tom mais baixo.

— Bom, pessoal. Nós temos que encontrar o Scooter e o pessoal no teatro. Justin, meu amor, você está pronto para o show de hoje? — Erin perguntou a Justin. Toda a atenção foi para ele.

Justin, que estava conversando com Jazmyn e Jaxon, parou e confirmou com a cabeça.

Ele iria iniciar a turnê aqui em Stratford e depois íamos para os nossos próximos destinos. Era em cidades e países mais longes. Justin gostava de começar a turnê em cidades pequenas.

Mas eu não estava empolgada para nada. Nada de show. Só queria ficar sozinha.

Justin me olhou o tempo todo quando o carro da produção chegou em nossa casa e tivemos que sair. Mas o ignorei. Sentei até do lado de Kenny na hora da viagem.
Meus olhos se arregalaram ao ver a fila de fãs que contornavam o teatro quando o carro se aproximou do evento.

Elas realmente o amavam e nunca precisariam esconder isso!

Me belisquei para aliviar a dor. Eu sabia que tudo só ia piorar.

Não consegui me livrar de Justin. Ele me puxou pelo pulso e nos colocou dentro do seu camarim, assim que chegamos no backstage do teatro chamado “Stratford Festival”.

— Justin, para com isso! — gritei, irritada — O que eu disse sobre me deixar em paz?!

Ele suspirou fundo e ajeitou o microfone no ouvido.

— Por favor, não me odeie! Não posso fazer esse show sabendo que você não me ama! — droga.

Revirei os olhos. Eles umedeceram.

— Justin. É sério! Você não enxerga que isto não pode acontecer em hipótese nenhuma?!

Ele bufou, bagunçando ainda mais o cabelo.

— Nós não somos irmãos de verdade. Meu pai apenas se casou com a sua mãe!

— E temos o sangue do Jeremy circulando em nós!

— Para de armar desculpas, Maya! Não somos os únicos meio irmãos no mundo que se apaixonaram. Eu conversei com um casal que sofreu a mesma coisa que nós.

Gelei.

— Você fez o quê?! Justin! — lhe dei um soco de leve em seu ombro. Não na intenção de machucar, mas sim como uma advertência. — Não é para nos expor! Aì você vai e conversa com um casal aleatório sobre nós?!

— Eu os achei na internet. Eu precisava saber como eles lidaram com tudo isto!

— Dane-se! E se eles forem uns filhos da puta e espalharem que o famoso Justin Bieber está apaixonado pela própria irmã? Você não parou nem um minuto para pensar nisso? Justin, você não é um garoto normal, que merda! — gritei com fúria.

— Maya. Eu não estou nem aí. Eu te...

— Fica quieto. Não continue! — rosnei.

— Foda-se, caralho! Eu já cansei disso! — gritou de forma violenta, dando um soco na parede. Aquilo me assustou. Eu odiava quando ele reagia assim, como se estivesse perdendo o controle de tudo.

Antes que pudéssemos continuar a gritar um com o outro, a porta do camarim foi aberta.

Scooter, o empresário de Justin adentrou no recinto. Ele parecia um pouco desconfiado quando nos olhou.

Eu e Justin nos afastamos um do outro, um pouco ofegantes. Meu coração parecia que ia sair pela boca.

— Está tudo bem? Estavam brigando? — Scooter nos interrogou, muito sério.

— Não. — Eu tomei a frente para falar. — Eu só estava ensinando o Justin a lidar com o nervosismo. Disseram que gritar um com o outro melhora a energia — menti.

Que burra. Eu acabei de confirmar a hipótese de Scooter.

Justin soltou um riso debochado. Ele ia estragar tudo se não se controlasse.

— Certo — Scooter concordou, mesmo que não tão confiante daquilo. — Vamos, Justin. Você tem mais de quarenta e quatro mil pessoas lá fora te esperando.

Uau. O número de fãs de Justin crescia mais e mais, apesar de ele ter se envolvido em polêmicas que eu nem gosto de lembrar.

— Ok. Ahn, tchau — ele se despediu de mim, mas antes que fosse embora, o peguei pelo pulso.

— Boa sorte — eu falei com toda a sinceridade. Justin, por impulso, depositou um beijo delicado na minha bochecha.

Mas não foi o suficiente. Mesmo que Scooter estivesse nos vendo, Justin fez questão que nossos narizes tocassem como uma forma de conexão. Foi a minha vez de depositar um beijo na pontinha de seu nariz, o que o fez o sorrir aliviado.

— Eu te vejo mais tarde — e então ele se mandou.

Como eu já estava acostumada com o seu camarim, me sentei no sofá de couro preto que ele tanto gostava e abri o celular.

Havia mensagens de Hannah, mas decidi olhar depois, quando me aliviei ao ver a resposta de Karin. Cliquei na dela primeiro.

“Você precisa se ocupar. Que tal fazer um curso longe da cidade? Sei que você está de férias e vai começar o último ano em breve. Mas, é bom ter um curso em mente, assim você tem um motivo para ficar longe dele e eu sei que isso é doloroso, mas vamos trabalhar essa dor na próxima consulta.”

Era uma boa ideia. Eu só precisava executar.

“Obrigada, Karin. Vou procurar alguns cursos que eu gosto e vou me inscrever o quanto antes. Nos vemos na próxima consulta.

Conheci minha psicóloga assim que voltei para a casa, depois de todo o acontecido entre mim e Justin no verão anterior. Minha saúde mental ficou tão ruim, que em uma noite, eu acabei parando no hospital. Meus pais se assustaram. Aliás, todo mundo. Nós achamos que fosse só um susto, mas depois começou a se tornar frequente, ainda mais quando eles falavam sobre Justin. Não deu mais para aguentar. Minha mãe marcou uma consulta e então foi o momento em que eu pude desabafar tudo para Karin, mesmo que ela fosse uma desconhecida, mas eu podia confiar nela, já que era uma conduta de ética de seu trabalho. É claro que fiquei com medo de Karin passar a perna na gente e acabar expondo toda a situação na internet para ganhar fama, mas vi que ela era diferente quando, em três consultas, ela só me apoiou e nunca me denunciou.

Foi uma longa batalha, mas hoje eu estou bem melhor. Minha mãe nem imagina que é por causa de Justin que estou frequentando uma psicóloga e sim ela acha que é por conta de que eu não estou lidando bem com o final do ensino médio.

E é melhor que ela ache isso.

Ouvi a gritaria do lado de fora e eu sorri sabendo que Justin entrou no palco.

Ele começou com Sorry. Mas Na hora de What do you Mean, eu saí do camarim e fui para mais perto do palco onde se encontrava Kenny, Scooter e a estilista fabulosa e simpática de Justin, Alisson. Ela me pegou em um abraço amigável e, em seguida, Alfredo Flores apareceu. Ele me cumprimentou com um beijo na testa. Ele, como maioria da equipe, já fazia parte da família.

Justin tinha uma equipe que o amava mais do que tudo. E nós soubemos mais disso quando ele se envolveu com pessoas erradas. Agora nós enxergamos quem realmente vale a pena ter por perto, mas foi um sacrifício.

Os outros “amigos” de Justin o colocaram em situações de risco.

— Pessoal, por favor! — Justin começou a falar quando terminou a música. Eu olhei confusa para Scooter que também pareceu muito surpreso.

— O que ele está fazendo? — Kenny perguntou-me.

Dei de ombros.

— Já faz um tempo que eu não canto mais essa música — ele diz. Seu rosto já estava todo suado. Eu enxergava muito bem mesmo que no canto da entrada do palco. Havia dois telões que contribuíam também, mas nada como estar no backstage.

Essas quarenta e quatro mil beliebers dariam tudo para estar no meu lugar agora e eu me senti muito mal com isso. Queria poder dar essa oportunidade para todas elas.

— Eu acho que tanto eu como vocês sentem falta desse momento. Mas essa música hoje tem um significado muito importante, porque essa pessoa está hoje aqui comigo e eu queria presenteá-la e agradecer de certa forma, porque sei que ela queria estar com as amigas e longe de mim — ele brincou na última palavra, o que arrancou certas risadas da multidão.

Mas somente eu sabia o quanto ele estava sendo muito verdadeiro.

Até me tocar.

Oh, Deus. Ele estava falando de mim para essas milhares de pessoas!

A equipe toda olhou para mim e então Justin começou a cantar a primeira estrofe de One Less Lonely Girl. Se as beliebers já estavam exaltadas e gritando, elas com certeza perderam a voz.

How many I told you's and start overs
And shoulders have you cried on before?
How many promises be honest girl?
How many tears you let hit the floor?
How many bags you packed
Just to take 'em back tell me that
How many either or's (but no more)
If you let me inside of your world
There'd be the one less lonely girl

— Vai lá, Maya! — Alisson me empurrou para ficar mais para dentro do palco.

Congelei e me contorci. Um dos dançarinos do palco me encontrou e então veio em minha direção, o que arrancou mais gritos, se possível.

— Não, por favor! — implorei, sentindo meu estômago revirar.

Saw so many pretty faces (before I saw you you)
Now all I see is you
I'm coming for you (I'm coming for you)
No no
Don't need these other pretty faces like I need you
And when you're mine in the world

There's gonna be one less lonely girl(I'm coming for you)
One less lonely girl (I'm coming for you)
One less lonely girl (I'm coming for you)
One less lonely girl (I'm coming for you)
There's gonna be one less lonely girl (I'm coming for you)
I'm gonna put you first (I'm coming for you)

I'll show you what you're worth (that's what I'm gonna do)
If you let me inside your world
There's gonna be one less lonely girl

E foi na hora que eu não tive escolha. O dançarino pegou a minha mão e me levou para o centro do palco. As beliebers foram à loucura. Eu senti minhas bochechas corarem quando me aproximei dele.

Justin dançou mais um pouco solto, porém, se aproximou de mim e me pegou pela cintura em um abraço. Ele começou a dançar comigo, coladinhos um no outro.

Fiquei com tanta vergonha, que escondi o meu rosto em seu ombro. Eu o senti beijar o meu cabelo.

Christmas wasn't merry, fourteenth of February,
Not one of 'em spent with you
How many dinner dates set dinner plates and
He didn't even touch his food
How many torn photographs are you taping back
Tell me that couldn't see an open door

But no more
If you let me inside of your world
There'll be one less lonely girl
Saw so many pretty faces
(Before I saw you you)
Now all I see is you
I'm coming for you I'm coming for you

No no

Don't need these other pretty faces like I need you
And when your mine in this world

Ele afastou os nossos corpos e então pegou o meu rosto com as duas mãos. Eu admirei seus olhos e estava muito envergonhada para olhar para a plateia.

Ele fez uma brincadeira de me empurrar para trás, mas me pegou depressa rapidamente. Risadas e gritos ecoaram.

Eu só não esperava que, quando ele terminasse a última estrofe, ele tocasse os nossos lábios.

Ele me deu selinho! Um selinho na frente de todo mundo!

Tentei não ficar surpresa, mas eu o olhei chocada. O mesmo para ele enquanto lia o meu rosto.

Tomei coragem para olhar para a multidão e algumas pessoas na frente diziam algo como “owwn” e algumas beliebers ficaram tão vermelhas quanto eu.

Eu não acredito que ele me beijou na frente de todo mundo!

Justin terminou a música e todos gritaram. Eu não sentia mais nem as minhas pernas.

— Essa é a minha princesa, Maya. Um salve de palmas para ela, pessoal! — ele pediu e todas as pessoas seguiram sua ordem.

Então era assim que Justin Bieber se sentia no palco?

O mesmo dançarino que me trouxe, me ajudou a sair.

Fiquei vermelha feito um pimentão quando olhei para a equipe que me esperava do lado do palco.

— Essa foi a coisa mais linda que eu vi! — Alisson exclamou radiante. Ela era muito sorridente. A mais energética entre os meninos.

— E vai gostar de saber que está no trend topics do twitter — Kenny falou, o que atraiu a atenção de todos para ele.

Inclusive a minha.

Arregalei os olhos. Agora sim eu iria desmaiar.

— Como é que é?!

Era o meu fim e eu não estava preparada para isso.






Adeus, celular

“Justin Bieber beija sua irmã em seu show”

“Quem é Maya Bieber?”

“Selena Gomez e Justin Bieber podem voltar?!

“Maya Bieber e seu passado conturbado com o seu irmão, Justin Bieber”

Minha vida tinha virado do avesso. 360 graus em um segundo. Os comentários se referindo à minha pessoa e ao meu irmão mais velho se dividiam entre o lado bom e o lado ruim. Era como se fosse um labirinto sem saída.

Eu estava realmente no topo do twitter, como Kenny Hamilton havia dito. E eu não parava de ler os comentários.

“Ai, gente. Quanto drama. Foi só um selinho. Tantos familiares fazem isso e ngm nunca foi preso!”

“Eles não são irmãos de verdade. Então, não é um pecado”

“A TMZ adora crucificar o Justin! Agora vão crucificar a irmã dele, coitada!”

“Um selinho não é um beijo! Não é como se ele tivesse enfiado a língua na garganta dela, acordem!”

“Eu queria estar no lugar dela”

“Para de serem hipócritas! Eu mesmo se fosse irmã do Justin Bieber, faria coisa pior com ele! Ela tem é muita sorte. Aproveita, viu, Maya Bieber? Você tem um homão na sua casa!”

“Não tiveram a mínima consideração pela Selena. Gente, tá na cara que esses dois se pegam! Olha o jeito que ele pega ela na cintura! Olhou até pra bunda da menina, mas eu achei horrível fazer isso em um show com crianças e pais assistindo!”

“O Justin parece estar muito feliz longe da Selena. Fica com a Maya! Ela já está na família mesmo!”

“isso é nojento”

E só piorava.

Eu não conseguia mais olhar para aquilo. Tentei focar só nos comentários legais, mas foi muito difícil.

Meu telefone vibrou e eu congelei quando o nome da minha mãe piscou na tela.

Ela estava no backstage, só que em uma sala mais afastada por causa da Jazmyn e Jaxon. Eles precisavam dormir.

Ai, Meu Deus. Jaxon e Jazmyn. Será que eles viram? Meu pai… ele vai nos matar.

— É melhor você atender — Alisson sussurrou no meu ouvido, dando tapinhas de incentivo no meu ombro.

Justin estava para terminar o show. Eu voltei para o seu camarim, ficando aliviada por estar sozinha.

Retomei a ligação de minha mãe. Tremendo.

— Oi, mãe! — a cumprimentei, fechando os olhos, pronta para levar uma bronca daquelas.

— Querida, você está bem? — ela perguntou, docemente. Até estranhei.

— Como assim, eu estou bem? Você não está brava conosco?

— Oras, por que eu estaria brava com você?!

Senti que meu coração ia falhar. Não era possível que minha mãe não estava vendo a gravidade da situação.

— Mãe. O Justin me beijou! — proferi.

Minha mãe ficou em silêncio, mas isso durou muito pouco.

— Querida. Eu sei que você está muito nervosa, mas eu entendo o que Justin fez e o que você representa para ele. Não há motivo de estresse. É só um amor genuíno de meio irmãos, não é como se vocês dois estivessem cometendo o maior pecado do mundo. Só vê malícia quem quer. Eu sei que vocês dois se respeitam, e que se algum dia alguma coisa acontecer entre vocês dois, eu vou entender também.

Minha mãe realmente estava nos apoiando?

— Mas, mãe... Quer saber. Você tem razão. Por que eu estou me estressando à toa com isso?

— Eu sei, filha. Eu apoio vocês dois a serem felizes. Se vocês dois ficarem juntos um dia, eu vou entender. É melhor ser você do que ter uma estranha na nossa família.

Eu comecei a chorar. Se eu tivesse abrido o meu coração com a minha mãe antes, talvez eu não tivesse sofrido tanto durante este período e não tivesse sido tão dura com Justin, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

— Mãe. Eu tenho que te contar uma coisa.

Mas antes que eu pudesse responder, a porta do camarim foi aberta e Justin entrou. Ele entrou todo sorridente, mas seu sorriso murchou quando viu as lágrimas em meu rosto.

— Maya? Você está aí? Alô? — mamãe perguntou, preocupada.

— Mãe. Eu falo com você depois. O Justin chegou, tchau. — E desliguei o celular.

— O que aconteceu, babe? — ele perguntou, preocupado, se aproximando.

— Justin. — engoli em seco e limpei minhas lágrimas. — Acho que há uma possibilidade de ficarmos juntos.

Justin arregalou os olhos, surpreso com a minha redenção.

— Sério? E- eu achei que depois esse show, você nunca mais olharia na minha cara — gaguejou.

— Eu pensei em fazer isso, mas mamãe me ligou e conversamos. Eu não falei tudo sobre o que aconteceu entre nós, é claro. Mas ela, de alguma forma, nos apoia. Sabe o que ela disse?

Justin sorriu de novo e ele parecia que ia me beijar a qualquer momento.

— Que prefere a minha pessoa do que uma estranha junto com você.

— É a melhor coisa que eu ouvi hoje!

E ele me pega para um beijo. Um beijo que eu estava querendo há muito tempo e estava guardando. Um beijo misturado com lágrimas.

Justin era viciante e ele sabia como ficar no controle. Ele pegou a minha nuca e pediu passagem com a língua. Eu cedi e ficamos traçando nossas bocas em um beijo lento e muito gostoso.

Só paramos por causa da bendita falta de ar, mas isso não impediu de Justin morder o meu lábio inferior e dar um chupão em meu pescoço.

— Ei! Isso vai ficar marcado! — Lhe dei um tapa de brincadeira ao nos afastar.

— Mas é por isso mesmo que eu quero que fique bem marcado. Para todos saberem que eu sou todo seu!

— Idiota!

Sentei-me no sofá enquanto que Justin se aproximou do guarda roupa.

— Já estão falando sobre nós no twitter — falei, me distraindo com a mesa de comida.

Era uma tentação vê-lo ficar sem camiseta. Minha vontade era de chegar por trás e contornar sua cintura com minhas mãos.

Mas se eu fizesse isso, ultrapassaria a linha. E Justin não sabia se conter. E até porque não chegamos ainda hora H. Nunca tinha falado de sexo com ele e não sabia por onde começar.

Seria algo como:

“Ei, babe. Estou com vontade de transar hoje”

Definitivamente não.

Os pêlos da minha nuca se arrepiaram só de pensar que poderíamos transar a qualquer momento.

— Sério? E são coisas boas? — ele perguntou, enquanto tirava as calças.

— Hum... Tem os dois lados. Uns nos apoiam e os outros acham que cometemos o maior pecado do mundo.

— Foque só nos que nos apoiam. Você me promete?

— Eu prometo.

Me distraí com o celular, respondendo Hannah, que estava surtando há horas no chat.

— Hannah disse que somos fofos juntos e que vai ser a madrinha de casamento — disse a Justin.

— Bem. Ela não está errada — Justin terminou de se vestir e se sentou ao meu lado no sofá.

Justin começou a beijar o meu pescoço enquanto eu digitava no celular. Hannah me mandava emoctions e memes, e isso fazia nós rirmos.

Até que uma mensagem de Karin apareceu em cima da conversa.

“É ótimo que você vai tomar essa decisão. Ficar longe dele vai te fazer bem”

Droga.

Afastei a mensagem depressa, mas sabia que não tinha adiantado de nada. Porque Justin parou de me beijar e pegou o meu celular muito rápido e com raiva.

Ou-ou.

— Ele já chegou e já me destruiu. O que eu faço? — ele começou a ler as minhas mensagens em um tom frio. Seus olhos vidrados na tela enquanto passava o dedo pela minha conversa com a minha psicóloga.

— Justin. É o meu celular. É minha conversa, por favor, me devolve!

Eu fui pegar o aparelho, mas Justin me impediu, fincando o meu pulso com certa força. Ele apertou tão forte que meus ossos quase quebraram.

— Você vai ficar ótima. E ele vai ter que entender. Você conseguiu comprar seus remédios?

Ele estava lendo as mensagens que Karin estava mandando nesse exato momento, pois ela estava online.

— Justin! É a minha psicóloga. Você está invadindo o meu espaço pessoal! — gritei, desesperada, e sentindo uma dor agonizante no pulso.

Justin olhou para mim. Seus olhos denunciando a pior raiva que eu poderia enxergar de sua alma. Ele não relutou, não pensou nem em mim quando jogou o meu celular com toda a força da parede.

Adeus celular.

O barulho de vidro se quebrando soou na sala e minhas lágrimas caíram.

Justin se levantou com raiva do sofá e pegou meu queixo com força. Me obrigando a fitá-lo.

Que explicação de merda você vai dar pra mim agora! hein, Maya?!

Continua....



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Nota da autora: Sem nota.






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