Autora: Pâms
    Scripter: Ana Paah
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Finalizada em: 07/08/2024
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Alguns invernos atrás…
- Norte da Noruega



Bem ao longe do centro comercial da cidade de Lavik, em uma casa nas montanhas contemplada pela aurora boreal que se formava no céu. Esta era a época do ano que não havia a presença do sol, seis meses de noite e agora com a presença da neve. Aquela modesta morada com sua estrutura toda em madeira de lei e muito bem iluminada decorrente da estação em que se encontrava, pertencia a Godric Tenebrae, o primogênito e atual chefe da família.
Quartos aconchegantes, sala de estar espaçosa com a presença de uma bela lareira revestida de mármore carrara. Por mais que houvesse a rusticidade da presença da madeira, seu estilo puxava para o neoclássico misturado ao moderno, finalizando com um sistema de aquecimento no piso para os dias mais frios do ano. Todo conforto que ele poderia oferecer através de sua fortuna, a mulher da sua vida no qual estava sendo ameaçada, ocultamente.

— Agradeço por ter vindo meu amigo. — disse Godric ao abrir a porta e receber o chefe dos Sollary na porta.
— Jamais deixaria de atender a um chamado de um amigo. — retribuiu Gregory o cumprimento do amigo com um abraço de reconforto — E trouxe reforços.
— O Dominos? — Godric se espantou ao ver o carro da pessoa que ele menos esperava estacionando mais à frente.
— Precisamos de aliados e sabemos que os Dominos possuem um compromisso com a palavra deles. — reforçou Gregori.
— Ele está certo. — Donna Fletcher surgiu mais adentro da casa, descendo os últimos degraus da escada para o andar dos quartos — Agora que descobrimos que seu irmão mantém contato com os Draconis e infiltrou uma em sua própria casa, precisamos de famílias que o apoiem como o chefe dos Tenebrae, e os Dominos são fundadores também.
— Um peso a mais. — concordou Gregory.

A sliter moveu seu olhar para a porta, observando a aproximação do convidado inesperado. Godric respirou fundo e assentiu, seus amigos estavam corretos e não havia argumentos para contestar. Seu irmão Lionel ambicionando o comando da família e a fortuna particular do irmão, apenas se deixou seduzir se envolvendo em acordos com a sociedade Draconis.

— Isador, agradeço por vir. — disse Godric, mantendo um tom de humildade na voz — Não somos amigos, para ser honesto nossas famílias sempre foram de opiniões contrárias, então…

O homem não possuía palavras para expressar-se.

— Acredite, nada me deixa mais irritado que uma traição do mesmo sangue. — confessou o Dominos, mantendo a seriedade e imponência no olhar — Não importa se somos próximos ou não, as ações de seu irmão devem ser paralisadas pelo bem da Continuum.
— Serei sincero, agora não me importo mais com a Continuum, eu só quero protegê-las com minha vida se for necessário. — a sinceridade exalava em sua voz, Godric voltou seu olhar para Donna, pois a mesma sabia de quem mencionava.

A filosofia da geração dos Fundadores era simples: A vida é um mar de rosas, somos nós que a transformamos em espinhos. Pode parecer simples, mas nas gerações futuras o ideal de amizade contínua foi se afastando e dando lugar a ambição pelo poder ou rivalidades causadas pelo coração. Lionel tinha seus motivos pessoais para causar o caos na Continuum, seus alvos eram o próprio irmão pelo desejo de controle da família, e também Isador Dominos, o homem que conquistou a mulher que ele amava.
Entretanto, mesmo diante das circunstâncias apresentadas, aquela casa das montanhas não seria somente um local para selar alianças e acordos. O natal estava se aproximando e mais convidados se encaminharam para o refúgio do Tenebrae. Os quartos preparados, o sistema de segurança ativado e a ceia sendo preparada por Emily Sollary, a esposa de Gregory, na companhia de Donna Fletcher. Gustav Sollary, o obstetra caçula da sua família, chegou na véspera do natal acompanhado de Irina Baker. A cientista e bioquímica, por mais que tivesse seu orgulho ferido por amar tanto Godric, e ter sido rejeitada na juventude pelo mesmo, ali estava ela deixando que a amizade a conduzisse, para ajudá-lo no que fosse preciso.

— Adeline?! — disse Irina ao dar dois toques na porta do quarto principal, onde seu alvo de proteção se encontrava.
— Bom dia, Irina. — ela ergueu um pouco mais seu corpo, se mantendo sentada na cama — Ver você aqui é inesperado, mas ao mesmo tempo reconfortante.
— Bem, nunca se nega ajuda a um amigo. — revelou ela.

A cientista adentrou um pouco mais e fechou a porta, observou de relance a sutil decoração do quarto, bem ao gosto simples da mulher a sua frente. Adeline Ross, Irina Baker e Godric Tenebrae poderiam ser considerados um clássico triângulo amoroso da Continuum, entretanto existe uma quarta pessoa nessa complexa história: Hilary Tenebrae, a esposa dele.
O casamento de Godric e Hilary havia sido por conveniência e pelos negócios, bem no início da administração da família Sollary na Continuum. Sua mulher, filha de um diplomata importante e filiada aos Draconis, não poupou esforços para convencê-lo que a união matrimonial de ambos selaria a paz entre as sociedades. Afinal, ele era o único chefe de uma família fundadora que estava solteiro na época do acordo. Mas o que Godric não contava com o tal casamento por contrato, é que se apaixonaria pela sobrinha de sua empregada, após a mesma passar o verão com a tia.
E foi ao descobrir este romance proibido que a fúria de Hilary fora despertada, apresentando todos os benefícios da sociedade que pertencia ao ambicioso Lionel Tenebrae.
— Como está? Não acreditei quando Godric me contou a história toda. — Irina deu mais alguns passos e puxou uma cadeira próxima para se sentar de frente para ela — Mais ainda pelo fato de estar com a cabeça a prêmio.
— Bem, eu não deveria ter me deixado levar pelo charme dele. — Adeline riu baixo, lembrando-se da primeira rosa que ganhara do Tenebrae — Eu sabia que ele era casado, sabia de tudo sobre a Continuum e o acordo de paz com a Draconis, eu sou apenas a sobrinha da empregada e mesmo sabendo de todos os riscos… Deixei meu coração me conduzir.
— Às vezes o nosso coração nos trai e não podemos fazer nada. — comentou Irina.

Seu coração havia lhe traído ao se manter apaixonado pelo amigo de infância. Ela sabia muito bem que jamais conseguiria o tipo de afeto que desejava dele, pois o mesmo já havia deixado claro que haveria somente amizade entre eles.

— Sim, mas as consequências existem e minha tia perdeu a vida por minha causa. — Adeline segurou suas emoções, ainda estava abalada pelos eventos anteriores ocorridos e a levou a ser mantida escondida naquela casa ao norte da cidade de Lavik — E para completar, minha cabeça está a prêmio.
— É, não há como negar que a situação está bem delicada. — constatou Irina — Mas vamos ajudá-los a te manter em segurança.
— Baker… Em algum momento eles irão nos encontrar, eu sinto isso, não importo com o que pode acontecer comigo, mas… — ela sentiu as lágrimas rolarem no canto dos olhos — A um ser inocente crescendo aqui dentro, preciso protegê-la.
— Quando descobriu da gravidez? — a cientista focou seu olhar na barriga dela, que já estava crescida.
— Quando demitiram a minha tia, saímos de Londres para ficar em Lisboa, Godric tentou nos manter seguras, e juramos não nos encontrar mais. — Adeline voltou o olhar para a janela, observando os flocos de neve caindo do lado de fora — Foi quando eu comecei a ter mal estar continuamente, até fazer os exames por uma suspeita dela.
— Como está indo a gestação? — perguntou ao se inclinar um pouco mais e tocar na barriga dela.
— Bem, eu acho. — ela soltou um suspiro cansado — O doutor Gustav tem vindo com frequência me visitar, tenho me sentido cansada com facilidade e descobrimos que minha gravidez por ser de risco devido a tantas emoções vividas.
— Pelo tamanho da sua barriga, deve estar quase no final da gestação. — comentou ela.
— Ah não, estou no sétimo mês ainda. — revelou — Ainda falta bastante tempo.
— Hilary sabe que está grávida? — Irina reforçou a seriedade de sua voz.
— Eu não sei, espero que não, mas se eu morrer não me importa, só quero que o bebê sobreviva. — ela voltou o olhar para ela — Poderia me prometer que o protegerá, caso eu não consiga? Por favor, meu ajude a protegê-lo.

Baker respirou fundo. Ela sabia o quão perigoso era o pedido dela, e mais ainda que sua consciência não a deixaria negar ajuda.

— Não se preocupe, eu irei ajudá-la, no que for necessário. — assegurou.

Ambas ficaram se olhando por alguns instantes em silêncio, até que dois toques soou na porta.

— Atrapalho?! — era Godric abrindo a porta.
— Não. — Irina se levantou da cadeira e o olhou.
— Segundo Emily, a ceia está servida. — anunciou ele.
— Bem, então eu descerei na frente. — Irina se afastou dela, caminhando em direção a porta.

Como sempre, ela segurou seu coração acelerado e manteve a postura de amiga habitual. Assim que ela se retirou, Godric se aproximou de Adeline e a ajudou a se levantar.

— Tem certeza que quer participar? Não iremos apenas jantar, mas será uma reunião bastante estressante, não quero que fique cansada. — perguntou ele, mantendo apoiada a ele.
— Não ficarei, querido. — ela sorriu de leve para ele — Mas eu quero participar, é o futuro do nosso bebê que estará em questão.
— Tudo bem. — ele sorriu de volta para ela e se moveu para a porta — Mas se sentir qualquer coisa…
— Godric, o doutor está aqui, vai ficar tudo bem. — reforçou ela.
— Ando preocupado além do normal com tudo. — confessou ele — Só quero deixá-la em segurança.
— Eu já estou ao seu lado. — ela o beijou de leve e depois o fez voltar a caminhar.

No andar de baixo, todos já se acomodavam à mesa para a ceia. Mesmo com a situação atual preocupante, o clima natalino não poderia ser ignorado. Assim que Adeline desceu as escadas apoiada em Tenebrae, seu olhar avistou a árvore de natal montada pela Sollary.

— Ah, que lindo! — disse ela, em seu tom baixo.
— Que bom que gostou. — Emily se aproximou dela com entusiasmo e a abraçou — E estou feliz por estar bem, quando eu cheguei Godric me disse que estava descansando, e como a casa estava com um ar tão triste que resolvi montar essa árvore para vocês.
— Sim. — assentiu — Obrigada por tudo, tenho passado a maior parte do dia na cama, Donna Fletcher tem me ajudado muito.
— Sua tia foi uma grande amiga minha, sabe disso. — disse Donna ao se aproximar de ambas.
— Vamos querida. — disse Godric.

Ela assentiu e se sentou na cadeira ao lado da dele. Todos acomodados, Godric fez um discurso inicial de agradecimento pela presença de todos e a disponibilidade que tinham em ajudá-lo. O assunto deu início com a fala de Irina sobre sua situação familiar.

— Todos sabem que minha família está sob o comando da minha irmã, e Allison já anunciou que se manterá neutra neste assunto, temos alguns negócios com famílias Draconis. — revelou Baker — Por isso minha ajuda será o mais oculto possível, assim ninguém suspeitará de mim e poderei agir com mais liberdade.
— Obrigado Irina. — disse Godric.
— Agora o principal é manter Adeline em segurança, até que o bebê nasça. — pronunciou Donna, ao começar a servi-los com a ceia — Com um herdeiro envolvido os Bellorum se prontificaram a intervir nas ações de Lionel.

Diante deles estava uma mesa farta com os preparos de Fletcher e Sollary. Ambas se divertiram muito na cozinha, enquanto preparavam a ceia com empolgação e altos risos.

— Precisamos resolver isso sem quebrar o acordo de paz com a Draconis. — observou Godric — Temos nossos confrontos indiretos com eles há anos, precisamos nos precaver, não quero que uma ação minha prejudique as outras famílias.
— Sabemos que os negócios deles são todos ilegais, não há chance da Draconis nos derrubar economicamente, há? — perguntou Gustav.
— Nossa preocupação agora não é com dinheiro irmão. — Gregory chamando sua atenção — Mas sim com a segurança de um herdeiro que está a caminho.
— Eu conversei com John, ele afirmou se manter neutro inicialmente. — Isador se pronunciou — Sabemos que os Bellorum somente intervêm quando há possibilidade de prejudicar a Continuum, nossa sociedade tem leis e regras a serem mantidas…
— O que significa que uma briga interna de família não é da jurisdição deles. — concluiu Donna com precisão — A menos que possa envolver as outras.
— Já envolveu. — Emily elevou um pouco sua voz — Querendo ou não, o fato de Hilary ter influências na Draconis já é algo a se considerar.
— Não se preocupem com a Hilary, ela é problema meu e somente meu. — disse Godric.
— O que está pensando em fazer querido? — Adeline o olhou temerosa do que ele poderia fazer ou causar a esposa.
— Não se preocupe comigo, Adel, vai ficar tudo bem. — assegurou ele, com um olhar apaixonado.
— Mas agora, temos um herdeiro a caminho. — Iria voltou a se pronunciar — Ou herdeira… Vocês já sabem o sexo?
— Ainda não, deixamos para saber quando nascer. — respondeu Adeline.

Todos desejaram felicitações mais uma vez pela gravidez. Este seria um natal recheado de alianças inesperadas como a de Isador e Godric, amizades surpreendentes como a de Emily com Adeline e promessas entre as famílias, que jamais poderiam ser quebradas.

Creo en ti y en este amor
Que me ha vuelto indestructible
Que detuvo mi caída libre.
- Creo en Ti / Reik





Dias Atuais… Primavera de 2018
- Algum lugar do Texas



O sol da primavera estava radiante no céu quando Fletcher desembarcou no aeroporto particular da Continuum, escoltada por Nissah Petrov, a agente alpha da Darko. De forma surpreendente aqueles dias na companhia da agente, a amizade entre ambas havia crescido e se aprofundado, com ambas trocando histórias do seu passado pós adoção.

— Estou impressionada com essas histórias sobre seu pai, e mais ainda por saber que ele trabalhava para o Andrei Tenebrae. — comentou ao entrar no carro de aluguel.
— Para ser honesta, ele não trabalhava diretamente para o Andrei, e sim para Vladimir Smirnov, um homem que mantinha negócios com ele. — explicou melhor ela, entrando no banco do motorista — Foi assim que o Tenebrae chegou até mim, e tentou me eliminar.
— Vou ser sincera, estou até o pescoço envolvida na Continuum e ainda não entendo tudo o que está acontecendo. — comentou , dando um suspiro fraco e depois brincou de leve — A única coisa que sei é que querem me matar.

Nissah riu junto, mantendo o olhar na estrada.

— Eu também sei pouca coisa dessa história maluca. — confessou a agente — Apenas o básico que Nikolai me contou.
— Compartilha com as amigas, porque a única coisa que me disse é: quanto menos souber melhor. — reclamou , praticamente imitando a voz dele e cruzando os braços — Como se isso me deixasse mesmo ameaçada.

Nissah não se conteve em cair na gargalhada. A agente que havia deixado a frieza e a raiva entrar em seu coração após quase morte, encontrou na garota ao lado a leveza que perdera na vida. E quem diria que as garotas do orfanato Miral se tornariam grandes amigas no futuro.

— Eu sei que tudo começou com uma guerra oculta entre a Continuum e a Draconis na época em que nossa sociedade foi fundada, pelos cinco amigos. — iniciou ela a história — Todos os negócios da Continuum são lícitos e dentro das leis, ao contrário da Draconis que é composta por famílias da máfia. Se me lembro bem tem a japonesa liderada pelos Yamazaki, a italiana pelos Castelatto, portuguesa pelos Laurento, norueguesa pelos Ahlberg.
— Quatro famílias? Não são 5? — questionou , estranhando a contagem.
— Para quem não sabe de nada, está bem informada. — brincou Nissah, segurando o riso, ao girar o volante para seguir pela estrada lateral em direção ao destino traçado.
— Digamos que eu tenha encontrado alguns livros na biblioteca da Darko. — ela brincou de volta com um sorriso sapeca.
— Eu sabia que você não estava somente lendo romances ali. — comentou Nissah rindo baixo, ao trocar de marcha — Mas, sim, há uma quinta família que foi extinta, dizem que foi totalmente dizimada pelo chefe da família Ahlberg, uma guerra interna que quase destruiu toda a sociedade.
— Que loucura. — sussurrou .
— Isso não te lembra nada? — Nissah olhou para o seu reflexo pelo retrovisor dianteiro — O mesmo aconteceu com os Dominos quando foram atacados, o que difere é que alguns sobreviveram, e na Continuum levamos muito à sério a palavra amizade.
— Tenho percebido isso. — comentou — Mas, você sabe quem é essa família extinta?
— Não. Os próprios Draconis não costumam pronunciar o nome, e não sabemos quem são, mas… Só sei que era uma família britânica. — completou ela, pensativa nas informações que Nikolai havia lhe repassado.
— E você sabe como a guerra da Continuum começou? — perguntou curiosa.
— Poder, inveja e ganância, as três palavras que resume o início, além de um ser chamado Lionel Tenebrae. — Nissah finalmente estacionou o carro em frente a um portão de aço — Mas o restante, acho melhor você saber pela pessoa que mais conhece essa história.
— Quem? — ela olhou o portão e depois a amiga, confusa.
— Sua avó. — Nissah voltou o olhar para ela — Donna Fletcher.

voltou o olhar para o portão, finalmente estava no lugar dos segredos: a Academia Fletcher. Ela respirou fundo antes de descer do carro. Nissah havia prometido levá-la até lá, porém não poderia permanecer por ter outro compromisso em sua agenda de responsabilidades como agente alpha. Assim que ajeitou a mochila nas costas e tocou o interfone se identificando, sua avó na sala de segurança arregalou os olhos, ao vê-la pelo monitor. Donna jamais imaginou sua neta chegando naquele lugar.

— Senhorita Fletcher. — disse o sliter que a atendeu no portão, o olhar do rapaz se mostrou admirado ao conhecer a famosa neta de sua chefe — Seja bem vinda a academia, por favor, siga-me.
— Agradeço. — assentiu com um sorriso delicado e adentrou os portões.

Mais um longo suspiro, assim que seus olhos se depararam com o lugar que parecia a mistura de um centro de treinamento militar com uma fazenda normal do interior do Texas. Após passarem pelo caminho de terra demarcado com fileiras de seixos brancos, foi observando os muitos arbustos e canteiros de flores, sabendo bem que sua avó amava paisagismo, não havia se espantado. Na lateral leste do lugar havia os dormitórios dos sliters, a oeste o galpão de treinamento, bem ao centro a casa principal onde a matriarca Fletcher morava e estabeleceu seu centro de comando e informações.

. — disse ela, assim que a neta se colocou diante dela — O que faz aqui? Deveria estar na Rússia.
— Então a senhora sabia onde eu estava. — observou a garota.
— Não entendo a sua surpresa. — Donna sorriu de leve — Você já sabe quem eu sou na Continuum, minha querida.
— A senhora é a mulher que guarda os segredos. — seu tom foi de confirmação.

Donna soltou uma gargalhada boba e logo puxou sua neta para lhe dar um abraço forte e carinhoso. retribuiu sentindo seu coração apertar, a última vez que a viu foi no natal e após isso muitas coisas aconteceram até sua chegada ali. Em instantes, as emoções da bailarina foram sendo demonstradas através das lágrimas que escorriam pelo rosto.

, porque está chorando? — ela continuou abraçando-a para confortá-la. — Eu passei por tanta coisa, mas agora com a senhora, me sinto tão segura. — confessou ela — Porque não me contou vovó?
— Sobre a Continuum? — Donna se afastou um pouco e a olhou, então secou sua lágrima com o dedo indicador.
— Sim, e sobre a possibilidade de eu ser a herdeira Tenebrae. — sussurrou ela — Eu sou vovó?

Donna respirou fundo, mantendo o olhar mais preocupado para sua neta. Ela sabia a resposta, entretanto não podia contar a história por completo para ela.

— Querida, venha e descanse um pouco, a viagem foi longa e tenho certeza que também deve estar com fome. — ela pegou em sua mão — Vou lhe mostrar o quanto que poderá ficar.
— Vovó?! — insistiu ao perceber a rápida mudança de assunto — Porque não posso saber?
— Porque este segredo não é meu. — explicou ela, ao conduzi-la para dentro da casa — A Continuum foi construída na base da amizade, mas foram os acordos e as promessas que a manteve de pé.
— E a senhora fez alguma promessa? — perguntou ao segui-la pela casa até chegar no corredor dos quartos.
— Sim, fiz muitas promessas e uma delas foi de deixá-la longe da Continuum e em segurança. — respondeu Donna, parando em frente a uma porta e abrindo para que ambas entrassem.
— Isso quer dizer que? — insistiu na indagação tirando suas próprias conclusões.
— Quer dizer que está segura aqui. — Donna observou sua neta entrar no quarto e olhar em volta toda a ambientação do lugar.
— Vovó, soube que chegou alguém da família… — a voz de Yasmin soou corredor até que a mesma apareceu da porta — .
— Minie! — a bailarina abriu um largo sorriso ao vê-la.

As irmãs se abraçaram de imediato sob o olhar carinhoso da avó para elas. Era raro os momentos em que Yasmin visitava a academia, e naquele momento estava a negócios, pois a família Tenebrae havia requisitado mais sliters para protegê-los.

— O que faz aqui na casa da vovó? — perguntou Yasmin ainda surpresa pela presença da irmã.
— Então… — olhou para a avó.
— Sua irmã estará mais segura aqui. — confirmou Donna.
— Ah, o lance da herdeira. — Yasmin pegou a referência e se afastou um pouco da irmã — Bem, eu tenho que ir, não posso demorar vovó.
— Mas já? Nem conversamos e colocamos as novidades em dia. — reclamou .
— Eu também acho que você poderia ficar mais um dia aqui. — concordou Donna ao olhar a neta — Fique aí com sua irmã, vou preparar algo para vocês comerem.

Elas assentiram e ficaram em silêncio por um instante, até que iniciou sua chuva de perguntas.

— E você Minie? O que está fazendo aqui? E como virou assistente de um Tenebrae? Sabia que o pai dele quer me ver morta? — encostou na parede olhando-a curiosa.
— Calma, , Lionel não quer te matar, não que eu saiba. — disse Yasmin — Mas, Andrei, esse sim é a pessoa mais perigosa que existe.
— Você o conheceu de perto? — perguntou , caminhando até a cama para se sentar.
— Trocamos palavras algumas vezes, bem no início do meu estágio no escritório de Carlise, mas nunca me aproximei muito de ninguém daquela família. — contou ela, lembrando-se da primeira vez que o vira em uma festa de campanha em que seu chefe apoiava a candidatura de um senador americano.
— Eu o vi, quando fui sequestrada. — voltou o olhar para a janela relatando o ocorrido — Ele queria atrair a Annia e a .
— A sliter dos Dominos. — sussurrou Yasmin pensativa — Eu a vi algumas vezes e da última não gostei muito.
— Porque? A é maravilhosa, gosto muito dela e queria ser tão forte quanto. — confessou .
— Ela me dá medo. — retrucou Yasmin.
— Te entendo, ela tem um olhar intimidador, assim como a Annia. — soltou um suspiro — Foi tão legal rever minhas amigas e saber mais sobre o que aconteceu com elas nesse tempo… Minie você não vai acreditar, mas a Annia Baker se casou com o Cedric, aquele Cedric que foi meu amigo desde o fundamental.
— O Cedric que eu achava que fosse se casar com você de tanto que viviam grudados? — Yasmin ficou boquiaberta.
— Sim, ele conheceu ela bem antes de mim, quando eram menores. — explicou se entusiasmando — E não, Cedric sempre foi como um irmão para mim, nunca a gente se viu assim como um casal.

A bailarina soltou uma gargalhada boba.

— E enquanto isso, você namorada o Bellorum escondido. — concluiu a irmã.
— Prefiro não comentar sobre o ocorrido. — fez um olhar sério, mantendo a serenidade.
— Ah, por falar nisso, o que tem acontecido com você? O que realmente a trouxe aqui? — perguntou Yasmin curiosa — A última vez você estava com o Dominos e depois soube que estava na Darko da Rússia.
— A história é longa e por hora, estou solteira. — contou ela, tentando não se abalar mais uma vez por lembrar do ocorrido.
— Uau, nem e nem ? — boquiaberta ela estava.
— Agora eu só quero me sentir capaz de proteger a mim mesma. — confessou sem medo — Estou cansada dessa história de herdeira e me sentir indefesa.
— E veio ao lugar mais hard para isso? — ela não conseguia entender as intenções da irmã.
— Sim, vim porque quero me tornar mais forte. — afirmou — E o único lugar capaz de me ajudar é aqui, quero ser tão imponente quanto minhas amigas e não precisar de ninguém para me salvar.

Yasmin compreendeu as palavras da irmã e com um sorriso reconfortante, deu alguns passos até ela e a abraçou. retribuiu o abraço, sabia que podia contar com o apoio da irmã. Elas passaram mais algum tempo conversando sobre os romances de Yasmin com o primogênito Tenebrae, as novidades sobre tia Beth querer expandir seu hostel em Seattle e montar uma filial em Chicago e outra em Los Angeles. E por fim, saber sobre o relacionamento de sua mãe adotiva Marie com o John Bellorum, o pai de .

— Eu juro que ainda estou em choque com a notícia da mamãe com o Bellorum. — tentava absorver a ideia dessa união.
— Pois é, eu também, principalmente com o fato dela ter proibido a todo custo sua aproximação com , mas é claro que agora sabemos o motivo. — comentou Yasmin.

Mesmo que na época do ensino médio da irmã, a mais velha estava em seu momento universitário bem longe, as mensagens que trocavam a deixava a parte de tudo o que acontecia. Ambas sempre ficaram inquietas com a forma em que o chefe Bellorum acatava todos os pedidos de Marie, pedidos esses que pareciam mais ordens ao ver das garotas.

— Mas agora não importa, nossa mãe não manda mais na minha vida e não vou deixá-la se intrometer mais. — as palavras de continham firmeza e segurança.
— Que orgulho da minha irmãzinha. — Yasmin sorriu de leve — Você tem amadurecido bem .
— É, a vida tem feito isso, e de uma forma bem perigosa. — brincou.
— Onde estão minhas netas?! — a voz de Donna surgiu vinda da cozinha, assim como o cheiro de torta de maçã tirada do forno e chocolate quente feito na hora.
— Vovó?! Estamos sentindo o cheiro — disse Yasmin ao segui até lá com a irmã.
— Sim, e parece estar muito gostoso. — concordou , ao entrar na cozinha e já seguir para se sentar na banqueta — Esse cheiro me lembra do primeiro natal que passei com vocês depois de ser adotada, a senhora me levou uma bandeja de café da manhã no quarto e tinha chocolate quente porque o dia estava mais frio que o normal e um pedaço de torta de maçã.

Ela suspirou saudosamente ao lembrar-se.

— A vovó sempre gostou de nos fazer essas surpresas. — contou Yasmin ao se sentar na banqueta ao lado da irmã — Também sinto saudade dos tempos de criança, não tínhamos muita preocupação.
— Nós crianças não. — voltou o olhar para a avó — Já nossa avó.
— Eu sempre me preocupei com a segurança de vocês. — confessou ela, cortando duas fatias da torta para servi-las — Agora, que tal deixarem essa nostalgia e saborear essa torta.
— É tudo que eu precisava. — pegou o prato da mão dela e já deu a primeira garfada — Hum… Exatamente como eu lembrava.

Yasmin riu da cara dela e começou a comer a sua fatia. Por um lado, a matriarca Fletcher estava feliz de ter sua neta por perto, por outro lado estava temerosa do que poderia descobrir estando ali em sua academia.
Dois dias depois da partida de Yasmin, se manteve silenciosa e observadora quanto ao treinamento dos sliter presentes. Ao pôr do sol de uma sexta-feira refrescante, da janela de seu quarto ela ouviu barulhos vindos do galpão. Sua curiosidade a impulsionou a sair do quarto e seguir até lá, ao terminar de passar pelo corredor, ela avistou a porta do porão entreaberta. Era uma oportunidade para descobrir o motivo para que aquela única porta permanecesse trancada. Descendo as escadas lentamente, quase segurando a respiração para não fazer barulho, aos poucos conseguiu ouvir sua avó atender o telefone, deixando-o no viva voz.

— Castelatto?! — disse Donna, surpresa pela ligação — Não sabia que a Interpol deixava seus hóspedes fazerem ligações a qualquer momento.
Bom dia, para você também Donna Fletcher. — disse a voz feminina do outro lado da ligação — Estou surpresa por não saber que agora, estou sob a jurisdição da Darko, e não da Interpol.
está por aí?! — perguntou a matriarca.
Oi Donna. — a voz de surgiu.

arregalou os olhos, se abaixando um pouco para esconder atrás de um móvel, queria entender a ligação e quem era a tal Castelatto.

— O que faz com o inimigo? — perguntou Donna — Seu pai não te criou para isso.
Vou me sentir ofendido agora Donna, achei que ainda gostasse de mim. — Vincent entrou na conversa, deixando um tom chateado na voz.
— Ah, Vincent, agora que agora estou entendendo. — contatou Donna o motivo da ligação — Inimigo do meu inimigo…
É meu amigo. — completou Castelatto, tinha um tom de imponência na voz — Xeque-mate.
— Porque estão me ligando? — Donna sentou na cadeira, mantendo o olhar na tela do computador.
Precisamos organizar um jantar com todos os herdeiros, da Continuum e dos Draconis. — respondeu Andrei está com os dias contatos, no que depender de nós.
— Espera, então é mesmo verdade que ele traiu a Draconis? — perguntou Donna, surpresa.
Sim, por isso faremos um novo acordo com eles. — respondeu Vincent.
— Em breve, a Draconis não vai mais existir e em seu lugar, teremos uma nova sociedade totalmente legalizada, então… Acho que podemos ter alguns acordos benéficos para ambos. — concluiu Castelatto.
— Devo presumir que sua família é a atual no comando então? — observou Donna.
— Sim, e eu falo por todos. — assentiu a mulher.
— Muito bem, digam-me o plano de vocês então. — continuou a Fletcher.

Escondida, deu um passo para trás e se afastou. Ela poderia ter permanecido lá, mas sua mente estava tão confusa com as lembranças de seu sequestro que se viu desnorteada demais para continuar ali. Seus pés a conduziram para fora da casa e quando se deu conta já estava na porta do galpão. Assim que a bailarina despertou de seu devaneio, ela se deparou com uma competição de luta acontecendo ali.

— Ah, senhorita Fletcher. — o mesmo sliter que a recepcionou no dia de sua chegada se aproximou dela — Deseja alguma coisa?
— O que está acontecendo aqui? — perguntou curiosa, mantendo longe os pensamentos que a perturbavam.
— Estamos no nosso competição de luta mensal. — respondeu ele, num tom animado — Fazemos isso para medir o nível de força e habilidade dos sliters e detectar suas fraquezas para que melhorem.
— Interessante, posso assistir? — pediu ela.
— Claro, senhorita.
— Ah, por favor, me chame de . — disse ela, sorrindo de leve — e você? Como se chama?
— Carl. — respondeu ele.

Aquele momento de distração seria uma forma, meio louca, de fugir da realidade. E era o que precisava para paralisar seus pensamentos sobre tudo que envolvia a Continuum, mesmo que os sliters e todo o universo da academia pertencessem a ele.

— Uau. — sussurrou ela, após assistir a segunda luta, em que uma jovem sliter conseguiu derrotar um veterano bem mais robusto e forte que ela.
— Está impressionada, querida?! — logo sua avó apareceu ao seu lado.
— Sim, vovó. — ela olhou para a mulher, que mantinha os olhos fixos no ringue — Me fez lembrar a .
— A Miller é e sempre será a melhor sliter que já existiu aqui. — confessou a avó sem nenhuma entonação de favoritismo.
— Imagino que sim. — concordou ela, voltando o olhar para os dois lutadores que subiram para lutar.
— Não vai me perguntar sobre a ligação? Eu sei que estava escondida atrás do móvel escutando. — comentou Donna, mantendo o olhar para frente, com rosto suave.
— Se eu perguntar, vai me responder? — indagou .
— Talvez. — brincou ela, sorrindo de canto.
— Talvez?! — a olhou.
— Você acha que está mesmo pronta para entrar na Continuum e assumir todos os perigos que isso traz? Está preparada para se defender sozinha quando for necessário? — Donna voltou seu olhar sério para ela — Há muitos segredos que você não consegue imaginar, mente está pronta para saber de toda a história?
— É por isso que estou aqui vovó. — disse com firmeza — Quero ser mais forte que o meu inimigo.
— Isso me deixa orgulhosa. — disse a avó, controlando suas emoções, mas com um brilho no olhar.

Com sua família Donna era a avó carinhosa e animada, que contava histórias e cozinhava para a família, entretanto ali na academia, ela era a imponente chefe que não se deixava abalar pelas dificuldades. Era o ponto de força para seus sliter.

— Se estiver disposta a aprender com sua avó. — continuou a matriarca — Ficarei orgulhosa em lhe transformar em minha herdeira.
— O que isso quer dizer vovó?! — perguntou ela, ficando meio confusa.
— Quer dizer que se você quiser, posso te treinar para ficar em meu lugar, como a próxima chefe da Academia e da família Fletcher. — explicou ela, deixando mais claro suas intenções.

É claro que a matriarca sabia que não viveria para sempre e precisava de alguém para substituí-la no legado da família, e nada melhor que a neta mais ousada e determinada para isso. Afinal, suas filhas Marie e Beth juraram não se envolverem com essa parte da vida de sua mãe, seus outros netos como Yasmin e Junior não tinham o perfil que ela ambicionava para uma boa líder. Restava Philip, o hacker da família que não tinha nenhuma aptidão para combate corpo a corpo.
Sim. era a melhor escolha para Donna Fletcher.
E por dentro, o coração da bailarina estava pulsando forte para finalmente conhecer o lado Continuum de sua avó.

Se você não pode voar, então corra
Hoje nós vamos sobreviver
Se você não pode correr, então ande
Hoje nós vamos sobreviver
Se você não pode andar, então rasteje
Mesmo se você tiver que rastejar, dê um jeito (dê um jeito)
Preparar, apontar, fogo
- Not Today / BTS






Le Petit, Seattle



Não há como negar, o coração de estava aflito e ansioso. Seu pulsar ficou mais forte assim que ele ouviu os passos de ao subir a escada, com uma ajudinha de seu salto alto. A residente finalmente havia voltado a sua razão, após ficar cinco minutos encarando os degraus, encerrando seu tempo de indecisão. Assim que a porta que estava entreaberta se abriu, o olhar de Baker elevou do chão até encontrar o rosto de sua esposa. Ela respirou fundo e terminou de entrar no escritório, fechando a porta em seguida.

… — assim que iniciou sua fala.

Sollary se impulsionou mais que depressa e lhe interrompeu com um beijo caloroso e intenso. ficou estático de início até que aos poucos sua mente foi despertando e em segundos retribuiu o carinho que vinha de sua esposa. Ele estava surpreso com a reação de , entretanto feliz por ela ter agido o contrário que ele imaginou temeroso.

— Devo levar seu gesto como um sinal de paz? — sussurrou ele, segurando o riso.

Ela também tentou controlar seus sentidos com a malícia que sentia emanar dele.

— Quem disse que estávamos brigados? — retrucou ela, com um tom de brincadeira — Imagino que esteja tão perdido quanto eu fiquei, me desculpe por minha reação.
— Uau, Sollary pedindo desculpas? — ele elevou sua mão direita até a testa dela — Está com febre?
— Seu chato, deixa de ser bobo. — ela retirou a mão dele, rindo de leve — Não estou doente… Só recebi conselhos sábios de um amigo, que me abriram os olhos.
— Um amigo Dominos? — supôs.

Ela assentiu com um sorriso.

— Você teve mais alguma conversa com a tal tia? — indagou , curiosa para saber o restante da história.
— Tal tia?! — ele olhou-a desconfiado e com um sorriso de canto bobo — Está com ciúmes minha esposa?
— Claro que não, meu marido. — respondeu ela, devolvendo com um olhar debochado, então envolveu seus braços — Só quero me inteirar da história.
— Hum… — ele manteve o sorriso de canto, com um olhar mais malicioso — Acho que essa história pode ficar para depois, afinal… Este lugar tem me dado outras ideias…

soltou uma gargalhada boba, já entendendo as intenções indiscretas de Baker.

— Baker, não estamos na sua oficina. — comentou ela, sendo aninhada pelos braços dele.
— E o que nos impede? — sussurrou ele, com um olhar ousado.

E sentindo o primeiro beijo instigante de seu marido em seu pescoço, apenas se rendeu, não se importando com o ambiente em que ambos se encontravam. Afinal, era um amigo e entenderia as aventuras românticas do recém-casados ali presente. No final, não se completaria nem vinte e quatro horas do pequeno afastamento do couple Baker-Sollary, e no que dependesse dele, jamais havia uma sequer briga entre ambos.
não havia tido nenhum exemplo de relacionamento estável ou algo do tipo vindo de sua mãe. Em toda a vida ele apenas vivenciou Allison Baker ser uma mulher manipuladora, fria e calculista, mas ele sabia que o único homem que sua mãe tanto desejou na vida, foi aquele do qual nunca conseguiu uma gota de amor. Se o feitiço havia caído contra o feiticeiro, ele não sabia, mas que foi uma surpresa e tanto saber que Dimitri era o pai biológico de Annia. Algo que apenas confirmou que sua mãe, que tanto controlou as outras pessoas, foi controlada por quem menos esperava.

— Não acredito que profanamos o escritório do . — deixou seu comentário soar com um tom de brincadeira, enquanto ajeitava sua roupa no corpo.

Ele deu uma risada rápida e se encostou na mesa, de braços cruzados observando-a atentamente.

— O que está me olhando? — perguntou ela, ao perceber e olhá-lo de volta.
— Esse vestido é novo. — comentou ele, em tom de afirmação.
— Desde quando conhece meus vestidos? — ela ficou intrigada.
— Está impressionada? — ele riu novamente, e se moveu para se aproximar dela — Já disse que conheço tudo a seu respeito.
— Hum… — ela esticou a mão direita o parando no meio do caminho, dando um espaço considerável entre os dois — E não está com ciúmes? Sabendo que sua esposa está usando um vestido desconhecido?
— Claro que estou. — brincou ele, arrancando um sorriso bobo dela — Mas tenho que admitir, a pessoa que comprou tem muito bom gosto, te deixou ainda mais sexy.
— Seu bobo! — ela riu alto e bateu de leve no ombro dele — Devemos sair à francesa?
— O que você prefere? — perguntou ele.
— Hum… Prefiro passar a noite com você! — respondeu ela, dando mais um passo para frente dele e ajeitando sua camisa.

Ele piscou de leve e segurou sua mão, então se moveram para sair do escritório. Ao abrirem a porta, deram de cara com Nancy, a gerente do restaurante. O olhar da garota tinha traços de constrangimento e surpresa, ela sabia que o casal estava no escritório, só havia ouvido coisas que não deveria, deixando-a envergonhada.

— Senhor e senhora Baker… — a mulher respirou fundo, mostrando-se serena — O senhor Dominos me pediu para acompanhá-los pela saída dos fundos, assim teriam mais privacidade.
— Uau, ele pensa em tudo. — comentou impressionado.
— Está aí nossa saída à francesa. — concordou , assentindo.

Nancy os acompanhou pela lateral até que acessaram a passagem dos funcionários. Da porta de saída até a moto de foi um espaço curto, seguro e principalmente discreto. Ao som do motor ligado, a residente se agarrou na jaqueta do marido e assentiu para que o mesmo os levasse para casa. Não demorou muito até que chegaram ao apartamento de , no qual definitivamente seria a morada dele.

— Preciso de um banho. — sussurrou ela, ao seguir em direção ao quarto.
— Que sugestivo, depois eu é que sou o tarado. — brincou ele, enquanto retirava sua jaqueta.
— Eu só disse que preciso de um banho, você que tem a mente maliciosa demais. — retrucou ela, ao parar no corredor e encará-lo.
— Quando se trata de você, todos os meus pensamentos são maliciosos. — ele sorriu de canto e a segurou pela cintura.
— Eu criei um monstro. — comentou ela, tentando empurrá-lo, mas se desequilibrando ao pisar em falso — Ai.
— O que foi? — perguntou ele, voltando o olhar para o tornozelo da esposa — Machucou?
— Não, eu só pisei em falso. — respondeu ela.
— Tem certeza? — reforçou.
— Tenho sim, está tudo bem. — ela sorriu de leve e piscou — Eu vou tomar um banho e você vai pedir pizza.
— Pizza? — ele riu — Sério?!
— Claro que sim, eu não brinco quando o assunto é comida. — ela cruzou os braços ficando séria — E minha favorita é…
— Quatro queijos, eu sei. — disse ele — Só é estranho sairmos da inauguração de um restaurante e chegar em casa pedindo pizza.
— Senti um desejo forte de comer pizza. — ela manteve a suavidade no olhar, enquanto ele ficou intrigado — E não Baker, eu não estou grávido ou algo assim.
— Eu não disse nada. — ele em sua defesa.
— Mas seu olhar te condenou. — explicou ela — Agora vai.

deu uma risada rápida da cara dele, enquanto seguia para o banheiro. Assim como pedido, ligou para o serviço de entregas e pediu duas pizzas grandes, uma de quatro queijos e outra de marguerita. Foram longos minutos da residente dentro da banheira relaxando, até que sentiu o cheiro da pizza rescindido no lugar.

— Que cheiro gostoso. — comentou ela, vestida com o roupão de banho, seguindo para a sala.
— A melhor pizza de Seattle, segundo os meus funcionários. — disse ele, ao ajeitar as duas caixas em cima da mesa de centro, juntamente com a caixa de suco natural — Comprei no Post Alley para experimentar.
— Hum… Espero que seja boa mesmo, porque sempre comprei no Zeeks, apesar de ser mais cara, é uma delícia. — ela deu mais alguns passos e pegou a nota fiscal — Eu só estou vendo duas, porque ele cobrou três? — perguntou , confusa.
— Eu comprei mais uma e deixei com a Rosalie. — explicou ele — Achei que elas pudessem estar com fome, como sabe, meu apartamento não tem muita coisa interessante.
— Ah… — se sentiu incomodada internamente, claro que não seria fácil se acostumar com a inesperada realidade, então teria que ser mais paciente do que imaginou.
— Está tudo bem para você?! — perguntou ele, ao olhá-la com seriedade.
— Claro, você não pode deixar sua filha com fome e seja lá quem estiver com ela. — tentou disfarçar.
— Eu não sei se Rosalie vai ficar, para ser honesto eu não pensei em muita coisa depois que o caos foi jogado em nosso meio, só estava preocupado com você e nós. — confessou ele — Mas nada como uma noite de descanso pra colocar as ideias em ordem.
— Do que está falando? — ela cruzou os braços.
— Estou falando que amanhã resolveremos como tudo vai ficar. — ele se aproximou dela e descruzou os seus braços — Enquanto isso, vamos aproveitar nossa pizza hoje e que tal um filminho sugestivo?

Ela caiu na gargalhada.

— O massacre da serra elétrica? — brincou ela, com um tom debochado.
— Depois eu que sou perigoso. — ele fez um olhar de chocado — Estava pensando em algo mais, romântico.
— Romance para mim é uma maratona de Chicago Med. — disse ela, ao se desviar dele e sentar no sofá já pegando o controle.
— Pelo menos você não disse a série que os médicos morrem e os pacientes vivem. — ele segurou o riso esperando o olhar atravessado dela.
— Olhe como você fala de Grey's Anatomy.
— Eu tô mentindo?! — a olhou tranquilamente.
— Não, mas também não precisa falar tão abertamente assim, eu ainda não superei a morte do Derek. — reclamou ela, fazendo bico.
— Então é por isso que você não tem assistido mais? — ele riu de leve.
— Não ria de mim, eu não estava preparada para aquela cena. — explicou ela, em sua defesa.
— Tudo bem, vamos de Chicago Med então. — ele segurou o riso e sentou ao lado dela — Mas se você dormir, da próxima vez eu coloco Chicago Fire.

Ela o olhou de forma séria.

— Cada um com a sua preferência, gosto mais dos bombeiros, tem menos sangue. — brincou ele.
— Ha… Ha… Ha… Falou a pessoa que ama se machucar. — ela voltou o olhar para o joelho dele — Como estão esses pinos?
— Normal, não tem doído tanto quanto antes. — respondeu.
— E os analgésicos? — insistiu.
— A Torres mudou minha receita, está tudo bem. — ele pegou o primeiro pedaço e sorriu para ela — Vamos comer?

assentiu retribuindo o sorriso e pegando seu pedaço escorrendo queijo. A noite do casal foi mesmo romântica à moda da residente, se servindo de sua pizza favorita e sendo acariciada pelo mecânico que acelerava seu coração. Claro que antes que pudessem chegar no quarto episódio da terceira temporada, Sollary já havia se rendido ao sono e adormecido nos braços dele. ao perceber, apenas pausou o episódio e ficou longos minutos acariciando os cabelos de sua esposa, olhando-a com carinho.

?! — sussurrou ele, ao notar que ela ainda vestia o roupão de banho — Amor?

A residente sorriu de leve ao ouví-lo, mantendo seus olhos fechados.

— Eu não estou dormindo. — sussurrou ela, de volta — Porque desligou a tv?
— Eu não desliguei a tv. — ele riu baixo — Acho melhor você vestir seu pijama e irmos dormir.
— Não estou com sono, não quero dormir. — disse em sua teimosia.
, você estava dormindo. — insistiu ele.
— Não estava não. — ela abriu um pouco os olhos — Estava descansando minhas vistas.
— Sei. — ele a olhou sério.
— Tá bom. — ela assentiu e meio cambaleando, se levantou do sofá.

Em um piscar de olhos, a pegou no colo de surpresa, levando-a para o quarto.

— Baker, eu tenho pernas, sabia?! — comentou ela, assim que o mesmo a deixou de pé no centro do quarto.
— Só estava garantindo que você não tropeçasse pelo caminho. — ele piscou de leve e se virou para sair.
— Aonde vai? Me chama para dormir e me abandona no quarto? — ela estranhou.
— Calma senhora Sollary Baker, eu já volto. — disse ele, saindo pela porta — Preciso recolher as coisas da sala.

Ela assentiu ainda sonolenta e se virou para o closet. Enquanto a residente colocava seu pijama, ao chegar na sala foi recolhendo os copos e guardando o restante dos alimentos na geladeira. Desligou a televisão e ajeitou as almofadas no sofá, então apagou as luzes e retornou para o quarto. Ao chegar, encontrou sua esposa já deitada na cama e completamente adormecida.

— Não está com sono, não. — sussurrou ele, rindo baixo — Você vive com sono.

Ele se espreguiçou um pouco, retirou o celular do bolso da calça e trocou de roupa. Antes de deitar ao lado de , Baker pegou novamente o celular e olhou as mensagens que recebeu. Algumas eram de James relatando alguns assuntos da oficina que somente ele poderia resolver, e uma em especial era de sua irmã Annia, comunicando que estava preparando um jantar em comemoração ao casamento deles, juntamente com Joseline Sollary.
Um suspiro cansado surgiu, assim que ele imaginou a possível reação da mulher ao seu lado, quando soubesse da notícia.

--


Na manhã seguinte, acordou ouvindo algumas vozes alteradas vindo da sala. Reconhecendo uma delas como a da sua cunhada. O que estaria Annia fazendo ali? Ela se trocou rapidamente e seguiu para sala, quando chegou se deparou com um clima pesado e de confronto de olhares sérios entre os irmãos.

— O que está acontecendo aqui? — só então o olhar de se voltou para o canto da sala, onde estavam Rosalie e Molly se escondendo atrás da tia.
— Oi cunhadinha, tudo bem? — Annia abriu um sorriso sarcástico, como se nada estivesse acontecendo — Vim visitar os recém-casados.
? — ela olhou para o marido.
— Annia veio por outro propósito. — explicou ele, claramente — Ela sabia sobre a Molly.
— Annia?! — voltou seu olhar chocado para a cunhada.

A chefe Baker por outro lado se manteve serena como sempre. Estava mais preocupada com outros assuntos que desenvolveram a situação até aquele estado.

faz uma tempestade em um copo de água. — ela voltou o olhar para Rosalie — Eu estava cuidando muito bem de vocês duas, me chateia ter perturbado a lua de mel do meu irmão.

Annia foi sutil em suas palavras, mas o que realmente queria dizer é: Você estava em segurança e me desobedeceu, não era para meu irmão saber desta forma, então se prepare para arcar com as consequências.

— Me desculpe, senhora Baker, mas sabe muito bem meu motivo de vir. — retrucou Rosalie, segura de que nada lhe aconteceria, enquanto estivesse sob a proteção do pai de sua sobrinha.
— Afinal de contas, o que a trouxe aqui? — perguntou diretamente ao marido.
— Há três meses a mãe de Molly foi assassinada, e quase chegaram a minha filha. — respondeu , retirando o cartão do bolso — Isso te lembra alguém?

pegou o cartão e fixou seu olhar no brasão e nas letras iniciais desenhadas.

— Andrei Tenebrae. — afirmou ela, chegando a conclusão.
— Por isso elas estão aqui. — concluiu ele.
— Como não mataram meu irmão, atacaram sua descendência. — completou Annia com simplicidade — Eu jurei a nossa mãe que não te contaria sobre isso, por isso não contei, não se quebra um juramento de família.
— Mas poderia ter facilitado para que eu descobrisse. — retrucou ele, ainda indignado com a tranquilidade da irmã — Annia, era um direito meu saber.
— E mudaria em que? Nossa mãe jamais aceitaria um bastardo na família. — disse a Baker, conhecendo quem a criou.
— E você é o que? — ele não mediu as palavras, mas controlou a raiva.
— Sou adotada legalmente, é diferente. — ela respirou fundo — Vou relevar seu ataque considerando que está chateado e raivoso.
— Não diga. — ele bufou.
— Ok, o que importa é que a Molly agora está à salvo e descobriu que ela existe. — entrou no meio de ambos — O fato a ser avaliado é como ficará essa situação.

A residente olhos para Rosalie.

— Elas ficarão morando no seu apartamento?! — continuou Sollary.
— Sim. — disse , ao mesmo tempo que Annia disse — Não.

Ele se voltou novamente para a irmã.

— Seria perigoso demais se as duas ficassem juntas. — argumentou Annia, antes que ele pudesse contestar — Eu já pensei em tudo no caminho para cá, Molly ficará com vocês dois, e Rosalie virá comigo para Manhattan.
— Eu não quero ir com você, prefiro ficar a minha sorte. — Rosalie se opôs de imediato.
— Você não tem o direito de querer nada, então não ouse se negar. — reforçou a Baker com o olhar intimidador.
— Está me ameaçando? — retrucou Rosalie.
— Ah não querida, ainda não é uma ameaça. — respondeu Annia, com ar irônico.
— Já chega, as duas. — elevou um pouco a voz e respirou fundo.

Ele já não sabia como agir ou reagir a tudo. E conseguia sentir nitidamente que precisava apoiá-lo de alguma forma.

— Tudo que essa criança conhece na vida está relacionado a tia. — a residente se pronunciou — Por mais que eu odeie a ideia, acho que por agora, até que a Molly se acostume conosco, seria mais prudente a tia dela ficar por perto.

Mesmo relutante, Annia concordou com a sugestão de , que pareceu sensata. Mais alguns pontos daquele acordo foram alinhados entre e a sua irmã, que fez questão de deixar claro que manteria um sliter por perto para observar Rosalie.

Eu apenas desejo esses pequenos confortos
Você não sabe do meu coração,
Que sempre quer fazer mais por você.
- No Other / Super Junior






Em algum lugar de Chicago...



O momento da verdade poderia ser considerado um recomeço para o casal complexo, mas claro que havia a possibilidade das coisas não voltarem a ser como antes. Era óbvio que o cargo de como a sliter segurança seria restituído, afinal jamais aceitaria que a mesma continuasse distante. De braços cruzados, encostado na parede, ele a observava conversando com Fisher a poucos metros de distância. O corredor ficou silencioso até que duas garotinhas passaram por ele aos risos, indo em direção a sua sliter.

— Titia! — gritaram juntas.
— Olá queridas! — as abraçou apertado e sorriu um pouco — Como estão?
— Cansadas. — respondeu Margareth, retomando o fôlego.
— Brincamos a tarde inteira no jardim. — contou Jullie em euforia.
— Isso é bom, então devem estar famintas também. — se manteve abaixada para ficar na altura delas.
— Estamos sim. — assentiu Margareth.
— Deixa que essa parte o papai cuida. — Fisher abriu um largo sorriso para as filha e pegando Jullie no colo — Que tal um sanduíche de queijo para o jantar e depois sorvete?
— Vamos poder tomar sorvete hoje? — Margareth perguntou com os olhos brilhando — O senhor está nos enganando?
— Claro que podem. — assegurou , rindo de leve — A tia não vai deixar o papai enganar vocês.

Ela piscou de leve para a sobrinha, que deu um pulo de felicidade.

— Tia vai com a gente, papai? — Jullie perguntou esfregando de leve seu olho.
— Não querida. — Fisher respondeu com serenidade — Tia está muito ocupada agora e vocês duas, depois de comerem, vão tomar um banho e descansar.
— Isso mesmo, se eu ficar, passaríamos a noite toda acordadas vendo televisão. — brincou , ao fazer cócegas em Margareth — E como ficaria amanhã? Não acordariam cedo.
— Eu queria ficar mais tempo com a titia. — reclamou Jullie.
— Eu também! — concordou Margareth.
— Prometo que em breve teremos nossa festa do pijama das garotas. — assegurou ela, erguendo seu corpo e olhando mais seriamente para Fisher — Qualquer coisa, não hesite em me ligar.
— Vai ficar mesmo tudo bem. — Fisher voltou o olhar para Dominos, agora afastado da parede e com as mãos nos bolsos da calça — Com ele?
— Sim, não se preocupe. — olhou de relance para seu chefe e retornou para o cunhado — O Dominos é assunto meu.
— Eu sei, mas ainda me lembro do soco que ele me deu. — comentou o homem, com a cena nítida em sua mente.
— Agradeço, por não ter revidado. — disse ela.
— Compreensível, dadas as circunstâncias, até eu tinha feito o mesmo. — ele riu — Já te falei isso.
— Prometo não demorar para vir aqui. — ela olhou para Jullie e sorriu.

Eles se despediram e seguiu em direção ao Dominos, que até o momento se manteve compreensível, principalmente depois de vê-la abraçar o cunhado. Ele sabia que ter uma irmã gêmea era o segredo mais precioso de sua sliter, porém não era o único e certamente sua busca para destravar aquela caixinha de surpresas estava longe de terminar.

— Vamos?! — disse ela.
— Para onde quer ir? — perguntou ele, mantendo a suavidade na voz.
— Porque pergunta isso? Não quer voltar para a sua casa? — perguntou ela, intrigada — Imagino que todos estejam eufóricos pelo jantar de noivado da Genevieve.
— Posso ser sincero?! — ele respirou fundo.
— Não, porque eu sei o que vai dizer. — ela riu baixo — Não pode mais deixar de ser Dominos, nem por um dia.
— Que se dane tudo. — ele pegou na mão direita da sliter e a puxou consigo.
— Para onde está me levando, Dominos? — perguntou ela, deixando-se ser guiada e dando risadas pelo caminho.

Ele apenas sorriu de canto, permanecendo em silêncio e direcionando-os para a saída do prédio. Na recepção, eles pegaram as chaves da moto de e os capacetes dirigindo-se para o estacionamento privativo, Dominos tomou a liberdade de pilotar no lugar dela, deixando-a perplexa por nunca tê-lo visto fazendo isso antes.

— Tem certeza que sabe o que está fazendo, Dominos? — perguntou ela, ao se agarrar no terno dele, assim que o mesmo deu a partida.
— Está com medo, Miller? — ele riu um pouco, mantendo sua atenção no trânsito.
— Considerando o fato de nunca tê-lo visto pilotar antes, não sabia desse seu lado, surpreendente. — respondeu ela, o óbvio.
— Não é a única com segredos, já falei. — comentou ele.

Ela soltou uma gargalhada boba e se manteve aninhada a ele por todo o restante do caminho, de olhos fechados apenas curtindo a sensação de adrenalina no corpo. Para a surpresa da sliter, seu chefe a levou para o prédio em que ela tinha uma quitinete alugada.

— Porque estamos aqui?! — perguntou ela, ao descer antes dele.
— Você não imagina mesmo?! — ele desceu atrás, deixando a moto no espaço destinado a ela na lateral do prédio.

tentou segurar o riso, mas não conseguia diante do olhar de criança que permanecia nele.

— Eu tenho as chaves agora. — ele retirou o chaveiro do bolso da calça e balançou para ela.
— Desde quando? — ela colocou a mão na cintura, desacreditada.
— Nada como um suborno por informações e uma boa oferta de compra. — ele sorriu de canto — Está olhando para o novo proprietário.
— Você comprou o loft?! — indagou ela, em choque.
— O prédio. — respondeu ele, com o olhar tranquilo.
— Mercenário. — sussurrou ela.

soltou uma gargalhada e segurou em sua mão novamente, tomando impulso para entrarem no prédio. Certamente era exagero de sua parte comprar todo o edifício, mas no fundo o Dominos só queria ter a certeza de que teria fácil acesso a sua sliter. Assim que entraram no loft, com o próprio fazendo as honras de abrir a porta e entrar carregando no colo.

— De onde tirou isso ?! — se remexeu um pouco no colo dele, em risos.
— Pare de se mexer, ou vou deixá-la cair de propósito. — reclamou ele, num tom de brincadeira.
— Me coloque no chão, antes que eu caia mesmo. — pediu ela.
— Ah, você não sabe o que é romantismo? — ele finalmente a deixou no centro da parte da sala e voltou para fechar a porta.
— Eu sei sim, mas essas coisas só acontecem em recém-casados em noite de núpcias. — explicou ela, o observando.
— E desde quando um Dominos se prende aos protocolos? — ele se afastou da porta seguindo até ela, com um olhar sugestivo.
— Dominos. — ela sussurrou apenas esperando as intenções dele.
— Que tal uma pequena lua-de-mel? — ele piscou de leve ao tocar em sua cintura, puxando-a para mais perto.

assentiu ao iniciar o beijo doce e intenso que prolongaria o restante da noite de ambos. a envolveu ainda mais em seus braços, movimentando seus corpos pelo lugar sem se importar de derrubar alguns móveis pelo caminho. A atenção de ambos estava fixa um no outro em pela sincronia de desejo e malícia. Uma forte sensação de estar matando a saudade diante de alguns dias distantes um do outro, fazia se render sem o menor esforço.

— Dominos… — sussurrou ela.
. — corrigiu ele, ao beijar de leve seu pescoço.

Eles se olharam por um tempo, até mesmo mantinha a respiração ofegante em plena sincronia.

— Eu te amo. — sussurrou ele.

Aquelas palavras já soavam com tamanha facilidade de sua parte.

— Eu também te amo. — sussurrou ela de volta, fazendo-o arrepiar.

Coração acelerado, instintos aflorados e nenhuma preocupação com o caos que havia do outro lado da porta. Nas próximas horas o mundo se resumiria a apenas os dois.

--


— Os médicos deram alguma previsão sobre a sua irmã acordar? — perguntou , mantendo-a aninhada a ele.
— Não, quando aconteceu o acidente, a única solução foi coma induzido. — respondeu ela, puxando mais o lençol para cobri-los — Espero que um dia ela possa acordar e voltar a viver a vida que sempre sonhou.
— Hum…

Dominos se manteve em silêncio, pensativo por um momento, enquanto acariciava os cabelos dela.

— Pergunte. — incentivou ela, sabendo as muitas indagações que estariam passando em sua cabeça.
— Como é esse lance de gêmeas? Todos sempre acharam que Lauren Miller tinha apenas uma filha. — ele manteve sua voz num tom baixo, apenas para sentir a respiração dela.
— Minha irmã sempre teve a saúde mais frágil, então claro que ela não serviria para ser filha de sliter. — ela deu uma resposta direta e objetiva.
— Os registros do orfanato Miral foram queimados no incêndio, mas me lembro de algumas conversas do meu pai, sendo claro sobre não ter irmãs gêmeas na época que você passou por lá. — indagou mais uma vez tentando entender a história.
— Segundo a Donna, minhas irmã havia sido entregue a uma outra família antes mesmo de eu passar pelo orfanato para ser legalmente adotada pela Lauren. — explicou ela, mais claramente.
— Então a Fletcher sabia desde o início. — concluiu ele, impressionado.
— Me diga um segredo que aquela mulher não saiba? — se remexeu um pouco, ficando de frente para ele — O que mais quer saber?

Ela pensou mais um pouco, em uma sutil troca de olhares.

— Mesmo estando em famílias diferentes, como mantiveram contato? — este era o ponto de maior curiosidade dele — Você sendo filha de sliter e ela em uma família comum.
— Tivemos uma pequena ajuda do senhor Han, deve se lembrar dele, o coreano namorado da Lauren. — detalhou ela, voltando a se aninhar a ele.
— Você o matou por minha causa. — comentou , lembrando-se do ocorrido.
— Ele sabia que uma promessa de sliter vale mais que sua própria vida. — ela começou a brincar com os dedos da mão esquerda dele, entrelaçando nos seus — Não se preocupe com isso.
— Só me sinto um tolo por ter dado espaço para dúvidas, mesmo depois de tantas provas de lealdade que me deu. — comentou ele, um pouco amargurado.

sabia muito bem que poderia ter evitado todo aquele afastamento se por um momento tivesse sido mais racional e menos emotivo.

— Não importa mais, estamos aqui, não estamos? — disse ela, com tranquilidade — Você vai mesmo levar a sério essa coisa de dia comum?!
— Claro que sim. — assegurou ele, confiante em seu plano de improviso.
— Então, porque não falamos sobre algo bom? O casamento da Gen? — sugeriu ela — Soube que ela está muito feliz com o pedido do Lance.
— Sim, ela e a tia Sophie não falam sobre outra coisa. — comentou ele, rindo de leve — Estou feliz por ela, o Village é um cara legal e se não for, sabe o que acontece.
— Nossa, que irmão protetor! — virou o corpo o encarando novamente — Imagino quando tiver uma filha, o que fará com o rapaz que se aproximar dela.
— Bem, quando tivermos nossos filhos, eu serei um excelente pai. — ele piscou de leve, se remexendo um pouco e aproximando mais o corpo dela ao dele.
— E porque acha que teremos filhos?! — perguntou , segurando o riso.
— Porque vamos treinar muito bem agora. — ele inclinou seu corpo um pouco mais e a beijou com malícia.

apenas retribuiu com a mesma intensidade, uma vez mais sentindo todo o seu corpo se arrepiar com o amor do homem que a aquecia por dentro.

--


— Eu te amo, , mas não vou poder comparecer a sua inauguração. — a voz de estava baixa, entretanto continuava nítida a audição da sliter.

apenas se remexeu na cama, ainda sonolenta, porém ouvindo a conversa com clareza.

— Mande minhas felicitações a , ainda não consegui ligar para ela e parabenizar pelo casamento, mas diante do que está me contando. — que olhava da janela para os carros que passavam, voltou sua atenção para Miller que se espreguiçava na cama — Espero que tudo possa se ajustar para ela e o .
Já que não terei meu irmão mais velho em um dia importante da minha vida por motivos óbvios, espero que possa aproveitar seu momento com a . — disse do outro lado da ligação — Te vejo quando em Seattle?
— Em breve, mas antes disso teremos o jantar de noivado da Gen. — respondeu ele — Não se atreva a faltar.
Como poderia faltar, se eu vou preparar o jantar em pessoa. — retrucou , sentindo-se honrado pelo pedido da irmã.
— Ah… De alguma valia seus dotes na cozinha tem que ter. — brincou ele, rindo baixo.
Ha, ha… Muito engraçado. fez uma careta do outro lado da ligação — Saiba que para você eu vou cobrar o triplo da conta quando vier aqui.
— Depois eu que sou o mercenário da família. — caiu em risos, mantendo seu olhar em , que o observava — Preciso desligar agora.
Hum… A sliter acordou? — supôs .
— Sim, te vejo no jantar da Gen. — assentiu o Dominos chefe.
Até e juízo. — brincou o caçula.

riu um pouco mais ao encerrar a ligação.

— Não precisava ter encerrado porque eu acordei. — comentou ela, se espreguiçando novamente.
— Já conversei o suficiente com meu irmão. — retrucou.
— E sobre o que conversavam? Ouvi o nome da . — perguntou ela, mordiscando de leve o lábio inferior.
— Parece que ela e o estão em um desentendimento. — ele encostou no peitoril da janela e cruzou os braços — Acredita que o Baker tem uma filha?!
— Eu já sabia. — ela respirou fundo, não podia mentir para ele.
— Como assim você sabia e não me disse nada? — ele se impressionou agora.
— O segredo não é meu, não poderia contar… Mas é como eu disse, Donna Fletcher é a caixa de Pandora que guarda todos os segredos. — disse inicialmente de forma enigmática — Contudo, sendo mais clara, Annia me deve alguns favores ocultos e este é um deles.
— Como assim? — ele manteve o olhar atento para ela.
— O que eu sei da história é que arrumou uma namorada há uns seis anos atrás, não era de nenhuma família importante e ambos foram afastados pela Allison Baker. — iniciou ela detalhando mais — Conhecendo bem a mãe, Annia teve seus motivos para não tê-la deixado descobrir que a tal namorada engravidou, assim ela pediu um favor a Donna que pediu para mim.
— Donna Fletcher tinha mesmo que te envolver? — ele pareceu chocado.
— Nessa época ela estava focada em resolver alguns problemas familiares. — respondeu a sliter com serenidade — Mas, que bom que o Baker descobriu que é pai, Annia é quem deve estar surtando agora.
— Será que ela sabe que ele descobriu? — comentou ele — Ela parecia bem tranquila no nosso encontro ontem pela manhã.
— Vai saber, nem mesmo sei se Allison Baker descobriu depois do nascimento da criança. — ela finalmente se descobriu e levantou da cama — Mas sejamos francos, a situação deles ainda consegue ser melhor que a nossa.

Brincou ela.

— Toda situação é melhor que a nossa. — comentou ele, impulsionando o corpo para se aproximar dela.
— Não, toda não, exceto a do com a . — observou ela sabiamente.
— Ah, meu irmão, ainda não consigo entender o que deu nele. — , envolveu seus braços ao redor dela — Agora ela está na base da Darko na Rússia bem próximo ao Bellorum.
— Não está mais, me mandou uma mensagem dizendo que estava a caminho do acampamento da avó dela. — contou ela — Parece que minha amiga quer ser mais forte e independente como a avó, às vésperas de oficialmente se auto declarar a herdeira perdida.
— De fato, eu recebi uma ligação de Irina Baker mencionando sobre isso, me parece que em breve receberei um convite formal de para o jantar dos herdeiros. — concordou ele — Certamente como o novo herdeiro Bellorum, ele vai garantir a segurança dela ao máximo.
— Disso eu não tenho dúvida. — ela envolveu seus braços no pescoço dele — Mas… Que tal não falarmos mais sobre outras pessoas e a Continuum? São assuntos do outro lado da porta.
— Foi a senhorita que começou ao perguntar sobre a . — disse ele em sua defesa — Mas a ideia é boa, que tal voltarmos ao assunto dos filhos que teremos?

Ela soltou uma gargalhada boba.

— Senhor Dominos, não somos máquinas e eu estou com fome. — disse ela ao dar um selinho inesperado nele e se afastar — Aposto que também está.
— Você pode ser o meu alimento. — brincou ele, abraçando-a por trás, mantendo seus braços envoltos na cintura dela.
— Canibalismo não é bem visto pela sociedade, acho que já te disse isso. — brincou de volta, rindo de leve — Que tal espaguete ao sugo?
— Nada mal, eu sempre me esqueço que a Lauren era descendente de italianos. — comentou ele, ao se lembrar que todas as comidas favoritas dela eram provenientes da gastronomia italiana.
— Então vamos cozinhar, senhor Dominos. — disse ela, tentando se locomover até o armário.
— Pare de me chamar assim. — ele deu uma mordiscada de leve no ombro dela, fazendo rir.
— Não fala isso, faz cócegas e vai me desconcentrar. — reclamou ela, se encolhendo um pouco — Foi você quem pediu.
— Tudo bem, que homem exigente. — sussurrou ela, em reclamação.
— Que mulher teimosa. — retrucou ele, em sussurro também.

Uns instantes de silêncio, então caíram em risos.
Era um fato que o desajustado improviso de estava saindo melhor que a encomenda e aquele pequeno loft seria a partir dali o mundo particular de ambos. O lugar onde poderiam viver nem que por algumas horas, uma vida normal e longe dos olhos da Continuum e seus inimigos.

Eu perdi minha cabeça,
Desde o momento em que te vi.
Só de estar ao seu lado, meu mundo fica em câmera lenta,
Por favor, diga se isso é amor?
- What Is Love / EXO






- Algum lugar do Texas, 2018



Final da primavera, a espera pelo nascer do sol nunca foi tão vibrante para . Seu coração acelerado para o primeiro dia de treinamento e um leve frio na barriga com medo do que poderia vir a seguir. Dois toques na porta foram o necessário para despertar a atenção da bailarina que estava nos raios de sol que adentrava o quarto. Seu olhar voltou para o relógio do celular, que marcava seis da manhã. Ao se levantar da cama, deu alguns passos até a porta.

— Tem alguém aí?! — disse, ao ver a sombra de alguém no corredor.
— Já está acordada, querida? — a voz de Donna soou do outro lado.
— Sim. — a garota assentiu ao tocar na maçaneta e abriu a porta em seguida — Bom dia, vovó.
— Bom dia, minha criança. — Donna sorriu com suavidade — Está pronta?
— Confesso que não consegui dormir essa noite, mas acho que estou sim. — ela respirou fundo, tentando controlar sua agitação interna.
— Troque de roupa e me encontre no galpão. — ordenou a matriarca.

A bailarina assentiu com a cabeça e fechou a porta. Dando alguns passos até o armário de roupas, abriu a segunda gaveta e ficou olhando por alguns segundos para descobrir o que poderia usar naquele primeiro dia. Rapidamente ela se lembrou de alguns conselhos de Nissah quanto ao vestuário, algo confortável e que lhe permitisse melhor mobilidade. Ou seja, um conjunto de moletom era a melhor pedida, não somente para os ensaios de dança, como também para os treinos que ela enfrentaria.
Após se trocar, saiu do seu quarto e seguiu pelo corredor até chegar às escadas. Descendo calmamente os degraus, percebeu que a casa estava levemente silenciosa. Como ordenado por sua avó, seguiu até o galpão. Para sua surpresa, Donna Fletcher era a única no lugar, parada bem ao centro esperando sua tão aguardada aprendiz.

— Estou aqui, vovó. — disse , ao se colocar em sua frente — Onde estão todos?
— Os outros sliters estão em uma atividade na floresta aqui perto, ficarão o final de semana todo. — explicou a matriarca, mantendo a atenção em sua neta — Para iniciarmos seu treinamento, terá que seguir duas regras.

assentiu com a face, permanecendo em silêncio para ouvir o restante.

— A primeira, enquanto estiver aqui, não vai mais me tratar como sua avó e eu não te tratarei como minha neta, aqui eu sou Donna Fletcher e você uma sliter em treinamento. — assim que a matriarca disse, ela engoliu seco — E a segunda, uma vez que iniciar, não vai poder desistir, terá que ir até o final… , você tem certeza que é isso que quer?
— Sim. — disse ela, sem dar espaço para dúvidas — Vamos iniciar.
— Muito bem. — Donna olhou rapidamente para trás, na direção da parte mais escura dos fundos do galpão e logo um homem encapuzado apareceu, encostado na parede com o rosto parcialmente sombreado.

O homem mantém as mãos nos bolsos da calça, se afastando da parede, dando seus passos de forma lenta e misteriosamente. A cada passo, o coração de acelerava um pouco mais. Assim como sua curiosidade só aumentava.

— Quero que conheça o meu segundo melhor sliter, a partir de hoje ele será o seu treinador. — disse ela, ao apresentá-lo — Collins, está é Fletcher, minha aprendiz.

Ele permaneceu em silêncio, porém de relance a bailarina conseguiu ver um sorriso de canto em seu rosto que estava parcialmente escondido pelo capuz.

— Vou deixar vocês trabalharem. — disse ela, ao dar o primeiro passo para se retirar — Boa sorte, .
Agora o modo sliter de Donna Fletcher estava ativado.
E aos olhos da avó, seria apenas uma novata em fase primária de aprendizado. A matriarca se afastou do galpão e retornou para casa, ela tinha uma missão: preparar o jantar dos herdeiros. E nada melhor que uma das chefs mais prestigiadas pela Draconis para estar à frente do cardápio da noite.
— Adeline Miller. — disse a mulher, assim que sua ligação foi atendida.
— Donna Fletcher? — a voz da mulher demonstrou surpresa pela ligação — A que se deve essa ligação?
— Daqui três semanas eu darei um jantar em terreno neutro para todos os herdeiros, preciso da melhor chef que a Draconis possui. — ela foi direta e precisa.
— Você sabe que minha família é tão imparcial como a sua. — disse Adeline, criando argumentos para recusar.
— Por isso sei que o cardápio estará seguro em suas mãos e ninguém será envenenado. — brincou Donna, ao rir de leve — Você pode ter saído de casa e cortado relações com sua família, mas sempre será uma Miller onde quer que vá e o que quer que faça.
— Só um jantar e eu ficarei a noite inteira na cozinha. — Adeline soltou um suspiro, suas palavras expressavam suas condições para aceitar — Não quero me envolver além do necessário.
— Não vai, eu garanto. — prometeu a Fletcher.
— E não quero que a saiba que estarei lá. — pediu.
— Não posso impedir os convidados de cumprimentar a chef. — argumentou Donna.
— Pode sim. — insistiu ela.
— Por que não quer ver a ? — perguntou a sliter, esta parte da história ainda era uma incógnita para ela — Ambas são irmãs.
— Adotivas. — acrescentou Adeline o detalhe — Não é que eu tenha raiva dela ou algo assim, para ser sincera, agradeço a Deus pela ter sido adotada por minha mãe, assim pode lhe dar o orgulho de filha perfeita que eu não dei.
— E porque está fugindo dela? — insistiu Donna.
— Porque ela me faz lembrar de todo esse mundo de segredos e mentiras que eu tento esquecer. — Adeline respirou fundo — Eu farei o seu jantar, mas é apenas isso que a Continuum e a Draconis terão de mim.

Antes que Donna pudesse dizer mais alguma coisa, a ligação encerrou. A sliter parou por alguns minutos para pensar nas palavras da garota. Ela se lembrava bem de como não foi fácil para Adeline seguir para sua liberdade, a Miller que renegou o legado da família e escolheu trilhar seu próprio caminho. Mas a Fletcher sabia que uma vez envolvida naquele mundo, era complicado viver sem se esbarrar nos conflitos que o mesmo carregava.

— Senhora Fletcher. — o sliter assistente se aproximou dela com uma prancheta nas mãos.
— Diga Carl, o que houve agora? — perguntou ela, guardando o celular no bolso.
— Estou montando a lista de convidados para o jantar dos herdeiros, assim o convite será entregue na segunda pela manhã. — disse o homem, em seu jeito competente de executar suas tarefas.

Mesmo que não fosse um sliter perfeito e completo assim como Collins e , a matriarca o tinha como seus olhos e ouvidos entre as duas sociedades. Aplicado, organizado e muito esperto para perceber os detalhes mais insignificantes, e que certamente são necessários para sua chefe.

— Quantos convidados ao total? — perguntou Donna, já se preocupando com a segurança de todos — me pediu algo impecável e conto com você para isso.
— Não se preocupe senhora, tudo sairá milimetricamente como planejado. — assegurou o rapaz, não seria sua primeira vez organizando um evento não importante como esse — Serão o total de nove herdeiros.
— Confirme os nomes. — ordenou ela.
— Representando a Continuum, Dominos, Sollary, Annia Baker, Bellorum e Carlise Tenebrae. — iniciou ele a lista — Já a Draconis, Donatella Castelatto, Ichiro Yamazaki, Catrina Laurento e Damon Ahlberg — Tenho certeza que você acrescentou os convidados. — indagou ela.
— Sim senhora, a sliter Miller, o legítimo Baker e o primogênito Vincent Bellorum estão confirmados, juntamente com os convidados Draconis Niklaus Savoia e Hale Magnus. — completou ele, já com os nomes decorados.
— Então prossiga com o planejado, quero a proporção de três sliters para cada herdeiro e convidado. — ordenou ela.
— Devo contar com a Miller e o Dominos? — perguntou o rapaz confuso — Ela já vale por dez.

Donna riu de leve com a inocência dele.

— Vamos precisar de mais sliters para os dois, eles são o alvo principal do Andrei e esse jantar é a deixa perfeita para um ataque do inimigo. — concluiu ela, receosa pelo pedido dos irmãos Bellorum — Entretanto, não devemos temer o inimigo, certamente ele vai morrer de medo quando souber desse evento.
— Eu nunca acreditei no ditado inimigo do meu inimigo é meu amigo, mas estou impressionado por presenciar isso. — comentou o rapaz.
— Vai descobrir que essas palavras são tão reais quanto o café que tomou esta manhã. — assegurou ela — Agora, volte ao trabalho e se ver algum barulho suspeito vindo do galpão, me ligue.
— A senhora vai sair? — perguntou ela, intrigado.
— Preciso visitar alguns familiares. — explicou ela — Deveriam ser 10 herdeiros e não 9.

Carl assentiu com a face e permaneceu em silêncio, ao observá-la se retirar. O sliter só sabia da ponta do iceberg e se admirava com os diversos segredos que sua chefe mantinha para si. Donna Fletcher era mesmo a caixa de Pandora que até mesmo Andrei Tenebrae não se atreveria a abrir.

--

- Enquanto isso, no galpão



permanecia imóvel, apenas esperando alguma iniciativa do seu treinador. Ela sabia que sua amiga era o topo da lista dos melhores sliters, e já tinha visto do que Miller era capaz. Agora estava curiosa para saber em que o segundo melhor perdia para sua amiga, e se ele era tão destemido quanto ela.

— Não vai dizer nada?! — perguntou , sentindo uma aflição interna misturada ao medo.

Aquele silêncio lhe deixava agoniada.

— Primeiro passo para ser um bom sliter… — o homem finalmente se pronunciou para ela, mantendo sua postura estática — O silêncio, sem ele, você não consegue estudar seu inimigo.

assentiu com a face.

— Já que está ansiosa demais para se tornar mais forte, vamos ver o seu nível. — ele fechou os punhos em um rápido movimento avançando contra ela — Defenda-se.

apenas fechou os olhos no susto.
Segundo depois, ela os abriu novamente ao perceber que nada tinha lhe acontecido. A mão direita ainda fechada de Collins, estava em frente aos seus olhos, imóvel como um filme que tinha sido pausado. Seu coração acelerado e totalmente assustada, era visível em seu olhar.
O que viveu aqui? Como Annia sobreviveu a isso? Pensou ela, sentindo o corpo trêmulo. Nem mesmo havia iniciado e já precisava lutar com o arrependimento que surgia em seu interior.

— Exatamente como eu imaginei. — disse Collins, abaixando sua mão — A neta que acha que será forte, você não é a sua avó, não é a Annia, e nunca será a .
— Eu não vou desistir, se é isso que está tentando fazer. — retrucou ela, juntando sua confiança em suas palavras.

Ele sorriu de canto.

— Veremos. — disse ele, virando-se de costas.
— Aonde vai? — perguntou ela.
— Nós vamos. — respondeu dando o primeiro passo — Siga-me.
— Não vamos treinar aqui? — perguntou novamente — Nissah me ensinou alguns golpes e também, eu já sei me defender basicamente.
— Sabe? — ele voltou-se novamente para ela, rindo alto — Você sabe atacar também?
— Se for preciso. — disse ela.
— Me ataque então. — disse ele, abrindo os braços.

ficou parada, tentando entender se era mesmo isso que ele queria.

— Vamos, finja que sou o Andrei e me ataque. — ordenou ele.

não pensou em suas ações e menos ainda nas consequências. Ela simplesmente fechou os punhos e lembrando-se de algumas dicas de sua amiga Nissah, deu impulso em seu corpo para atacá-lo. Collins facilmente se desviou do primeiro soco e brincando com a garota, a deixou chegar bem perto de acertá-lo. Quanto mais a bailarina se irritava com a forma em que ele conduzia o que basicamente não se chamaria aquilo de luta, mais o sliter se divertia em como conseguia com tanta facilidade deixá-la desestabilizada.

— Foi só isso que aprendeu? — disse ele, em provocação.

que estava caída ao chão pela milionésima vez, se levantou e tentou golpeá-lo mais uma vez. Ela não entendia o que estava fazendo de errado para não ter sucesso, todos os seus passos estavam sincronizados com o que tinha aprendido, mas parecia que não valia muito para Collins.
Já ele, tinha aproveitado todo aquele momento para avaliar sua aprendiz e descobrir suas fraquezas. Obtendo o sucesso esperado no final.

— Eu te odeio! — gritou , ao lançar sua perna direita para derrubá-lo.

Entretanto, o mesmo elevou seu tornozelo fazendo-a desequilibrar, e então derrubando-a com facilidade. Collins jogou seu corpo sobre o dela e prendendo suas mãos contra o chão a imobilizou de imediato. tentou se debater para se soltar sem sucesso, seus olhos continham uma mistura estranha de fascinação, raiva e medo.

— Você nem me conhece, como pode me odiar. — comentou ele, rindo baixo.
— Me solta. — disse ela, num tom firme e autoritário.

Certamente havia aprendido aquilo de muito observar Annia, nos raros momentos juntas.

— Pelo menos se parece com a sua avó, em dar ordens. — ele ficou sério por um tempo.
— O que sabe sobre mim? — perguntou ela.
— O suficiente. — respondeu ele, olhando-a fixamente.

Só então conseguiu ver com clareza todo o seu rosto. Collins tinha os olhos azuis e profundos, como o mar, que é capaz de hipnotizar sua presa sem o menor esforço. Seus traços marcantes davam lugar a uma pequena cicatriz em forma de meia lua do lado esquerdo de seu rosto, pegando milímetros acima de sua sobrancelha, até o início da sua bochecha. O olhar da garota, por mais que se esforçasse para não encará-lo, continuava focado naquela cicatriz.
Um silêncio pairou entre ambos que podia ser ouvido a respiração ofegante vindo deles.
— O segundo passo para ser um bom sliter… — pronunciou ele — Controle suas emoções.

Ela se manteve sem reação, apenas sentiu ele soltar seus pulsos e o observou se levantar. Permanecendo no chão, apenas ergueu seu corpo, mantendo o olhar nele.

— O que adianta aprender golpes dos quais não sabe aplicar. — ele voltou seu olhar para o lado e respirou fundo, também precisava se controlar internamente.

Logo o barulho de um rangido proveniente do portão dos fundos soou pelo lugar. Era a sliter Stelle adentrando o lugar com suas luvas de box na mão, acompanhando do seu olhar curioso por vê-los ali.

— Não sabia que o galpão estava ocupado. — comentou ela, mantendo o olhar em Collins.
— Já terminamos. — disse ele, dando o primeiro passo para sair, e voltando-se para a bailarina — Descanse por hoje, iniciaremos amanhã antes do amanhecer.

Mais alguns passos para os fundos e Collins foi parado por Stelle ao passar por ela. A mulher de andar sinuoso visivelmente tinha interesses nele, e fazia questão de deixar claro para todos.

— Vai ficar de babá agora?! — perguntou ela, num tom debochado.
— Pense bem antes de prosseguir com seus comentários. — sussurrou ele — Mesmo sendo aprendiz, ela ainda é uma Fletcher.

Ele continuou seguindo para a saída. Enquanto finalmente se levantava do chão e tentava entender o que tinha acontecido.

Fletcher, não é?! — disse Stelle se aproximando dela.
— Sim, e você? — indagou a bailarina.
— Sou a número cinco, Stelle Ortiz. — respondeu ela, com traços de orgulho na voz.
— Prazer. — , apenas deu um passo para trás e se retirou do galpão.

Assim que seu sangue esfriou, finalmente seu corpo deu traços de dores e ardência. Ao olhar para o braço, havia um pequeno corte que não tinha percebido até o momento. Um suspiro cansaço e uma olhada em volta para finalmente localizar a enfermaria. Quando entrou no lugar, a responsável não estava, porém ela conseguiu avistar uma pessoa deitada na última maca, onde uma cortina escondia parte do seu corpo.

— Enfermeira Kim?! — disse uma voz feminina, vinda da pessoa acamada — É você?
— Não. — respondeu , se aproximando e abrindo a cortina.
— Ah, achei que fosse ela, minhas dores estão começando a voltar. — reclamou a garota.

percorreu os olhos por ela, vendo sua perna direita engessada assim como o braço esquerdo, havia escoriações em seu rosto e no abdômen que estava descoberto. Um olhar desanimado e também curioso pelo fato da bailarina ser novidade no centro.

— Quem é você? Não tem cara de enfermeira. — perguntou em tom brincalhão.
— E não sou, meu nome é . — a bailarina se aproximou um pouco mais e sentou na beirada da cama — E você?
— Meg. — respondeu a sliter — Você é neta da senhora Fletcher.
— Sou. — assentiu.
— O que faz aqui? — a menina tentou conter o olhar curioso sem sucesso.
— Comecei meu treinamento hoje. — respondeu.
— Meus pêsames. — as palavras saíram espontaneamente dela.
— Por que? — demonstrou preocupação.
— Os treinamentos daqui não são nada fáceis. — explicou a garota, voltando o olhar para seu corpo — Isso foi o que restou de mim depois do último torneio.
— Lamento, porque está aqui? — indagou.

Afinal, ninguém se torna um sliter obrigado.

— Melhor passar por isso, do que ser abusada no orfanato onde eu morava. — a voz da garota ficou mais baixa e com traços de amargura.
— Eu lamento, você é órfã? — o olhar de demonstrou empatia na resposta dela.
— Sim, aparentemente esse é um pré-requisito para ser um sliter se você não pertence a uma família com esse legado. — explicou a menina.

parou por um minuto para absorver a informação. Um pouco zonza por imaginar que certamente há mais histórias por trás disso.

— E como você se tornou? Como minha avó te achou? — indagou.
— Eu fui recrutada por uma sliter chamada Anastasia Fulhan, ela é uma assassina profissional atualmente, mas na época trabalhava aqui para a senhora Fletcher. — explicou ela, lembrando-se de como a tinha conhecido — Eu estava correndo, era minha sexta tentativa de fuga quando cruzei o seu caminho, então me fizeram a oferta de ser uma sliter, eu aceitei e vim morar aqui.
— Você tinha quantos anos? — manteve sua atenção nela, não percebendo a chegada da enfermeira.
— Dez. — respondeu.
— Meg já está contando histórias de novo? Deveria se concentrar em ficar mais forte. — a enfermeira a repreendeu, inicialmente ignorando a presença da Fletcher — Você nem mesmo conseguiu subir de categoria, novamente.
— A culpa não foi minha, senhorita Kim, logo na primeira luta me colocaram contra a Ortiz. Como posso vencer a Top5? — a garota emburrou a cara, fazendo-a rir — Acabei fechando o torneio sem nenhum ponto.
— E você, deve ser . — comentou a enfermeira — O que faz aqui?
— Eu acho que me acidentei. — explicou ela, no improviso.
— Sente-se nessa cadeira, vou examinar. — disse Kim, um pouco desconfiada. — Acostume-se , o dia que você não vier aqui, é um dia vivido errado nesse lugar. — comentou Meg, em sua visão da realidade.
— Vou me lembrar disso. — disse , ao se sentar na cadeira.

Era real a hierarquia entre os sliters.
Naquela brutal pirâmide, estava na base da cadeia alimentar como uma mera aprendiz, e os 10 melhores integram o topo da pirâmide. A cada mês torneios e disputas eram lançados para medir o nível de cada sliter, que se dividiam em três categorias e ficavam abaixo do invejado Top 10. Havia um longo caminho a se percorrer para a bailarina, se caso ela almejasse pelo menos sair da base.

— Então, nesse Top 10, só temos a chance de ficar entre o 6º e o 10º lugar?! — indagou , tentando entender aquela parte.
— Sim. — assentiu Meg — Os cinco primeiros nunca mudam, nunca mesmo, desde que eu entrei aqui.
— E quem são? Eu sei que a é a primeira, o treinador Collins é o segundo, e tem a Stelle, mas não conheço os outros. — comentou .
— Você conheceu a Stelle? — perguntou ela, tendo a resposta com o balançar da cabeça da bailarina — Nossa, que tristeza.
— Por que? — ela se mostrou curiosa.
— Ela é a sliter mais desprezível e arrogante que eu conheço. — explicou Meg, fazendo uma careta de leve — Além de invejosa, sempre quis ser a melhor e nunca conseguiu.

Meg riu.

— Você conhece a Miller? — perguntou.
— Sim, somos amigas de orfanato. — contou .
— Uau, e ela é legal? — se mostrou impressionada.
— Sim, ela é bem legal, muito divertida às vezes. — contou — Meg, quais são os outros? O três e o quatro?
— Ah, esqueci de te dizer, o três é o Carl, apesar de não ser tão forte assim, suas habilidades com tecnologia e espionagem são maravilhosas e a quarta é a minha salvadora Anastasia Fulhan, ela é maravilhosa com armas, uma especialista. — respondeu a garota, animada com a conversa.

passou o restante do dia na enfermaria conversando com Meg, descobrindo um pouco mais sobre o centro de treinamento de sua avó, com a mais nova amiga tagarela. Quanto mais ouvia, mais ela fica curiosa sobre seu treinador.

— Não acredito que sobrevivi ao primeiro dia. — sussurrou ela, ao entrar em seu quarto — Sinto que perdi parte da minha dignidade hoje.

Ela olhou para o celular que tinha deixado na cabeceira da cama. Tinha algumas mensagens de sua tia Beth, perguntando se estava tudo bem. Uma de dizendo está surpreso por ela ter deixado a Darko e de , dizendo estar com saudades. Respirando fundo, passou alguns instantes rolando sua lista de contatos até que caiu em sua amiga sliter. Ela pensou em ligar, porém desistiu e colocou o aparelho no lugar novamente.
Um banho quente e roupas confortáveis foi tudo o que se permitiu ter naquele final de noite. Antes de deitar, ela se aproximou da janela e olhou para o lado de fora para contemplar o horizonte por um tempo, até que avistou Collins treinando sozinho enquanto dava golpes ao vento. Logo os punhos de fecharam de forma espontânea, ao lembrar de todas as vezes que ele a derrubou naquele dia.

--


— Está atrasada. — o tom rude soou de Collins, assim que ele ouviu o barulho do portão principal do galpão se abrindo, mantendo o olhar no relógio em seu pulso.
— Você não estipulou um horário, então eu não estou atrasada. — disse ela, se aproximando.
— Eu disse antes do amanhecer, consigo ver os raios do sol entrando pela janela. — retrucou ele, cruzando os braços e a olhando.
— O que vai acontecer agora? Serei punida? — bufou controlando sua irritação.
— Me ter como instrutor já é uma punição. — ele riu baixo e se virou — Venha comigo, vamos iniciar seu treinamento.
— E para onde vamos? — perguntou ela, ao começar a segui-lo.
— Terceiro passo para ser um bom sliter, não faça perguntas. — brincou ele, continuando em direção a saída.

se manteve logo atrás fazendo uma careta para ele.
Longos minutos de caminhada que se transformaram em duas horas até chegarem em uma clareira. Collins se colocou bem ao centro do lugar e voltou sua atenção para a aprendiz que se negou até o último minuto a aceitar treinar.

— Então, o que vem agora? — perguntou ela.
— Vamos começar trabalhando na sua resistência física. — explicou ele, retirando um cronômetro do bolso da calça — Que tal uma corrida para aquecer o corpo? Soube que era seu esporte favorito no ensino médio.
— Sim, mas prefiro no período noturno. — retrucou ela.
— Será no período que eu quiser. — ele sorriu de canto, mostrando o cronômetro zerado — Valendo.

Ambos começaram com algumas voltas pela clareira, até encontrar seu ritmo. Tempo depois, Collins tomou impulso para adentrar a floresta a chamando consigo, era a hora da bailarina relembrar os velhos tempos de corridas noturnas pela reserva da cidade de Cliron com seu amigo Cedric. Pequenas escaladas pelos rochedos, árvores como obstáculos e uma cachoeira para incrementar a trilha.
Ao final de cada dia, já sentia todos os músculos do seu corpo pedirem por rendição.
E foi uma dolorosa rotina que perdurou por mais alguns dias.

— Boa noite, senhora Fletcher. — disse a bailarina, ao adentrar a cozinha da casa grande.
— Boa noite. — Donna que mantinha sua atenção no jantar que preparava, sorriu de canto ao perceber o cansaço na voz de sua filha — Está com fome?
— Não sei, acho que estou cansada demais para ter forças para mastigar algo. — confessou ela, soltando um suspiro franco enquanto puxava a banqueta para se sentar.

A matriarca riu de forma espontânea, adorava a forma sincera de sua neta.

— Realmente não tinha ninguém melhor que ele para me treinar?! — perguntou , demonstrando seu esgotamento.
— Está pensando em desistir? — Donna terminou seu preparo e colocou a travessa de vidro no forno — Sabe que não pode.
— É claro que não. — disse com segurança — Não vou desistir vovó, quer dizer, senhora Fletcher.
— Então, qual o motivo de sua indagação? — ela olhou a neta atentamente, segurando o riso.
— Parece que ele quer me matar ao invés de me treinar. — reclamou ela, mostrando seu braço enfaixado — Todos os dias eu termino na enfermaria com alguma parte do meu corpo cortada e todo resto em dores, isso não é normal, é um massacre de mim.
— Collins só está abaixo da Miller, acho que já sabe disso, deveria ser grata por ser treinada por ele. — Donna manteve uma sutil seriedade no olhar — Não se atinge em sete dias a habilidade de sete anos, tenha um pouco de paciência e fé em si mesma.
— Mas vovó?! — ela tentou argumentar. — Nem te pedi em casamento e já está pedindo o divórcio? — brincou Collins ao aparecer na porta e dar alguns passos até a bancada lateral, pegando uma maçã para comer.

Donna Fletcher soltou uma gargalhada boba, ao se lembrar dos tempos em que treinava seus cinco melhores sliters. Havia uma forte competição entre Collins e que sempre a deixava em alerta, mas também a divertia muito.

— O jantar está quase pronto, e como eu sei que vocês precisam passar mais tempo juntos, vigiem o forno. — ordenou a matriarca — Preciso dar um telefonema.

Assim que a matriarca se retirou, o silêncio pairou pela cozinha. se manteve sentada onde estava, enquanto Collins encostou na parede da porta e ficou a encarando.

— Como está seu braço?! — perguntou ele, movendo seu olhar para baixo.
— Agora está preocupado? — retrucou ela ao olhá-lo — Disse que era frescura minha quando me machuquei.
— Em uma luta de verdade não se deve dar espaço para sentir dores quando se machuca. — argumentou ele.
— Você sempre tem uma resposta pronta pra todos os meus questionamentos. — reclamou ela, soltando um suspiro cansado.
— Porque eu já fiz cada um deles quando estava no seu nível. — contou ao rir baixo, olhando-a fixamente — Você acha que foi fácil me tornar o que sou hoje?
— Não quero me tornar arrogante como você. — retrucou ela.
— Claro que não, esse charme é só meu. — ele piscou de leve e deu outra mordida na maçã.

Ela revirou os olhos indignada.

— Esse é o seu problema. — continuou ele — E ansiosa demais para esperar seu próprio tempo, se espelha em suas amigas, mas não sabe a metade do que elas passaram e não aguenta nem um quarto disso.
— Esse é o seu problema, você acha que me conhece. — ela o confrontou — Você não sabe nada sobre mim.
— Não?! — ele riu.
— Não. — confirmou ela.
— Deixa eu ver, você é a neta da senhora Fletcher que foi criada no mundo de princesa longe de todos os perigos da Continuum, foi adotada pela família mais segura que existe e até foi para a faculdade. — iniciou ele, sua suposição — E agora só porque viu o quão incríveis são suas amigas de orfanato, você quer se tornar uma heroína como elas… Essa é você, e posso até supor que deva ter seu príncipe encantado a sua espera para a graduação final.

começou a rir de nervoso.

— Você realmente não sabe nada sobre mim. — ela controlou seu tom de voz para não alterá-lo — Eu passei a minha vida inteira sendo escondida de algo que apenas serviu para sabotar a minha liberdade, o dia em que eu reencontrei as minhas amigas eu estava lutando para me manter viva, porque já se completava dias em que Andrei Tenebrae tinha me sequestrado e eu estava sobrevivendo naquele lugar sem poder comer e menos ainda sentir o gosto da água… Por causa da Continuum eu fui deixada pelos dois homens de eu amei na minha vida, alegando que era para me proteger, justo no momento em que mais precisei deles, e não, eu não quero um príncipe encantado. — nessa altura de sua resposta, ela já estava sentindo as lágrimas rolando em seu rosto — Eu estou aqui não porque vivi num conto de fadas e estou entediada como você deve achar, eu estou aqui porque estou cansada das pessoas decidirem a minha vida por mim, eu quero me defender sem depender de ninguém, principalmente de príncipes encantados.

Collins sorriu de canto, e se afastando da parede, caminhou até o fogão para desligar o forno. Então retornou para a porta.

— Me siga. — ordenou ele.
— O que? Pra onde? — perguntou .
— Levante-se e venha comigo. — insistiu ele, continuando em direção a saída.
— Ei?! Eu estou morrendo, sabia? — reclamou ela, relutante, porém indo atrás dele.

Segurando suas reclamações de como seu corpo doía, continuou o seguindo até a clareira. Ao chegarem, Collins olhou para o céu estrelado, a noite estava inspiradora, assim como a brisa que passava por eles.

— Por que viemos aqui? — perguntou ela.

Ele a olhou, mantendo o silêncio.

— Ok, já entendi, sem perguntas. — ela desviou o olhar para o lado, arrancando uma risada discreta dele.

O lugar estava tão iluminado pela lua que parecia dia.

— Você é bailarina, não é?! — perguntou ele.
— Sim. — assentiu ela.
— E gosta de dançar? — continuou ele.
— Claro, dançar é como respirar para mim. — respondeu prontamente.

Ele retirou seu celular do bolso e colocou uma música para tocar.

— O que está fazendo?! — perguntou ela, com um olhar confuso e intrigado.
— Tentando te conhecer. — ele aumentou o volume da música e colocou o aparelho no chão, então estendeu a mão para ela — Me concede essa dança?
— Isso é alguma brincadeira? — já não conseguia entender mais nada — Tem câmeras aqui?
— Estou com cara de quem está brincando? — retrucou ele, mantendo a mão estendida.

respirou fundo, já tinha um tempo que ela não dançava principalmente com um parceiro. Isso lhe fez lembrar do grupo de dança que tinha com Cedric no ensino médio. Os muitos concursos que participaram contra a vontade de sua mãe, e do dia em que recebeu a carta da New York University para cursar dança moderna. As muitas aulas de rumba que teve dificuldade de acompanhar os passos do professor caribenho que mais parecia se importar em flertar com as alunas. E as trágicas falhas em conseguir um parceiro para fazer o dueto de apresentação especial para o final da sua graduação.
Ela deu o primeiro passo e segurou na mão de Collins, ainda insegura internamente, mas curiosa para saber o que aquele sliter planejava. Assim que seus corpos ficaram um pouco mais próximos, ele pousou sua mão esquerda na cintura da garota e com a direita, segurou a outra mão dela. A primeira música tinha a batida mais lenta e suave, algo clássico como uma valsa vienense. segurou o riso, após alguns giros ao se lembrar que estavam dançando sobre a grama um estilo de dança de salão.

O que seus professores de NY diriam se vissem aquilo? Pensou ela.

Então, a segunda música iniciou com um ritmo latino mais agitado, deixando também o clima bem mais quente entre ambos. Próximo do final da música, Collins se deixou levar pelo momento e se inclinou um pouco mais de forma espontânea para beijar . A bailarina por sua vez ficou sem reação a primeiro momento, e mesmo com o movimento automático e sincronizado de ambos pelo som da música, o corpo da bailarina reagiu involuntariamente fazendo um movimento de defesa que aprendera com Nissah.
Consequência, ela o derrubou no chão, que no susto a puxou consigo. O corpo de caiu sobre o dele, proporcionando uma troca de olhares profunda entre eles.

— Parece que encontrei seu estilo de luta. — sussurrou ele, com um sorriso malicioso no canto do rosto.

Só viva do seu jeito,
a vida é sua de qualquer maneira.
- Fire / BTS






Sollary Hospital, Seattle



Para os cirurgiões apaixonados por um bisturi, nada como uma noite de plantão cheia de adrenalina com um fluxo inesperado de pacientes para distrair a mente e te fazer esquecer os problemas. Essa foi a válvula de escape para que seguia tentando se acostumar com a nova realidade, e não se referia ao fato de estar casada, mas sim de ter uma enteada.

— Amiga, você parece acabada. — comentou Hill, assim que ambas entraram na sala dos residentes.
— Acredite, meu cansaço tem sido mais mental que físico. — contou ela, seguindo até o seu armário — Se eu pudesse, ficaria mais um plantão aqui.
— E levar advertência do seu tio em pessoa? — retrucou Hill, retirando sua blusa para trocar por uma camiseta comum — Sabe que a Torres está de olho em você.
— Ah, minha madrinha realmente não me deixa abusar. — confessou , um pouco frustrada pegando sua bolsa — Mas tudo bem, é hora de encarar minha realidade doméstica.
— Como está sua vida de casada? — perguntou a amiga, curiosa —Tem se dado bem com sua enteada?
— Não sei, acho que sim. — ela respirou fundo, ao procurar por seu celular escondido dentro da bolsa — Eu não a vejo muito, claro que minha rotina no hospital ajuda com isso, mas… Ela tem ficado mais com a tia dela.
— E você acha isso certo? — Hill a olhou admirada — Eu acho que você deveria se aproximar mais dessa garotinha.
— Que olhar é esse de teorias da conspiração, Hill? — manteve sua atenção nela.
— Dizem que a vida imita a arte e eu já vi muitos filmes em que a criança influencia no relacionamento dos pais. — comentou ela — Eu se fosse você não deixava a titia do ano tão próxima assim do seu marido.
— Eu confio no Baker e sei os sentimentos dele por mim. — assegurou , com firmeza.
— Não falo por ele, você tem que desconfiar é dela, a intrusa. — Hill piscou de leve para a amiga.

Amigas de infância, já tinha acompanhado as inúmeras aventuras de amor de Hill e sabia muito bem das muitas desilusões que a mesma teve. Mas uma coisa sua amiga estava certa, ela confiava somente em Baker. Após finalmente achar seu celular, mandou uma mensagem ao marido dizendo estar seguindo para casa e o intimando a chegar antes do jantar.
Ao chegar na recepção, se despediu do segurança da entrada e passando pela porta de saída, paralisou surpresa ao ver encostado em sua moto numa pose atraente para ela, lhe esperando.

— Acabei de te mandar uma mensagem. — disse ela, ao se aproximar dele — O que faz aqui? Não tinha uma entrega importante hoje na oficina?
— Tenho funcionários muito competentes lá. — explicou ele, já puxando sua esposa pela cintura e lhe roubando um beijo — Que tal um final de semana a dois?
— Nem chegamos no final do dia de hoje, senhor Baker e já está pensando no amanhã? — ela o olhou desconfiada — O que está tramando?
— Eu só quero mais tempo com minha esposa. — ele manteve seus braços envoltos na cintura dela — Passamos por alguns contratempos depois do nosso casamento e desde então, não conseguimos ter um tempo pra gente.
— Hum… — ela bem que tentou, mas não resistiu e sorriu de leve — E o que me sugere?
— Uma fuga da cidade. — sugeriu ele, com um olhar malicioso — Estive trabalhando nessa possibilidade e arranjei alguns cúmplices.
— Cúmplices? — ela riu baixo, mantendo o olhar curioso — Quem?
— Descobri que sua família tem uma casa nas montanhas ao norte do Canadá. — contou ele, mantendo seu olhar bobo — Vai ser o nosso refúgio de amor, abençoado por seu primo Victor.
— Ah, a casa do tio Gustav. — disse ela, se lembrando da propriedade na cidade de North Vancouver — Como conseguiu essa proeza? Meu primo tem um ciúmes enorme daquele lugar, foi onde nosso tio viveu os últimos dias.
— Tive uma ajuda especial do Rafaelli. — com um olhar brincalhão, ele deu um selinho rápido nela — O que me diz?
— E como ficam as outras duas pessoas envolvidas nessa história? — perguntou ela, curiosa pela outra parte da família.
— Pedi asilo político para elas em Manhattan. — respondeu ele, em tom de brincadeira.
— Sério que Annia aceitou? — por essa não esperava.
— Você sabe que não posso deixar Molly desprotegida, apesar dos seus defeitos, ainda confio em minha família. — explicou ele, deixando o olhar mais sério — Tenho certeza que Annia será uma boa tia.
— Hum… Isso é bom, mas a Rosalie concordou? — indagou a residente.
— Ela não tem que concordar, a partir do momento que me pediu ajuda, terá que seguir conforme minhas regras. — a seriedade manteve em seu olhar.

Aquele era um lado que não conhecia nele.

— Então?! — insistiu ele, suavizando o rosto.
— Acho que a herdeira Sollary pode desaparecer por alguns dias de sua residência. — brincou ela, arrancando um sorriso bobo dele.
— Apenas diga que você tem um paciente que precisa de cuidados particulares. — ele a beijou novamente, com mais intensidade.

Aquele sim era o lado que conhecia bem e sempre se surpreendia de tempos em tempos.

— Farei o possível para dar todo o cuidado que esse paciente merece. — garantiu ela.
— Eu vou cobrar. — ele riu — Vamos?

assentiu se afastando dele e colocando o capacete do carona. Ambos subiram na moto, e seguiram para seu apartamento. Passando pela porta, se dirigiu até o quarto de imediato para tomar um banho e tirar a roupa do hospital, a única coisa que tinha deixado no armário foram seu jaleco e o estetoscópio.
Seus planos para o jantar ainda se mantinham de pé e ao adentrar na cozinha apenas de lingerie, estranhou a ausência do seu marido. A residente que já tinha cada detalhe de sua noite maliciosa esquematizada na cabeça, se pegou confusa e parcialmente frustrada. Foi então que adentrou o apartamento, acompanhado de sua filha e o filhote de cachorro que tinham adotado de um abrigo para animais, especialmente para ela.

?! — se abaixou rapidamente, escondendo-se atrás da bancada de refeições, sentindo seu corpo gelar.
?! — ele olhou confuso — O que faz aí atrás?
— Não deixe a Molly vir aqui. — pediu ela, segurando o surto interno.
— Ok. — olhou com carinho para filha e sorriu — Querida, fique no sofá com o Kookie, tudo bem?

A garotinha assentiu com o olhar confuso, e se aproximou do sofá se sentando e colocando seu filhote ao lado para brincar com ele. deu alguns passos até a lateral da bancada, encontrando sua esposa ainda agachada e respirando fundo.

— Droga. — disse ele, fechando os olhos, entendendo as intenções de sua esposa e sentindo um gosto amargo do arrependimento.
— Porque não disse que traria ela? — perguntou , se sentindo envergonhada pela situação — Achei que a nossa noite seria a dois também?
— Desculpa, eu deveria ter dito antes. — ele a olhou como um cão abandonado.
— Não posso fazer o jantar assim. — disse ela, mantendo a voz tão baixa, que quase parecia um sussurro.
— Um momento. — ele voltou até a poltrona ao lado do sofá e pegou sua blusa de moletom, então retornou para ela e lhe entregou — Me desculpe.

pegou de sua mão e vestiu rapidamente, então finalmente pode erguer seu corpo, mantendo o olhar revoltado para ele.

. — ele segurou em sua mão, assim que ela passou por ele.
— Essas coisas precisam ser avisadas. — disse ela, demonstrando nitidamente sua chateação — Não somos mais apenas um casal, se torna uma família quando há crianças envolvidas.

Ela se soltou dele e seguiu direto para o quarto. A residente não deu nem chances para as argumentações do marido e logo trancou a porta para que pudesse se acalmar internamente. Passos até o closet, ficou imóvel frente a uma das prateleiras com suas roupas dobradas. O silêncio deu lugar para o som de suas risadas ao finalmente absorver o que tinha acontecido. Se estava rindo de nervoso ou de graça, ela não sabia, mas que agora estava achando aquilo tudo uma loucura, provavelmente sim.

— Serei punido por isso? — perguntou , assim que ela apareceu com suas roupas trocadas e se aproximou do sofá.
— Ainda estou pensando. — ela não deixaria barato para ele, claro.

chegando próximo a sua enteada, se sentou no sofá e sorriu de leve. Ela nunca levou jeito com crianças, era um fato que a especialização que jamais pensou foi a pediatria. Mas lá no fundo já tinha pensado em futuramente ter filhos. Agora, com esse inesperado desafio pela frente, ela pretende amolecer um pouco seu coração para conquistar a pequena criança.

— Boa noite, Molly. — disse , observando-a.
— Boa noite. — a criança manteve o olhar no filhote.
— Como está indo com o Kookie? — perguntou ela — Ele gostou de dormir na sua cama?
— A tia Rose não deixou ele dormir comigo. — Molly levantou seu olhar para , estava parcialmente triste.
— Por que? — perguntou a residente.
— Ela disse que eu mataria ele esmagado, por ser pequeno. — respondeu a criança de forma inocente.

segurou o riso, mas se mostrou solidária a ela.

— Sua tia tem um pouquinho de razão, mas eu tenho um método infalível para isso, posso te mostrar se você quiser dormir aqui hoje. — contou , vendo o olhar dela mudar de imediato.
— Posso dormir aqui? — Molly olhou com surpresa para o pai.
— Claro que pode querida, por que a surpresa? — que as olhava com carinho próximo a bancada, se aproximou das duas, intrigado.
— Tia Rose disse que sua esposa brigaria comigo se eu pedisse para dormir aqui. — confessou a criança.

olhou para o marido que retribuiu o olhar preocupado para ela. Não que acreditasse nas teorias de sua amiga Hill, mas definitivamente não deixaria nenhuma abertura para a intrusa em questão. Mantendo o olhar suave e carinhoso para a criança, a residente segurou em sua mão.

— Molly, sempre que quiser dormir aqui, você pode. — afirmou , segura de suas palavras — Esse apartamento também é o seu lar.
— Eu não vou atrapalhar vocês? — perguntou Molly, acanhada.
— Claro que não querida, somos uma família. — disse se sentando do lado da filha, e sorrindo para ela.
— Acho que tive uma ideia, meio louca e… Muito louca. — olhou seriamente para seu marido.
— O que está pensando? — perguntou ele, temeroso pela resposta.
— Não acho que precisamos apenas de um final de semana a dois, precisamos de um final de semana em família. — a firmeza em sua voz, era um sinal para Baker não contestar sua decisão — E quando eu digo família, me refiro a apenas nós três.

Ele respirou fundo.

— Se realmente quer isso, não vou me opor. — disse Baker, mantendo seu olhar apaixonado para sua esposa.
— Mocinha, você vai dormir hoje aqui e vou te ensinar a como não esmagar seu cachorrinho. Fechado? — esticou a mão para ela em sinal de negociação.
— Fechado. — Molly sorriu e apertou a mão dela, com um brilho nos olhos.
— Agora preciso fazer um jantar. — ela piscou de leve para a criança e se levantou.
— Que tal um desenho enquanto esperamos? — sugeriu , tendo o balançar de cabeça positivo, vindo da filha.

A residente voltou para seu objetivo inicial no espaço da cozinha, relevando as mudanças dos detalhes iniciais. Com uma integrante a mais, pensou em fazer algo especial para sua enteada, uma receita caseira que sua mãe sempre fazia quando pequena: hambúrguer caseiro com batata-frita. Não demorou muito até que o cheiro gostoso vindos da cozinha despertasse a atenção de pai e filha, que sorrateiramente se aproximaram da bancada e ficaram sentados cada um em uma baqueta, a observando.

— Estou de olho em vocês dois. — disse , enquanto terminava o preparo dos hambúrgueres.
— Está com uma cara boa, o que acha Molly? — perguntou ao pegar uma batata e morder — Tem coragem de pegar uma?

A menina assentiu com um sorriso sapeca, tímida para e olhando a batata com água na boca.

— Pode pegar Molly, vou fingir que não estou vendo. — assentiu , segurando o riso.

A menina pegou uma batata e jogou rapidamente na boca, mastigando e rindo, juntamente com o pai. os acompanhou, lembrando-se de seus momentos de criança com seus pais, algo que lhe trouxe um brilho nos olhos e a certeza que sua decisão de levar Molly para a viagem ao Canadá era o certo a se fazer.

— Eu te amo. — disse , para sua esposa, sem deixar que saísse o som de sua voz, mas de forma que ela entendesse.

O que o fez receber um sorriso apaixonado de resposta. finalmente terminou o preparo dos pães e os colocou em uma bandeja, na bancada e retirando uma jarra de suco da geladeira, anunciou que o jantar estava pronto.

— Esse é o melhor jantar que já tive na vida. — disse Molly, de forma acanhada.
— Teremos muitos jantares iguais a esse. — afirmou , ao puxar outra baqueta e se sentar de frente para eles.

olhou para sua esposa e piscou de leve, em seguida atacando um dos pães preparados por ela. Aquela tinha sido a primeira vez de se aventurando na cozinha com as velhas receitas de família, um momento de descoberta ao notar que não era tão difícil assim cozinhar, quanto achava e de diversão para sua, enfim, família.

— O que acharam? — perguntou ela, curiosa, ao morder mais um pedaço de seu hambúrguer.
— Estou impressionado, confesso, ficou muito bom. — disse .

Molly balançou a cabeça positivamente, pois estava com a boca cheia. Tinha tanto apetite quanto o pai.

— Eu disse que tinha talentos na cozinha, você que não acreditou. — retrucou ela, rindo dele.
— Eu não disse isso. — ele desconversou e riu, então olhou a filha — E você mocinha?
— Obrigada pela comida. — disse Molly, voltando o olhar para .
— De nada, minha querida. — a residente sorriu com carinho para ela — Que tal, terminarmos o desenho e depois ir para cama?

Molly assentiu com a cabeça e desceu da banqueta com a ajuda do pai, voltando para o sofá, onde tinha deixado seu cachorrinho deitado. Enquanto os olhos da criança se mantinham fixos no desenho que tanto gostava de assistir, aproveitou para juntar a louça suja e lavar, afinal seu lado organizado tinha alguns tocs de limpeza.

— Quer ajuda? — perguntou , ao abraçá-la por trás e beijar seu pescoço.
— Baker… — ela segurou o riso, por ter sentido cócegas e sussurrou — Temos criança em casa.
— Eu sei ser silencioso. — sussurrou ele, de volta, apertando um pouco sua cintura — Ainda estou com a imagem daquela lingerie na minha cabeça.

Ela riu baixo e se virou para ele.

— Acho melhor você esquecer… — ela tocou de leve no tórax dele o afastando por centímetros — Faço questão de dormir com a Molly hoje e você no sofá.
— Que mulher vingativa. — ele balançou a cabeça negativamente, com o olhar indignado.

riu novamente e espichou a cabeça para olhar sua enteada, avistou a criança com sua atenção total na televisão. Então, voltando-se para seu marido, ela sorriu com malícia e o beijou de leve com doçura. Claro que Baker não se contentaria apenas com aquilo, deixando ainda mais intenso demonstrando seu desejo por sua esposa.

— Baker… — sussurrou ela, recuperando o fôlego.
— Ainda quer dormir com a Molly? — perguntou ele, com um tom sinuoso.
— Filho da mãe. — xingou ela, não querendo dar o braço a torcer, mas demonstrando no olhar o que ele queria.

riu baixo e se afastou dela, seguindo até a filha. Enquanto continuou parada onde estava, atordoada pelo fato de seu marido ser tão charmoso quanto sedutor.

— Você é uma deliciosa caixinha de surpresas, Baker. — sussurrou ela, segurando o riso.

De um filme, se passaram dois e finalmente a pequena Molly se rendeu ao sono. Como prometido auxiliou seu marido a ajeitar a filha na cama, de uma forma segura para que o seu filhotinho pudesse dormir com ela. A residente ficou na porta, observando a forma carinhosa que ele acariciava os cabelos da filha, lhe dando um beijo na testa em seguida. Surpreendente para ela ver que tinha despertado seu lado paterno com tanta rapidez e facilidade, em poucas semanas.

— Eu deixei a luz do abajur acesa para ela, já que vamos fechar a porta. — disse ele, assim que entraram em seu quarto.

assentiu ao se aproximar da escrivaninha e pegar o celular que tinha deixado em cima. Havia algumas mensagens de sua prima Mayah falando sobre o Sollary Hospital de New Orleans, além de uma imagem de um meme de Grey’s Anatomy enviado por seu primo Rafaelli, que a fez rir de imediato.

— Alguma chamada de emergência? — perguntou ao se aproximar dela.
— Não, só algumas mensagens da família, nada demais. — respondeu ela, tendo seu aparelho roubado pelo marido.
— Então, isso não estará mais entre nós. — disse ele, colocando o celular novamente na escrivaninha e a puxando para mais perto — Enfim, sós.
— Você nunca quis tanto desesperadamente dizer isso, não é? — observou ela, segurando o riso.
— Acredite, passei a noite com essa frase na minha cabeça. — ele sorriu com malícia e a beijou no pescoço — Não imagina o quanto me segurei no jantar.
— Bem, não seremos apenas um casal agora. — disse ela, o lembrando a nova realidade.
— Confesso que ter filhos não foi o que imaginei para nosso primeiro ano de casados, ou melhor, primeiro mês. — ele riu um pouco — Mas contanto que esteja comigo, não me importo com os desafios.
— Baker… — ela sorriu com leveza.
— Olhe pelo lado bom, não teremos que trocar fraldas de madrugada. — ele piscou de leve, fazendo-a rir.
— Bobo. — ela bateu de leve em seu ombro — O bobo que eu amo.

em gestos sutis e lentos aproximou seus lábios dos de sua esposa, sentindo a respiração dela. sentiu seu corpo mais uma vez estremecer com o toque dele, trazendo arrepios externos com o acelerar do seu coração. Era inegável que a cada noite juntos, ela se apaixonava ainda mais pelo paciente que salvou em meio ao temporal.
E como poderia imaginar que isso aconteceria, mas sim. Ali estava ela, em sua entrega ao homem que conquistou seu coração e a fez esquecer completamente seus desastrosos relacionamentos passados.

— Baker… — sussurrou ela, mais uma vez, sentindo seu corpo arrepiar novamente.
— Eu te amo. — declarou ele, ao olhá-la com desejo e amor.

---


A ensolarada manhã de primavera nunca foi tão refrescante quanto nos campos ao leste de North Vancouver, o refúgio de amor do casal Baker-Sollary, ou melhor, da família BS. Era visível o entusiasmo de Molly quando desceu do carro e se deparou com a beleza da natureza que compunha a paisagem. A criança correu pela grama sendo seguida por seu cachorrinho, pois a única coisa que sempre conheceu em sua vida foi o concreto da cidade juntamente com a nebulosidade dos bairros do subúrbio onde morou com sua tia e mãe.
se deixou levar pelas lembranças de criança naquele lugar e entrou na empolgação da criança, se juntando a ela na corrida aos arredores da casa. riu um pouco e aproveitou a distração delas para levar as malas para dentro, deixando em seus respectivos quartos. Baker voltou para sala e retirou o celular do bolso, mesmo o aparelho no silencioso, conseguiu perceber uma chamada de sua irmã.

— Annia. — disse ele, ao atender.
Olá irmãozinho? Como está o campo? — perguntou ela, em seu habitual tom de sarcasmo.
— Melhor do que as loucuras de Manhattan. — brincou ele, rindo baixo — Rosalie está em segurança?
Fique tranquilo, ela já está instalada em um lugar apropriado, no qual eu posso ficar de olho. — assegurou ela, com firmeza.
— Agradeço, pela ajuda.
Bem, espero que neste tempo em família vocês possam ajustar todos os ponteiros da relação de vocês, porque não pretendo deixar Rosalie retornar a Seattle. — anunciou Annia.
— Nunca foi de minha intenção que ela retornasse. — manteve seu tom sério — Darei a Molly a família que ela merece.
Que orgulho do meu irmãozinho! — Annia demonstrou entusiasmo na voz — Temos outro assunto para tratar.
— Sobre? — perguntou.
O jantar dos herdeiros. — revelou ela — Recebi meu convite esta manhã, o que significa que receberá o seu em breve.
— E para quando eles agendaram? — perguntou .
Pouco menos de duas semanas. — relatou ela, deixando soar o tom preocupado.
— Algo lhe preocupa, irmã? — se aproximou da janela próximo a lareira e avistou sua mulher e filha brincando um o filhotinho.

Um sorriso espontâneo surgiu em seu rosto

Tudo me preocupa, desde que Andrei declarou guerra a todos nós. — respondeu ela — A última vez que uma reunião assim foi pedida, foi quando a herdeira Tenebrae nasceu e Lionel tomou o lugar do irmão no comando de sua família.
— Então o que podemos esperar? — indagou ele.
Eu não sei, foram os Bellorum que pediram por isso, o jeito é aceitarmos o convite e esperar para saber o que vai acontecer. — ela respirou fundo do outro lado da linha — Mas não pense tanto neste assunto, aproveite seus dias de refúgio com sua família e apenas deixe para se preocupar em seu retorno.
— Desde quando você é uma irmã tão bondosa? — brincou ele.
O casamento faz milagres, sabia?! — ela riu um pouco — Boas férias.
— Te aconselho a fazer o mesmo, irmã. — manteve o olhar para o lado externo da casa, vendo as damas de sua vida seguirem para a porta — Nossa família é o nosso bem mais precioso, cada segundo perto é uma dádiva.
Fique tranquilo, eu sei muito bem aproveitar meu tempo com minha família. — assegurou ela.
— Está incluindo vosso primogênito nesta frase? — retrucou ele, tocando no passado de sua irmã.
Principalmente ele. — garantiu ela — Nossa mãe terá que se acostumar com o fato de ter dois netos.

riu juntamente com sua irmã e ao despedir-se, encerrou a ligação. Instantes depois adentrou com a criança carregando o cachorro em seus braços, ambas com as vestes sujas e aos risos. Era um fato que a residente em pouco tempo já tinha conquistado o coração e a afeição da enteada.

— Uau, acho que precisam de um banho. — comentou , surpreso com o estado delas.
— Isso eu concordo. — disse , ao olhar para o lado — O que acha Molly?
— Podemos comer primeiro? — pediu a criança.

Era de se esperar por aquilo, já que a última refeição da família tinha sido em uma lanchonete na estrada. E eis aí uma das muitas surpresas de Baker para aquela aventura em família, nada de avião e primeira classe, todo o trajeto de Seattle até a cidade de North Vancouver, foi feito em seu carro recém comprado especialmente para aquela ocasião. Uma tradicional viagem em família, com a intenção de esquecerem todas as formalidades e pressões de sua realidade envolto a Continuum. Afinal, Dominos e Miller não eram o único casal que ambicionavam ter pelo menos um momento de pessoas normais com rotinas normais e sem preocupação.

— Tudo bem, que tal um sanduíche antes do banho?! — sugeriu , piscando de leve para a enteada e seguindo até a cozinha.
— De sanduíche eu entendo. — disse , seguindo a esposa e tomando a frente — E a senhora Baker, apenas ficará observando seu marido atraente preparando o lanche.
— Hum… Marido atraente?! — ela riu, tentando ser debochada, mas acabou tendo um beijo roubado dele.
— Pode tentar desdenhar de mim, mas nunca mais conseguirá negar o óbvio. — disse ele, dando um passo para mais perto do armário e retirando o pacote de pães.

Algo que a surpreendeu, pois até mesmo o abastecimento da casa estava nos esquemas do homem.

— E o que seria esse óbvio? — perguntou ela.
— Que você é louca por mim. — ele piscou de leve para ela, fazendo-a rir baixo.

Sem argumentos, era um fato.
Após o lanche, a acompanhou Molly e o cachorro até o quarto reservado para ela, lhe mostrando como funcionava o chuveiro no banheiro privativo a deixou se banhando, enquanto ajeitava suas roupas no armário. Depois, seguindo para seu quarto, a residente adentrou o banheiro da suíte principal e retirou sua roupa para um banho quente.
Sua expectativa era ser rápida, porém seu sugestivo marido lhe surpreendeu ao adentrar no box, fazendo-a demorar mais do que o esperado. Claro que as malícias de , juntamente com suas intenções iniciais do refúgio nas montanhas seriam mais fortes e ardentes do que ela havia imaginado. No final, nem mesmo a presença da pequena Molly, seria impedimento para os planos ousados de Baker para aquele final de semana.

---


Na madrugada de sábado, a Sollary despertou de repente sentindo um pouco de sede. Ao se levantar da cama, olhou para o marido que parecia estar num sono profundo. Deixando-o adormecido, ela saiu do quarto e seguiu pelo corredor até chegar na cozinha, a casa de um andar tinha seus cômodos grandes e muito bem divididos. Ao se aproximar da geladeira, abriu-a e em seguida pegou a garrafa de água, despejando no copo, tomou o primeiro gole despreocupadamente.

— Não deveria tomar água gelada. — a voz de soou, fazendo-a se assustar.
— Que susto, não estava dormindo? — perguntou ela, deixando o copo pela metade na bancada.
— Sabe que tenho o sono leve, ouvi a porta se abrindo. — explicou ele, com o olhar sereno — Fui até o quarto de Molly para ver se estava tudo bem.
— E?
— Está dormindo como um pequeno anjo. — respondeu — Perdeu o sono?
— Não, apenas me deu sede. — ela sorriu de leve e voltando-se para o copo, terminou de tomar a água.
— Obrigado. — disse ele.
— Que aleatório, está me agradecendo pelo que?! — perguntou ela.
— Por tudo. — explicou ele — Principalmente por me amar.
— Baker… — ela sorriu de leve — Estou feliz que não tenha desistido de me conquistar.
— Eu jamais desistiria. — ele piscou para ela e se aproximou para pegar seu copo e enchê-lo de água — Como está o hospital?
— Estamos colocando a casa em ordem aos poucos. — contou ela, o observando.
— Mayah está tendo algum problema em New Orleans? — indagou ele, tomando a água em um único gole.
— Tirando que o hospital estava totalmente quebrado. — riu de nervoso — Tenho sorte que minha prima é esperta e pensou em um bom plano de recuperação, aos poucos o hospital está voltando a ganhar a confiança da cidade.
— Me impressiona seu lado administrativo. — comentou ele, sorrindo de canto.
— Trocaria esse lado por todas as cirurgias do mundo. — confessou ela — Eu definitivamente não nasci para burocracia, minha vida é o bisturi.
— Eu te compreendo. — disse ele, pousando sua mão em sua cintura — Sei muito bem como se sente.

Ela deu um selinho de leve nele, permanecendo pensativa depois.

— Mas pelo menos você teve a opção de não se envolver, já eu não tenho escolha. — a realidade dura de ser a única herdeira Sollary.
— É, tenho sorte de ter uma irmã como Annia. — concordou ele e anunciou — E por falar nela, minha irmã me ligou.
— O que Annia queria? — se afastou dele e encostou na bancada da pia.
— Aparentemente os Bellorum estão convidando os herdeiros para um jantar. — contou ele, colocando as mãos nos bolsos da calça do pijama — Não sei os detalhes, mas certamente nosso convite já deve ter chegado em Seattle.
— Eu acho até que demorou, diante de tanta coisa acontecendo… Na minha família, na sua, com os Dominos, o sequestro da . — comentou , relembrando os fatos — Tudo isso por poder e vingança.
— Será que vão anunciar oficialmente que a é a herdeira? — se sentiu inquieto quanto a exposição da amiga, temia por coisa pior.
— Eu não sei, mas se for, pelo menos o mistério vai acabar e talvez tudo se ajeite, com ela à frente dos Tenebrae, Lionel terá que renunciar ao comando da Continuum e vai poder assumir como é de direito. — continuou a residente, voltando o olhar para a porta do porão que estava entreaberta.
— Sendo ou não assim, o jeito é esperar para ver o que acontecerá. — ele percebeu a atenção se sua esposa foi para outro lugar — O que foi?
— Nada… — se afastou da bancada e caminhou até a porta — Você foi ao porão?
— Sim, precisei de algumas ferramentas para consertar a maçaneta do quarto de Molly. — explicou ele, com o olhar intrigado — Por que?
— Eu acho que… — ela manteve suas indagações para si e parando diante da porta, a abriu.

Deixando o marido confuso, desceu as escadas até o porão e acendendo as luzes, avistou algumas caixas brancas ao fundo. A passos lentos ela se aproximou, reconhecendo a logo do hospital em cada uma daquelas caixas.

? — a seguiu, observando sua aproximação — Está tudo bem?
— São arquivos do hospital. — disse ela, ao abrir uma das caixas e pegar um dos papeis dentro.
— Porque seu primo guardaria arquivos do hospital aqui? — perguntou .
— Você se lembra que Rafaelli disse que alguns documentos do tio Gustav estavam guardados com o Victor? Podem ser esses. — concluiu ela, ao voltar o olhar para ele — E se o prontuário da herdeira está aqui?
— Podemos saber quem é. — completou ele, se interessando pela descoberta.

assentiu com o olhar, também curiosa para desvendar o enigma.

Usando o meu coração para sentir, eu sei que você estará ao meu lado
Eu prometo a você, eu quero o nosso “para sempre”
Eu não deixarei ninguém machucar seu coração
Este é o meu único compromisso.
- Promise / EXO






Em algum lugar de Chicago...



E quem diria que a pausa para a felicidade do casal Dominos-Miller iria render mais alguns dias de paz e harmonia. Ainda instalados em seu loft refúgio, a sliter ao despertar no meio da madrugada voltou o olhar involuntariamente para o seu celular. Curiosamente o aparelho estava com o visor da tela aceso, o que a fez pegá-lo e checar suas mensagens. Seu olhar ficou preocupado, assim que tocou na conversa de um número desconhecido e viu a foto de suas sobrinhas com o pai, brincando em um parque próximo às Instalações da Darko.
Sem pensar duas vezes, ela levantou-se da cama e trocou de roupa rapidamente. Não queria atrapalhar o sono dos justos de seu chefe, menos ainda trazer preocupações para ele, diante de dias festivos para sua família. Então, ela simplesmente pegou as duas pistolas 9mm Imbel gc md1, encaixando-as na bainha lateral da calça. A sliter finalizou o look com um casaco longo de sarja preto, que ajudava a esconder a arma.

— Aonde está indo? — a voz de soou em um sussurro.

sentiu um leve susto, tinha sido tão silenciosa para não acordá-lo.

— Não estava dormindo? — perguntou ela, voltando a atenção para ele.
— Até você levantar da cama. — respondeu ele, erguendo seu corpo e a olhando com mais seriedade — O que aconteceu?
— Nada, volte a dormir. — respondeu ela, seguindo até a porta.
Miller. — ele elevou um pouco mais a voz e se levantou da cama — Ainda não entendeu?

Dominos deu alguns passos até chegar nela, então tocando em sua cintura a virou para ele, notando discretamente as duas armas sendo escondidas. O olhar dele levantou sério para ela.

— Vai me contar ou não? — insistiu ele, ao tocar no pingente em sua correntinha que havia lhe dado de presente de aniversário — Eu sei que tem algo errado, está no seu olhar.
— É assunto meu. — retrucou ela, dando um passo para trás — Você tem um jantar de noivado para comparecer, então acho melhor descansar.
— Seus assuntos são meus assuntos. — argumentou ele — Quando vai aprender isso?
— Talvez nunca. — brincou ela, roubando um beijo dele — Te vejo na mansão, prometo não demorar.

não teve mais argumentos que pudesse tirar dela a informação que desejava, apenas assentiu a partida de sua sliter e voltou para cama. Se esticando um pouco, pegou seu celular e viu a mensagem de sua tia mencionando um convite especial ao herdeiro Dominos. Ele apenas fechou os olhos e tentou não se preocupar antecipadamente, sabia que os dias que seguiria seriam nublados e totalmente atordoantes.
Andrei Tenebrae ainda estava desaparecido, porém continuava a ameaçar as famílias das duas sociedades.

--


Na mansão da família Dominos, os preparativos para o jantar de noivado de Genevieve e Lance Village estavam a todo vapor. Tia Sophie não se cabia de tamanha felicidade e euforia, finalmente uma boa notícia para aquela casa diante de tanto infortúnio. Sentada no sofá da sala de estar, vendo a matriarca rodar pela casa dando ordens à equipe de organização do jantar, Bella mantinha um sorriso debochado no canto do rosto. Em alguns momento se deixava sentir chateação por toda a atenção que a mãe mantinha nos sobrinhos, se esquecendo em alguns momentos dos próprios filhos. Mas o fato é que Sophie havia prometido ao irmão em seu leito de morte que jamais iria desamparar seus sobrinhos, e faria qualquer coisa por eles.

— Não vai entrar no clima do jantar estimado? — perguntou Liana, ao se aproximar da amiga e sentando ao seu lado com certo cuidado.

Sua barriga já estava bem à mostra, uma gravidez anunciada pelo médico sendo delicada devido a sua pressão alta, lhe exige alguns cuidados a mais. Entretanto, o fato de mais um Dominos estar sendo preparado para vir ao mundo, deixava todos ansiosos e alegres. A cada boa notícia, uma motivação a mais para manter a família unida e segura.

— Ah, por favor, não aguento mais toda essa movimentação, isso me deixa em náuseas. — comentou Bells, como gostava de ser chamada, revirando os olhos e suspirando fraco — Que Genevieve é a princesinha da casa eu já sei, mas dessa vez minha mãe está exagerando.
— Estou sentindo uma ponta de ciúmes? — brincou Liana, rindo baixo.

Logo ela recebeu um olhar atravessado da amiga.

— E por falar em princesinha, onde ela está? — perguntou Liana, seguindo o assunto.
— Não sei, trancada no quarto, talvez. — Bells deu de ombros.
— A Gen está em um spa, tia Sophie reservou o dia para ela. — respondeu Jass, adentrando a sala e entrando na conversa, para se sentar na poltrona ao lado.
— E você, não deveria estar se arrumando? — perguntou Liana — Minha sogra odeia atrasos.
— De que adianta correr para estar pronta, se a festa só começa quando vossa majestade aparecer?! — reclamou a adolescente, ao mencionar de forma subjetiva o irmão mais velho — Não chegamos nem no final da tarde.
— Ah, sim, . Não o vejo há alguns dias. — Liana finalmente notou a ausência do chefe da família.
— Quer apostar que ele deve estar em algum cativeiro com a sliter dele. — brincou Bells rindo baixo — Desde que ela retornou, não é tão difícil ver as trocas de olhares entre eles, menos ainda as escapadas noturnas dos dois.
— Ficou bem mais visível agora, o romance no ar. — concordou Jass — Eu sabia que um dia isso iria se tornar real.
— Será que vossa majestade vai se lembrar do jantar da irmã? — perguntou Liana.

O som da campainha soou pelo ambiente, atraindo a atenção delas. Assim que a criada abriu a porta, Jasmine deu um pulo da poltrona para ir de encontro ao irmão, se surpreendeu com a recepção da garota.

— Calma, assim você me derruba. — brincou ele, rindo da irmã — Como está tudo por aqui?
— Uma loucura graças à tia Sophie. — respondeu Jass, se afastando do irmão. — Essa casa só não parece um campo de guerra porque é dia de paz.

Eles riram do comentário dela.

— Ah, graças a Deus, , você chegou. — Sophie ao passar pela sala, avistou o sobrinho e soltou um suspiro aliviado — Achei que não chegaria a tempo.
— O menu que escolheu é tranquilo e não precisaria passar o dia na cozinha, terei assistentes comigo, fique calma tia, vai dar certo. — o olhar confiante do chefe de cozinha da família, trouxe uma segurança a mais para ela.
— Passei a semana trabalhando em todos os detalhes e o pior é que este jantar é privado apenas para a família. — revelou a matriarca — Imagine quando for o casamento, acho que vou infartar.
— Deixa de ser exagerada mãe. — Bells riu alto ao ouvir aquilo e se levantou do sofá — Não é como se a Genevieve fosse ganhar o Oscar ou o Nobel da Paz. — Falando assim, parece até que ela está com inveja. — sussurrou Jass, percebendo que o irmão escutou.

segurou o riso e olhou novamente para a tia. Era um fato que Bella ainda mantinha um certo amor platônico pelo Village, pois sempre havia se sentido atraída por ele. Agora, a ousada Dominos precisava conviver com o fato de sua prima estar vivendo o que ela imaginou um dia viver.

— Vou para a cozinha cumprir meu dever com a família. — disse ele, se afastando delas — Assim que o aparecer, diga a ele que quero vê-lo.

No caminho o Dominos caçula pode ver o quão organizado estava sendo o jantar de noivado. As horas foram passando com os preparativos, até que finalmente às sete pontualmente a família Village, foi recebida na porta pela matriarca. Lance estava acompanhado de seus pais, o casal Sullivan e Penny, assim como o irmão mais velho Justin. As duas famílias reunidas e uma noite especial começando, era tudo o que precisavam para aliviar as tensões do dia a dia.

— Tem sido uma felicidade para nossa família essa união. — disse a senhora Penny, ao abraçar Sophie, após o cumprimento inicial das famílias.
— Nem me fale, Genevieve está em total emoção. — Sophie, deu o primeiro gole em sua taça de champanhe.
— E por falar na noiva, onde está? — perguntou a mãe do noivo.
— Em breve descerá com o irmão. — respondeu.

Nos outros cantos da sala, assuntos aleatórios iam surgindo. Enquanto isso, no corredor dos quartos, esperava impaciente pela irmã, ao olhar pela terceira vez o relógio em seu pulso. Ele não estava tão preocupado com a demora da noiva, mas sim, com a falta de notícias de sua sliter que está em off desde a madrugada. Seu coração estava apertado, o olhar preocupado, mas precisava manter as aparências e não estragar a noite da irmã.

… É a décima vez que ligo para você e não é exagero, porque não atende esse celular? O que está acontecendo? — disse ele, novamente ao cair a ligação na caixa postal — Não sei se Donna Fletcher te disse alguma coisa, mais o convite formal do jantar dos herdeiros chegou esta manhã, temos uma semana para nos preparar… Você disse que voltaria à noite e não está aqui…

Ele respirou fundo e encerrou a ligação, tentando manter-se em equilíbrio.

— Não terminou ainda Genevieve? — perguntou ele, apressando-a mais uma vez.
— Já estou quase terminando. — gritou ela, de dentro rindo baixo — Quando é você, eu tenho que esperar, hoje é meu dia.

Ele bufou de leve, e respirou fundo. Minutos depois, a princesa da casa abriu a porta com um sorriso gentil e suave, os olhos brilhando e a ansiedade à flor da pele.

— Está pronta? — perguntou o irmão, ao dar seu braço para ela.
— Acho que sim, e nem estou indo para o altar ainda. — ela riu baixo, sentindo suas mãos trêmulas.
— Estarei ao seu lado durante toda a noite. — assegurou ele, ao olhar com carinho para ela — E te desejo toda felicidade do mundo.
— Que o não ouça, mas você é o melhor irmão do mundo. — confessou ela, com o olhar emocionado — Muito obrigada, por todos os sacrifícios que fez por nossa família, pra nos manter a salvo dos perigos da Continuum.
— Ei, isso aí é uma lágrimas? — ele sorriu de leve e pegando um lenço em seu bolso, secou de leve, para que a maquiagem da irmã não borrasse — Te proíbo de chorar essa noite, e só me agradece depois que me der uns sete sobrinhos.
— Sete? Você acha que sou o que? Uma fábrica de filhos? — brincou ela, rindo com ele — É sério o que eu disse, obrigada por seu meu irmão!

a abraçou apertado, fazendo-a sentir-se segura.

— Eu te amo, Gen. — sussurrou ele — E farei o que estiver ao meu alcance para que seja feliz.
— Eu também te amo, vossa majestade. — brincou ela, o chamando pelo apelido que a família lhe deu.
— Até você com isso? — ele a olhou, com desaprovação.
— Estou mentindo? Imperador Dominos. — ela sorriu com graça, mantendo a suavidade no olhar — Nossos pais estariam orgulhosos do homem que se tornou, e de como você nos protege.
— Estariam mais, ou vê-la assim, crescida, inteligente e pronta para formar sua própria família. — o olhar orgulhoso do irmão estava nítido — Me promete uma coisa?
— O que? — perguntou ela.
— Não se esqueça que o casamento é apenas uma parte da sua vida, não ela toda, você é uma excelente escritora. — iniciou ele, lembrando-se do sonho da irmã pela carreira literária — Não desista de escrever, o mundo precisa ler suas histórias. Promete?
— Sim, prometo! — assentiu ela, respirando fundo, segurando as emoções pelo pedido do irmão.

Ele sorriu de canto e piscou de leve para ela, então dando impulso no corpo para seguirem até as escadas. Foi indescritível o brilho nos olhos de Lance Village ao olhar para sua noiva, linda e meiga em níveis elevados. Para iniciar oficialmente a comemoração, o Dominos chefe esperou até a vinda de que coordenava a cozinha, para o brinde inicial que seguia ao seu discurso de irmão mais velho.

--

Uma hora antes…
Instalações Darko



— Tem certeza que entendeu o trabalho? — olhou atentamente para Fulhan.

A sliter havia contratado a amiga para ser segurança pessoal de sua família, afinal, nada como a quarta melhor do Acampamento Fletcher para o serviço. A assassina profissional não tinha nenhuma experiência naquela função, porém suas dívidas com Miller estavam em alta, a começar pelos problemas que teve relacionados ao marido. Então, não poderia nem sonhar em negar um pedido dela.

— Claro, nunca estive nessa função, mas sei como se faz para proteger alguém. — assentiu Anastácia, com o olhar impaciente.

Ao mesmo tempo que entendia as preocupações da sua veterana, ela se frustrava pela mesma fazer questão de repassar todas as informações e recomendações.

— Me desculpe, eu só estou nervosa com tudo isso. — ela respirou fundo, tentando voltar ao eixo — Eu já falhei com a Alexia, não quero falhar com a sua família também.
— Tem minha palavra, vou protegê-los com minha vida. — assegurou Fulhan com o olhar confiante — Te devo tudo o que tenho Miller.
— Obrigada. — sussurrou a sliter, ao olhar para o relógio em seu pulso — Tenho que ir agora, estou atrasada para um jantar de noivado.
— Felicitações ao futuro casal. — brincou a mulher, num tom presunçoso.

Miller assentiu e se afastou.
Ela caminhou pelo saguão das Instalações Darko, até passar pela recepção e sair do prédio. A moto de Dominos que ela havia pego emprestado sem anunciar, estava estacionada logo à frente na rua, e assim que chegou perto, seu celular vibrou no bolso da calça. Ao pegar o aparelho conseguiu ver algumas ligações não atendidas do seu chefe, assim como inúmeras mensagens. Ela apenas ignorou e subiu na moto, dando partida com destino a mansão.
Na metade do celular vibrou novamente, em uma ligação em grupo de suas amigas. apenas parou a moto e pegando o aparelho novamente, atendeu a ligação levemente curiosa.

— Posso entender o motivo de ambas me ligarem em conjunto? — perguntou ela.
que me ligou primeiro. — disse Annia, em sua defesa.

Do outro lado da ligação a chefe Baker rolou de leve na cama, enquanto se deliciava com o momento com as amigas. Ser durona e destemida não era fácil, lhe exigia muito física e mentalmente, e apesar do casamento estar lhe fazendo bem, ela sabia que tinha segredos femininos que não era confortável compartilhar com o marido, mesmo Cedric sendo o mais paciente possível. É claro que Annia prezava o pouco tempo que tinha com as amigas de orfanato, era divertido e lhe trazia um sentimento de viver como uma pessoa comum por pelo menos alguns segundos do dia.

— Eu realmente precisava desabafar com vocês. — tratou de se explicar.

A bailarina estava em seu quarto, sentada na janela enquanto sentia a brisa da noite tocar sua pele. Seu olhar voltou para sua mão direita enfaixada até depois do pulso, ainda sentia o local do corte latejando, efeito de mais um dia de treinamento. Internamente a herdeira Fletcher já se sentia esgotada, sua estadia ali em poucos dias já parecia uma eternidade de sofrimento. Ela não daria o braço a torcer, é certo, não iria desistir e nem poderia, então a única coisa que lhe restava, era dar o seu melhor e rezar para sair viva no final do dia.

— Como vocês conseguiram sobreviver?! — segurou a voz de choro, percebendo uma movimentação no galpão e avistando seu instrutor saindo de lá.
— Do que está falando? — perguntou , confusa.
— Ela está no acampamento da avó treinando para ser sliter. — contou Annia, já percebendo que a amiga não sabia de nada.
— Você realmente continuou com essa ideia? — realmente estava surpresa daquela vez, afinal ignorava a seriedade das palavras da amiga — Quando disse que estava indo para o acampamento achei que fosse brincadeira.
A sliter não podia nem mesmo tirar alguns dias para o anonimato com seu Dominos, que logo os acontecimentos iam acumulando no mundo externo.
— Eu decidi que deveria saber me defender. — explicou a bailarina — Não terei vocês a vida toda para me salvar.
— Ela também quer ser uma girl power. — explicou Annia, num tom sarcástico.
— Não está ajudando Annia. — a repreendeu — Eu juro que ia te contar amiga, pedir sua opinião, mas é uma decisão que já tomei.
— E como tem sido? — perguntou Miller.
— Estou lutando diariamente para chegar viva até à noite. — contou , sentindo suas emoções aflorarem — Amigas, eu não sei como conseguiram, mas sinto que vou morrer a qualquer momento.

Annia soltou uma gargalhada maldosa do outro lado.

— Você tem treinado com quem? — perguntou .
— Seu rival. — respondeu — Quem mais poderia ser, ele tirou a vida para me esfolar e sugar toda a minha energia.
— Está reclamando porque nunca treinou com seu próprio pai. — disse Annia, se lembrando do passado — Dimitri já me fez escapar de uma casa em chamas, literalmente.
— Você deveria estar mais agradecida, o Matthew é um excelente professor, e muito perspicaz. — disse , certa de seus elogios, já entendendo quem era — Passou por muita coisa até chegar ao top 5, está com o melhor.
— Se for para sofrer, preferiria com você. — disse a bailarina.
— Não posso. — Miller riu baixo.
— Não pode, ou não quer? — reclamou a amiga.
— Por mais que eu quisesse, eu não posso, querida amiga, por questões de ligação emocional. — explicou ela.
— Traduzindo, somos amigas. — completou Annia, entendendo a lógica.
— Isso mesmo. — confirmou — E sendo neta da Donna, com certeza sua avó pediu para ele pegar pesado com você, só por esse fato.
— Devo agradecer a ela? — um suspiro fraco vindo de — Ela perguntou se eu queria ser a herdeira da nossa família.
— E você aceitou? — perguntou .
— Sim. — assentiu ela.
— Uau, nossa Jenei está crescendo. — brincou Annia, rolando novamente na cama.

Elas riram juntas.

— Mas, me contem de vocês? — disse .
— Eu não tenho novidades. — contou Annia, pensativa — Mas nossa amiga em comum tem, soube que estava em off com seu chefe há dias.
— O que? — se afastou um pouco da porta e se aproximou da cama, sentando em seguida — Conta tudo?
— O que eu tenho para contar? — riu alto — Eu e o Dominos apenas definimos que precisamos de um dia normal, só nós dois em um lugar remoto e longe de todos.

— Hum… — as duas amigas em coral e risos.
— Ah, vão me dizer que nunca desejaram isso? — tentou repreendê-las, sem sucesso e riu junto — Ser normal por apenas um dia, sem preocupações.
— Você está certa… Eu e Cedric temos o nosso momento família. — confessou Annia, num tom malicioso — E agora que recuperamos nosso herdeiro, tem sido mais divertido.
— Então, sua mãe aceitou o pequeno Michael? — indagou .
— Não tinha o que aceitar, ainda mais com a notícia da filha de . — disse Annia, com serenidade — A parte complicada foi ter a guarda dele, mas eles aceitaram bem o meu pedido.
— Não chantageou ninguém para isso, não é? — perguntou , com um tom desconfiado.
— Quem você pensa que eu sou? — Annia se fez ofendida — Uma mercenária? — Talvez. — riu dela.
— Como se a gente não te conhecesse. — soltou uma gargalhada boba.
— Sou uma dona de casa bem boazinha. — brincou Annia, voltando o olhar para a porta do seu quarto, vendo o marido entrar — E uma esposa muito dedicada.
— Deixa eu adivinhar, concede ao seu marido todos os desejos dele?! — supôs.
— Hum… — o olhar malicioso de Annia apareceu, seguido de um sorriso bobo — Como você sabe sobre isso?!
— Te conhecemos. — disse , defendendo a amiga — Estou feliz por vocês estarem bem amorosamente, ao contrário de mim que só tenho dedo podre pra homens.
— Não diga isso , nós sabemos que você ainda não esqueceu o . — comentou Annia, observando seu marido se aproximar dela.
— Não importa, não estou mais pra clima de romance. — resmungou .
— Eu por outro lado… — Annia deu um sorriso malicioso.

riu baixo, quando de repente sentiu uma movimentação suspeita ao seu redor. Ela se desligou por um momento de suas amigas, quando Annia anunciou que provavelmente a conversa estava no fim para ela. A sliter por sua vez, percebeu alguns carros se aproximando, então ligou a moto se preparando para a partida. Ela sabia que tinha algo de errado ali.

— Meninas, acho que sou eu quem vai desligar primeiro. — anunciou ela.
— O que aconteceu? — perguntou , já se preocupando.
— Estou na rua, e acho que tenho inimigos à vista. — respondeu ela.
, onde você está? — Annia que estava sendo aninhada por seu marido, logo afastou-se dele e se levantou da cama — Me diga, eu mandarei alguém para te ajudar.
— Estou próximo a rodovia, não posso ir para mansão, estragar o noivado de Genevieve está fora dos meu roteiro. — disse a sliter, vou ligar o gps.
— Sim, vou tentar te localizar daqui. — Annia, saiu do quarto às pressas — , avise a sua avó.
— Espera do que está acontecendo? — perguntou a bailarina, se assustando e totalmente confusa.
— Nossa amiga está sendo seguida. — explicou Baker, ao abrir a porta do escritório.

assentiu e manteve a ligação para ser rastreada, apenas deixando o celular no bolso do casaco. Dando a partida, ela deu meia volta com a moto e seguiu para o sentido oposto ao endereço dos Dominos. Se houvesse alguma briga, teria que ser bem longe da mansão. Em uma altura da perseguição, ela virou em uma rua não movimentada, uma decisão que lhe custou muito, pois quilômetros adiante sua moto foi bloqueada e ela se viu em um beco sem saída.

— Então vai ser do jeito mais difícil. — sussurrou ela, respirando fundo ao desligar a moto.

Em instantes a sliter desceu da moto e se deparou com um homem diante dela, após um longo suspiro fechando seus punhos, ela sentiu uma picada no pescoço, que a fez sentir tonta.

— O que foi isso? — perguntou ela, em sussurro ao perceber que havia sido um dardo tranquilizante.

Por mais que tentasse se manter firme, o corpo da sliter desabou no chão, porém sendo aparado pelo homem que assistia tudo. Um sorriso nebuloso vindo dele, com o gosto de vitória.

, não estamos ouvindo o barulho da moto. — disse , do outro lado.
, fala com a gente. — pediu Annia, controlando seu desespero, sem poder ajudar.
— Acho que não poderão ajudar a amiga de vocês. — disse o homem, ao retirar o celular do casaco e ouví-la com mais nitidez.
— Andrei Tenebrae. — disse , com o tom meio falho, ao reconhecer aquela voz.

You can call me monster.
- Monster / EXO






- Algum lugar do Texas, 2018
Um dia antes…



Pela primeira vez em dias, finalmente conseguiu ter uma longa noite de sono profundo, nem mesmo as constantes dores pelo corpo foram capazes de incomodá-la, incluindo seu joelho enfaixado. A bailarina ainda não havia entendido a lógica de Matthew em seu estilo de luta, e as raras vezes que ela conseguia golpeá-lo, eram na base da sorte de forma não intencional. Ela tinha um grande domínio de seus movimentos quando dançava, entretanto, quando o assunto era os treinos, falhava miseravelmente.
— Está atrasada. — disse ele, com o tom sério ao centro do galpão.
— Não estou, não tem um único raio de sol lá fora. — retrucou ela, um tanto quanto sem paciência para lidar com ele naquele dia.

Collins apenas riu baixo.
A cada dia que conhecia mais o lado determinado de sua aprendiz, mais ele se deixava encantar por ela, mesmo sabendo que um sentimento lhe era proibido. O lado cativante de era tão natural quanto seu sorriso meigo, o que facilitava a aproximação e rápida afeição das pessoas por ela. Matthew já tinha algumas informações e história sobre a bailarina, contadas por Donna. Inegável para ele não admitir que a matriarca Fletcher não mentiu em nenhuma delas, quando assegurou que sua neta jamais desistiria de ser uma sliter, se realmente estivesse decidida a ser uma.

— Do que está rindo? — perguntou ela, ao parar em sua frente e cruzar os braços, revoltada.
— Nada. — ele deu um passo para trás e olhou para a mala que estava ao seu lado — Pegue e venha comigo.
— Outro de nossos passeios sem propósito? — perguntou ela, depois lembrou-se de uma das regras e com sarcasmo — Ah, me esqueci, nada de perguntas.

Desta vez ele segurou o riso. Mantendo-se sério, voltou seu corpo em direção à porta dos fundos, seguindo na frente dela. soltou um suspiro cansado e dando três passos até a mala, a pegou com certa dificuldade por estar pesada. Se tratando de Collins, ela já estava imaginando que passaria por mais uma maratona de corrida, exercícios físicos e um combate no final do dia que a mandaria para a enfermaria. Pois assim era sua rotina diária de treinos, em que chegar parcialmente inteira no final do dia, passou a ser sua meta de vida.
Curiosamente, após passarem pelo caminho rotineiro, Matthew pegou uma trilha desconhecida por ela, que dava a oeste do acampamento, bem próximo ao rio Blanco, porém mantendo o devido distanciamento da rodovia de acesso à cidade de Austin. Minutos de caminhada que se transformaram em três horas, cheias de ar puro das árvores e um sutil fundo sonoro com o canto das aves locais. Um belo lugar que transmitia paz e tranquilidade, algo que a muito tempo não tinha em sua vida.
De repente, ele parou permanecendo de costas para ela, o que a deixou intrigada. O olhar de passou por aquelas altas árvores, que escondiam não somente boa parte do céu, como os raios solares que aqueciam aquela manhã. Uma brisa refrescante passou por seu corpo, fazendo-a se lembrar dos muitos acampamentos que participou na adolescência. E juntamente com suas memórias do passado, também vinha a imagem de Bellorum e Dominos para desviar sua atenção.

— O que vem agora? — perguntou ela, não se importando com as muitas regras, estava curiosa pela mudança de direção.
— Aqui é o lugar mais distante que temos da civilização dentro do nosso perímetro. — começou ele, sua explicação do treino daquele dia — Daqui a dois meses será o Torneio Anual Sliter, e cada instrutor deve apresentar seu aprendiz para a competição, por isso, vou intensificar seu treinamento e te deixar longe das vistas de terceiros.
— Está com medo da sua reputação ser prejudicada? — perguntou , escondendo o deboche no tom de voz.
— Não, não será o fracasso de uma mera aprendiz que vai manchar meu legado. — ele voltou-se para ela, mantendo a seriedade — Mas sei o quanto você quer provar sua força, por isso estamos aqui.
— Depois das suas palavras de ontem, achei que desistiria de mim. — retrucou ela, surpresa com a resposta.
— Não sou de desistir fácil, além do mais, é divertido te ver se machucando. — brincou ele, em provocação.
— Desagradável. — sussurrou ela, e bufou de leve.

Collins riu baixo.

— Te dou cinco minutos de alongamento e quero dez voltas entre as árvores. — ordenou ele, dando alguns passos até ela e pegando a mala de suas mãos — Será somente o aquecimento.
— Ok. — começou com um longo espreguiço, sentindo seu corpo ainda travado mesmo depois de toda aquela caminhada.

Em silêncio, a bailarina pode sentir todo o ambiente à sua volta enquanto se alongava, e claro não pode deixar de notar os olhares discretos e fixos de Matthew para ela. Algo que lhe deixava parcialmente envergonhada e constrangida. Uma coisa era certa, a delicada Fletcher não queria se envolver amorosamente com mais ninguém, então não teria a mínima chance de rolar qualquer aproximação entre os dois. Ou pelo menos era isso que ela esperava, por mais atraente e intrigante que seu treinador fosse. Querendo ou não, ela tinha assuntos inacabados com seus passados, algo do qual ela não queria dar atenção e se forçava a esquecer.
Minutos depois, ela iniciou sua corrida de dez voltas pelo perímetro demarcado por ele. Enquanto isso, Collins começou a preparar a próxima atividade que ela iniciaria, algo que jamais imaginou fazer, mas que o futuro que ela ambicionava lhe exigia muita habilidade, conhecimento, concentração e destreza.

— Acho que… — parou de correr e respirou fundo, para retomar seu fôlego, foi quando ela percebeu uma mesa dobrável de madeira com várias armas de fogo em cima — O que é isso tudo?
— Parte das habilidades que você terá que desenvolver. — respondeu ele, com tranquilidade — Um bom sliter deve saber manejar uma arma e ter uma excelente pontaria.
— Nossa… Agora posso dizer que estou surpresa. — sussurrou ela, porém dando para ele ouvir — E como tudo isso chegou aqui?

Matthew sorriu de canto disfarçado e voltou o olhar para a mesa.

— Você trouxe. — respondeu prontamente e apontando para o lado — Na mala.
— Ah… — ela soltou um suspiro fraco e se aproximou dele, olhando para aquela variedade de armas na mesa.

A única vez que tivera a chance de ver tantas em um único lugar foi quando passou a noite com escondido no porão da casa do senhor Bellorum, no qual o xerife tinha muitas guardadas.

— E você vai me explicar sobre todas? — perguntou ela, voltando o olhar para uma em especial, reconhecendo a semelhança com a arma de sua amiga Annia.
— Sim, cada uma tem sua peculiaridade. — assentiu ele, pegando a primeira — Esta é a Cattleya, ela é um revólver Taurus RT 85 de calibre 38, é bem leve e ajuda nas horas mais precisas, existem modelos menores que você pode esconder no tornozelo.

permaneceu em silêncio apenas observando e tentando absorver e digerir as informações.

— Esta é Camellia. — continuou ele, ao pegar a próxima com o olhar atento e de forma cuidadosa, como se segurasse um filho — Uma pistola Glock G25 semi-automática, ela tem capacidade de 16 balas em cada cartucho, é claro que o carregamento é manual… E tem a sua irmã mais nova Violetta, Glock G22, são as melhores que eu tenho, porém não deixarei a Rose com ciúmes, ela é uma 9mm que se torna necessária em momentos oportunos. Além de vossa majestade Azaleia, minha única carabina e a mais antiga de todas, foi minha primeira arma, ganhei em uma briga de bar. Ela é uma Taurus Puma calibre 38 de 12 tiros…

Ele continuou mostrando mais algumas, era nítido seu conhecimento profundo sobre cada uma e como seus olhos brilhavam ao segurá-las. finalmente percebeu que aquele universo não tinha apenas suas peculiaridades, mas a riqueza dos detalhes poderia significar o sucesso e o fracasso no mesmo.

— E por último, minha favorita, a Sakura… — ele pegou a arma com certo orgulho no olhar — Ela é uma espingarda CBC Military 3.0 calibre 12 de 5 tiros, tenho ela há dois anos…
— E todas possuem o nome de uma flor… — comentou , ao interrompê-lo finalmente.
— Sim, todas são minhas namoradas. — brincou ele, colocando a espingarda sobre a mesa — Vamos à prática?
— Eu vou… — ela olhou para mesa, em seguida olhou para ele.
— Não acha que eu falei sobre elas apenas para conhecimento, não é?! — ele riu de leve — Vamos começar com a Magnólia.

não tinha muita escolha, a não ser assentir e iniciar seu treino de tiros. De início, ela aprendeu a montar e desmontar cada arma, para depois avançar para a etapa de recarregar e atirar. Poderia ter sido apenas sorte de principiante ela ter acertado logo no centro do primeiro alvo em seu primeiro tiro, e lá no fundo Matthew sentia que ela tinha talento para o ofício. Contudo, no susto do primeiro, o restante do cartucho a bailarina atirou de olhos fechados. O que causou irritação em Collins.

— Jamais atire de olhos fechados, você é louca? — gritou ele, irritado — Poderia ter me acertado.
— Não é de todo uma má ideia. — brincou ela, em provocação — As árvores não deveriam ser meu alvo já que na vida real, terei que mirar em alvos em movimento.

Ele se impulsionou para argumentar, porém a sua lógica tinha fundamentos.

— Continue com esses alvos, quando achar que está pronta, avançaremos. — disse ele, dando um passo para trás — Recarregue a Magnólia.

Ela assentiu e continuou sua sequência de disparos até a metade do dia. A cada hora, Matthew mudava a posição dos alvos e diminuía o diâmetro demarcado nos papéis. No dia seguinte, a mesma atividade, pela manhã as armas e à tarde combate corpo a corpo. Era notório que o segundo melhor sliter não iria ausentar sua aprendiz que ir para a enfermaria no final do dia, nem que fosse com pelo menos um arranhão no corpo.

! — disse Meg, assim que a viu passar pela porta — Mais alguns minutos e você encontraria esse lugar repleto de aprendizes enfaixados.
— Não diga… E o que você ainda faz aqui? — ela deu mais alguns passos e sentiu na maca ao lado da nova amiga.
— Estou me escondendo da Joy. — respondeu ela, com um olhar temeroso e bastante amedrontado — Para todos os efeitos, eu não me recuperei do último treino.
— E quem é Joy? — perguntou , curiosa pela história dela.
— Uma das melhores aprendizes que temos, casse A, número 2, ou seja, o topo da cadeia alimentar. — explicou ela, com um suspiro fraco — Eu atravessei o seu caminho, ela me desafiou fazendo uma aposta.
— E que tipo de aposta foi? — indagou a bailarina, mantendo sua atenção nela.
— Meg, se escondendo novamente na enfermaria? — a enfermeira Kim, colocou a mão na cintura com o olhar de desaprovação — É assim que pretende ser uma sliter, fugindo das responsabilidades?
— Mas o que foi a aposta? — perguntou , novamente para entender o que acontecia.
— Ela me desafiou a violar o toque de recolher, ir até o bar Sweet Home que fica próximo ao rio, e trazer a medalha do velho James. — contou a aprendiz, se encolhendo — Ela pediu o impossível.
— E é tão difícil assim? — indagou .
Sweet Home é um bar de motoqueiros gangsters, não é um ambiente muito saudável e menos ainda o lugar em que você sai sem arrumar confusão. — explicou Kim, respirando fundo e se aproximando de para examiná-la — E você Fletcher, o que foi desta vez?
— Meu pulso está doendo, acho que desloquei alguma coisa, eu fui golpear meu treinador e acabei socando uma árvore. — explicou ela, se sentindo uma inútil descoordenada.
— Uau, e eu achei que era ruim em combate corpo a corpo. — sussurrou Meg, segurando o riso com respeito.

O olhar atravessado da senhorita Kim se voltou para ela por um tempo, então retornou a Fletcher, que se mantinha imóvel apenas observando-a.

— Está doendo muito? — perguntou Kim.
— Sim. — assentiu.
— Pelo seu olhar não parece, você sabe segurar bem uma dor. — elogiou a enfermeira.
— Um sliter não deve demonstrar fraqueza. — sussurrou ela.
— Uau, já gravou a terceira regra. — comentou Meg, impressionada.
— Tenho ouvido isso quase às vinte e quatro horas do dia nos últimos dias. — explicou com um tom cansado.
— Vou enfaixar e colocar uma tala para imobilizar, amanhã te quero aqui para fazermos uma radiografia e ter certeza que não quebrou nada. — ela pegou um algodão e a solução de Polihexam para limpar as feridas que ficaram no dorso da mão dela — Enquanto isso, tente não utilizar a mão direita.
— Eu sou destra. — informou .
— O problema é todo seu. — Kim continuou séria em sua concentração no curativo, enfaixando o pulso dela.

Assim que terminou, a enfermeira expulsou ambas as aprendizes de lá. E para Meg, sua única solução seria enfrentar Joy e sua aposta que poderia lhe render mais humilhação ainda. Ambas caminharam um pouco até que chegaram em frente ao dormitório dos aprendizes, a maioria estavam reunidos no porão onde era o refeitório, se deliciando com o jantar especial daquele dia.

— Então, o que vai te acontecer agora? — perguntou .
— Serei devorada pela selva. — disse num tom dramático, dando um suspiro fraco.
— Posso entrar com você? Nunca tive a oportunidade de conhecer os outros aprendizes. — pediu ela — Estou sempre sendo monopolizada pelo meu treinador.
— Meu sonho é ter um treinador como o Collins. — o olhar de Meg ficou triste.
— Quem treina você? — perguntou , curiosa.

Ela sempre ouvia as histórias dramáticas de Meg, porém nunca soube mais sobre as outras pessoas que viviam naquele lugar. Apenas avistava alguns aprendizes nas poucas horas que tinha de descanso.

— Atualmente, não tenho um treinador fixo. — respondeu a amiga, abaixando o olhar com tristeza — Somente um slitter do top 10 pode ser treinador e nenhum deles quer me treinar.
— Mas e a sua salvadora? — questionou , ao lembrar-se que Anastasia era a quarta melhor.
— Ela não fica mais na academia, deixou de ser slitter oficialmente, além do mais, ela deve ter outras prioridades na vida do que dar atenção pra uma fracassada como eu. — respondeu.
— E como você treina? — indagou a bailarina, tentando entender a logística da amiga.
— Bem, quando não estou na enfermaria, eu assisto alguns treinos e tento repetir sozinha os golpes. — explicou ela, num tom constrangido e envergonhado.
— Eu não imaginava que você tivesse que passar por isso. — se sentiu inconformada pela situação dela, pensando no que poderia fazer para ajudar.
— Mas, não tem problema, pelo menos eu não me machuco tanto quanto os outros. — ela riu, tentando descontrair — Vamos entrar? Estou ansiosa para ver a reação de todos quando me ver do lado da herdeira. Posso te usar para ganhar respeito aqui?

sentiu inocência naquelas palavras que a deixou sensibilizada.

— Você sabe que eu sou pior que você, não é? — retrucou .

Ambas riram um pouco.

— Olha só, o projeto de sliter rindo, será que ela finalmente tomou coragem de pagar a aposta? Ou vai continuar sendo a vergonha a profissão? — a voz de Joy soou atrás delas, o que as fez virar de imediato.

Sendo proposital ou não, o mais fofoqueiro dos aprendizes estava passando pelo corredor dentro do dormitório, quando avistou Joy e seu grupo de amigos frente às aprendizes. O que certamente resultou no anúncio imediato no refeitório, fazendo todos saírem para acompanhar o embate.

— Essa é a Joy? — perguntou .
— Sim. — ela engoliu seco.
— E pelo visto encontrou uma nova amiga. — o olhar de Joy voltou diretamente para , não é?! Espero que não esteja pensando que só por ser neta da senhora Donna, está no topo da lista.
— Eu sei muito bem como são as coisas aqui e acredite, meu nome estará no topo e não será por causa da minha avó. — a bailarina devolveu com um olhar superior, de causar orgulho em sua amiga Baker.
— Hum... Que corajosa. — Joy soltou uma gargalhada maldosa — Vou ter o imenso prazer de te derrubar na competição mensal.

mesmo trêmula de insegurança por dentro, não se deixou abater e continuou com o olhar firme.

— Já que a realeza está tão segura assim, porque não compra a briga da nova amiga? — disse outra aprendiz em provocação.
— Mas eu duvido que a Fletcher tenha coragem de infligir as regras, vai desonrar a vovó. — disse um rapaz de cabelos coloridos, num tom de deboche.
— Ah, Bailey, eu aposto que nenhuma das duas consegue cumprir o desafio. — reforçou Joy, mantendo o olhar fixo em — Falta coragem e ousadia nelas. — Se você quer tanto aquela medalha, porque não pega você mesma? Já que é tão boa aprendiz assim. — rebateu o desafio.
— Eu até pegaria, mas o que provaria a mais, além de eu permanecer sendo a melhor daqui. — retrucou Joy.

respirou fundo, sentindo seus nervos aflorando. Não imaginava que poderia ter alguém mais arrogante e prepotente que seu instrutor ou Stelle Ortiz. Mas lá estava Joy, nem era uma slitter oficial e já se achava a próxima Miller da Academia.

— Já vocês... — o barulho de risadas ao redor deles, fez Joy se sentir ainda mais superior — Eu já imaginava que o projeto de aprendiz não teria coragem, nem mesmo um treinador, ela consegue ter, imagina cumprir um desafio interno.

Mais risadas soaram.

— Minha avó sabe o que acontece entre os aprendizes? — sussurrou , ao se voltar para a amiga, sua indignação era visível.
— Me conte uma coisa que Donna Fletcher não sabe? Seus segredos tem segredos, ela sempre sabe de tudo. — contou Meg.
— Então, porque ela não intervém? — indagou a bailarina.
— Ela permite desafios e apostas entre aprendizes e slitters, não é uma proibição e nos deixa mais alerta e ajuda em nosso crescimento. — explicou Meg — Podemos até quebrar as regras, só não podemos ser pegos.

respirou fundo. Em choque e tentando assimilar tudo que vivenciava ali. Uma novidade a cada dia…

— Eu aceito o desafio no lugar da Meg, ou melhor, nós duas vamos cumprir juntas. — anunciou em seu impulso de coragem — E se cumprirmos, você terá que desistir de todas as lutas do campeonato mensal e ser a última no ranking por dois meses, e no seu teste final você terá que derrotar uma amiga minha, acho que já ouviu falar de Miller.

Outro som de animação veio dos aprendizes ao redor. Empolgados com a instigante rebatida da Fletcher.

— E se não conseguirem? — questionou Joy, arqueando a sobrancelha direita.
— Eu desisto de ser slitter. — a segurança na voz de , causou espanto a todos.
— Mas não se pode desistir. — sussurrou Meg para ela, de forma temerosa.
— Você sabe que não podemos desistir. — retrucou Joy.
— Pelo que eu soube, existe um limite de tempo para ser aprendiz, e quem não consegue finalizar as metas recebe uma punição rigorosa a cada ciclo não concluído. — argumentou — O que me diz?
— Como você sabe sobre isso? — perguntou Meg.
— Eu gosto de ler e achei o livro de regras na biblioteca. — explicou , a amiga.
— As punições são severas. — reforçou Meg, mantendo o olhar estático para ela.
— Eu sei. — assentiu.

Joy pensou por alguns segundos e finalmente deu sua resposta.

— Eu aceito sua oferta, porém quero outra coisa no lugar da sua desistência. — disse ela, certa da vitória — Afinal, você já vai fracassar por si só.
— O que você quer, então? — perguntou , mantendo a segurança no olhar.
— Você saberá assim que eu ganhar. — disse Joy, esticando a mão para ela — Então, consegue aceitar o desafio sem saber o que pagará quando perder.
— Eu aceito o desafio com a certeza que serei melhor que você no futuro, e acredite, vai ser divertido ver minha amiga te jogando na lona. — confirmou , ao apertar a mão dela.
— Amiga, estamos falando de Miller, vai mesmo prosseguir com isso? — uma das amigas de Joy, tentou chamá-la a razão.
— Eu tenho certeza que elas não vão conseguir, Dalia. — Joy sorriu de canto, como se soubesse o que poderia acontecer se caso alguém tentasse pegar a tal medalha.

O desafio estava lançado e mais do que consentido por ambas as partes. Entretanto, havia uma pessoa que estava a um passo do surto: Meg. A aprendiz que não conseguia sair do nível 1 de sua categoria, apenas sentia-se trêmula pela afronta da amiga a Joy.

— Te dou até amanhã à noite. — anunciou Joy — Para não dizer que eu não fui legal.

Assim que a classe A número 2 se afastou acompanhada das amigas, o olhar estático de Meg se moveu para .

— O que você fez? — sussurrou ela, boquiaberta.
— Eu não sei, apenas quis agir como minha amigas. — confessou , ao voltar em si e notar o que tinha feito.
— Como vamos conseguir? — perguntou Meg.
— Eu não sei, mas vou pensar em um jeito de fazer isso a todo custo. — sorriu de leve para ela, tentando lhe passar segurança.

Então se afastou da nova amiga e seguiu para a casa principal. Com tantas emoções e agitações acontecendo, somente ao chegar em seu quarto que conseguiu notar que as dores pelos músculos do corpo ainda estavam ali. Com cada parte do corpo latejando, ela pegou uma toalha e seguiu para o banheiro do seu quarto. Nunca tinha desejado tanto sentir as gotas quentes de água sobre suas costas para lhe trazer algum tipo de alívio ou apenas a sensação de estar relaxando. São esses momentos em que ela percebe o quão forte são suas amigas e quanto ela precisa ser, certamente não foi fácil para ser a melhor sliter da sua avó.

, no que você se meteu?! — sussurrou ela, ao lavar o rosto e molhar seus cabelos.

Assim que desligou o chuveiro, ela se enrolou na toalha e retornou ao quarto. Quando adentrou, seu corpo paralisou de leve, ao dar de cara com Collins encostado em sua janela, com as mãos nos bolsos à sua espera. O coração da bailarina acelerou de leve, não sabendo explicar se era pelo susto de vê-lo ali ou pelo olhar intenso do seu instrutor para ela.

— O que faz aqui? — perguntou ela, se encolhendo um pouco envergonhada pela situação, afinal estava enrolada na toalha.
— Eu só queria saber se está tudo bem. — ele se afastou da janela e caminhou até ela, parando em sua frente — Como está seu pulso?

Assim que ele pegou a mão dela para conferir o estragou, uma gotícula de água caiu do cabelo dela escorrendo por suas costas, o que a fez sentir um arrepio. Matthew a olhou impressionado, pois tinha notado o ocorrido.

— Eu estou bem. — ela soltou sua mão, se afastando dele — E não teremos treino amanhã, a enfermeira Kim quer fazer uma radiografia do meu pulso.
— Se você está bem, não precisa de radiografia. — ele pegou a mão dela novamente com mais força e analisou a sua maneira.
— Ai. — ela tentou se soltar, porém sem sucesso desta vez.
— Você não estava bem? — ele soltou a mão dela, mantendo o olhar sério e inexpressivo.
— Estou, mas não quer dizer que meu estado físico esteja aceitável para voltar aos treinos. — argumentou ela — Eu sou destra.
— Muito bem, já era hora que aprender a atirar com a mão esquerda, te espero antes do amanhecer. — ele deu um passo para trás — E não se preocupe , mesmo que você fosse uma mulher atraente, jamais aconteceria algo entre nós, sentimentos são proibidos para pessoas como eu.

Ele passou por ela e seguiu até a porta, deixando-a sem palavras. não sabia o que ele queria dizer com: “Sentimentos são proibidos para pessoas como eu.” E tinha medo de imaginar que isso fosse algo geral no que dizia respeito a ser um sliter. E por mais que sua amiga tivesse seu romance com o Dominos, as muitas histórias de conflitos e dificuldades que ambos passaram até ficarem juntos, demonstravam fundamentos nas palavras de Matthew. Não que ela estivesse preocupada com sua vida amorosa, já que seguia fugindo das complicações que a mesma lhe reservou.

— Hum… — logo ela foi despertada de seus pensamentos, por uma ligação inesperada de Annia.

Ela ficou olhando o visor por um tempo, até que atendeu a videochamada.

— Annia?! — caminhou até a cama e se sentou — Porque está me ligando?
— Estava com saudades de conversar com minhas amigas, e cheia de curiosidade para saber como está minha sliter favorita. — o olhar de Annia pela tela ressaltava uma mistura de ironia e curiosidade — Que a não me ouça dizendo isso.

Ela soltou uma gargalhada maldosa e boba, então se ajeitou na poltrona em que estava sentada.

— Sua boba. — riu baixo — Como tem passado? Porque não me atendeu anteontem? Precisava tanto de uma amiga para desabafar.
— Aposto que ligou pra primeiro. — perguntou a Baker, num tom de ciúmes.
— Para ser sincera, não. — ela riu.
— Ah amiga, me desculpe por não ter atendido. — ela soltou um suspiro emotivo — Mas estava em meu dia da família, fomos ao zoológico com o nosso pequeno.
— Que fofo, até imagino o quanto Cedric deve estar sendo o pai babão do ano, ele sempre levou jeito com crianças. — comentou.
— Sim, ele é um amor com nosso filho. — assentiu a amiga — Mas me diga, o que queria desabafar?
— São tantas coisas acumuladas que nem sei por onde começar. — seu suspiro foi fraco e cansado.
— Vamos do começo então. — sugeriu Baker.
— Então. — ergueu a mão direita e mostrou-a enfaixada — Isso é só o começo.
— Uau, já estamos assim, ser forte não é fácil amiga. — comentou Annia surpresa — Achei que sua avó pegaria mais leve.
— Não estou treinando com a minha avó. — disse.
— E com quem? — o olhar de Annia ficou mais curioso.
— A pessoa mais prepotente, arrogante e intolerante que eu conheço. — se mostrou raivosa — Matthew Collins.
— E foi antes ou depois desses insultos que ele te deixou atraída? — perguntou Baker, já em provocação.
— Eu não estou atraída por ele. — desconversou surpresa pela colocação dela — Só irritada e não contei a nova.
— Me surpreenda. — instigou Annia.
— Existem desafios entre os aprendizes e eu acabei me envolvendo em um, só queria entender como a sobreviveu a tudo isso. — soltou um suspiro fraco.
— Não seja por isso, vamos perguntar a ela. — Annia apertou alguns botões para iniciar uma chamada tripla, ligando para a sliter.
— Annia, não vamos incomodá-la, pelo que soube, hoje é o noivado da Genevieve. — anunciou a bailarina.
— Já? Nossa o tempo tem passado tão rápido, mas tenho certeza que para as amigas ela tem um tempinho.

Mais alguns instantes e finalmente a ligação foi atendida.

— Posso entender o motivo de ambas me ligarem em conjunto? — perguntou ela.
que me ligou primeiro. — disse Annia, em sua defesa.

As amigas continuaram a conversa, sempre com as brincadeiras e provocações de Baker. Até que anunciou movimentações estranhas ao seu redor que a fez ligar a moto. Do outro lado da ligação as amigas se pegaram em total apreensão por não poder ajudá-la.

, não estamos ouvindo o barulho da moto. — disse , do outro lado.
, fala com a gente. — pediu Annia, controlando seu desespero, sem poder ajudar.
— Acho que não poderão ajudar a amiga de vocês. — disse o homem, ao retirar o celular do casaco e ouví-la com mais nitidez.
— Andrei Tenebrae. — disse , com o tom meio falho, ao reconhecer aquela voz.
You can call me monster.
- Monster / EXO






Na vida sempre passamos por momentos bons e ruins, há aqueles que desejamos eternizar e outros que se transformam em traumas que desejamos esquecer. No momento em que a voz do traidor Tenebrae soou, todo o corpo da bailarina gelou de imediato, fazendo seu coração disparar de medo assim que a ligação caiu. As lembranças de quando foi sequestrada tomaram sua mente elevando ainda mais seu nível de preocupação com a amiga.

— Annia, o que faremos? — sussurrou , sentindo as mãos trêmulas.
— Eu vou fazer minhas ligações e você, avise a sua avó agora mesmo, a primeira a ter notícias liga para a outra. — disse a Baker, quase em tom de ordem.

assentiu de imediato e desligando a ligação, saiu do quarto às pressas descendo as escadas em direção ao escritório de sua avó. Donna estando em seu escritório no porão da casa, mantinha a atenção nos preparativos do jantar dos herdeiros, repassando todos os pontos de segurança do local escolhido e analisando a lista dos sliters que trabalhariam naquela noite. Carl acompanhado de outra sliter, seguia prontamente anotando cada detalhe e dando argumentando as decisões que achava pertinente, mostrando soluções melhores para a chefe.

— Vovó... — adentrou o espaço repentinamente os deixando confusos, e lembrando-se das formalidades, corrigiu sua fala — Senhora Fletcher...
— O que houve para entrar assim? — perguntou Donna, estranhando o olhar amedrontado da neta.
— Levaram a . — respondeu , segurando as lágrimas que estava se formando no canto dos olhos.
— Como assim levaram a ? — indagou a matriarca, tentando entender a notícia.
— Estávamos conversando com ela no telefone e ela disse que estava sendo seguida, e o Andrei apareceu na ligação. — tentou explicar de uma forma clara, porém sem sucesso, pois o desespero já se mostrava em sua fala — O Andrei levou a .
— Quem era a terceira pessoa conversando com vocês? — Donna tentou manter a calma diante da situação e do estado da neta.
— A Annia. — respondeu a bailarina.
— Muito bem. — ela respirando fundo, pois se houvesse mais algum detalhe na história conseguiria extrair da Baker com mais precisão, então voltando a atenção para Carl — Ligue para Finn* e peça para entrar no sistema de câmeras das vias de Chicago, precisamos descobrir qual rua ela foi vista pela última vez e rastrear para onde a levaram, ligue também para Fulhan, a família de precisa ter em máxima segurança...

Na medida que Donna seguia com as orientações aos dois sliters, ela pegou o celular para informar aos Dominos o ocorrido, entretanto achando-se esquecida na sala, de imediato chamou a atenção da avó.

— E o que eu faço para ajudar? — perguntou ela, em aflição interna.
— Você nada, a partir de agora eu resolvo isso. — respondeu a matriarca Fletcher num tom sério, áspero e frio.
— Mas vovó... Senhora Fletcher, a é minha amiga, eu quero ajudar. — questionou .
— Ajudar em quê? Você nem mesmo consegue derrubar seu treinador propositalmente... Não pode nem ser considerada uma sliter com todos esses machucados pelo corpo... — por mais que doesse em Donna jogar a realidade na cara de sua neta, era necessário.

Afinal, poderia mais atrapalhar que ajudar.

— Mas... — ela tentou argumentar sem sucesso.
— Mas nada... Preocupe-se com seu treinamento e em pagar a aposta na qual se envolveu sem ao menos ter consciência do que estava fazendo. — agora a Fletcher elevou a voz de forma mais dura.
— Como a senhora sabe? — perguntou , surpresa.
— Eu sempre sei o que acontece no meu acampamento, agora pode se retirar. — Donna não se importou se iria ou não ferir os sentimentos da neta, pois a mesma precisava se tornar mais forte para lidar com esse tipo de situação.

Voltando à gravidade dos acontecimentos, Donna Fletcher discou no celular o número de Dominos. Por mais que a noite fosse de festa de felicidade, a vida de era importante o bastante para não deixar seu sequestro em oculto do homem que certamente moveria céus e terra para encontrá-la. Enquanto isso, em choque com a reação da avó, se retirou do escritório sentindo-se uma inútil pela realidade de não poder salvar a amiga como um dia foi salva pela mesma.
Seguindo até a parte de cima, saiu pela porta e começou a correr em direção a floresta que circundava o lugar, sem direção e em total tristeza e frustração. Semanas haviam se passado com ela ali e não tinha chegado ao seu objetivo inicial de se tornar forte e independente. Internamente ela concordava com a avó, seus machucados pelo corpo apenas lhe mostravam o quão fraca ela era.
Pelo menos era o que pensava.

— O que eu estou fazendo aqui? — sussurrou ela, para si mesma ao parar próximo ao pequeno lago que tinha na parte oeste da floresta.

Tudo ficou silencioso por um momento. O olhar de manteve-se no céu que parecia parcialmente nublado, não era comum naquela época do ano, porém os rumores de chuvas rápidas circulavam entre os aprendizes, tanto que não demorou para que uma brisa fria passasse por seu corpo.

— Então é assim que você lida com as crises? Fugindo? — a voz de Matthew soou por detrás de uma das árvores, calma e serena.
— O que faz aqui? — enxugou as lágrimas discretamente e olhou para a direção dele, que começou a dar alguns passos até ela — Por que veio atrás de mim?
— Você não me respondeu. — ele parou em sua frente, mantendo as mãos nos bolsos e controlando o olhar debochado.
— Me deixa em paz. — disse ela, se virando para afastar.
— Então é assim? — ele a segurou pelo braço de maneira firme, parando-a — Vai desistir?
— Eu te odeio. — ela se soltou bruscamente e no impulso da raiva, começou a bater nele enquanto as lágrimas voltavam a descer pelo seu rosto — Odeio a Continuum, odeio o Andrei, odeio esse acampamento, odeio todo mundo…

Matthew permaneceu parado, apenas permitindo que extravasasse sua raiva dando pequenos socos em seu tórax. Era de se esperar que em algum momento toda a pressão e frustração que estava sentindo desde quando foi sequestrada iria de fato ser externada em algum momento, e aquele era bem propício, no meio do nada com a única pessoa que lhe entendia perfeitamente apesar da bailarina achar que não. E quanto mais ela o batia, mais ela desabafava.

— Eu... — enfim parou por um momento, ao sentir-se cansada.

A raiva foi tanta que nem mesmo pulso enfaixado foi capaz de desviar sua atenção, e a própria dor foi abafada.

— Acabou? — perguntou ele, num tom sarcástico — É somente isso que tem guardado aí dentro? Andrei levou sua amiga semanas depois de quase te matar... E você age assim? Como uma garota mimada que só sabe chorar...

fechou seus punhos novamente e partindo para socá-lo na cara, foi paralisada por um movimento de imobilização de Matthew. Ela se remexeu para se soltar sem sucesso, enquanto ele a deslocava para a parte mais escura da vegetação. Em um piscar de olhos Matthew girou seu corpo a prensando em uma árvore, mantendo o corpo de ambos próximo o suficiente para sentirem a respiração um do outro.

— Quanto mais você ficar assim, mais seu inimigo terá poder sobre você. — disse ele, percebendo os sentimentos dela.
— Me solta. — pediu tentando controlar sua voz, internamente seu corpo trêmulo apenas queria abrir mão de tudo — Por favor.
— Não se pede por favor para o inimigo, não vou deixá-la desistir. — continuou ele, mantendo a seriedade na voz e suavizando o olhar — Você é mais capaz do que imagina, bailarina.
— Não você não sabe quem eu sou, ou melhor, você já me definiu, sou uma mimada que passou a vida sendo protegida... Nem a minha avó acredita que sou capaz de me tornar uma sliter. — disse ela, com a voz falha e mais lágrimas escorrendo — Não importa se a punição for a morte, eu não quero mais.

apenas desistiu de se soltar dele, deixando seu corpo relaxado para que ele a mantivesse de pé.

— Engano seu, é por acreditar em você que sua avó me pediu para treiná-la. — Matthew foi se inclinando para mais perto, deixando seus rostos bem próximos.

Com leveza, ele soltou os braços dela, porém continuou a apoiando para que seu corpo mantivesse erguido. apenas fechou os olhos, sentindo toda a sua força temporariamente se esgotar pelo turbilhão de emoções que viveu em um curto espaço de tempo. Aos poucos, sua respiração ofegante foi se acalmando até ficar sincronizada com a de seu treinador, era intrigante para ela a habilidade que Matthew tinha de elevá-la aos dois extremos, raiva e calmaria, em um piscar de olhos. A forma em que a apoiava fisicamente, seu toque suave e firme que lhe transmitia segurança e força, inegável o fato dele ser totalmente diferente do que ela imaginou em um tipo ideal de homem para sua vida, e era exatamente por isso que sua influência sobre ela era mais surpreendente.
Além de fazê-la esquecer os outros dois homens que arrasaram seu coração e com facilidade tomar seus pensamentos, agora indiretamente estava se tornando um motivo inesperado para ela prosseguir com seu objetivo de se tornar sliter.

— O que você está fazendo comigo? — sussurrou ela, tentando entender porque seu corpo seguia espontaneamente ao comando dele.
— Estou apenas te ajudando a achar seu ponto de equilíbrio. — sussurrou ele, de volta ao impulsioná-la a se afastar da árvore e conduzi-la para o centro do lugar — Mantenha seus olhos fechados.
— O que vai fazer comigo? — perguntou ela, insegura com o que poderia vir a seguir.
— Vou mostrá-la o caminho... — Matthew manteve a voz suave, enquanto retirava o lenço amarrado em seu punho, então a vendou com precisão.
— Collins?! — disse ela, estranhando.
— Respire fundo e tente sentir o ambiente em sua volta. — disse ele, em seu tom habitual de ordem.

A parte doce e compreensiva do treinador cruel estava dando lugar ao seu lado impotente e rígido. assentiu fazendo o que ordenou, não entendendo de início o propósito daquilo. Em instantes o silêncio pairou sobre o lugar, o que aos poucos foi permitindo a bailarina perceber os detalhes que aconteciam ao seu redor, percebendo que Matthew a rodeava.
Vendada e com a atenção total nos movimentos dele, em um movimento involuntário e espontâneo deu meio giro e abaixou rapidamente quando sentiu a aproximação de algo vindo em sua direção. No susto, ela se levantou em seguida e socou o ar, para sua surpresa sua mão passou de raspão pelo rosto de Matthew quase o acertando de fato.

— Matthew?! — disse ela, estática com o que tinha acontecido.
— Mantenha a calma e o equilíbrio... — sussurrou ele, em seu ouvido novamente — Acompanhe os movimentos do seu inimigo, como se estivesse dançando com ele.

Mais uma vez ele investiu em um ataque contra ela, desta vez mais concentrada, se defendeu conseguindo manter a estabilidade do seu corpo, não sendo derrubada no processo. Ela sorriu com espontaneidade ao perceber que tinha o bloqueado com sucesso, o que a fez perder o foco e se distrair, nesta fração de momento Matthew aproveitou para derrubá-la com um chute certeiro no estômago. A bailarina ao sentir o impacto juntamente com a dor, sofreu uma breve falta de oxigênio decorrente do golpe, então puxou o máximo de ar para seus pulmões tentando assim voltar a estabilidade.

— Mantenha o foco... — disse ele ao segurar em sua mão e puxá-la para se levantar — Se inimigo não te dará descanso...

Assim que ergueu seu corpo, Collins lhe transferiu outro golpe a derrubando. A bailarina respirou fundo, pensando na melhor forma se bloquear e voltar ao equilíbrio inicial, então erguendo novamente seu corpo percebeu a investida dele contra e girando seu corpo com precisão colocou toda a força em sua perna direita a lançando contra ele, assim que conseguiu finalizar seu movimento o derrubando como planejou, ela posicionou seu corpo como se estivesse terminado de fazer um movimento de ballet.

— O nome disso é fouettés... — disse ela, ao levantar o lenço dos olhos para encará-lo, enquanto recuperava o fôlego — Um movimento importante do ballet.

Ele sorriu de canto discretamente, então manteve a seriedade no olhar. Logo sentiu um gosto estranho, o ataque da bailarina havia provocado um pequeno corte interno em sua boca.

— Eu não mandei retirar a venda... — Collins manteve o tom firme, levantando-se novamente — Vamos de novo.

Ao ataque inicial de Matthew, a bailarina continuou a se defender e contra-atacar. não sabia ao certo o que estava fazendo, mas muitos de seus golpes começaram a tomar forma a partir dos movimentos de ballet e outras danças que conhecia, principalmente o hip-hop. Se aquele era o tal estilo de luta que ele havia lhe dito, ela ainda não compreendia ao certo, mas finalmente estava achando mais fácil encontrar formas de não sair tão machucada como das outras vezes. Claro que Collins não estava usando sua força em cem por cento contra ela, o que facilitava, entretanto, quanto mais conseguisse dominar seu próprio corpo e movimentos, mais ela desenvolveria suas habilidades de combate corpo a corpo.

— Eu venci desta vez?! — perguntou ela, ao parar para tomar fôlego após uma sequência de golpes que tinha bloqueado.
— Não, mas parabéns pelo progresso. — disse ele, ao se aproximar dela e esticar a mão direita para retirar sua venda.

no reflexo se defendeu e tentou atacá-lo, porém Matthew foi mais rápido e a imobilizou, prendendo-a contra seu corpo.

— Calma, eu só ia tirar isso... — ele retirou a venda de seus olhos, e riu baixo.
— Me desculpa, reflexos involuntários. — sussurrou ela, ainda receosa, quando ele a soltou.

Matthew respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos da calça, olhando-a com serenidade.

— Quem é você e o que fez com o Collins? — perguntou ela, desconfiada.
— Do que está falando? — ele deu uma risada rápida.
— Você me parabenizou. — explicou ela.
— Hum... — ele manteve o sorriso debochado — Retiro o que eu disse então.

Assim que tentou retrucar, ele se impulsionou para sair. As horas haviam passado tão rápido e a atenção de ambos no treino estava tão intensa que nem mesmo viram o tempo passar, faltava menos de uma hora para o sol nascer e havia até esquecido do caos do qual havia fugido.

— Temos que voltar e você tem uma aposta para pagar. — avisou ele, seguindo para o caminho em direção ao acampamento.
— Como você sabe disso? — perguntou ela, na inocência.
— Sou o seu treinador, é meu dever saber tudo o que faz. — explicou ele, de forma enigmática.
— Esse lugar tem câmera? — continuou ela, o seguindo — Não é possível que todos estejam sabendo sobre isso.
— Até as árvores têm ouvidos aqui. — brincou ele — Você é uma Fletcher, acostume-se e tenha cuidado...

Ele parou e a olhou sério.

— Nunca uma outra pessoa foi tão observada nesse lugar quanto você. — até suas expressões estavam mais frias — As pessoas podem saber o que faz, mas não pode ser pega fazendo ou terá punições, então não deixe que te vejam.
— Como assim? — ainda não tinha entendido a maldade por detrás das apostas que rolavam entre os aprendizes, e menos ainda o conselho de Matthew.
— Eu vou seguir na frente, você pode me acompanhar ou aproveitar o momento para invadir um bar e roubar uma medalha. — sugeriu ele, indiretamente — Afinal, estávamos em um treino noturno, então, há uma razão para não estar em seu quarto dormindo.

De certa forma sabia que a razão e a lógica estavam a favor dele. Por mais que a preocupação com a amiga tivesse retornado, não tinha outra coisa a se fazer a não ser seguir o fluxo e continuar os treinos para se tornar tão forte, quanto as outras duas órfãs que conheceu quando criança.
Afinal, seria mais imprudente ainda de sua parte ir atrás de Andrei despreparada, do que encarar um bar cheio de motoqueiros mal encarados para roubar uma medalha. permaneceu parada avaliando a situação e pensando em como ela poderia fazer aqui sem ser pega e envolver Meg junto, já que sua loucura em interferir nos assuntos da nova amiga fez a tal aposta criar proporções maiores do que deveria. Poucos passos a frente Matthew parou ao perceber que ela havia ficado para trás, e num sorriso de canto confiante, a orientou subjetivamente.

— Ah, acho que estou ouvindo o barulho de motos a oeste daqui. — disse ele, elevando sua voz — Talvez estejamos próximos ao Sweet Home.
de imediato entendeu o recado e voltando-se para oeste, começou a correr em direção ao barulho dos carros na rodovia, era um trecho bem movimentado por causa do famigerado bar de motoqueiros. Quanto mais se aproximava, mais o barulho da civilização ficava nítido a sua audição, avistando as luzes da fachada do lugar mais à frente. A estrutura do lugar o aspecto de antigo e para uma construção que no passado serviu de base para o corpo de bombeiros, sua arquitetura transmitia um charme rústico pelas paredes de tijolinho, alinhada à modernidade da decoração.

Sweet Home. — leu ela, ao voltar seu olhar para o letreiro em neon vermelho acesso — O que eu estou fazendo?!

Ela ficou alguns minutos parada do outro lado da rodovia, observando a movimentação do lado e o fluxo de pessoas que saíam e entravam. Na teoria, a bailarina deveria fazer aquilo na companhia de sua nova amiga, porém na prática seria desperdício de tempo e oportunidade retornar ao acampamento para enfim tentar as duas saírem de lá sem serem vistas. Então só lhe restava encarar o desafio sozinha e rezar para sair viva e não ser vista.

— Bem, não há outra opção para mim. — sussurrou ela, para si — Se não consigo encarar um bando de motoqueiros, como vou encarar o Andrei?

A mente da bailarina precisava se manter focada, porém suas preocupações com a amiga dividiam sua atenção naquele momento. Dando o primeiro passo, ela atravessou as duas pistas e se aproximou de um motoqueiro que estacionava sua Scrambler 74.
Era a hora de improvisar.

— Boa noite. — disse o homem, sendo retribuído com um sorriso — Está perdida?
— Parcialmente, posso dizer que sim. — ela disfarçou um pouco o nervosismo interno — Estava com uma amiga e o seu namorado fazendo trilha, mas eles acabaram esquecendo de mim e mudando os planos…
— Entendo, a cidade não fica muito longe daqui, se quiser podemos beber um pouco e depois eu te levo. — ofereceu ele.
— Não sei… — ela olhou para a porta de entrada do bar — Ali diz, somente entrada de convidados.
— Você é minha convidada. — o homem piscou de leve para ela e desceu de sua moto, guardando as chaves do bolso traseiro — Então?!
— Eu estava mesmo com sede. — assentiu ela, em surtos internos.

Ele sorriu de canto e seguiu na frente sendo acompanhado por ela. observou bem os detalhes dos grafismos nas paredes, notando também os olhares dos outros homens e mulheres que estavam por todo o salão. No fundo sonoro, o jukebox contemplava o ambiente com o som de We Will Rock You do Queen, um grupo de homens que rodeava a mesa sinuca começou a discutir de repente, rindo segundos depois do tropeço de um deles ao dar sua tacada. Mais adiante nos fundos ficava o bar, com a cobiçada medalha em destaque pendurada em cima da prateleira dos whiskys mais caros.

— Estou ferrada. — sussurrou ela, engolindo seco ao olhar a medalha.
— O que?! — seu cartão de acesso a olhou — Disse alguma coisa?
— Aqui está bem cheio, é sempre assim? — disse ela, como se repetisse uma pergunta.
— Não todos os dias. — ele riu e se aproximou do balcão — James, me vê duas bebidas, estou acompanhado hoje.
— Olha só. — o homem grisalho pareceu impressionado — Muito bem acompanhado, devo dizer.
— Devo levar isso como um elogio? — brincou ela, tentando descontrair.
— Claro senhorita. — James riu — É a primeira vez que Paul traz alguém com ele, e devo dizer que estou impressionado.
— Pare de falar e nos sirva logo. — pediu o homem, que finalmente ela descobriu o nome.
— O especial da noite? — perguntou James.
— Claro. — Paul voltou o olhar malicioso para , que logo percebeu.

Ela precisava planejar algo em seu improviso, ou terminaria a noite de uma forma desastrosa e mais delicada ainda. “O que a faria em meu lugar?” ou “O que a Annia faria?” A bailarina tentava vencer esses pensamentos, afinal era ela quem estava ali, era o seu momento de provar para si mesma que conseguia ser mais forte e capaz de se livrar de qualquer situação perigosa.

— É visível que esta é sua primeira vez aqui, não é? — perguntou Paul, tentando puxar assunto.
— Sim, como disse era pra estar fazendo trilha agora, mas parece que minhas férias em grupo foram frustradas. — respondeu ela, percebendo a aproximação dele.

Em sua mente, se imaginou o derrubando no chão com um soco ou chute por mais de dez formas diferentes.

— Sorte a minha, agora podemos animar a noite um do outro. — disse ele, sugestivamente.

Não que aquele motoqueiro em si fosse estranho, pelo contrário, para a surpresa de , Paul era um homem até bonito e interessante, mas é claro que para ela isso não significava nada. Seu objetivo era entrar discretamente e roubar a medalha, mas o processo para o seu sucesso ainda não tinha sido definido.

— Você não me disse seu nome. — perguntou ele, assim que foram servidos por James da bebida especial.
— Nem você, soube por ele. — disse ela, de imediato.
— Verdade. — ele riu, esticando a mão em cumprimento — Sou o Paul.
— Joseline. — ela abriu um largo sorriso, retribuindo o aperto de mão — Obrigada por me convidar.

se lembrava vagamente de uma amiga da faculdade com esse nome, o que a ajudou a não pensar muito em inventar um para dar a ele. Neste pouco tempo em que ela foi jogada em todo o universo da Continuum, ela havia aprendido algumas coisas com as amigas que reencontrou e as novas que conheceu. Uma delas é que em momentos de improviso, nunca diga seu nome verdadeiro.

— Tem sido um prazer sua companhia, Joseline. — Paul encostou de leve sua mão na cintura dela, trazendo-a um pouco para mais perto, pretendendo lhe beijar.

Porém, o barrou no caminho com sua mão, mantendo a distância entre eles.

— Onde é o banheiro? — perguntou ela, disfarçando.
— Ali. — ele apontou para um corredor escuro.

O que a deixou insegura. Respirando fundo, seguiu na direção indicada e passou pelo corredor escuro até chegar em uma escada de acesso ao porão no subsolo, onde eram os banheiros e as salas vip. Com o coração acelerado e se locomovendo lentamente pelas escadas, ela passou por várias portas das quais algumas conseguiu ouvir barulhos vindos do lado de dentro. Logo um casal saiu de uma das portas, estavam visivelmente embriagados e em risos.

— Precisamos marcar de novo. — disse o homem, num tom moderado.
— Assim que meu marido viajar novamente. — respondeu a mulher, sem cerimônias.

olhou de relance para eles, notando no pescoço do homem um naipe de espadas tatuado, fazendo-a se lembrar que já havia visto uma tatuagem assim antes em Collins, em seu pulso direito. Se aquele bar era de motoqueiros gangsters e se aquela tatuagem era um símbolo, como seu instrutor poderia ser de uma gangue se ele era um sliter, vindo de um orfanato?

— Não pense muito, ou então não terá coragem para ir até o final. — a voz de Matthew a assustou, ao despertar sua atenção do casal que já desaparecia do seu campo de visão.
— Collins. — sussurrou ela, sentindo o coração acelerar no susto — O que faz aqui?
— O que acha?! — ele deu alguns passos para saiu da sombra, assim ela pode vê-lo com mais nitidez.

Ela o ignorou e se moveu para sair.

. — ele segurou em seu braço, parando-a — Como pretende roubar a medalha?
— Não te interessa. — disse ela.
— Me deixe te ajudar. — insistiu ele — As pessoas daqui, conseguem ser piores que a Continuum, não possuem princípios.
— E desde quando os Tenebrae possuem princípios? — argumentou ela, com fundamentos se soltando dele — Não existe nada pior do que o Andrei…
— Fletcher. — insistiu ele.
— Não. — ela o olhou seriamente — Eu devo fazer isso sozinha e nem era para você estar aqui, se for pego ajudando sua aprendiz poderá ser punido.
— Olha só quem encontrou o livro de regras. — disse ele, impressionado.
— Estou falando sério. — forçou um olhar confiante.
— Eu também. — ele se manteve sério, porém com o olhar sereno para ela — Você sabe que não vai conseguir sozinha, precisa de alguma coisa ou alguém para distraí-los.
— Não. — ela retrucou, o encarando — Eu já entendi que não sou a , ok? Só me deixa pensar o que eu vou fazer, e fica fora disso.

Ela deu o primeiro passo para se afastar.

— Não se trata de ser ou não a . — ele segurou em sua mão agora, chamando-a à realidade — Existem coisas que até mesmo sua amiga não consegue fazer sozinha.

Logo a voz de Andrei invadiu a mente de , fazendo-a sentir um frio na espinha. não queria concordar, mas não sabia o que fazer e nem como iria distrair Paul que a aguardava com pensamentos de uma noite de aventuras estranhas. Ao perceber barulhos vindos da escada, Collins a puxou para uma das portas e entrou com ela. O ambiente vip em questão pertencia a ele, sua decoração clássica minimalista tinha toques escandinavos, principalmente na paleta de cores de adornos. A iluminação quente deixava mais aconchegante e com a sensação de estar mesmo na sala de estar de uma casa. Surpreendente para ela a se comparar com a estética do salão e da fachada.

— Como pretende distrair o Paul e roubar a medalha? — perguntou Collins, soltando sua mão.
— E o que você tem a ver com isso? — ela bufou, chateada pela interferência dele, adentrando mais o quarto e — Como conhece ele?
— Faz diferença se eu contar? Não quer minha ajuda. — retrucou ele, rindo de canto.
— Você é um gangster? — perguntou ela, tentando juntar as peças daquele quebra-cabeças.
— Meu pai era. — respondeu ele, num tom ríspido — Mas não vem ao caso, vai lá roubar sua medalha, me avise quando terminar.
— Tudo bem, eu deixo você me ajudar, se me contar sobre seu pai. — assentiu ela.
— Está tentando fazer um acordo comigo? — ele riu — Vai ter que fazer melhor.
— Foi você quem se ofereceu. — retrucou ela — Como você entrou aqui? Sabe que um sliter não pode ter nenhuma outra ocupação, não é?
— Vai contar para sua avó? — ele encostou na parede e cruzou os braços.
— Você é um gangster, não é? — indagou ela.
— E se eu for?! — ele sorriu de canto, meio prepotente — Foque na sua medalha.
— Prometa que vai me contar? — insistiu ela.
… — ele se afastou da parede e abriu a porta — Sua medalha.
— O que eu faço? — perguntou ela, meio insegura.
— Permita que ele te beije, e deixe o resto comigo. — respondeu ele, já formulando um plano na cabeça — Ao menor sinal de oportunidade, roube a medalha.

Ela assentiu e saiu primeiro do quarto. Não era bem um plano, mas o elemento de distração seria garantido por ele. Assim que ela retornou ao salão, como Collins previu, aconteceu, em um movimento preciso o motoqueiro a beijou com malícia mantendo seus corpos mais próximos. Seguindo o plano, retribuiu o beijo contando os minutos para a intervenção do seu instrutor, num piscar de olhos ela sentiu uma mão puxar Paul pela jaqueta e lhe socar a cara, o derrubando no chão.

— Como se atreve a tocar na mulher alheia. — um homem bêbado, gritou para ele, deixando ainda mais em choque.

Não era quem ela esperava.

— E quem disse que é sua?! — Paul limpou com o manga da jaqueta o sangue que escorreu no canto da boca, sentindo o gosto dele — Vou ensiná-lo a não interferir na noite dos outros, seu bêbado.

Paul voltou o olhar para o braço do homem, vendo a tatuagem de uma rosa referente a sua gangue, o reconhecendo e entendendo bem sobre quem ele se referia.

— Phill. — sussurrou Paul — Acredite, ela me ofereceu uma das melhores noites da minha vida.

E retribuiu o soco, o derrubou sobre outro cara de outra gangue que se prontificou a tomar satisfações com eles. Assim, o caos se instaurou no lugar com a troca de socos e mais brigas entre os que estavam lá, incluindo as mulheres presentes. O velho James saiu de trás do balcão para apartar uma das brigas e segurar um dos clientes que estava com um canivete. Do outro lado, duas mulheres enfrentavam com os tacos de sinuca quase quebrando o lugar junto.
O que deveria ser uma simples distração improvisada, acabou se tornando o caos perfeito para . Voltando sua atenção para o balcão, subiu nele passando para o outro lado, então esticando a mão, pegou a medalha e se abaixou rapidamente para se esconder. Com o coração acelerado, a bailarina colocou o objeto no pescoço e engatinhou até a porta de acesso para a cozinha.

— A medalha. — ela ouviu a voz de James gritando, pouco antes de passar pela porta e se deparar com alguns funcionários lá dentro.

Quatro homens com facas afiadas nas mãos e os olhos fixos na medalha em seu pescoço.

— Vai lá, derrube eles. — misteriosamente Matthew apareceu ao seu lado.

De relance no fechar da porta, ela pode visualizar que a guerra entre gangues no salão estava longe de acabar, e que James se aproximava para pegar o que era seu de volta.

— Você não vai me ajudar? — perguntou ela, controlando seu desespero interno.
— A aposta é sua. — brincou ele, colocando as mãos nos bolsos e esperando pelos movimentos dela.

Ela respirou fundo e colocando a medalha pra dentro da roupa, olhou para o lado e com a mão esquerda pegou a primeira panela que encontrou para usar de arma. Os quatro homens foram em sua direção erguendo a mão com a faca, ela se desviou do primeiro o empurrando em cima da bancada. O segundo lançou a faca contra ela, que se defendeu com a panela e o chutando entre as pernas, o homem gemeu de dor e bateu com o objeto em sua cabeça, o desmaiando. O terceiro foi atacá-la, porém recebeu um soco do segundo que vinha ao mesmo tempo para revidar, pois ela tinha se abaixando em defesa.
O quarto entrou com mais sucesso ao jogar uma das panelas em sua direção, fazendo-a cair. A panela escorregou das mãos da bailarina, que logo sentiu o quarto homem se aproximar e puxá-las pelas pernas, lançando-a na torre quente. O impacto fez o corpo de latejar de dor, assim como seu pulso direito que se mantinha enfaixado até o momento.

— Não vai mesmo me ajudar? — disse ela, em dificuldades quando o quarto tentou estrangulá-la com as próprias mãos.

Matthew suspirou fraco e jogou um rolo de macarrão para ela.

— Se concentre em controlar seu corpo. — seu tom foi de ordem, como nos treinos.

no ápice do seu desespero, fechou os olhos e buscando o rolo com suas mãos, ao encontrá-lo bateu forte na cabeça do homem, o derrubando. O terceiro homem avançou novamente contra ela, que rolando no chão, passou por debaixo da bancada e se levantou do outro lado. Ela manteve os olhos fechados para sentir o ambiente ao seu redor e perceber previamente os movimentos do seu inimigo, como de fato conseguiu com reação imediata de se defender do soco dele, lançando sua perna para derrubá-lo, repetindo o movimento de ballet como no treino de horas atrás.

— Consegui! — disse ela, sorrindo animada, quando teve seu corpo puxado por Collins que pegou em sua mão e a tirou de lá.
— Temos que sair daqui. — alertou ele, antes que ela pudesse questionar.

apenas assentiu, deixando-se ser guiada por ele. Uma corrida da saída dos fundos até o início do perímetro do acampamento no bosque, foi o suficiente para deixar a bailarina sem choque e com a adrenalina ao nível máximo.

— Então. — Matthew soltou sua mão assim que pararam.
— Obrigada. — disse ela, retomando o fôlego.
— Este é o nosso segredo. — disse ele, mantendo o olhar sério.
— Não vamos voltar juntos?! — indagou ela, percebendo que ele ficaria ali.
— Sabe que não. — respondeu ele — Não seja vista e vá direto para seu quarto.

Ela assentiu. Ao dar o primeiro passo para seguir na frente, ela hesitou um pouco e voltou a olhá-lo.

— Por que me ajudou? — perguntou ela.
— É minha aprendiz. — respondeu vagamente.
— Não é resposta. — insistiu ela — Acaso a te pediu algum favor?

Suas palavras tinham fundamento.

— Esqueça a , o mundo não gira em torno dela. — ele riu e se virou de costas para ela.
— O que é então?! — ficou um pouco curiosa.
— Eu prometi a sua avó que seria a melhor desta geração, só estou tentando cumprir. — explicou ele, direto.
— Posso te pedir um último favor, então? — ela também se manteve séria.
— Diga. — ele se virou e permaneceu atento a ela.
— Treine a Meg. — pediu ela.
— O que? — ele riu de imediato — Você quer acabar com a minha reputação?
— Foi você mesmo que disse que nada mancharia o seu legado. — insistiu ela — Quem melhor que você para treinar as duas piores aprendizes que esse lugar já teve?
— Quem disse que você é a pior? — Matthew cruzou os braços, esperando seus argumentos.
— Basta ir na enfermaria todos os dias ao pôr-do-sol e teremos a certeza, ninguém nunca se machucará tanto quanto eu aqui. — expôs ela, a realidade — Por favor, eu prometo que se treinar ela, eu venço o torneio.
— Está prometendo demais para alguém que se acha a pior. — soou com sarcasmo.
— Há seis horas atrás eu achava impossível roubar aquela medalha, e aqui estamos. — argumentou ela, apontando para o objeto escondido por sua roupa — Não sou de tudo um caso perdido.
— Com ou sem aposta… — ele deu alguns passos até ela, parando a milímetros de distância em sua frente — Você vai vencer esse torneio.
— Como pode ter certeza? — retrucou.
— Eu acredito em você. — disse ele, ao segurar em seu pulso direito se certificando o estado dele — Mas se está me pedindo para ajudar sua amiga.

Seu toque cuidadoso e suave a estremeceu por dentro, lhe deixando surpresa e assustada. Como podia ser tão mercenário e tão charmoso ao mesmo tempo?

— Eu estou bem. — disse ela, soltando seu pulso e dando um passo para trás.

ainda não entendia bem as palavras de Matthew: Mesmo que você fosse uma mulher atraente, jamais aconteceria algo entre nós, sentimentos são proibidos para pessoas como eu. Principalmente a parte dela não ser atraente. Não que ela estivesse preocupada com isso, afinal não desejava se envolver emocionalmente com mais ninguém, por causa dos seus passados mal resolvidos.

— Então, boa noite… — disse ele, com um sorriso disfarçado — Ou melhor, bom dia.
— Matthew?! — ela queria uma resposta concreta.
— Espero as duas após o café no lugar de sempre. — ordenou ele, dando sua resposta final.

Ela assentiu com um sorriso e se afastou, seguindo na frente.
Avistando o acampamento, ela se abaixou escondendo entre os carros que estavam próximos à entrada. Esperando até a troca de turno aos primeiros raios de sol, ela correu até a porta da cozinha da casa grande e entrou. Para sua sorte, não tinha sinal de sua avó ou Carl, então seguiu diretamente para seu quarto.
Com toda a turbulência nas últimas vinte e quatro horas, sem notícias da amiga e o desafio de vencer o torneio pela frente, ao menos havia algo positivo em tudo isso. Aquela medalha não significava apenas o pagamento de uma aposta e em ter mais respeito entre os aprendizes…
Significava um recomeço para a bailarina como a sliter herdeira.

Todos os perdedores no mundo
Chegará um dia em que perderemos
Mas não é hoje
Hoje, nós lutamos!
- Not Today / BTS






North Vancouver, Canadá



Dizem que quanto mais cavamos, mais segredos nos desenterramos. Ali estava Sollary no porão da casa, enrolada em um cobertor e concentrada em sua leitora, prontuário por prontuário. A madrugada passou e aos primeiros raios de sol pela manhã, finalmente a residente fechou a décima quinta caixa e olhou para seu marido que adormeceu no velho sofá de couro surrado que tinha ali. não a deixaria passar a madrugada sozinha em suas buscas, porém, também não teria paciência para ajudá-la a ler tudo aquilo que visivelmente ele não entenderia, então apenas se fez presente para não deixá-la sozinha.

— Hum... — um sorriso meigo surgiu em seu rosto, ao contemplar a beleza do marido.

Ao se levantar da cadeira, deu alguns passos até o sofá e se deitou ao lado de , não tinha muito espaço e lhe pareceu desconfortável a primeira impressão.

— Como conseguiu dormir aqui? — sussurrou ela, incomodada com o desconforto.
— Porque não me acordou? — resmungou baixinho, sorrindo de canto ao sentir o calor do corpo dela, logo ele a envolveu com o braço direito, puxando-a para mais perto ainda — Passou a noite acordada?
— Sim, não consegui parar de procurar. — respondeu ela, sentindo o marido lhe dar um selinho no pescoço, arrepiando de leve seu corpo — Está aqui em algum lugar, só preciso achar.
— Que tal adiarmos essa procura um pouco e curtir nosso momento família, afinal não foi para revirar o passado que viajamos para cá. — expressou ele, lembrando-a do propósito inicial de estarem ali.
— Você tem razão. — sussurrou ela, contra fatos não há argumentos.
— Alguma sugestão para nossa programação de hoje? — perguntou ele, sugestivamente começando a acariciá-la.
— Achei que você já tinha tudo programado? — ela se remexeu um pouco para olhá-lo — Baker, está sem ideias?

Ela riu de leve, em provocação.

— Ideias? — ele sorriu de canto com malícia — Minha querida, só de olhar para você minha mente já se enche de ideias.
— Hum... — ela virou para frente novamente, sentindo o coração acelerado — Me surpreenda então.
— Eu preciso saber se minha esposa conseguirá ficar acordada após uma noite em claro. — instigou ele.
— Por favor, eu já passei 72 horas em um plantão, é claro que vou conseguir levar o dia com minha família. — retrucou ela, achando irrelevante o comentário dele.
— Estou contando com isso. — pronunciou ele, num tom mais baixo, beijando-a na no pescoço novamente.

sentiu seu corpo arrepiar com os toques do marido, permitindo-o avançar pouco a pouco em suas malícias e intensidade. O que dizer de um Baker apaixonado que não mede esforços para demonstrar todo o seu amor, seja entre quatro paredes ou não, os sentimentos dele sempre seriam evidenciados de forma clara e direta para que não restasse dúvidas ou aberturas para inseguranças de parte de sua esposa.
E quanto mais expressava, mais barreiras continuavam a quebrar dentro de e suas muralhas de incertezas.

--


Como presumiu, assim aconteceu.
manteve seu sorriso de canto ao observar mais um pouco sua esposa desmaiada em seus braços. É claro que após passar por um plantão pesado no hospital, antes de viajarem e agora mais uma noite em claro procurando respostas no porão daquela casa, faria com que nossa residente se entregasse ao cansaço e não resistisse ao sono. Em muitos momentos, se esquecia que não era uma máquina e que seu corpo e mente seguia um longo tempo de estresse e turbulência.

— Bem como eu imaginei... — sussurrou ele, ao erguer seu corpo e se levantar do velho sofá com cautela.

Pegando sua esposa no colo, Baker a levou para o quarto, assim poderia descansar melhor e não ser atormentada pelas muitas dores nas costas que provavelmente teria depois. Ao deitá-la sobre a cama, lhe deu um selinho nos lábios e a cobriu com um lençol, para uma manhã fresca, nada como a brisa que entrava pela janela para embainhar seus sonhos, e ele fez questão de deixar as cortinas em uma posição adequada para escurecer o quarto, porém deixando-o refrescante. Saindo e fechando a porta, seguiu para a sala, sua concentração na esposa adormecida nem mesmo deu-lhe a percepção da filha já acordada no chão da sala a brincar com seu cachorrinho.

— Bom dia, princesa. — disse ele, ao se aproximar dela, e lhe dar um beijo no topo da cabeça.
— Bom dia, papai. — Molly sorriu de forma meiga para ele, continha um olhar feliz.
— Como foi sua noite? — ele se abaixou e sentou ao lado dela, atento às suas expressões.
— Bem, mais uma noite eu consegui dormir com o Kookie, sem sufocá-lo.
— Que bom. — ele sorriu, admirado com ela.
— Sim, a tia foi bem legal em me ensinar seus truques. — assentiu a garota.
— Você está gostando dela? — perguntou , curioso.
— Sim, ela é mais legal que a tia Rose. — confessou a garota, num tom mais baixo.
— Por que?! — indagou ele, ficando mais interessado na história.

Molly se calou, permanecendo com o olhar voltado ao animal em seu colo. Ela não queria trazer nenhum tipo de problema para sua tia, porém ao mesmo tempo não queria mentir para seu pai, então resolveu omitir seus pensamentos para não criar confusão. Mesmo sendo uma criança muito nova e inicialmente alfabetizada por sua tia, era esperta e inteligente, além de muito observadora, o que a levou a desenvolver uma boa memória fotográfica e auditiva.

— Está tudo bem, se não quiser falar. — disse , ao respirar fundo demonstrando paciência com ela.
— Obrigada papai. — Molly sorriu novamente, ao olhá-lo com graça — Estou com fome, podemos tomar café da manhã?
— É claro que podemos. — ele sorriu de volta e levantou de imediato — O que você quer comer?
— Não sei... — ela se levantou atrás pensativa — Panquecas?
— Hum... — ele avaliou mentalmente suas habilidades gastronômicas para aquele pedido — É claro que podemos comer panquecas.
— O senhor sabe fazer panquecas? — seu olhar ficou desconfiado.

No curto espaço de tempo, Molly já havia aprendido que o pai era péssimo na cozinha, quando se tratava de refeições complexas, já a sua esposa tinha mãos de fada para cozinhar, entretanto ela não estava ali o que deixava a criança com receio.

— Querida, é para isso que existe o senhor youtube. — assegurou ele, piscando de leve, fazendo-a rir.

Molly assentiu com a cabeça e sendo pega pela mão, foi para a cozinha na companhia do pai e sua empolgação momentânea. Sentando na banqueta, ficou por alguns minutos observando-o separar os ingredientes e começar o preparo totalmente despreparado. E mesmo com as trapalhadas do pai, ela estava mesmo se divertindo com ele a ponto de surgir gargalhadas em meio ao processo. Em um dado momento pegou um punhado de farinha e soprou no rosto da filha, que se encolheu em risos e fez o mesmo com ele, logo a bagunça se estabeleceu na cozinha com farinha sendo jogada para todos os lados e ambos em risos tendo Kookie correndo em volta de ambos participando da brincadeira. Ao final, as panquecas conseguiram resistir ao desastre que o ambiente sofreu e o cheiro gostoso se espalhou toda a casa, deixando a pequena Molly ansiosa para comer o experimento do pai.

— E então? — perguntou o pai, com as expectativas altas.
— Muito gostoso! — respondeu ela, bem espontânea enquanto saboreava mais um pedaço.
— Mais gostoso que a panqueca da tia ? — instigou ele — Pode admitir, prometo guardar segredo.
— Eu te papai, mas não, a tia ainda faz melhor que você e a tia Rose.

Ele fez cara de cão abandonado, fazendo-a rir.

— Então é isso que você faz enquanto estou dormindo? — a voz de soou da porta.
— Você ouviu? — ele se fez de inocente.

Ela assentiu com a cabeça e continuou.

— Não adianta tentar, não vai conseguir me superar na cozinha. — ela olhou para Molly e piscou de leve, arrancando um riso rápido e bobo dela.

se sentiu traído pela filha, percebendo a troca de cumplicidade das duas.

— Minha própria filha, sua traidora. — ele se levantou da banqueta, aproximando mais dela — Vou me vingar fazendo chuva de cócegas.

Ele se moveu rapidamente, vendo a filha já se encolher rindo antes mesmo do ataque do pai. ficou olhando e rindo juntamente, percebendo um sentimento novo fluindo internamente.

— Socorro, tia . — pediu Molly dando gargalhadas.

A residente se aproximou mais, e tocando no pescoço de , deslizou seus dedos de forma sinuosa, fazendo ele perder o foco.

— Isso é golpe baixo, sabia? — disse ele, ao voltar sua atenção para a esposa e lhe roubar um selinho.
— Só estava salvando nossa pequena. — em sua defesa, ela olhou novamente para a criança e piscou de leve.
— Papai, posso brincar lá fora? — perguntou Molly, mudando radicalmente de assunto.
— Claro que pode querida. — assentiu ele — Mas cuidado para não se machucar.

Ela o abraçou no impulso e desceu da banqueta, correndo em direção a porta.

— Vem Kookie, vamos brincar. — chamou ela, sendo seguida pelo cachorrinho.

O casal ficou em silêncio a observando, até que saiu pela porta dos fundos, fechando-a. Então finalmente pode perceber a bagunça que estava no lugar.

— Que furacão passou por essa cozinha? — indagou ela, desacreditada que tudo aquilo pudesse ser resultado de algumas panquecas.
— Bem... — coçou a cabeça, sem conseguir explicações mais plausíveis para ela.
— Você vai limpar tudo, e sozinho. — disse a mulher, em tom de ordem.
— Que malvada, não vai nem me ajudar? — ele fez cara de piedade — Eu sou apenas um pai que lutou arduamente contra o fogão para alimentar uma filha faminta.

Suas palavras soaram um tom dramático e sofrido.

— Sei. — ela soltou uma gargalhada — Não me convenceu.
... — ele deu alguns passos até ela, envolvendo nos braços pela cintura — Eu juro que tentei ser organizado como você...
— Por que me deixou dormindo? — indagou ela, tentando ser forte e resistente ao seu charme.
— Você parecia estar em sono profundo, não quis te acordar. — revelou ele, seu lado preocupado e cuidadoso com a esposa — Por mais que seja dias em família, quero que descanse também, sei como sua mente tem ficado cansada devido aos problemas do hospital e todo o resto da Continuum.
— Obrigada, por ter planejado esses dias. — ela sorriu um pouco e depois lhe deu um selinho.
— Só isso? — reclamou ele — Estamos sozinhos...

Ela nem mesmo o deixou terminar a queixa e já foi iniciando um beijo de verdade, com direito a toques maliciosos e muita intensidade. jamais conseguiria se segurar com a esposa, então correspondeu na mesma proporção, fazendo ambos os corações acelerarem.

— Eu te amo. — sussurrou ela, o afastando um pouco ao perceber que as coisas poderiam perder o controle ali na cozinha.

Internamente ela queria muito ser agarrada pelo marido ali mesmo, não se importar com os móveis da casa e até mesmo viver a emoção de quebrar a mesa da cozinha. Entretanto, nem tudo são desejos e prazeres, pois havia uma terceira pessoa envolvida ali, que inocentemente permanecia correndo pela grama com seu filhote de cachorro.

— Eu também te amo. — declarou ele, entendendo com seu gesto que deveria se comportar por hora.
— Vamos arrumar essa bagunça? — perguntou.

Baker assentiu e após outro beijo, se afastou da esposa.
Sob a supervisão dela, iniciou sua tarefa de deixar tudo limpo e organizado. As horas foram passando e sob a sugestão de , a família se deslocou para um rancho que tinha próximo ao terreno da casa. O proprietário, senhor Colter, logo reconheceu a residente, por seu sorriso que parecia com o da falecida mãe. Minutos de conversa falando do passado, o homem lembrou-se do dia em que tio Gustav chegou em sua casa acompanhado de uma criança nos braços, pedindo para escondê-la. O que deixou Sollary com mais curiosidade em encontrar o prontuário da herdeira Tenebrae.
Logo mudou de assunto, para não estragar seu passeio, e com isso aceitou alugar dois cavalos de Colter para dar mais aventura à tarde deles.

--


— Foi boa a ideia de colocar o Kookie dentro da roupa, assim ele ficou mais protegido e não caiu do cavalo. — disse , impressionada com o improviso do marido.
— Você não foi a única que teve cachorros na infância. — relatou ele, com tranquilidade.
— Tudo bem, senhor gambiarra. — brincou ela, recebendo uma piscada boba dele.
— Foi um dia longo. — comentou , ao voltar o olhar para a filha que dormia abraçada ao cachorrinho no sofá da sala.
— Sim, e a Molly se divertiu muito. — concordou , ao se aproximar do marido e abraçá-lo por trás.

Após o retorno da família para casa, a residente havia notado ele bem reflexivo e silencioso, deixando-a curiosa. Atraindo sua atenção, lhe deu um beijo na nuca, arrancando um sorriso.

— O que deseja de mim, senhora Sollary-Baker? — brincou ele, sentindo o corpo aquecer com o calor dela.
— Seus pensamentos. — revelou ela, respirando fundo — Passou a tarde calado, eu percebi.
— Sim. — assentiu ele, virando seu corpo para ficar de frente para ela.
— O que houve? Annia ligou? — perguntou ela, se preocupando.
— Não, Annia disse que não iria nos incomodar até retornarmos, mesmo que o mundo queimasse. — contou ele, rindo de leve.
— Annia, sendo Annia. — admitiu ela, o pouco que conhecia a cunhada — Então o que foi?
— Uma coisa que Molly disse, me deixou pensativo o dia todo. — confessou ele, o ponto chave.
— O que ela disse? — indagou a residente.
— Que você era mais legal que a Rose. — sua voz soou mais séria e preocupada.
— Geralmente as crianças não gostam tanto assim das madrastas. — expôs , baseado em fatos reais com a atual esposa do pai — Falo por experiência própria, se é que eu posso considerar uma mulher com a mesma idade que eu uma madrasta... Mas, enfim, as palavras de Molly deixam parecer que Rose não é a tia perfeita como imaginamos.
— Isso me levou a pensar, no fato de Rose ter aparecido em nossas vidas mesmo tendo o auxílio da minha irmã. — avaliou , revelando sua inquietação — Tentar entender o real motivo.
— Talvez Molly tenha dito isso porque eu estou tentando conquistar ela, e lhe feito alguns mimos para não sair de Malévola... — tentou suavizar as palavras da criança — A Rose é a tia, certamente Molly já deve ter ouvido muitos nãos da sua tia...

Baker tentou olhar pelo ponto de vista da esposa. Seu argumento tinha fundamentos.

— Mas é claro que sendo ou não uma boa tia, eu também não confio nela. — afirmou , sua palavra final a respeito daquele assunto.
— Obrigado. — sorriu de canto e a beijou com doçura — Por estar ao meu lado, eu realmente não sei o que seria de mim agora se não estivesse comigo.
— Você se tornou um bom pai em um curto espaço de tempo, não acho que tenha sido mérito meu. — confessou ela, orgulhosa do marido — Mas, devo admitir que a cada dia consigo me surpreendo com você, meu paciente favorito.
— Eu te amo. — disse ele, abertamente e com clareza como sempre fazia.

Baker jamais teve vergonha de assumir seus sentimentos pela residente, e estava feliz por não ter desistido de conquistá-la, afinal ela é a mulher a quem decidiu entregar não somente o coração, mas a si por completo. Minutos após uma profunda troca de olhares, se afastou um pouco dele envergonhada pela forte atração que estava sentindo do marido.

— Temos criança em casa. — brincou ela, ao medir a distância de um braço dele.
— E já não te disse que sei ser silencioso?! — ele a olhou com malícia, arrancando riso dela.
— Baker... — ela tentou o repreender sem sucesso, sendo silenciada pelos lábios dele.

com seu jeito bobo e charmoso, a pegou no colo em meio ao beijo, não permitindo que houvesse mesmo nenhum barulho que pudesse acordar a criança. Afinal, não seria um pequeno detalhe como a presença de Molly que o faria ser menos intenso com sua esposa, e esfriar o lado casal que lutou fortemente para construir entre ambos. por sua vez, se surpreendeu com a ousadia e sagacidade do marido, mas achou maravilhoso aquela fuga para o quarto estilo filmes românticos dos anos 90.
Dois dias se passaram, com Baker insistindo em prolongar a estadia da família em North Vancouver longe dos problemas da Continuum. Em uma manhã ensolarada, acordou primeiro sentindo-se mais descansada e animada para aquele dia. Após mais uma noite calorosa de amor e horas preciosas de sono nos braços do seu amado, assim como os dias divertidos e cheios de aventuras com a enteada, finalmente ela poderia dizer que havia aproveitado ao máximo sua estadia ali.
Após preparar waffles para o café e deixá-lo no forno para manter longe de insetos, ela se lembrou de sua busca pelo segredo da família, e do dia em que Raffaeli comentou sobre o cofre do tio escondido no closet do quarto principal. Assim, ela retornou ao quarto para retornar a sua busca.

— O que faz aí, senhora Sollary-Baker? — a voz de soou ainda embriagada de sono, enquanto erguia de leve o corpo.
— Estou tentando tirar uma dúvida. — explicou ela — Me lembrei que o cofre do tio Gustav está neste quarto em algum lugar.
Elizabeth Sollary Baker. — ele a chamou pelo nome completo.
?! — ela se virou para ele.

Ele ergueu mais seu corpo e com o dedo indicador, a chamou novamente. respirou fundo, e mesmo contrariada acabou cedendo ao seguir até a cama e se sentar ao seu lado ficando de frente para ele.

— O que combinamos? — perguntou ele, com serenidade ao segurar a sua mão.
— Nada de Continuum até voltarmos. — respondeu ela, diretamente.
— Então?! — ele se manteve sério, com o tom mais firme.
— Mas é que... Eu me lembrei de algo e temos uma oportunidade pra descobrir o maior segredo dessa sociedade. — explicou ela, em sua defesa — Eu juro que não quero atrapalhar nosso momento família.
— Nós voltamos amanhã à tarde... — ele entrelaçou seus dedos — Não acha que juntos seria melhor a procura? Eu prometo que te ajudo a procurar esses documentos, mas só amanhã de manhã. Combinado?
— Sim... Combinado. — assentiu ela.
— E o meu beijo para selar nosso acordo? — ele mordeu o lábio inferior, com malícia.
— Só um beijo? — provocou ela.
— Não...

Ele riu de leve se impulsionando para beijá-la. Sempre que ambos estavam sozinhos em um ambiente, nunca seria apenas um beijo e sabia muito bem... Oficina, sala de descanso do hospital, banco de trás do carro em algum estacionamento vazio, escritório do restaurante de Dominos, adega de vinhos da cobertura do senhor Sollary, jardim de inverno da mansão Baker, sofá velho do porão da casa do tio Gustav, não importava onde estavam sempre dava um jeito de despertar em os mais profundos desejos e anseios, para que pudessem desfrutar um ao outro da forma mais sublime e intensa que conseguia. E quanto mais ele a queria, mais ela se entregava ao marido se esquecendo de todas as inseguranças que um dia possuiu relacionadas a ele.
Definitivamente o mecânico aprendiz conseguiu se tornar seu ponto fraco.

— Você sabe mesmo como me tirar o foco. — reclamou ela, aninhada em seus braços após mais uma vez ser vencida pelo charme Baker.
— Você acha?! — ele riu, enquanto acariciava seus cabelos.
— Será que Molly já está acordada? — ela perguntou — Quando você a levou na cama?
— Quando estava no banho. — respondeu ele.
— O primeiro ou o segundo banho? — indagou ela, tentando lembrar.
— O primeiro. — ele riu de leve — Não sou um pai desnaturado, não deixaria minha filha dormindo no sofá, enquanto desfruto do calor de um banho com minha esposa, por mais tentador que fosse.
— Que fofo, depois diz que não sabe como ser um bom pai. — brincou ela.
— Eu sei que sou um bom pai... — ele se remexeu na cama, a trazendo para mais perto beijando seu pescoço — E sou um excelente marido!
— Baker... — em sussurro tentou não admitir, mais seu corpo arrepiado a denunciou de imediato.

Em um piscar de olhos e interrompendo o momento malicioso do casal, o celular de tocou. olhou revoltado para o aparelho e depois para ela, que não foi capaz de se explicar ou defender.

— Me desculpa, eu liguei ele assim que acordei. — contou ela, já sabendo que viria alguma repreensão de sua parte — Estava ansiosa para saber como estão as coisas no hospital.

Ele respirou fundo, se afastando dela e se deitando novamente, mantendo a atenção ao teto.

— Atenda. — foram suas únicas palavras, mas soaram com frustração e irritabilidade.

sem discutir, apenas ergueu seu corpo e pegou o aparelho atendendo a ligação.

— Sim?! — disse a residente.
... Que bom que atendeu. — a voz era de , tinha traços de inquietação.
?! A que se deve sua ligação? — perguntou ela, surpresa.
Preciso da sua ajuda. — pediu ele, como um grito preso de socorro — Preciso que me ajude com o .
— O que aconteceu com o ? — , ergueu mais o corpo se sentando na cama.

Logo ao seu lado se sentou também, tentando entender o que acontecia naquela ligação.

Levaram a ... — a voz de falhou um pouco — Andrei levou a e já deve imaginar como ele está.

Assim como o irmão, também estava transbordando raiva, pois ainda permanecia vivo em seus pensamentos os aflitos momentos que passou em surto enquanto não tinha nenhuma notícia de .

— Não se preocupe , estou indo para Chicago imediatamente. — assegurou ela, com firmeza.

encerrou a ligação e voltou o olhar para o marido, que tentava entender o motivo de sua decisão.

— O que aconteceu? — perguntou .
— Andrei Tenebrae levou a . — revelou , se sentindo impotente a respeito dos ataques do traidor — Isso tem que acabar, .
— Vá para Chicago, vou passar em Manhattan para ver como minha irmã está. — se levantou da cama para se vestir.
— E a Molly?! — indagou ela.
— Ficará comigo. — soou como sua palavra final, sem direitos a argumentos — Molly não vai sair de perto de mim, enquanto Andrei estiver vivo.

Someone call the doctor.
- Overdose / EXO






Mansão Dominos, Chicago



Dizem que o jantar de noivado é uma das recepções mais tradicionais e esperadas que existe entre as famílias, perdendo até mesmo para o chá de bebê. E naquela noite a casa Dominos estava desfrutando o ápice da felicidade, assim que e Genevieve desceram os últimos degraus da escada e foram cumprimentados pela família do noivo. De todos os presentes, não existia alguém mais eufórico e ansioso que a matriarca da família. Após perder os pais, o marido, dois irmãos e alguns sobrinhos no fatídico ataque ao rancho Dominos, ter a família reunida em uma ocasião como aquela, era tudo o que Sophie desejou em anos de preocupação e angústia.

— Primeiro, quero agradecer a todos que estão aqui presentes nesta noite. — disse , em seu pronunciamento inicial — Sabemos que tem sido tempos difíceis para todas as famílias da Continuum, entretanto, estamos aqui em um dia feliz comemorando o noivado da nossa Gen com um grande amigo como o Lance… Nossas famílias se unirão e certamente seremos mais fortes no futuro.
— Para mim é um privilégio ter conquistado o coração mais dócil que já conheci. — afirmou Lance, ao olhar para sua noiva com ternura — Você é maravilhosa.

Logo um sorriso singelo surgiu no rosto da noiva, demonstrando suas bochechas coradas pela declaração dele.

— Aos noivos… — disse Sullivan, o pai do noivo, com entusiasmo erguendo sua taça de champanhe.
— Aos noivos… — disseram todos em coral erguendo suas taças também.

Um pouco distante, Bella se encostou na parede ao lado da janela, sentindo um gosto amargo na boca. Após muitos amores ela não queria admitir que estava chateada por ver seu antigo affair em um relacionamento sério logo com a prima. E sim, em um passado distante Lance e Bells tiveram algumas noites de diversão às escondidas, todas sem compromisso. Seu olhar desviou dos noivos para a janela ao lado, com um suspiro fraco e desapontado, observando o tempo fechado do lado de fora e algumas gotas de chuva surgirem escorrendo pelo vidro.

— Deixe-me adivinhar, queria que fosse você no lugar da Gen? — perguntou , ao se aproximar dela, com discrição.
— Vai me jogar na fogueira se eu disser que metade de mim desejaria isso? — sussurrou ela, retrucando a pergunta.
— Não… Todos temos nosso momento de desejar aquilo que não é nosso. — disse , em sua reflexão sobre a própria vida.
— Estas palavras são para mim? Ou para você? — Bells olhou para ele, intrigada — Não acha que a tenha nascido para te encontrar?
— Por que está voltando para mim? — ele riu baixo, entendendo as palavras dela — A questão aqui é você.
— Querido , fique tranquilo, nem em meus pensamentos mais insanos eu vou atrapalhar a noite da princesa… Primeiro, pelo óbvio… me mataria, segundo, eu não sirvo para amores platônicos. — assegurou ela, confiante no olhar — Entretanto não posso dizer do temporal que está se formando do lado de fora.
— Sei. — voltou o olhar para a janela — Em alguns casos, chover é um bom sinal.

O caçula não seguia muito a previsão do tempo, e nem mesmo imaginava que as rasas nuvens escuras que observou ao longo do dia enquanto cozinhava, resultaria no mal tempo. voltou sua atenção para o sorriso da irmã que se mantinha abraçada ao noivo, muitos pensamentos tomaram sua mente, todos relacionados à bailarina que conquistou seu coração sem nenhum esforço. Desde o primeiro momento em que a viu assim que a porta do hostel se abriu, até o término sem propósito do qual ele mantinha seu arrependimento. Era difícil para ele não imaginar como seria se ainda estivessem juntos, o que aumentava o desejo de vê-la novamente.

— E claro que esta noite vamos saborear os dotes culinários do nosso masterchef, não é mesmo ?! — brincou , rindo um pouco, então percebendo os devaneios do irmão — ?!
— Sim, irmão. — assentiu o chefe, sorrindo de leve e levantando a taça para saudá-lo — Será o melhor jantar que esta família já teve.
— É o que todos anseiam . — comentou Nigel — Pois o cheiro que vem da cozinha é bem interessante.

Todos riram um pouco, concordando com ele.

— E a data do casamento já está marcada? — perguntou Mary, ao alisar de leve sua barriga já amostra.
— Escolhemos a última semana do outono, para passar a lua de mel em pleno inverno de Paris. — respondeu Genevieve, sendo abraçada pelo noivo — Lance concordou que seria bem romântico.
— Que viagem a Paris que não é romântica. — comentou Penny, a mãe do noivo — Mas, eu achei que fossem para o Paradise Kiss.
— Mas é claro que vamos. — assegurou Lance, ao olhá-la — Passaremos duas semanas em Paris e uma no Paradise.
— Vocês passaram em Paris, e eu quero ir para Londres, mas só se o imperador deixar. — comentou Jasmine, voltando o olhar para o irmão mais velho.
— Se suas notas forem suficientes e satisfatórias ao meu gosto. — disse o chefe da família, ao degustar um gole do champanhe em sua taça.

No quesito educação da irmã caçula, o chefe Dominos era mais do que exigente.

— Não serei uma nerd sem graça. — sussurrou a caçula, fazendo careta.
— Adolescentes. — brincou Sullivan, fazendo Sophie e a esposa rirem.
— Mas saiba que fico feliz que tenhamos esse tipo de assunto e preocupação com Jasmine… — ela voltou o olhar para o sobrinho, percebendo algo muito estranho nele.
— Vamos esquecer as loucuras da Continuum e saborear esta noite. — disse Penny, mantendo um sorriso no rosto — Foi demorado para ambos perceberem que ficam perfeito juntos, mas estou feliz que Lance tenha tomado a iniciativa de pedir Genevieve em casamento.
— Ah, sim, e minha sobrinha sempre foi tão insegura, não entendo o motivo, ela é tão bonita e inteligente. — Sophie tomou um gole do champanhe em sua taça — Já estou sonhando com mais crianças correndo por essa casa em datas comemorativas.
— E como tem sido a gravidez de Liana? — perguntou Penny, curiosa — Deve ser uma emoção para você, ser avó… Não vejo a hora dos meus filhos me darem essa alegria.
— Ah, Liana tem tido um momento delicado, se sentindo enjoada a maior parte do tempo, porém, nesta reta final da gravidez… Até o quarto do bebê já aprontamos. — revelou Sophie.
— Que amor. — Penny se mostrou esperançosa para passar por este sentimento também, ver a família crescer com os herdeiros.

Eles ficaram por mais algum tempo na sala conversando sobre os preparativos do casamento e outros assuntos aleatórios. Durante todo aquele tempo, pode perceber uma certa preocupação no olhar do irmão, mesmo que este se esforçasse para manter a aparência de estar tudo bem.

, podemos conversar um instante? — pediu , ao se aproximar dele com discrição.

O mais velho assentiu e ambos se retiraram para a adega de vinhos. O lugar havia passado por mais uma reforma e estava novo em folha, seguindo a arquitetura moderna da casa. Assim que entraram, deu alguns passos a mais na direção da mesa de provas, onde tinha algumas garrafas depositadas.

— Algum problema? — perguntou o mais velho.
— Eu que te pergunto. — retrucou , com o olhar sério para ele — O que está acontecendo ?
— Não o entendo. — ele virou para o irmão, e colocou as mãos nos bolsos da calça.
— Seu olhar está distante e preocupado. — explicou — E acho que não fui o único a perceber isso, mesmo você sendo muito bom em disfarçar.

respirou fundo, voltando o olhar para o chão. Parecia refletir nas palavras do irmão.

— É alguma coisa com a ? — insistiu .
— Não a vejo desde o amanhecer, ela não me atende e… — ele suspirou, tentando manter o foco — Ela nunca foi tão silenciosa assim.
— Talvez esteja resolvendo algo da família dela. — supôs o mais novo, avaliando a situação — Se tivesse acontecido algo, já saberíamos.
— Então, por que internamente não estou seguro com suas palavras? — ele suspirou fraco, movendo o olhar para a porta — Não que eu seja um homem possessivo, mas eu só queria saber onde ela está, se está bem.
— Após um tempo longe dela, é normal ter essa preocupação sempre que estiverem longe um do outro. — brincou , tentando tranquilizá-lo — Em breve entra pela porta com o olhar de “nada está acontecendo”.

Eles riram do comentário por um instante, até que o celular de tocou, era uma ligação da matriarca Fletcher. O caçula olhou para o visor estranhando, porém, como já sabia sobre o jantar dos herdeiros, talvez o assunto fosse aquele. Tirando a atenção do irmão, ele atendeu a ligação de forma despreocupada.

— Sim, Fletcher. — disse ele, ao atendê-la.
, seu irmão está perto? — perguntou ela, direta e precisa.
— Sim, está. — respondeu ele, estranhando — Se queria falar com ele, porque não ligou para seu número?
— Porque não acho que eu seja a pessoa mais adequada a lhe dar esta notícia. — respondeu ela, em sua forma enigmática — E certamente a pessoa em questão me mataria se eu estragasse o jantar de noivado da Genevieve.
— O que aconteceu? — insistiu , tentando controlar suas expressões faciais.
— A está desaparecida, ou melhor, sendo mais clara, ela foi levada por Andrei. — não conseguiu evitar de olhar o irmão, sabendo que o mesmo certamente reagiria bem pior que ele a esta notícia.
— O que aconteceu ?! — conhecia bem o irmão para entender rapidamente que tinha algo errado com aquele olhar.

encerrou a ligação sem aviso prévio, mantendo o olhar inexpressivo para o irmão, tentando decidir se falaria abertamente o que estava acontecendo ou se manteria segredo até o final da noite.

. — ele respirou fundo.
— Não precisa dizer mais nada. — o primogênito remexeu no bolso e pegou o celular, discando o número da sliter.
, não. — pegou em seu pulso para impedi-lo, porém sem sucesso — Vamos voltar para o jantar.
— Que se dane esse jantar. — o olhar do Dominos ficou um pouco mais irritado pela atitude do irmão — Não sei o que quer me esconder, mas vou descobrir.

O mais velho continuou a chamada, esperando até que atendesse.

?! — disse ele, quase em alívio assim que a ligação foi atendida.

ficou surpreso a primeiro momento, não entendendo como poderia aquilo.

Dominos… — a voz de Andrei soou sarcástica com um toque debochado.

O que de imediato fez com que o corpo do chefe Dominos gelasse, com um frio na espinha.

— Andrei Tenebrae. — o olhar dele voltou-se para o irmão, entendendo em segundos a ligação que o mesmo recebera e sua reação cuidadosa — Onde ela está?
— Acho que você terá que descobrir sozinho. — uma risada rápida e maquiavélica soou do outro lado da linha.
— Se você tocar em um fio de cabelo… — antes que pudesse finalizar sua ameaça, a ligação caiu fazendo-o jogar o aparelho na parede de raiva.

permaneceu um pouco estático com a reação dele.

— Você sabia?! — o olhar raivoso do irmão para ele, o deixou temeroso.
— Era a Donna Fletcher na ligação… — disse , parando por um momento devido ao esbarrão do irmão nele — ?! Aonde você vai?

Gritou ele, seguindo o irmão escada acima para a cozinha.

— Vou atrás dela. — respondeu ele, se dirigindo para a garagem.
— Você não sabe a localização dela, onde ela estava. — começou a argumentar, tentando colocar razão em sua mente — Vai enfrentar essa chuva sem direção certa?
— Não importa, eu não vou ficar parado aqui. — o olhou, o desespero já era nítido em seu olhar, assim como a angústia que crescia em seu coração — Nem que eu tenha que varrer toda Chicago, mas eu vou achá-la.

sabia que não teria argumento para mudá-lo de ideia.

— Eu cuido do noivado da Gen. — assentiu , entendendo a reação do irmão.

A lembrança do sequestro de , nunca foi tão nítida em sua mente quanto agora, e ao contrário do irmão que moveria céus e terra para encontrar a mulher amada, ele não tinha tido aquela mesma reação. Assim pegou as chaves da moto e o capacete, ao montá-la olhou para o irmão.

— Obrigado, por… — disse o mais velho.
— Genevieve vai entender, todos vão. — disse o caçula.
— Não conte a eles, não vamos estragar a noite da Gen. — pediu , também preocupado em não atrapalhar a noite mais feliz de sua irmã.
— Eu cuido de tudo por aqui, sabe que pode contar comigo. — entregou seu celular para ele — Me ligue se precisar e… Não quebre.

Mesmo naquela situação de desespero, os irmãos riram do comentário e o chefe Dominos deu partida e seguiu pelas ruas da cidade. Na mansão Dominos, voltou ao escritório da casa e ligou para a matriarca Fletcher, seu irmão precisava pelo menos de uma coordenada para iniciar sua busca. Ao reportar a senhora a reação do mais velho, encerrou a ligação e retornou para sala, e claro que a ausência do imperador seria notada por todos. Contudo, mantendo as aparências, o masterchef da família tomou a frente da recepção, convidando a todos para a sala de jantar.

— O que está acontecendo? — perguntou Genevieve, ao se aproximar do irmão, pouco antes de tomar sua cadeira.
— Está tudo bem. — disse ele, suavizando o olhar — Só deve se preocupar em aproveitar sua noite.
— E o ? — insistiu ela — , eu sei que ele não se ausentaria do jantar por nenhum motivo banal.
— Gen, fique tranquila, vai ficar tudo bem. — disse ele, com mais segurança, mesmo não sabendo se estava certo ou não.
— Ok. — assentiu ela, respirando fundo — Eu não acredito em você, sei que aconteceu alguma coisa grave, mas… Vou fingir que está tudo bem.
— Obrigado. — ele sorriu de leve e piscou para ela.
— Você é meu segundo melhor irmão. — brincou ela, rindo baixo.
— Eu sei que não dá pra ganhar do . — admitiu ele, a realidade, arrancando alguns risos dela.

A missão do masterchef era manter as aparências e não estragar a noite da irmã, dar sequência no jantar e assegurar que tudo ocorreria bem ali. Distante dali, seguia sem rumo pelas ruas da cidade em meio ao temporal. Seu primeiro ponto de busca fora as instalações da Darko, no qual conferiu com o coordenador as gravações das câmeras de segurança o horário exato que sua sliter saiu do lugar, como também a direção para onde foi.

— Diga onde ela está Fletcher, diga que a encontrou. — disse , assim que atendeu o celular, após subir em sua moto.
— Ela estava no meio de uma ligação com a minha sobrinha e Annia Baker, a única coisa que tenho é a última localização desta ligação. — explicou a mulher, também se sentindo frustrada por não ter as respostas que ele queria — me ligou dizendo que está pelas ruas procurando por ela.
— O que quer que esteja fazendo, continue e a encontre. — disse ele num tom de ordem, porém com forte traço de desespero — Donna.
— Eu me lembro da promessa que fiz à mãe da , não é o único que se preocupa com ela. — retrucou Donna — Vou te enviar as coordenadas, foram carregadas há três minutos, eles ainda podem estar lá.

apenas encerrou a ligação, visualizou as coordenadas e seguiu para o local, assim que chegou, ao longe ele já avistou a moto de sua sliter caída no meio da rua. Descendo rapidamente de sua moto, retirou o capacete às pressas e correu até a moto caída, olhando em sua volta ele sentiu-se ainda mais impotente e desesperado. Seu coração angustiado sem saber o que poderia estar acontecendo com sua amada neste momento, o que o deixou ainda mais raivoso, e se abaixando para procurar pistas que poderiam ter sido deixadas por ela, não obteve sucesso.

! — gritou ele, puxando o ar para seus pulmões se forçando a não se deixar abater por completo, entretanto, sentindo as lágrimas de raiva rolarem por seu rosto.

Vasculhando pelo perímetro, o Dominos encontrou o celular da sliter a poucos metros à frente. O aparelho molhado pela chuva parecia ainda funcionar, desbloqueando a tela, se deparou com o aplicativo de bloco de notas aberto e uma mensagem para ele.

— Boa sorte. — leu ele, em sussurrou.

Um respiro fundo, para controlar suas emoções.

— Eu vou matar você, Andrei, da forma mais dolorosa possível… — afirmou , como se fizesse um juramento sentindo mais lágrimas rolarem por seu rosto juntamente com as gotas de chuva — E nem o inferno poderá me impedir.

--


— Uau… — as únicas palavras que Sollary conseguiu proferir assim que a porta da mansão Dominos se abriu e ela entrou.
— Oi . — respirou fundo, já não sabia o que fazer para trazer a razão para seu irmão — Obrigado por vir tão prontamente.
— O que aconteceu aqui? — perguntou ela, assustada com o caos apresentado na casa que seguia toda quebrada.
. — foi a única resposta dele.
— Onde ele está? — indagou ela, mantendo o olhar nos cacos de vidro no chão.
— No que restou da adega. — respondeu o caçula, suspirando fraco.

Após não encontrar nenhuma pista que o levasse a sliter, chegou em sua casa pouco depois do jantar, o olhar frio e completamente transtornado com a possibilidade de nunca mais ver . Sem detalhes e explicações ele mandou que todos saíssem da casa, incluindo sua família que passaria os próximos dias hospedados na casa da família Village. Apenas permaneceu na mansão Dominos acompanhando o irmão destruir cada pedaço da construção, enquanto descontava sua explosão de raiva pela realidade vivida.
O último lugar a desabar e o que mais conhecia esse momentos de fúria dos Dominos, foi a adega. Com as garrafas quebradas pelo chão e manchas de sangue nas paredes, que foram socadas pelo primogênito enquanto pensava em seu inimigo.

. — a voz de soou da porta, aparecendo em seguida mantendo a atenção nele.

O homem se manteve sentado ao chão como estava, o olhar fixo na janela que adentrava os raios do sol. Após sua explosão de fúria, agora se mantinha apático e em silêncio, completando dois dias sem demonstrar mais nenhuma reação.

— Como… — fixou seu olhar no copo de água cheio ao lado dele.
— Ele está assim, depois que destruiu quase tudo. — explicou , mantendo o olhar no irmão — Sem comida e sem água, não sei o que fazer por isso te chamei.
— Achamos que você tivesse uma ideia melhor para trazê-lo de volta. — Isla apareceu atrás deles.

voltou-se para ela, surpresa por sua presença.

— O que faz em Chicago?! — perguntou a residente.
— Sou tão amiga dele quanto você. — disse ela, num tom debochado — Mas… Estava de passagem por causa do noivado da Gen, meu voo atrasou mas cheguei no momento certo.
— Poderiam me deixar a sós com ele. — pediu , certa do improviso que estava traçando em sua mente.
— Tem certeza? — reforçou .
— Estamos falando do , eu o conheço muito bem para saber lidar com ele. — assegurou ela.

e Isla assentiram ao seu pedido, se retirando da adega em seguida, voltando para o nível superior da manhã. se virou para adentrar mais no espaço, dando alguns passos até ele e se sentando ao seu lado, de frente para ele.

— Como você está?! — perguntou ela, não sabendo como iniciar aquela conversa.
— Deixe que te arranquem seu coração e você saberá como eu estou. — respondeu ele, de forma seca e áspera.
— Eu não tenho palavras pra te… — iniciou ela, mais uma vez.
— Não diga. — a interrompeu, voltando o olhar para a amiga.

Inchados de tantas lágrimas e vermelhos de raiva. Ele queria agir mas já se sentia esgotado de forças e esperança.

— Você é Dominos, nunca foi de se abalar, então… — respirou fundo, juntando os argumentos certos para trazê-lo de volta a razão — Não há ninguém mais capaz do que você para encontrar a , vocês dois possuem uma conexão tão incomum e inexplicável que um atrai o outro a quilômetros de distância.

Aquele era um pequeno detalhe que a residente relutava em admitir que tinha inveja no casal. O quão ligados eram.

— Pensei … Você nunca deixa um fio solto, com clareza e calma, mergulhe em sua mente e pense… Como você vai encontrar a ? — insistiu ela, segura que certamente conseguiria abrir os olhos dele, que foram tampados pelo desespero.

E assim aconteceu. Minutos de silêncio com o chefe Dominos refletindo nas palavras da amiga, enquanto repassava cada detalhe de todos os seus momentos juntos com a sliter. Até que voltou ao dia em que ela levou o primeiro tiro em seu lugar, o momento mais aflito que ele tinha tido até ali, e que como respirou aliviado assim que finalmente pode entrar no quarto das Instalações Darko, em que ela se recuperava.

— Você está certa. — ele voltou a olhar para a amiga, agora com mais convicção e firmeza, fazendo-a sentir que ele tinha se lembrado de algo que pudesse ajudá-lo — Eu sou Dominos.

Sim. O imperador havia encontrado a resposta que tanto buscava, no colar de aniversário em que deu a sliter. Por anos havia esquecido do objeto, afinal nunca o usava mantendo-o sempre dentro da caixinha guardado na gaveta, porém, desde o seu retorno para a vida do chefe, Miller começou a utilizar o colar de forma espontânea o deixando surpreso.

E o que tinha de tão especial no objeto?

Um dispositivo de rastreamento que ele havia colocado achando que sua sliter nunca descobriria.

You can call me monster.
Monster / EXO






Lavik, Norte da Noruega



O que acontece quando nove famílias, onze herdeiros, dois convidados e inúmeros sliters se reúnem para o jantar mais esperado da década?
Exatamente no lugar onde tudo começou, a casa nas montanhas de Godric Tenebrae.
Em meio aos últimos ajustes, estava Donna Fletcher se forçando a manter o foco em cada detalhe daquela noite. Contudo, lá no fundo, sua preocupação estava na falta de notícias de , no silêncio agonizante de para com ela, e na possibilidade de outro ataque surpresa de Andrei. Uma pausa na biblioteca da casa, ela se manteve em silêncio observando o sol da meia-noite compondo a beleza da paisagem, o verão estava tão presente quanto as turbulências dos últimos anos. A matriarca sliter não se conteve em recordar o dia em que ouviu pela primeira vez o choro da filha de Godric, e de como foi a sensação de carregá-la no colo para longe de sua falecida mãe, imaginando como seria seu futuro fugindo da ganância do tio Lionel.

— Senhora, está tudo bem?! — a voz de Carl lhe fez retornar a realidade.
— Sim. — assentiu ela, movendo o olhar para ele — E as famílias?
— Todos estão presentes, senhora, exceto Dominos e Miller, como previsto. — disse ele, relatando a situação. — Entretanto, temos um contratempo.
— Qual? — indagou ela.
— A presença de uma criança. — anunciou ele, engolindo seco — O legítimo Baker chegou acompanhado de sua filha.

Donna soltou um suspiro cansado. Odiava quando seus planejamentos não saíam conforme o calculado, entretanto entendia a necessidade de Baker não deixar a filha distante a nenhum momento nesta altura do jogo.

— Selecione uma sliter para cuidar da criança, teremos conversas de adulto a partir de agora. — ela deu impulso para se retirar do lugar.
— Como desejar. — assentiu ele, acompanhando-a até a sala.

Assim que a sliter se colocou diante dos integrantes do jantar dos herdeiros, seu olhar passou pelos rostos de cada um até chegar ao de Bellorum. Ela respirou fundo e assentindo com o olhar, o herdeiro da família de militares deu início ao seu pronunciamento.

— Boa noite a todos. — disse , colocando-se em frente a lareira — De imediato, já agradeço a presença de cada herdeiro aqui presente.

Seu irmão Vincent pôs-se ao seu lado e Donna do outro, a herdeira Castelatto manteve-se sentada na poltrona próxima, seu olhar empoderado permanecia curioso pelo decorrer daquela noite. Quanto ao Yamazaki, manteve-se de pé ao lado da janela, sendo acompanhado pelo norueguês Ahlberg. Já Catrina Laureto, preferiu ficar mais distante da roda dos herdeiros importantes, afinal só estava ali para representar o pai doente. e sentaram-se no sofá de frente para a herdeira italiana, enquanto Annia assentou-se na poltrona ao lado de sua nova aliada, mesmo contra todos os argumentos de Dimitri, a lady de Manhattan optou por fazer aquela viagem na companhia do irmão e cunhada. Carlise Tenebrae de pé ao seu lado, apenas resumia seus pensamentos em o quanto seu pai era o culpado por todo o caos que as famílias estavam tendo. Os convidados Niklaus Savoia e Hale Magnus, também preferiram se manter mais afastados apenas observando o curso do rio.
Assim se iniciava mais uma aliança, agora entre as sociedades que por anos se consideravam inimigas.

— Todos aqui temos um desafeto em comum. — disse o Bellorum, suavizando a situação.
— Desafeto? Está sendo generoso Bellorum. — disse Annia com um tom sarcástico e irritado — Todos aqui tem motivos de sobra para odiar o Andrei.
— O traidor matou o meu avô a sangue frio, então... — Donatella se posicionou concordando com ela — Aniquilar o Andrei se tornou algo pessoal para a família Castelatto.
— Entre na fila então, pois também é pessoal para a família Baker. — concordou ao lançar um olhar atravessado para Carlise.
— Não me olhe assim Baker. — disse o Tenebrae, em sua defesa — Andrei não tem o nosso sangue, e todos aqui sabem que a mãe dele era de uma família associada aos Draconis.
— Não estamos aqui para discutir quem tem mais culpa na história. — tomou a palavra novamente, num tom mais forte e autoritário — Andrei traiu a todos, e temos que colocar um fim nisso.
— E para que não se iniciasse uma guerra fria entre nós após derrubarmos Hitler, esta noite marcará a extinção da Draconis e todas as suas atividades ilegais, e o nascimento da Millenium, a irmã gêmea da Continuum. — completou Vincent, com o olhar orgulhoso de ter sido um dos idealizadores do projeto, em conjunto com seu irmão e Donatella.

soltou um discreto suspiro cansado, pois já estava sentindo o peso do legado dos Bellorum que carregaria oficialmente. Pois a família de militares era responsável pela ordem e justiça de sua sociedade, e agora se estenderia a aliada também.

— Assim como a família Bellorum tem mantido o cumprimento das leis que fortalecem a Continuum, faremos o mesmo em favor da Millenium. — assegurou , certo de seus deveres — E gostaria da confirmação oficial de todos os herdeiros aqui presente.

Donna deu um passo à frente, e abriu uma pasta de cor rosé que segurava desde o início, com os documentos de oficialização.

— Ao final deste jantar, todos deverão deixar suas assinaturas neste documento, para enfim selarem a aliança. — disse a sliter chefe, fechando novamente a pasta — E eu, como a responsável pelas famílias neutras, manterei em minha posse estes documentos.
— E quanto ao Andrei? — indagou Annia, um tanto impaciente e revoltada com as situações vividas — Acho que já perceberam, a ausência de um dos herdeiros da Continuum.
está a caminho, e chegará a tempo do jantar ser servido. — assegurou Donna.
— Não me refiro a ele. — esclareceu Annia — Andrei Tenebrae sequestrou a , e o Dominos não está aqui.
está cuidando disso pessoalmente. — interviu , inteirada do assunto — Sei que está assim por ser sua amiga, mas ela sabe se proteger, melhor do que qualquer um aqui presente.
— O que aconteceu com a ? — a voz de Adeline, soou da entrada para o corredor que dava na cozinha.

Ela não tinha muita afinidade com a irmã adotiva, porém admirava a força e determinação da sliter. Seu olhar confuso e preocupado voltou-se para a Fletcher, procurando explicações, a última notícia que tinha da filha perfeita, foi sobre o resgate da bailarina.

— Ao que tudo indica, foi sequestrada por Andrei, assim como fizeram com a minha neta. — contou Donna, abertamente a todos.
— Parece que ele está devendo mais do que pode pagar. — o tom sarcástico de Ahlberg soou na sala, deixando de lado sua surpresa por ver Miller ali — Ele terá que ter mais de sete vidas para pagar por seus pecados.
— Por que não voltamos ao foco? — a voz de Annia soou mais impaciente — Há meses ele parece como um fantasma, primeiro o ataque aos Dominos, depois o atentado ao , então a também sofreu mesmo não sabendo de nada, e agora levou a . O que os Bellorum vão fazer?
— Nós sabemos que se encontrarmos a , temos a possibilidade de encontrar o Andrei. — confirmou Vincent a lógica de Annia, tendo empatia com sua preocupação — Mas, estamos de mãos e pés atados até o Dominos nos dar um sinal.
é o único capaz de encontrar a sliter dele. — concordou, conhecendo-o muito bem.
— E enquanto isso, ficaremos de braços cruzados? Esperando o Dominos ter a sorte de encontrá-la? — Yamazaki demonstrou a mesma impaciência que o amigo ao seu lado — Estamos perdendo nosso tempo aqui apenas para dizer que não conseguiremos fazer nada em relação ao traidor? Tempo é dinheiro, meus caros.
— Não se preocupe Yamazaki, não está perdendo o seu tempo. — assegurou , mantendo o firmeza de um militar — Está investindo na prosperidade dos seus negócios, afinal, as empresas da sua família estão atoladas de até o pescoço de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, acha que minha família pode resolver isso em dois minutos.

O japonês engoliu seco, com raiva nos olhos, aquele era o ponto fraco de cada uma das famílias ex-Draconis. Um passado que desejavam enterrar na cova mais profunda. deu início ao planejamento da limpeza dos negócios das famílias aliadas, explicando que seria demorado, porém a cada etapa, uma nova possibilidade benéfica se abriria para todos. A majestosa construtora Yamazaki seria a primeira, seguido para a empresa de créditos italiana dos Castelatto, depois o escritório de advocacia Ahlberg seria beneficiado, terminando assim com a falida indústria têxtil dos Laurento.

— Ah, finalmente . — disse Donna, ao recebê-lo na porta — Achei que não conseguiria chegar a tempo.
— Eu disse que estaria aqui antes do jantar. — ele a cumprimentou, dando um sorriso, porém seu olhar ficou estático quando viu passos atrás — O que a sua neta faz aqui?
— Está surpreso? — perguntou a sliter.
— Um pouco. — ele tentou disfarçar, era a primeira vez que via a bailarina após o rompimento, e seu coração insistia em pulsar mais forte.
está aqui para ser apresentada a todos como minha herdeira. — revelou Donna, observando a reação do rapaz — Ela está sendo treinada.
— Estou feliz que ela esteja bem. — controlou seu olhar enciumado, ao notar que a bailarina estava na companhia de um homem desconhecido, e parecia rir de alguma coisa que ele dizia.
— Venha, vou lhe apresentar aos herdeiros que não conhece. — disse Donna, puxando-o para sala.

Alguns assuntos foram embalados por um tempo entre os herdeiros. aproveitou a oportunidade para conhecer melhor Niklaus Savóia, o residente que trabalhava em seu hospital de New Orleans. O interesse de um Sollary Hospital na região de Toscana era um dos motivos da família Magnus ter sido convidada para o jantar. se ausentou por um momento para se certificar se sua filha estava confortável no espaço que Donna improvisou para ela em um dos quartos.

— Papai! — Molly abriu um largo sorriso ao vê-lo — Veio ver tv comigo?
— Não minha pequena, estou aqui apenas para saber se está tudo bem. — disse ele, ao se aproximar da cama e sentar ao lado dela — Está confortável?
— Estou, a tia trouxe pipoca doce pra mim. — contou a criança, apontando para o balde ao lado — Estava muito gostosa.
— Tia ?! — ele riu — Sabia que ela é muito amiga do papai?
— Sim, ela me contou, e eu disse a ela que o senhor é o melhor pai do mundo. — Molly sorriu com graça e recebeu um abraço apertado dele — Onde está a tia ?
— Resolvendo alguns assuntos. — respondeu ele, dando um sorriso carinhoso para ela — Que tal dividir o restante dessa pipoca comigo?
— Papai, mas você não vai jantar com os outros adultos? — os olhos dela ficou confusa.
— Sempre há espaço para pipoca doce dentro de mim. — brincou ele, fazendo algumas cócegas nela, que soltava gargalhadas ao tentar se defender.

Ainda faltavam alguns minutos para o jantar ser servido, voltando à sala, Ichiro aproveitou o momento para se aproximar de Catrina. A jovem que contemplava um quadro pendurado em uma das paredes, apenas se permitiu ouvir toda a conversa inicial em silêncio. Afinal, sua família não tinha tanta voz assim na sociedade, pela falta de capital monetário.

— Devo confessar minha surpresa por vê-la aqui? — disse ele, num seu habitual tom baixo e rouco — Há dois dias, quando sua irmã me pediu afastamento para visitar o vosso pai, achei que ela seria a representante por ser a mais velha.
— Seria realmente ela, mas houve complicações com a saúde de nosso pai e ela resolveu ficar cuidando do que sobrou dos negócios da família. — ela manteve o olhar fixo ao quadro, não tinha muita paciência para o chefe da irmã, pois graças a Yakuza, a falência chegou a casa Laurento — Estou aqui apenas para assegurar que minha família não seja esquecida e dizimada como os…

Ela parou por um momento.

— Não temos culpa da família em que nascemos. — disse ele, mantendo o olhar nela — E se estão nessa situação, é porque provocaram.
— Mas somos responsáveis pelas nossas escolhas, independente de nossas famílias. — ela voltou seu olhar para ele — Seu avô escolheu acabar com o nosso futuro, mesmo podendo demonstrar piedade.

Ela deu impulso para se retirar.

— Você disse bem, foi o meu avô quem provocou isso, não eu. — ele segurou em seu braço — E sua irmã sabe disso.
— A única coisa que minha irmã sabe, é que o chefe dela é um covarde. — ela o lembrou do passado, enquanto se soltava dele — Ainda não sei como ela se submete ao sacrifício de trabalhar para vocês. Você é o chefe e ela é a funcionária, eu não conseguiria e certamente preferiria passar fome.

Catrina se afastou dele e seguiu em direção a Castelatto que conversava com Hale. Enquanto isso na cozinha os pratos seguiam o curso da montagem para finalmente o jantar ser servido. Apesar de sua presença ser meramente profissional e discreta, a chef Miller havia despertado a curiosidade no maior advogado da capital norueguesa, pois o último encontro que haviam tido, foi no tribunal de Donatella em que a italiana foi sentenciada à prisão pela Interpol.

— Para uma pessoa neutra, você é bem envolvida com a Continuum. — comentou ele, ao se aproximar de Adeline, enquanto segurava sua taça de vinho branco.
— Por mais que eu não queira, sou uma Miller e vim de uma família de sliters.
— respondeu ela, mantendo o olhar no prato que decorava — Você estar aqui é que me surpreende, não precisa dos Bellorum para expandir seus negócios e menos ainda legalizá-los, pelo que sei, nenhum deles tem ligação com o crime.
— Uma ajudinha nunca é demais e Yamazaki não confia nos militares, estou aqui para assegurar que tudo realmente esteja dentro da lei e benéfico aos meus amigos. — disse ele, dando uma risada discreta — Como tem estado?
— Bem... Aparentemente. — respondeu ela, ao voltar seu olhar para ele — Acho que consegui um tratado de paz.
— Você sabe que posso te ajudar com este problema, esta adoção foi legal e justa, não precisa se curvar às exigências de uma criança, menos ainda as dele. — Damon manteve seu conselho inicial, pois sentia irritação e ciúmes pela aproximação de uma certa pessoa a ela.
— Eu agradeço sua amizade e sua preocupação, mas está tudo ajustado agora. — assegurou ela, com um sorriso singelo — O que importa para mim é o bem estar do Arthur, nada mais do que isso.
— Você é uma boa pessoa, só não quero que saia prejudicada no final. — revelou ele.
— Não serei. — assegurou ela, sorrindo sutilmente.

Em instantes, Donna adentrou a cozinha, se surpreendendo com a presença de Ahlberg. A sliter manteve alheia a situação, apenas pedindo a chef para que servisse o jantar naquele momento. Antes de se reunir à mesa, aproveitou uma pequena brexa e não se conteve ao segurar a mão de , em um momento de distração e puxá-la para longe de todos, ficando a sós com ela na biblioteca.

— O que está fazendo? — perguntou , ao olhá-lo com espanto.
— Queria um momento com você. — disse ele, mantendo seu olhar sereno para ela — Já faz um tempo que nos vimos.
— Faz. — assentiu ela, tentando não se deixar levar por aquele olhar — Você realmente não sabe nada sobre a localização da ?
— Não a trouxe aqui para falarmos sobre a . — disse ele, um pouco frustrado — Como já foi dito, meu irmão está cuidando disso.
— O que você quer? — perguntou ela, não entendendo.
— Você. — direto e objetivo.
. — ela sussurrou, respirando fundo.

Seus sentimentos ainda vivos por ele, trouxeram à memória o dia do término. não desejava se sentir daquela forma novamente. segurou em sua mão de maneira carinhosa, se aproximando mais, e com a outra acariciou seu rosto, o que a desarmou por alguns instante tempo o suficiente para que ele se inclinasse estrategicamente para lhe beijar.

?! — a voz de Matthew os interrompeu, assustando a aprendiz.

A bailarina afastou-se depressa de Dominos, respirando fundo e tentando não surtar com o momento.

— Posso saber quem é você? — perguntou enciumado com a presença dele.
— Sou o mentor dela, e minha aprendiz não deveria estar aqui. — Matthew manteve o olhar repreensivo para ela — Venha comigo , sua avó nos aguarda.

não conseguiu reagir, porém assim que ela passou por ele, segurou novamente em sua mão.

— Podemos conversar depois? — perguntou ele, segurando em sua mão, na esperança de reatar seu namoro.
— Eu preciso ir. — disse ela, se soltando com leveza — Nos falamos depois.

se afastou dele e seguiu com seu mentor para a sala de jantar. A mesa posta e todos acomodados, o cardápio havia sido milimetricamente detalhado e escolhido por Donna, que sentiu certo alívio por tudo estar correndo como o planejado.
Pelo menos dentro da sua jurisdição.

--

Algum lugar do Texas…



— Até a deve bater mais forte que você. — disse , ao tossir, tentando rir do homem à sua frente, após levar outra sequência de socos.

A jovem estava presa às correntes, pendurada pelos braços e já se contava horas ali sendo torturada pelo capanga. Após ser capturada em Chicago, sob efeito de medicamentos, o Tenebrae a transportou para outro estado a fim de ter vantagens territoriais, por conhecer bem a região em que o cativeiro se situava. Um lugar seco, abafado, quente e bem longe da civilização local, ao norte do estado.

— Sua sliter de merda. — o homem fechou o punho novamente e o moveu para socá-la mais uma vez.

Em um piscar de olhos seu soco foi paralizado por uma terceira pessoa, que segurou seu pulso com precisão. O homem olhou para o lado, um tanto desapontado e raivoso.

— Julien. — a voz de Andrei soou no ambiente, atraindo a atenção de , que forçou abrir os olhos, já inchados — Não é assim que tratamos nossos convidados.
— Eu sou sua convidada? — ela riu mais um pouco, sentindo fortes dores no estômago — Eu esperava uma suíte cinco estrelas.
— Bem, se você não está morta ainda, então pode-se considerar minha convidada. — disse ele, confirmando suas palavras — É um prazer finalmente vê-la pessoalmente, a sliter perfeita.
— O que você quer? — perguntou ela, forçando a voz — Acha que pode chegar ao Dominos me usando como isca? — Eu não só acho minha cara, eu tenho certeza, seu chefe moverá céus e terra para te encontrar e a única coisa que preciso fazer é… — ele caminhou até uma cadeira articulável e se sentou — Apenas esperá-lo.
não vai cair no seu truque. — assim que ela fechou a boca, um barulho de coisas caindo veio aos fundos do galpão onde estavam.
— Parece que já caiu. — Andrei se levantou com um sorriso de canto, como se previsse os passos de seus adversários.

Um instante de silêncio e o Tenebrae colocou as duas mãos para cima.

— Olha só quem está entre nós… Dominos. — disse Andrei, num tom debochado.
— Achou mesmo que não te encontraria? — aquela era a voz que a sliter queria e não queria ouvir.

Ela sabia que era uma armadilha, assim como o chefe Dominos. Entretanto, ele não se importava, se houvesse uma mínima chance de salvar sua vida, ele o faria sem exitar.

— Eu estava contando com isso. — Andrei se virou para ele, observando-o apontar sua arma para ele, então abaixou as mãos e as colocou nos bolsos — Se atirar em mim, ele atira nela.
— Se eu atirar nele primeiro, não terá ninguém para te defender. — apontou para o capanga.
— Você acha? — ele riu.
— Se está contando com os outros lá fora, terá que desistir, pois não existe mais nenhum para contar história. — Dominos manteve a seriedade no olhar, controlando sua atenção entre a sliter que parecia sem forças e ele.
— Bem, acho que terei que pagar para ver. — admitiu Andrei.

Sem pensar nos prós e contras, Dominos apenas puxou o gatilho acertando em Julien, direto no peito. Assim que o corpo do homem caiu, ele apontou para o inimigo, Andrei se lançou para cima dele, tentando fazê-lo soltar. Ao cair a arma das mãos de , ambos começaram a trocar socos e chutes em uma luta intensa para saber quem venceria no final. , em seu estado de impotência, apenas assistia em agonia tentando sem sucesso se soltar, ela queria ajudar o homem que não mediria esforços para salvá-la, contudo, era impossível em sua situação.

— Vamos lá, Dominos. — Andrei soltou uma gargalhada provocativa — Não disse que me mataria com suas próprias mãos? Estou aqui.

fechou seus punhos e o socou novamente, o derrubando no chão. Jogando seu corpo sobre o de Andrei, ele continuou a socá-lo mais algumas vezes em um choque de adrenalina, induzido pela raiva. Em um dado momento, segurou no pescoço do homem, disposto a enforcá-lo com as próprias mãos, até que de repente, sentiu uma forte pancada na cabeça, o fazendo cair ao chão desacordado.

! — o grito de desespero de , apenas serviu para intensificar a dor que sentiu, física e emocionalmente.
— Nunca espere o silêncio de uma mulher desprezada, Dominos. — Felícia sorriu de canto, ao jogar no chão a barra de ferro que utilizou para derrubá-lo, então esticou a mão para ajudar seu aliado a se levantar — Achei imprudente voltar para Liverpool justo agora, e que bom que minha intuição estava certa.
— Agradeço por sua presença inesperada. — disse Andrei, ao se levantar com dificuldade, sentindo dores faciais devido aos socos recebidos — Calculei errado o ataque do meu inimigo e quase me custou a vida.
— Você disse que ele viria sozinho. — questionou Felícia.
— E ele veio, só não achei que fosse capaz de derrubar todos os meus homens por causa dela. — o olhar de Andrei estava surpreso e admirado para .
— Ah sim, a sliter salvadora… — Felícia deu alguns passos ficando em sua frente — Parece que não consegue nem se salvar agora.
— Você vai se arrepender disso. — disse , sentindo o gosto de sangue em sua boca, misturado à raiva.
— É sério? — Felícia soltou uma gargalhada e fechando seu punho, socou a cara de , sentindo o pulso doer em seguida — Ah…
— O que acha que está fazendo? — perguntou Andrei, ao segurar o pulso dela — Nunca fez isso, não é?
— Não me importo, eu só queria socar a cara dela pelo menos uma vez na minha vida, antes de vê-la queimar até a morte. — explicou Felícia, em sua defesa — E você, , foi um prazer te ver nesse estado.
— Bem, acho que nosso encontro termina aqui. — Andrei derrubou os galões de gasolina, que estavam próximos, para que o líquido se espalhasse pelo lugar — É uma pena, , você é… Não há definições.

Ele se afastou para sair primeiro, enquanto Felícia voltou seu olhar para Dominos desacordado ao chão.

— Se não tivesse me desprezado, poderíamos ter sido o casal mais poderoso da Continuum. — disse ela, em seu devaneio momentâneo.
— Se certifiquei que eu esteja morta até o final do dia… — a olhou com raiva, lutando contra as dores — Porque se eu viver, vai desejar nunca ter nascido.
— Descanse em paz, Miller. — Felícia em seu andar sinuoso, dando altas gargalhadas que ecoavam pelo lugar.

Em um piscar de olhos o incêndio premeditado começou a tomar conta do espaço, deixando a sliter mais nervosa com a sensação de fraqueza que tomava conta do seu psicológico. não tinha saída, não tinha o que ser feito, a única coisa que poderia contar era com o despertar de Dominos. Então, reuniu o pouco de força que tinha para se debater entre as correntes e gritar seu nome.

! levanta! — a dor misturada ao desespero, lhe exigia mais força ainda para gritar — acorda!

De repente, o soar de alguém que estava ressurgindo dos mortos ao retomar o fôlego, foi o sinal que a sliter precisava para se certificar que havia esperança. Contudo, já estava fraca demais para permanecer consciente a tempo de presenciar seu amado levantar do chão ainda cambaleando e seguir em sua direção para lhe salvar. Inconsciente, o corpo da sliter caiu nos braços de Dominos, assim que ele conseguiu com dificuldade, retirar as muitas correntes do pulso dela, em extremo vermelhos e com as marcas nítidas.

fala comigo?! — sussurrou ele, com os olhos cheios de lágrimas, tentando manter-se firme para encontrar uma saída para salvá-los — Eu vou te tirar daqui, e te levarei para um lugar seguro.

olhou em volta, no meio de todo aquele fogo, parecia que não tinham saída. Até que bem ao fundo, avistou o que parecia uma passagem de ar, em meio aos barris vazios. Ele a colocou sobre os ombros e, traçando a rota menos perigosa, atravessou o fogo ao pular uma das ferragens que havia despencado do teto, o corpo de ambos caíram ao chão. E novamente lutou contra toda a adversidade para carregar no colo o corpo desacordado de até o duto de ar.

— E agora… — ele tossiu um pouco devido a fumaça e olhando em volta, sem ter o que usar de instrumento, ele chutou o gradil do duto até que se soltou.

Foi a luz no fim do túnel para ele, que com dificuldade, puxou consigo por entre a tubulação até saírem do lado de fora. Mais um esforço para se afastar do galpão em chamas que explodiu, gerando um impacto em Dominos que caiu novamente com a silter em seus braços. E já não tendo forças para se manter de pé, as pálpebras dos seus olhos foram ficando cada vez mais pesadas assim como suas vistas escuras.

--

Um, dois, afasta!
Nenhuma resposta…
Um, dois, Afasta!


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— Hum… — as vistas doíam, seu corpo parecia dolorido, ele estava vivo.

Entretanto, isso não importava para , a única coisa que precisava saber era sobre . Seus olhos abriram de repente, se deparando com a iluminação forte do quarto em que estava internado. E por mais que o chefe Dominos havia deixado expresso para Philip, o hacker Fletcher, que não queria que ninguém soubesse de sua missão de resgate, claro que o garoto não o deixaria ir sozinho.
O neto de Donna, seguiu Dominos e ficou observando de longe, todo o ocorrido, principalmente na parte em que avistou Andrei e Felícia saindo juntos no mesmo Mustang amarelo. Foi então que percebeu algo errado, e ao se aproximar do local em chamas, encontrou o casal caído ao chão. O que explicava a presença de na sede do Laboratório Baker no estado.

— Onde eu estou?! — perguntou a enfermeira.
— Está em casa. — a voz de Irina Baker foi reconhecida rapidamente — E a salvo.

Ela manteve o olhar irrepreensível para ele.

— Onde estava com a cabeça, enfrentar o Andrei sozinho e sem um plano fundamentado. — questionou ela, preocupada com o que poderia ter acontecido de pior.
— Onde está a ? — indagou ele, não se importando com as palavras dela — Quero vê-la.
— Não poderá fazer isso agora. — disse Irina, com um tom mais firme e temeroso.
— Quero ver a minha sliter. — levantou o corpo, causando oscilação no aparelho em que estava ligado ao seu corpo.
, não faça isso. — Irina tentou impedí-lo com a ajuda de outro enfermeiro.
— Soltem-me. — disse ele, os empurrando com brutalidade.

Mesmo passando por toda aquela situação, o homem ainda tinha forças para lutar contra eles.

— Quero vê-la agora. — disse em tom de ordem.

Irina respirou fundo, assentindo com a cabeça e então indicou o caminho. teve autorização apenas para vê-la do vidro do lado de fora do quarto. Sua sliter estava ligada aos aparelhos ainda desacordada.

— O que aconteceu com ela?! — perguntou ele, novamente com os olhos lacrimejando, em um misto de sentimento de raiva e medo de perdê-la — Irina, diga que ela vai acordar.
— Não posso lhe dar a certeza, passou por um grande trauma e seu corpo terá um longo processo de recuperação… Por isso ela está em coma induzido. — a doutora manteve o olhar observado ao homem, que se mantinha fixo olhando sua amada — Infelizmente, devido às agressões e torturas que ela deve ter sofrido, os exames que fizemos indicaram que sofreu um abordo espontâneo… Ao que tudo indica, ela estava com doze semanas de gestação.

fechou os olhos, sentindo como se seu coração estivesse sendo arrancado de dentro dele. A primeira lágrima caiu de seus olhos, juntamente com o seu corpo que desabou ao chão, ficando de joelhos diante da parede que o separava de Miller.

Na escuridão, eu fecho as portas
e em silêncio sinto-me impotente.
- Promise / EXO







Instalações Darko, Chicago



Para um coração aflito, passar noites com o barulho dos aparelhos como trilha sonora era algo assustador. E ali estava Dominos, assentado em uma poltrona ao lado da cama do quarto vip, debruçado sob suas pernas e velando por sua amada, que seguia desacordada. Seu consolo era o soar das batidas do coração da sliter, que sutilmente alimentava a cada segundo seu desejo por vingança.

— Dominos. — um sussurro vindo da mulher que até então lutava por sua vida, o despertou de seus pensamentos tortuosos.
. — ele sussurrou de volta, ao levantar a cabeça direcionando sua atenção para ela.

A sliter abriu os olhos lentamente sentindo um leve desconforto pela luz forte, suas vistas embaçadas inicialmente começaram a tomar forma após alguns segundos, se deparando com o olhar aliviado e carinhoso de . O homem por sua vez, se levantou da cadeira e sentou na beirada da cama, para ficar mais próximo, seu coração acelerado por agora sim, ter a sensação de que ela ficaria bem, e estar em segurança. Mantendo o silêncio, ele ergueu a mão e acariciou sua face por alguns instantes, deixando transparecer um singelo sorriso de canto no rosto. Trazendo assim, conforto a ela.

— Onde estamos? — perguntou a sliter, quebrando o silêncio ao finalmente olhar para o restante do ambiente.
— Na Instalação Baker. — respondeu ele, num tom sereno — Como está se sentindo?
— Minhas vistas doem, e meu corpo também. — ela riu baixo — Mas nada disso se compara à felicidade que estou sentindo em ver o seu rosto mais uma vez.
— Compartilho do mesmo sentimento. — disse ele, ao se aproximar mais para manter seus rostos colados.

Respiração em sincronia, fechou seus olhos e beijou sua sliter com suavidade, sentindo a mesma segurar em sua mão com delicadeza e confiança. A mente de Dominos precisou se esforçar para não deixar as lembranças de seu desespero em salvá-la, atrapalhar o doce momento que viviam. Sua única preocupação agora, seria favorecer o melhor ambiente para a recuperação da mulher que detinha seu coração e sua vida.

— Eu te amo. — sussurrou ele, com o pulsar forte dentro de si, apenas desejando envolvê-las nos braços e nunca mais lhe permitir se afastar dele — Eu te amo.
— Eu sei… — sussurrou ela, com seu jeito bobo de agir, sorrindo de leve — Eu também te amo.

Em segundos encarando-a com carinho, a lembrança do galpão em chamas com ela desacordada tomou sua mente. O que fez sua expressão facial mudar.

— Eu vou matar ele. — o olhar de ficou mais sério e rancoroso — Da forma mais dolorosa possível.
— Não pense nisso agora. — ela manteve sua mão segurando a dele — Andrei terá a sua colheita, e não deixarei que suje as suas mãos para isso.
— O que ele fez com você… — retrucou ele, inconformado com as palavras dela — , você quase morreu em meus braços.
— Continuo viva, e quero aproveitar melhor minha terceira ou quarta chance. — argumentou ela, em tom de brincadeira — Andrei e Felícia irão pagar pelo que fizeram, mas ao estilo Continuum… A morte seria algo muito sutil para eles.
— E o que devo fazer? — indagou ele — Com a raiva que tenho dentro de mim? , você estava grávida e ele matou nosso filho.
— Eu ia te contar, sobre a gravidez… — comentou ela, mantendo o tom baixo — Após o noivado da Genevieve.
?! — insistiu ele, não entendo-a.
— Apenas olhe para mim… — ela tocou em sua face — Ainda sou a sua consciência?
— Sempre será. — assentiu ele.

não entendia a passividade da qual apresentava. Em outros tempos a sliter já estaria a procura de uma fraqueza do inimigo para o contra ataque. Talvez fosse pelo trauma causado a ela, talvez não. Essa não havia sido a primeira vez que ela se feria por causa do chefe, contudo, havia sido a mais séria e grave de todas. Ao ponto das lágrimas rolarem pelo rosto de , de tempos em tempos, ao longo das semanas que ela passou desacordada.

— Acho que você deveria chamar o médico. — aconselhou ela — Precisam saber que eu acordei.
— Não agora. — ele se inclinou para se deitar ao seu lado, fazendo-a arredar.
— O que pensa que está fazendo? — indagou ela, segurando o riso.
— Te aninhando em meus braços. — respondeu ele, ao puxá-la para mais perto, fazendo-a encostar sua cabeça em seu tórax — Só pra ter certeza de que não vai mais se afastar de mim.
— Agora está confortável. — comentou ela, sorrindo de leve —
— Sim.
— Eu não estraguei o noivado, não é? — indagou ela, em seu momento de preocupação com terceiros.
— Nem ouse pensar nisso. — disse de imediato — Gen está feliz, com uma aliança no dedo e se preparando para o casamento.
— Imagino que esteja orgulhoso por isso. — ela soltou um suspiro discreto — Sempre foi o irmão preocupado que mais parecia o pai.
— Sempre serei assim. — ele riu também, um pouco reflexivo.
— O que foi? — indagou ela, percebendo seus pensamentos em outro assunto.
— Acho que sua recuperação será em nosso refúgio particular. — respondeu ele, lembrando-se do seu ataque de raiva.
— Não quer que eu volte para a mansão? — ela virou de leve seu corpo, e o olhou com falsa seriedade — Pretende me expulsar novamente?
— Jamais, minha querida. — ele abriu um sorriso singelo — Apenas não temos mais casa, não uma inteira.
— O que você fez? — ela já imaginava que o causador poderia ser ele.
— Extravasei descontando minha raiva no que vi pela frente. — explicou ele, com tranquilidade.
— E colocou a casa abaixo. — ela tentou, mas sua expressão de surpresa era nítida.
— Acontece. — ele deixou transparecer um olhar de menino arrependido, arrancando uma gargalhada dela — Nas melhores famílias.

, se remexeu aninhando-se mais a ele, fechando os olhos para descansar. Seu corpo ainda em dores, lhe exigia mais repouso. O anúncio de seu despertar do coma foi um alívio para as demais pessoas que se preocupavam com ela, principalmente suas amigas do orfanato que logo que apressaram para lhe fazer inúmeras visitas, ao longo das semanas que seguiram com ela ainda internada. Entre frases de alívio vindo de , e alguns comentários maliciosos de Annia, sobre o Dominos ser o enfermeiro exclusivo de , a sliter se surpreendeu com a inesperada visita de Sollary e sua ajuda em trazer a razão para encontrá-la.

— Sollary… — sussurrou, o nome da mulher que estava próximo a sua cama, checando seu prontuário.
— Acordou… Como está se sentindo?! — a residente se aproximou de sua cama e retirando o estetoscópio do pescoço, começou a chegar seus batimentos cardíacos.
— Entediada, principalmente por a cada cinco minutos alguém perguntar o como estou me sentindo. — respondeu ela, de forma bem-humorada.
— Ossos do ofício. — brincou de volta — Você passou por um grande trauma.
— Foi preciso isso para que eu fosse examinada com tanta atenção pela ex-noiva do senhor Dominos. — instigou , o assunto, observando as expressões dela.
— Peço que me veja apenas como uma boa amiga. — parou por um momento e a olhou com serenidade — Confesso que no início não entendi direito essa ligação forte que vocês dois tem, e até fiquei com raiva do nosso término quando me mudei para Seattle… Mas agora entendo, e fico feliz que pelo menos a amizade tenha perdurado.

concordou com o olhar, as palavras dela. A sliter sabia bem que amizades como as de e Isla eram importantes para seu chefe, por mais que ambas no passado, tiveram algum tipo de affair com o Dominos. Ela permaneceu em silêncio por um momento, observando terminar sua checagem e fazer mais anotações no prontuário.

— Obrigada. — disse , mantendo seu olhar na residente — me contou sobre como o ajudou a voltar à razão.
— Você não estava por perto, então apenas o fiz enxergar o óbvio. — comentou ela, dando um sorriso singelo no final — Como eu disse, vocês dois são como ímãs, sempre atraídos por esse magnetismo que os envolta… Ninguém tinha dúvidas que era o único que conseguiria te achar, ele só precisava de um ponto de partida.
— Eu sabia que o pingente tinha um rastreador, e mesmo sem cogitar a ideia de algo assim acontecer, sempre o usei por um hábito sutil. — contou , voltando o olhar para a porta, após sentir uma movimentação no lado externo.
— Que bom que fez isso. — disse , voltando o olhar para a porta também.
— Surpresa!!! — disseram Annia e , em um coral animado e surreal, assim que a porta se abriu revelando-as.

riu baixo, não acreditando no que estava vendo. Annia com um balão de coração na mão direita e carregando um buquê de rosas brancas, uma cena que ela jamais imaginou presenciar.

— O que é tudo isso? — perguntou , com o olhar desacreditado e confuso.
— Achei que quanto mais brega fosse, mais memorável seria este dia. — explicou Annia, se aproximando da cama e amarrando o fitilho do balão na cabeceira.
— Eu juro que tentei impedi-la, mas não deu muito certo. — em sua defesa, já foi entregando o buquê para a amiga — Mas as flores foram ideia do seu amado.
— E o que fazem aqui?! — perguntou , ao sentir o cheiro das rosas.
— Achou mesmo que iríamos esperar sua alta hospitalar? — Annia pegou as flores de sua mão, para guardá-las — Jamais… Eu passei dias de aflição sem poder fazer nada a seu favor.
— Deixa que eu encontro um jarro para isso. — disse , ao pegar as flores da cunhada — E vocês duas, se comportem, a precisa de repouso.
— Sim, senhora. — Annia bateu continência e piscou de leve para amiga, que riu com discrição.

Sollary apenas balançou a cabeça negativamente e afastou-se delas, saindo do quarto, para encontrar um jarro. , puxou a poltrona para se sentar mais próximo da amiga, enquanto Annia, sentou-se na beirada da cama.

— Se comportar… Sou um poço de bom comportamento. — comentou Annia, rindo de leve — E quem sou eu para te fazer ficar cansada, tendo o Dominos vinte e quatro horas por dia aqui e muitas ideias sugestivas.
— Que ideias? — indagou , confusa.
… — os olhos surpresos de Annia se voltaram para ela — Nunca viu Grey’s Anatomy? Ou qualquer série médica? As famosas salas de descanso dos enfermeiros…
— Que pervertida. — a repreendeu, chocada com ela — está se convalescendo de um trauma, e você pensando nessas coisas.
— Cada um se recupera a seu modo. — Annia voltou o olhar para e piscou novamente, fazendo-a rir.

As três amigas mais uma vez estavam juntas e com muitos motivos para se alegrar.

---


Finalmente em uma quinta-feira pela manhã, após sair partes dos resultados da bateria de exames, com o intuito de certificar de que tudo estivesse em perfeita ordem com sua saúde, a sliter finalmente obteve alta médica, com alguns pré-requisitos e uma lista de observações de descanso e alguns medicamentos prescritos. Conforme o planejado, a levou para o apartamento refúgio, que também havia passado por uma pequena reforma para recebê-la com mais conforto e comodidade.

— Este lugar não estava assim quando o deixei. — comentou ela, ao passarem pela porta e se deparar com outra visão diferente do que se lembrava.
— Mas é claro que não. — a voz de Annia soou vindo da cozinha, com uma bandeja de sanduíches na mão e um sorriso no rosto — Você tem amigas que não te deixaria se recuperar em um lugar tão precário.
— A Annia é meio exagerada, então se não gostar, a culpa é dela. — , logo apareceu com um sorriso tímido, no fundo, satisfeita pela surpresa que prepararam para a amiga.
— Achei que viríamos para casa para que eu pudesse descansar. — ela olhou discretamente para ele.
— Acredite, sairia a terceira guerra mundial, se eu impedisse Annia de fazer essa surpresa. — sussurrou ele, em sua defesa — Apenas receba o carinho de suas amigas.

riu discretamente, conhecendo a Baker como a conhecia.

— Então? O que achou?! — indagou Annia, com o olhar curioso para ela, que dava passos lentos amparada por Dominos.
— Bem a sua cara. — brincou , rindo do olhar atravessado da amiga — Você tem bom gosto Annia, então, está muito bom.
— Hum, vou aceitar seu elogio como um agradecimento. — ela brincou de volta, caminhando até a mesa de centro e deixando a bandeja em cima — E temos até um lanchinho bem leve e gostoso, que minha cunhada fez com amor e carinho.
está aqui?! — perguntou , intrigado com a presença da amiga. — Não imaginava que ela cozinhava. — sussurrou , impressionada.
— Estava. — respondeu — Ela e foram ao supermercado comprar mais maionese para o patê de frango.
— Nosso planejamento era reunir todo mundo antes que chegassem. — Annia sentou no sofá bufando um pouco, frustrada por seus planos não saírem conforme queria — Mas não chegou de Seattle ainda, e Cedric está a caminho, ele deixou as crianças aos cuidados da nossa titia Irina, não poderá se juntar a nós, pois está em Paris com o irmão e a chefe da Millenium…
Millenium? — indagou , para o Dominos, ao se aproximarem da poltrona próximo a janela.
— Ah, isso nem ele sabe. — respondeu , apressadamente — Vocês dois ficaram essas semanas fora e muita coisa aconteceu.
— Mas não se preocupem que vamos colocá-los a par de tudo. — completou Annia, ao pegar um sanduíche e mordiscá-lo — Se minha cunhadinha demorar muito, eu devoro isso aqui sozinha.
— Seu apetite insaciável tem me deixado assustada. — comentou , ao se aproximar do casal e ajudar a amiga a se sentar.
— Me desculpe, mas agora estou comendo para três, meu apetite aumentou e não posso passar fome. — explicou ela, em um tom defensivo.
— Para três? — a olhou confusa.
— Bem… Estou grávida de gêmeos. — Baker deu um sorriso tímido e meigo, com o olhar iluminado, cheio de entusiasmo — Cedric quase deu um infarto quando descobrimos e Dimitri ficou em choque também, mas eu estou me deliciando com a ideia de viver esta aventura da maternidade novamente, desta vez de forma mais ativa.
— Mamãe Annia em dobro. — brincou , arrancando risos das amigas.
— Fico feliz por vocês. — disse , com o olhar sincero.
— Vocês deveriam ter visto o brilho nos olhos do meu pequeno Michael quando descobriu que teria dois bebês de uma vez só. — comentou Annia, com os olhos brilhando — O fiz prometer que seria um bom irmão mais velho para eles.
— O mesmo brilho que está no seu? — comentou , admirada com a amiga — Você realmente tem mudado bastante.
— Certamente o nome disso é amor. — disse , em concordância com ela. — O nome disso é família. — concluiu , suas sábias palavras — Nossa maior fonte de alegria e preocupação.
— Exatamente. — concordou Annia, segurando o riso — E nós também esperamos por um herdeiro de vocês dois. — continuou ela, ponderando mais seu comentário em solidariedade ao casal — Lamentamos a perda que tiveram, mas ainda possuem uma vida pela frente para planejarem ter mais.
— Não se preocupe Annia, o que não me falta é ideia e disposição para fazer um herdeiro. — piscou de leve para a sliter, arrancando risadas maldosas das amigas.
— Finalmente chegamos… — disse , ao abrir a porta e entrar com algumas sacolas nas mãos — Eu juro que não queria demorar, mas Annia mandou uma mensagem pedindo chocolates, então fomos a uma confeitaria próxima… — ela parou por um momento ao perceber o silêncio do ambiente — Uau, já chegaram.
— Bom dia, Dominos… Miller. — disse , em cumprimento a eles.
— Bem-vindos de volta ao jogo. — brincou , um pouco sem graça pela situação.
— Agradecemos a presença. — disse , com o olhar grato pelo apoio e ajuda de Sollary.
— Eu e o vamos terminar de preparar o café da manhã. — disse ela, já se movendo para a parte da cozinha — Onde estão os outros?
— A caminho, se tudo der certo, chegam daqui a pouco. — disse , tentando manter seu coração controlado.

A bailarina sabia que certamente aproveitaria o momento para uma aproximação. Afinal, no jantar dos herdeiros, toda a sua atenção permaneceu na filha do amigo e em ser observada por seu instrutor. Obter um final de semana de folga, não lhe sairia de graça e Collins já estava a planejar a mais puxada sequência de treinos para ela. Um ponto positivo? Finalmente sua nova amiga, Meg, teria o privilégio de treinar sozinha com o segundo melhor da cadeia alimentar.
— Vocês estão certos de que cabe esse tanto de gente aqui? — indagou , observando toda aquela movimentação e se divertindo internamente com aquilo.
— Ah, vai ter que caber, eu nem chamei todo mundo. — reclamou Annia — A culpa é sua, que me inventa de morar em um lugar tão pequeno.
— Este é o meu refúgio para uma vida normal. — explicou a sliter, arrancando uma gargalhada da amiga.
— Poderia ser pelo menos na cobertura então, ou vai me dizer que seu salário não permite? — Annia voltou o olhar para Dominos — Não acredito que Dominos é tão mesquinho com o salário dos funcionários.
— Saiba que minha sliter recebe muito bem. — retrucou ele, não se deixando ofender — E sou o dono desse prédio.
— O que me diz então, ?! — continuou a amiga, ainda em choque com a situação.
— Como eu disse, apenas quero uma parte normal em minha vida. — disse ela, em sua defesa.
— Nem todos acham que ter uma cobertura em frente ao Central Park, seja o sinônimo de uma vida normal. — a voz de soou da cozinha, com uma pitada de sarcasmo.
— Falou o mecânico. — Baker bufou um pouco — Vocês realmente não sabem aproveitar os confortos da vida.

Ela arrancou mais algumas risadas de todos.
Aquele parecia mesmo um grupo de amigos normais que estavam se reunindo para celebrar o retorno de um casal querido e admirado. Com a chegada de Cedric, não demorou até que finalmente aparecesse para se juntar ao grupo, deixando ainda mais movimentado o pequeno apartamento de . Mesmo após passarem por uma situação de tensão e desespero, todos ali tinham motivos para se sentirem gratos pelo momento de tranquilidade e acolhimento, principalmente o chefe Dominos.
Enquanto os homens se ausentaram do apartamento, após um comentário aleatório de Cedric, que resultou em um desafio de sinuca, que seguiria no bar da frente; as mulheres permaneceram no apartamento, conversando mais sobre as novidades que surgiram entre as sociedades.

— Estou em choque que a aliança partiu dos Bellorum. — comentou , após ouvir detalhadamente os acontecimentos do jantar dos herdeiros.
— Um inimigo em comum, une até os inimigos mais antigos. — a voz de soou de forma filosófica, enquanto puxava a cadeira para se sentar.

Era estranho para a residente estar ali com as três amigas, como se fossem íntimas a nos. Sem nenhuma afinidade inicialmente, o que tinham em comum além da Continuum, se resumia aos homens que faziam parte da sua vida: , , , Cerdic e . Mas já imaginava que lá no fundo, algo assim poderia lhe acontecer, já que Annia era sua cunhada, e a melhor amiga de , e integrante de um triângulo amoroso com e . Sem contar a sliter, que por longos anos, lhe causou sentimentos de raiva e frustração, que felizmente agora não existiam mais.

— Sei que sou uma sliter aprendiz agora, mas o que isso muda? A Draconis, agora se nomear Millenium, que diferença faz? — indagou , tentando entender os detalhes entrelinhas daquele universo.
— Para que entenda melhor, minha cara amiga, visualize a Draconis como uma empresa, que está à beira da falência, cheia de credores e dívidas para sanar, além da receita federal em sua cola por causa dos inúmeros impostos atrasados. — iniciou Annia, elaborando uma explicação fácil e rápida para a amiga, mediante seus conhecimentos administrativos — Esta empresa declara falência, fecha as portas e tudo o que lhe resta é repartir seu patrimônio entre os credores e ser perdoado pela receita. Contudo, os donos ainda podem abrir uma nova empresa com um novo nome e continuar seus negócios, agora de forma mais honesta e legalizada.
— É isso que eles querem? — perguntou , tentando absorver a explicação — Ser honestos?
— Exatamente. — concordou Annia — Eles viram o exemplo da Continuum, de como ser honesto tem suas vantagens e com a oportunidade em vista, serão nossos irmãos agora. Entendeu?!
— Sim. — assentiu a bailarina — Você explicando parece ser mais fácil. tentou e acabei me confundindo ainda mais.
— Por isso que eu prefiro meu estetoscópio. — comentou , rindo baixo.
— Cada um com sua influência. — Annia a olhou, com serenidade.
— Se fosse olhar pelo legado da família, você teria que ser biomédica, ou cientista como a primeira Baker. — disse , relembrando a genealogia da amiga.
— Prefiro dar ordens vestida a caráter, com meu scarpin vermelho. — brincou ela, mostrando seu lado mulher de negócios.
— Ainda fico com meu jaleco branco, o bisturi na mão, passando doze horas em uma cirurgia. — comentou , com naturalidade.
— Olhando pelo que gostamos de fazer, eu troco todos os meus dias de treinamento, para dar aula de tango para a turma mais desastrosa que existe. — brincou , arrancando risos delas — Juro pra vocês que se eu não fosse tão obstinada quanto minha avó, eu já teria desistido.
— Eu achei surpreendente você aceitar o convite da sua avó para ser a herdeira sliter. — a olhou curiosa — O que te levou a isso?
— Estou cansada… — revelou ela, sua percepção de tudo — De ser a parte fraca e vulnerável da família.
— Fala isso, por causa do seu sequestro? — a residente a olhou surpresa, não sabia ao certo do que estava acontecendo com ela.
— Pelo conjunto da obra, já que a Continuum vem atrapalhando minha vida desde sempre. — respondeu a bailarina, num suspiro fraco, com ar de chateação.
— Além de te levar os dois amores. — completou Annia, deixando sair as palavras com fluidez.
— Annia?! — tentou repreendê-la.
— Ela está certa. — interviu — Por duas vezes fui deixada, e não quero mais passar por isso… Quero ser forte por mim mesma, assim como vocês.
— Até os mais fortes possuem seu calcanhar de Aquiles. — disse a sliter por experiência própria.
— Como eles te pegaram? — perguntou Annia, ao se remexer na poltrona, esticando as pernas — Foram muitos?
— Não, eu conseguiria, mas foram mais espertos. — explicou , relembrando o dia em sua mente — Me apagaram com um dardo tranquilizante.
— Só assim pra te pararem. — sussurrou , deixando-as ouvir.
— Vamos esquecer as partes tristes e focar no que é alegre. — aconselhou Annia, se espreguiçando um pouco — Agora temos reforço e nosso inimigo não terá mais chance contra nossa família.
— Andrei só vai perder sua força quando destronarem Lionel. — deu sua opinião sobre o assunto — E somente a lei da sociedade pode fazer isso.
— O general Bellorum sempre disse que eles eram a lei. — comentou Annia, com tom de desdém — Espero que desta vez, eles façam o que é certo, não o que convém.
é uma pessoa honesta, ele jamais trairia os amigos. — o defendeu, com base em sua vivência na adolescência.

A bailarina confiava nele, mesmo depois de todas as decepções sentimentais. E sim, somente a lei que regia aquela sociedade e a mantinha forte e unida, poderia destronar alguém que não merecia o poder que detinha nas mãos.
E este seria o próximo passo na nova fase da Continuum.

Pode ser difícil
A qualquer hora, eu sempre estarei aqui
Você pode pensar nisso de forma positiva
Porque eu sou seu lar.
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Red Mug Bar, Chicago



Enquanto as meninas mantinha sua conversa entre risos e as brincadeiras maliciosas de Annia, no bar em frente ao prédio, a rivalidade masculina prevalecia com Cedric e em sua partida de revanche contra os irmãos Dominos. O lugar estava vazio e havia sido fechado a pedido de , para que os cavalheiros pudessem ter seu momento de diversão de forma privada e descontraída, sem terceiros para atrapalhar.

— Definitivamente, agora a sorte está do nosso lado. — brincou , após encaçapar a terceira bola consecutiva, graças a isso, os números pares estavam em menor quantidade.
— Vai sonhando Baker. — riu um pouco, lançando o olhar confiante para o irmão.

Afinal, caso o herdeiro errasse, o primogênito Dominos seria o próximo a jogar.

— Está com medo de perder, Baker?! — riu baixo, observando seu oponente se posicionar para fazer a jogada.
— Acho que são os dois que estão com medo de perder. — brincou Cedric, com o olhar afiado, certo das habilidades do seu cunhado.
— E é agora que vou massacrar os Dominos… — sussurrou , ao bater com o taco na bola de número 2.

Ambos permaneceram com a atenção na bola, quase prendendo o fôlego de ansiedade para ver se realmente ela seria encaçapada, foram instantes que pareceram ser vividos em câmera lenta. Por um infortúnio, o impulso de não foi suficiente para lhe dar a velocidade necessária a bola, fazendo-o errar.

— Agora é a minha vez. — disse , ao erguer o taco em sua mão com um sorriso presunçoso escondido no rosto — Vamos acabar de vez com isso.

tinha a fama de ser um excepcional jogador, seja em uma simples partida de golf com os senhores da elite, ou uma intensa rodada de poker com os amigos. Perder não era de sua natureza, e como tal, uma a uma ele foi encaçapando as bolas ímpares, até que chegou às duas últimas pares. O que fechou a quarta vitória consecutiva dos irmãos Dominos.

— Eu não acredito nisso. — disse Cedric, boquiaberto.

Das muitas histórias que ele ouviu dos irmãos Dominos, sabia que em nada Annia havia aumentado, principalmente do lado competitivo do primogênito. No fundo, Cedric estava mais admirado por sua amiga de infância, , ter se envolvido mais uma vez com alguém da Continuum. Ele se lembrava muito bem de como foi no passado, quando eram colegiais e a garota sofreu com o rompimento entre ela e . Agora, conhecendo , conseguia notar a grande diferença de personalidade entre os ex-namorados da bailarina, o que o intrigava ainda mais diante da situação atual do triângulo.

— Ainda quer uma revanche?! — brincou , se deliciando com o olhar frustrado de .
— Eu passo a vez, preciso tomar algo. — disse o Baker, ao deixar o taco em sua mão em cima da mesa próxima e se direcionar a parte do bar.
— Eu vou com você, minha garganta está seca. — concordou , o acompanhando enquanto voltava sua atenção ao celular em seu bolso.

Os outros dois ficaram estáticos a primeiro momento, os observando se afastarem, então Cedric tomou a palavra.

— Bem, já que não querem, eu aceito a oferta. — disse ele, confiante em suas habilidades — Vamos ver se você é tão bom a ponto de me vencer sem seu irmão.
— Ha… Ha… Ha… — soltou uma gargalhada descontraída, então olhou para a mesa de sinuca — Não preciso do para te vencer.
— Hum… Veremos. — disse Cedric, ao recolher as bolas e ajustá-las na mesa.

Ambos riram mais um pouco e iniciaram a partida. A concentração inicial se perdeu em minutos, após uma curiosa pergunta de ao marido de Annia Baker.

— Você e , cresceram juntos, não é? — indagou ele, após fazer sua jogada, errando o percurso da bola sete.
— Você sabe que sou amigo de infância de … — Cedric, manteve a atenção na mesa, analisando como seria sua próxima jogada — Estava me perguntando quando entraria nesse assunto.

riu baixo, afinal, era um tanto óbvio que aconteceria.

— Confesso que… Tenho curiosidades sobre o passado dela com . — a voz de soou mais baixa que o comum — Já pude notar o quanto os dois ainda são próximos, mesmo após o término.
e sempre foram uma caixinha de surpresas para todos… Eu era o único que sabia sobre o namoro escondido deles e ajudava no disfarce da rivalidade que mantinham para todos. — contou ele, ao escorar no taco, lembrando-se dos fatos — Eles brigavam em público e se beijavam no privado.

A última frase soou num tom bem-humorado e engraçado, que Cedric soltou uma risada boba, então, voltou a seriedade.

— Me desculpe, esqueci que ainda gosta dela. — disse ele, ao notar o impacto de suas palavras no olhar de seu rival da sinuca, se posicionando para encaçapar a bola quatro.
— Está tudo bem, eu mereço isso… — ele respirou fundo, reprimindo seus sentimentos de angústia e culpa — Minhas ações foram piores que as de . Eu a deixei… No momento em que ela mais precisava e mesmo sabendo que ela havia passado por isso no passado, ainda assim a fiz sofrer novamente.

Um misto de sentimentos tomou conta do Dominos caçula, que o fez se sentir um covarde mais uma vez, deixando-o com mais raiva ainda de si mesmo.

nunca foi uma pessoa de guardar rancor, então, tenho certeza que ela já te perdoou. — assegurou Cedric, conhecendo bem a amiga, ao sorrir de canto por ter acertado em sua jogada — Agora é você que deveria se perdoar.
— Eu sei… Mas, só de pensar que posso perder seu coração para o … — um suspiro fraco, engolindo seco, ao se lembrar da última vez que havia conversado com a bailarina — Apesar de sermos amigos, eu não vou desistir dela, e tenho certeza que ele também não.
— Então, só resta esperar que ela decida. — Cedric riu baixo, pensando em uma terceira opção — E ainda tem a opção dela não querer nenhum dos dois.

O homem não se conteve em soltar uma gargalhada maldosa, que lembrava bem sua esposa Annia, quando o provocava com seus comentários sarcásticos.

— Você é realmente o marido da Annia Baker. — sussurrou , boquiaberto com aquilo.
— Me desculpe, mas é a convivência. — ele riu mais um pouco — Explicando, minha esposa é um tanto quanto persuasiva.
— Imagino… — concordou , do pouco que conhecia dela.
— Eu também já passei por maus momentos com a Annia… — Cedric, voltou a olhar para mesa, ainda era sua vez de jogar — Passamos alguns anos entre o amor e o ódio de uma forma tão intensa e perversa, que ela precisou tomar veneno conscientemente para me provar que eu não conseguia viver sem ela.
— Eu soube da história pela . — assentiu , ainda impressionado com a história — Acho que aqui todos nós já passamos por momentos sombrios com as mulheres que amamos.
— Ah, sim… Annia me disse que não conquistou o coração da Sollary com facilidade. — contou Cedric, mencionando o cunhado — Mas que ela salvou sua vida, não apenas no dia em que se conheceram.
— Vai além disso… Como você acha que Annia reagiria se descobrisse que você tem uma filha no dia seguinte do seu casamento? — indagou , atento às expressões do homem.

Cedric, parou por um momento e ficou pensando sobre a possibilidade.

— Não sei se quero imaginar. — disse num tom mais baixo, rindo de leve.

Entretanto, lá no fundo, o esposo de Baker sabia bem a personalidade implacável de suas esposa, e a forma como ela reagia quando ambos estavam brevemente separados.

— Sollary ainda foi bem pacífica comparada a minha esposa. — brincou Cedric, voltando a se posicionar para fazer a jogada.
— Isso, com certeza. — concordou , em risos.

Ambos continuaram suas jogadas, acompanhado de mais algumas indagações de sobre a adolescência de sua bailarina, sendo contemplado por respostas bem humoradas de Cedric, regado a outros assuntos aleatórios de como a vida pode ser imprevisível por ser da Continuum. Enquanto isso, um pouco distantes, sentados em banquetas na área do bar, e saboreavam o drink especial da casa, preparado pelo próprio dono.

— Acredito que eu ainda não tenha lhe dado as devidas felicitações por seu casamento com . — iniciou , quebrando o longo silêncio entre eles.
— Agradeço… Vindo de você, é muito significativo. — assentiu , com o olhar ao tomar um gole do líquido em seu copo.
— Me alegra saber que ela finalmente conseguiu seguir em frente e tenha encontrado um homem que a ame como ela merece. — disse , com profundidade em suas palavras e realmente feliz pela atual realidade da amiga — Nosso término não foi tão amigável quanto deve ser, e por um momento achei que perderia a amizade dela… Mas tem um bom coração.
— Não importa mais o passado, é compreensível o término de ambos, ela queria algo de você que jamais conseguiria lhe dar, porque já pertencia a outra. — as palavras sutis de soaram com leveza — Quanto a mim, sou grato por isso, assim tive minha oportunidade de entregar a ela tudo de mim.

O olhar de se voltou para ele, demonstrando respeito e felicidade por ambos. O chefe Dominos se sentia afortunado por também estar vivendo a melhor fase de sua vida, com a sua sliter em seus braços e coração, mesmo diante de tantos confrontos com o inimigo. sempre seria a representatividade de sua força e equilíbrio.

— O amor é tão complexo… Ao mesmo tempo que nos sentimos fortes com ele, também já nos mostramos vulneráveis. — comentou , rindo baixo, ao se lembrar do tempo em que demitiu , por achar que ela era casada com Fisher.
— Nisso, tenho que concordar. — riu baixo, se lembrando do sutil distanciamento que teve com a esposa, no dia em que descobriu que era pai.
— Mas… Estou curioso para saber como tem sido lidar com o fato de terem uma criança envolvida. — comentou , voltando o olhar para ele — Ou melhor, estou mais curioso para saber como tem reagido.
— Há algo sobre isso que eu deva saber? — manteve o olhar curioso para ele, por mais que não quisesse admitir, Dominos ainda conhecia sua esposa melhor que ele mesmo — Ela não gosta de crianças?
— Bem… — soltou uma risada modesta e enigmática, não queria fazer piadas com o cavalheiro ao lado, mas não conseguia se conter em deixá-lo intrigado, afinal, a vantagem era do ex que a conhecia desde a infância — Ela sempre me disse que jamais seguiria a carreira pediatra.
— Para alguém que inicialmente pudesse não gostar de crianças,minha esposa tem se saído bem. — um sorriso de satisfação surgiu no canto do rosto dele, seguido por outro gole do drink.

Mais uma pausa de silêncio e algumas risadas discretas vindo de ambos. Em outros tempos, Bake jamais imaginaria que pudesse viver uma cena daquelas, embalando uma conversa casual com Dominos, como se fossem amigos de longa data contando as novidades de sua vida.

— Por mais que agora seja um momento de celebração pela volta da … — ainda tinha suas inquietações e preocupações internas, assim como todos — Como ficarão as coisas, depois disso?
— Que coisas? — depositou seu copo vazio no balcão e voltou seu olhar para o irmão, que parecia se divertir em sua partida de sinuca.
— Eu sofri um atentado, a mãe da minha filha foi morta, Annia foi envenenada e quase morreu, foi sequestrada e depois a , vocês perderam um filho e Andrei ainda está vivo e impune. — a raiva e frustração eram nítidas no tom de sua voz, que o fazia sentir a garganta arder pelo gosto amargo da raiva — O que mais terá que acontecer?

se manteve em silêncio. Ele desejava sim fazer algo, desejava exterminar Andrei com suas próprias mãos, porém, havia feito mais uma promessa para sua sliter. Enquanto não se recuperasse totalmente, ele não iria dividir sua atenção com mais nada, mesmo sendo o inimigo.

— O tempo de Andrei está acabando. — o Dominos voltou seu olhar para o mecânico — E a contagem regressiva começará com a queda de Lionel Tenebrae, e a ascensão da herdeira de Godric.
— Você sabe quem é ela? — o olhou surpreso.
— Talvez sim, talvez não. — assim que voltou o olhar para frente, avistou as mulheres adentrando a porta do bar, em risos e brincadeiras — Mas sei exatamente quem tem as provas guardadas.

acompanhou seu olhar. Não precisou de muito para constatar que ele falava de sua esposa, afinal, o tio de havia feito o parto da herdeira, logo, ela era a única que teria a resposta final.

— Diga-me que está massacrando o Dominos. — indagou Annia, ao se aproximar do marido e lhe dar um selinho.
— Mas é claro querida. — assentiu Cedric, ao piscar de leve para ela, com o olhar de malícia.
— Cedric tem sorte por eu não ser tão competitivo quanto , se não, ele perderia feio para mim. — brincou , desviando seu olhar para as outras, percebendo a ausência de sua bailarina.
— As senhoras não deixaram minha sliter sozinha, não é? — perguntou , franzindo a testa, mantendo seu olhar sério para elas.
— Claro que não. — respondeu , ao se aproximar do seu marido — ficou com ela, enquanto viemos buscar nossos maridos.
— Hum… Admitindo que está com saudades? — brincou , com um sorriso presunçoso no canto do rosto — Não foram nem duas horas longe.

Ele a envolveu em seus braços, mordiscando os lábios inferiores, que a fez imaginar os pensamentos obscuros que se passavam em sua mente.

— Não seja convencido Baker… — ela pousou sua mão direita sobre o tórax dele, o afastando de leve, com seriedade e segurando o riso — Você ainda está em observação.
— Essa é a que eu conheço. — brincou , num tom irônico, ao passar por eles.
— Fique fora disso, Dominos. — avisou num tom alto, fazendo a esposa rir, então se atentou a ela, fazendo-a estremecer com seu olhar intenso.

Dando mais alguns passos, se direcionou para a porta de entrada do lugar.

— Vamos também querida? — sugeriu Cedric, ao olhar para a altura da barriga da esposa — Você precisa descansar.
— Eu sei… Vou ligar para . — assentiu Annia, sem relutar, abrindo a bolsa para pegar o celular.
— Deixe que eu levo a . — anunciou , ao deixar o taco em sua mão em cima da mesa de sinuca — Podem voltar tranquilos.
— Imaginei que fosse se oferecer. — Annia o olhou tentando suavizar suas expressões sem sucesso — Espero que não tente nada inútil mais uma vez, minha amiga não é mais a garota inocente que você conheceu.
— Eu sei. — admitiu ele, ao se lembrar da postura confiante e firme que se manteve em todo o jantar dos herdeiros.
— E se machucar ela novamente, terá que se ver comigo. — advertiu Baker, com mais aspereza.
— Annia, isso é assunto deles. — Cedric a repreendeu, recebendo um olhar atravessado da esposa.
— Não se preocupe, jamais farei isso novamente. — assegurou .

A situação atual era por sua culpa, e estava disposto a lutar até o fim para reconquistar sua bailarina. Ao se despedirem, os irmãos Dominos retornaram ao loft de , encontrando as duas amigas ainda em sua conversa sobre o rígido treinamento de .

— Voltaram. — disse , assim que os irmãos passaram pela porta.

O olhar da bailarina se manteve baixo, direcionado ao chão. adentrou mais o lugar para se aproximar da poltrona em que a sliter estava sentada, enquanto se manteve parado na porta, com a atenção voltada para a mulher que detinha seu coração.

— Acho que está na hora de ir, . — constatou , ao perceber o olhar de seu chefe para ela, indicando que era hora de descansar.

O dia havia sido cheio de fortes emoções, assim como as semanas posteriores ao seu resgate. Mais do que a vingança, se preocupava com a recuperação dela, e se dedicaria a isso nas próximas semanas.

— Sim, meu voo será amanhã bem cedo. — assentiu , ao se levantar do sofá com um sorriso delicado no rosto, então, deu um abraço sutil na amiga — Mais uma vez, estou feliz que esteja bem, e prometo te dar notícias sobre meu treinamento.
— Ficarei aguardando seus áudios por socorro. — brincou , arrancando risos dela.
— Com certeza vou mandar muitos. — confirmou a bailarina, ainda rindo.
— Collins é um excelente sliter, nem eu seria melhor que ele para te treinar, acredite. — a firmeza no tom de , transmitiu ainda mais segurança à amiga.
?! — as interrompeu novamente, demonstrando que deveria seguir para porta.

Era um fato que o chefe Dominos odiava despedidas, principalmente as demoradas.

— Cuide-se, Fletcher. — disse , em forma de pedido.

A bailarina assentiu com a cabeça e logo foi acompanhada por Dominos até a porta. — te levará para as Instalações da Darko. — disse , e voltando seu olhar para o irmão — Eu ficarei em off até a se recuperar cem por cento.
— Não se preocupe, vou cuidar de tudo até seu retorno, apenas concentre-se na sua sliter. — garantiu , demonstrando capacidade e firmeza ao irmão com o olhar — Todos ficarão em segurança, mesmo sem você por perto.
… — não conseguia conter sua preocupação.
, eu não farei nada que você não faria. — reforçou o caçula, deixando-o mais tranquilizado — Vamos, .

Assim que ambos se afastaram para seguirem até às escadas, fechou a porta trancando-a e olhou para sua amada. Internamente, um misto de alívio, felicidade e medo lhe consumiam os pensamentos. Lembrando que dias atrás ele estava resgatando a mulher em sua frente de um galpão em chamas, conseguia o deixar ainda mais atormentado do que as lembranças do massacre a sua família.

— Está muito silencioso, isso me preocupa. — comentou , observando-o encostado no beiral da janela, olhando os carros na rua — No que está pensando?
— Fique tranquila, meus pensamentos estão dentro da normalidade. — ele voltou o olhar para ela e sorriu de leve, afastando-se da janela, caminhou até a poltrona e se curvou um pouco para aproximar seus rostos — Não a quero preocupada, quero que descanse.
— Eu já estou descansada. — ela devolveu o sorriso e impulsionando o corpo lhe roubou um selinho — Como estão minhas sobrinhas e meu cunhado?
— Em segurança na Darko. — informou mantendo a suavidade no olhar, sabia que assim como ele, sua sliter também jamais deixaria de pensar na família, independente de sua situação física ou mental.

Em um movimento cauteloso e estratégico, ele a pegou no colo e começou a se mover em direção a cama.

— O que está fazendo, senhor Dominos?! — indagou ela, ao sentir um frio na barriga pelo impulso de seu corpo sendo levantado.

— Você disse que já estava descansada… — ele deu mais alguns passos e pousou o corpo de sua amada em cima da cama, mantendo o olhar sugestivo para ela, fazendo-a soltar uma risada boba por entender sua indireta, e logo se encolher ao sentir o beijo dele em seu pescoço.

Um arrepio profundo passou pelo corpo da sliter, causando a aceleração automática em seu coração.

— Enfim, sós… — sussurrou ele, ao ouvido dela, sentindo sua respiração pouco descoordenada.
— Senhor Dominos, ainda estou em recuperação… — argumentou ela, de forma falha, sentindo-o deslizar seus dedos por seu corpo.
— Foi a senhora que disse que já estava descansada. — retrucou ele, usando as palavras contra ela mesma — Diga meu nome…
— Senhor Dominos… — disse ela, num tom provocativo, de forma intencional.
… — ele respirou fundo, tocando em sua cintura por baixo de sua blusa, para que ela sentisse o calor de sua mão quente — Diga meu nome.

Por um breve momento, o silêncio tomou o ambiente, com seus olhares encontrados com profundidade, possível até de ouvir o som das respirações. A cada deslizar sutil das mãos dele por seu corpo, um arrepio a mais lhe era provocado sem a menor dificuldade. Então, sorriu de canto, com o coração acelerado e seu corpo trêmulo pela intensidade que emanava do homem, ela ergueu de leve sua cabeça para sussurrar em seu ouvido.

... — pronunciou ela, sentindo o corpo dele se arrepiar instantaneamente.

O Dominos não lhe deu nem tempo para mais nenhuma palavra, seus lábios tocaram os dela com precisão e desejo, lhe roubando parte do fôlego e demonstrando a malícia que havia contido todo aquele tempo. Mais uma vez, esquecendo-se dos problemas e guerras que haviam atrás da porta, apenas manteria sua atenção na mulher que conduzia seu coração ainda mais para si. E , se permitiria provar mais uma vez, o amor do homem a quem havia jurado lealdade eterna.

Eu perdi minha cabeça,
Desde o momento em que te vi.
Só de estar ao seu lado, meu mundo fica em câmera lenta,
Por favor, diga se isso é amor?
- What Is Love / EXO







Algum lugar de Chicago



— Vamos ao bar, nos despedir dos outros? — indagou , assim que ambos saíram pela porta de entrada do prédio.
— Eles já se foram. — respondeu , seguindo em direção ao lugar que estacionou seu carro — Vou te levar a Darko, como pediu.

assentiu com a face e o seguiu, era estranho para ela estar sozinha com , depois de todo aquele tempo longe após o rompimento. Assim como no jantar dos herdeiros, inexplicavelmente quando estavam próximos, a bailarina sentia seu coração acelerar involuntariamente. Após alguns minutos rodando pelas ruas, o som dos carros em movimento era a única coisa que quebrava o peso do silêncio que havia dentro do carro.

— Então este é o nível que chegamos… — afirmou , deixando soar um tom amargo e baixo — Estranhos um para o outro.
… — ela respirou fundo, mantendo o olhar para fora, na janela ao lado.

ainda não sabia se estava pronta para ter algum tipo de conversa mais profunda com seu ex-namorado, principalmente ao lembrar o motivo do término.

— Está tudo bem… Estou apenas colhendo o que plantei. — ele deu um sorriso fechado, ao olhar para o reflexo dela no retrovisor.
— Eu não nos vejo como estranhos. — afirmou ela, ao voltar seu olhar para ele — Se fosse assim, nossas conversas pelo whatsapp não teriam acontecido.
— Por que eu sinto que a do celular, não é a mesma que está ao meu lado? — questionou ele, percebendo-a não fria, porém, distante.

Ela não tinha uma resposta para aquilo.

— Me desculpa, eu apenas estou meio distraída hoje… — se pronunciou, cavando uma explicação para o argumento dele — Mas saiba que, assim como , não vou te apagar da minha vida.
— Assim como o … — sussurrou ele, transparecendo a frustração — Você ainda ama ele?
— Quer mesmo falar sobre isso aqui? Enquanto dirige? — retrucou ela, não respondendo.
— Está com medo que eu fique zangado e perca o controle?! — ele riu baixo, mantendo o olhar na estrada — Não sou tão imprudente assim.
— Não disse que era imprudente. — manteve o olhar nele — Quer mesmo falar sobre isso?!

deu a seta e jogou o carro para o canto, então estacionou e desligou o motor.

— Você quer falar sobre isso? — voltando seu olhar para ela, manteve seu olhar sério, porém sereno.

Em contrapartida, os olhos da bailarina exalavam ansiedade.

— O que você sente por ele? — insistiu , com seu olhar fixo nela.
— Por que está tão interessado nos meus sentimentos por ? — indagou ela, confusa pelo rumo do assunto, e retrucando — Não deveria ser sobre você?
— Por que você não quer dizer? — ele bufou de leve e retirando o cinto, saiu do veículo para se acalmar internamente.

Ao bater a porta do carro, deu alguns passos pela calçada respirando fundo. Ele não planejava começar daquela forma, mas estava angustiado o bastante para ignorar a possibilidade de sua bailarina ainda ter sentimentos amorosos pelo seu amigo. Ainda que houvesse a cordialidade e amizade entre Dominos e Bellorum, como havia assegurado a , o chefe de cozinha jamais iria desistir da jovem que conquistou seu coração.

… — saiu do carro também, levemente irritada pelas ações dele.

Ela deu alguns passos até ele, que estava de costas.

, poderia olhar para mim?! — pediu ela, suavizando mais a voz.
— Aqui estou eu sendo tolo novamente… — sussurrou ele, ao se virar e olhá-la com profundidade —
— Por que quer saber? — agora, ela que insistia em sua pergunta — Por que a necessidade de saber se sinto algo por outro homem?
— Por que eu te amo, por que tenho ciúmes da sua amizade com , e meu coração dói com a possibilidade de ainda ter sentimentos por ele. — a sinceridade era nítida em seu olhar, deu um passo para mais perto.
… — sussurrou ela, tentando assimilar o que ouviu.
— Eu te amo, Fletcher. — sussurrou ele, mais uma vez, agora próximo ao seu ouvido.

A centímetros de distância, ele tocou de leve seus dedos nos dela, deslizando por seu braço até que finalmente chegou a sua cintura. por sua vez, estava tão estática com sua declaração que apenas sentiu seu próprio corpo corresponder ao seu toque com um breve arrepio. De repente, a proximidade estimulou os impulsos adormecidos de , fazendo-a beijá-lo de surpresa com doçura e sutileza. , em segundos de choque, retribuiu o beijo adicionando um toque de malícia que contribuiu para acelerar ambos os corações saudosos.

, eu não deveria… — disse , ao se afastar dele, assim que sua sanidade mental retornou ao eixo.
— Você ainda me ama… — afirmou ele, com o olhar esperançoso.
— Por que você me deixa assim? — perguntou ela, em sussurro, se sentindo zonza com tudo aquilo e abrindo um sorriso de canto no rosto dele.

Diferente de , que apenas a fazia se lembrar do passado no colegial, com era diferente. Por mais que ambos tivessem vivido uma pequena história antes do sequestro, estar com ele a fazia ter curiosidades sobre o futuro com ambos juntos.

— Eu não deveria ter te deixado, quando você mais precisava. — sussurrou ele, deixando seus rostos próximos — Me perdoe.
… — ela suspirou de leve, fechando os olhos, sentindo a respiração dele.
— Por favor, me dê mais uma chance. — pediu ele, num tom baixo enquanto mantinha suas mãos apoiadas na cintura dela — Me permita te amar.

Foram alguns minutos de silêncio, até que se afastou de leve. Haviam muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, a guerra interna na Continuum, seu treinamento para ser a herdeira Fletcher, os sequestros provocados por Andrei, e a complexidade dos seus sentimentos que não conseguia dominá-los. Sua mente logo encheu-se de inúmeros pensamentos, deixando-a atordoada.

, eu te amo, mas… — ela respirou fundo, não sabia como formular sua frase.

Até que notou que havia se declarado também.

— Mas?! — ele manteve o olhar atento para ela, tentando decifrar aqueles segundos de silêncio de sua parte — Não importa apenas me amar?
— Não… Eu preciso me concentrar em ser a Fletcher que minha avó espera que eu seja. — explicou ela, ao permitir que ele segurasse em sua mão e entrelaçasse seus dedos — Você sabe sobre meu treinamento.

Mesmo com o término, não se deixou ficar com raiva de , apenas da situação que os levaram ao rompimento, e a distância não foi um empecilho para que ambos não conversassem mais. Pelo contrário, as trocas de mensagens que mantinham pelo whatsapp, foi o gatilho para que pelo menos a amizade se mantivesse acesa.

— Por que quer ser a herdeira de Donna Fletcher? — indagou ele, preocupado com a decisão dela.
— Porque não quero mais me sentir fraca e indefesa. — respondeu ela, como um desabafo, demonstrando a força de alguém que quer enfrentar seus medos — Terminar comigo, me fez perceber que não posso continuar da mesma forma, quero ser forte, quero ser independente e destemida como minhas amigas.

Revelar a ele seus anseios internos e suas pretensões, a deixava curiosamente mais leve e segura de suas escolhas.

— Eu… — compreendia muito bem a necessidade de em não ser mais a bailarina inocente que conheceu, assim como ela, a Continuum havia mudado muito a forma de todos verem o mundo e desejar evoluir — Te entendo perfeitamente.

Ela sorriu com a timidez de sempre, deixando transparecer um brilho nos olhos.

— Tenho mais alguns meses de treinamento até passar pelo desafio final final. — continuou ela — E…
— Vou esperar por você. — disse ele, com segurança ao interrompê-la — Não importa quanto tempo, vou esperar por você.
, não deveria fazer esse tipo de promessa. — sussurrou ela, ao senti-lo tocar de leve em seu rosto.
— E qual promessa eu deveria fazer a mulher que eu amo?! — retrucou ele, num tom descontraído — Mesmo longe, não conseguimos ficar em silêncio… Você não conseguiu me ignorar.

Ela riu um pouco, até que novamente foi interrompida, agora por um beijo inesperado e malicioso vindo dele, fazendo seu corpo arrepiar novamente. Aquele pequeno momento de felicidade e conforto nos braços de , fez a bailarina sentir uma aquecida em seu coração. Entretanto, não durou muito, pois seu celular vibrou no bolso de sua jaqueta, fazendo-a se afastar dele.

— O que foi? — perguntou , confuso pelo distanciamento.
— Meu celular. — respondeu ela, retirando o aparelho do bolso e olhando uma mensagem na tela.

Era de seu treinador, lembrando-a do retorno para o Acampamento Fletcher.

— Precisamos prosseguir para Darko, amanhã retorno para meus treinos. — comentou ela, voltando o olhar para ele.
— Posso dizer que não gostei desse cara? — indagou ele, fazendo uma careta.

segurou o riso e seguiu com sutileza de volta ao carro.

— Aquele cara é o segundo melhor sliter que minha avó possui. — relatou ela, dando um toque de entonação na informação — Só perde para .
— Devo me preocupar com isso?! — brincou ele, relevando as informações.
— Deixe de ser bobo e ciumento. — ela riu mais um pouco e entrou no carro, observando-o entrar do lado do motorista.
— Sempre terei ciúmes de você. — admitiu ele, sem cerimônias — Diga ao seu treinador que você tem um namorado ciumento.
— Quem disse que estamos namorando?! — ela se fez de desentendida, soltando uma gargalhada do olhar dele no retrovisor.
— Bem… Se não estamos… Vou me esforçar em dobro para te reconquistar até amanhã de manhã. — disse ele, arrancando mais risos dela.

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- Algum lugar do Texas



Estar de volta ao Acampamento Fletcher transmitia uma sensação boa a , principalmente ao considerar as boas notícias que viveu ao longo dos últimos dias, com o retorno de . Ao se colocar diante da casa grande, respirou fundo, pois sabia que seu treinador não iria aliviar para ela, após tanto tempo longe.

— A boa filha à casa torna. — a voz de Collins soou atrás dela, com uma risada básica — Espero que esteja pronta para voltar aos nossos treinos.
— Nunca estive tão ansiosa para isso. — respondeu ela, ao se virar para ele.
— Que bom, então não precisa descansar. — ele deu meia volta — Venha comigo.
— E a Meg?! — indagou ela, curiosa para saber o progresso da amiga.
— Já está à nossa espera. — informou ele, seguindo para direção leste.

assentiu o seguindo, com seu coração acelerado para se tornar ainda mais forte. Assim que eles chegaram na área da clareira que Collins havia reservado para suas aprendizes. Meg, já prosseguia sua tarefa diária, correndo em volta do perímetro para ganhar mais resistência física. Assim que os três se reuniram no espaço, o ambicioso treinador propôs pequenos tempos de luta entre as duas, para avaliar suas estratégias de ataque e defesa em um combate corpo a corpo.

— Tempo esgotado. — gritou ele, fazendo-as parar.

Assim, que ambas se afastaram, Meg jogou seu corpo ao chão soltando um suspiro cansado.

— Eu não aguento mais. — exclamou ela, sentindo seu corpo dolorido.
— Eu achei que estivesse pior, mas não fiquei tão ruim nessas semanas fora. — comentou , ao olhar para a amiga — E você melhorou bastante.

A bailarina estava mais impressionada com a evolução de Meg, que de aprendiz saco de pancadas, agora conseguia levar um soco sem cair ao chão, e retrucar controlando suas habilidades no contra-ataque. Ambas estavam no mesmo nível de força, porém, Collins precisava extrair ainda mais concentração e perfeição de , afinal, ela era a herdeira sliter.
Ao final do dia, encontrou sua mochila em cima da cama ao entrar no quarto, juntamente com a presença de sua avó, que mantinha o olhar orgulhoso nos olhos.

— O que a senhora está fazendo aqui?! — perguntou ela, curiosa.
— Queria te ver, e dizer que estou orgulhosa pela conquista da medalha e do respeito entre os aprendizes. — comentou ela, ao mostrar o objeto em sua mão.
— A senhora encontrou meu esconderijo. — riu de leve, um pouco tímida pelas palavras dela.
— Como foi passar esses dias com suas amigas? — indagou Donna, ao se manter sentada na cama — Como está a ?
— Ela está bem, está em casa agora na proteção do Dominos. — contou a bailarina, dando alguns passos até a janela, se encostando na borda para olhar a avó — Foi divertido passar esse tempo com elas, principalmente pela Annia, ela tem estado bem humorada graças a gravidez.
— Annia Baker mudou muito após o casamento com seu amigo. — comentou Donna, lembrando-se de como a herdeira Baker foi treinada em sua infância.
— Cedric tem feito muito bem a ela, o amor em geral. — observou , ao se lembrar dos olhos da amiga brilhando ao falar da gravidez de gêmeos.
— Teve sua conversa com o Dominos? — indagou a avó, atenta às expressões da neta, ao se levantar da cama e dando alguns passos até ela.
— Sim… — sussurrou , respirando fundo, lembrando-se do beijo de seu amado chefe de cozinha.
— E seu coração está mais tranquilo, com relação a isso?! — continuou ela, demonstrando sua preocupação — Por mais que esteve focada em seus treinos, sei muito bem o quão confusa ainda se mantinha internamente.
— Estou sim… Sei onde meu coração está agora, mas… — ela respirou fundo, segura de suas decisões — Até me tornar sua herdeira, manterei minha razão no controle, e minhas emoções adormecidas.
— Estou feliz pela mulher que tem se tornado minha querida. — Donna segurou em sua mão inicialmente, com um sorriso suave no rosto, então lhe deu um abraço apertado — Uma forte e determinada bailarina.
— Obrigada vovó! — sussurrou ela, ao retribuir o abraço, sentindo um leve aconchego — Obrigada pelo seu apoio.

Donna se afastou um pouco dela, mantendo o olhar sério, porém sereno.

— Vou deixá-la descansar. — Donna se afastou dela, e seguiu para fora do quarto.

se espreguiçou um pouco, finalmente sentindo seu corpo latejar pelas dores do treinamento. Pegando a toalha no armário, ela adentrou o banheiro e após uma ducha relaxante e bem demorada, quando retornou ao quarto, finalmente pode se render ao cansaço no macio de sua cama.
ainda tinha um longo caminho pela frente até seu objetivo final:
Ser a herdeira Fletcher.

Mas agora eu estou
Mais forte do que ontem.
- Stronger / Britney Spears







Atualmente, 2018
Hotel Village, Chicago



Do Red Mug Bar, após passarem nas Instalações Darko para buscar as crianças, a família Baker se dirigiu ao hotel em que se instalaram. Um breve momento de comunhão no jantar discreto que tiveram no terraço, que gerou algumas risadas entre eles pelos muitos comentários de Annia, querendo mais sobrinhos vindo de . Claro que , se viu com o rosto corado pelos pedidos, principalmente após a pequena Molly dizer que adoraria ter um irmãozinho.
Na suíte em que estavam, a senhora residente aproveitou o momento em silêncio com o banho do marido, para refletir sobre os acontecimentos que percorreram ao longo dos últimos meses. Ela havia vivido muitas emoções após se tornar a residente do hospital da família, ou melhor, suas aventuras haviam iniciado no dia em que salvou a vida do mecânico que conquistou seu coração. E pensar na promessa de nunca mais se envolver com alguém da Continuum, lhe fez rir por alguns instantes.

— Posso saber o motivo dessas risadas?! — o soar da voz de lhe despertou o pensamento, enquanto seus braços envolviam sua cintura por detrás.
— Você. — sussurrou ela, com doçura, ao sentir seu corpo se aquecer com o calor emanando dele.
— Eu? — ele a olhou estranhando — Agora me deixou curioso. Por que?
— Por sua persistência, acabei me casando com um herdeiro da Continuum. — explicou ela, a realidade de seu riso.
— Não pensei na Continuum… Apenas pense que se casou com alguém que te ama e quer te ver feliz, sendo ou não de lá. — disse ele, com serenidade na voz, dando um beijo suave em seu pescoço — E sobre a palavra herdeiros…
. — um tom repreensivo veio dela — Sabe que não posso pensar em gravidez até as provas finais, quero ser uma cirurgiã.
— Eu sei, e dou maior apoio, minha doutora favorita. — ele sorriu de canto e a virou para ele, olhando-a com carinho — Mas isso não nos impede de treinar com segurança.

Ele deu uma piscadela sugestiva para ela, que a fez cair em gargalhada. Aquele era o que a conquistou, fofo e ao mesmo tempo intenso, persistente e ao mesmo tempo compreensivo. se sentia grata por finalmente poder amar sabendo que seria correspondida, estava em paz com seu coração tendo a certeza que sua família certamente em algum momento iria mesmo aumentar.
Beijos apaixonados, carícias e um toque de malícia, era um fato que a residente desejava repetir aquele considerável momento várias vezes naquela noite, porém, o lado delicado de se ter uma família com crianças, é que o casal jamais pode se considerar sozinhos. E lá estava Molly, batendo na porta do casal, após acordar repentinamente devido a um pesadelo.

— O que aconteceu querida? — indagou , assim que abriu a porta e a viu abraçada ao seu cachorrinho, com lágrimas nos olhos.

Diante do silêncio da filha, o pai preocupado a colocou para dentro, fechando a porta e se abaixou para ficar na sua altura e sorriu com carinho. Um olhar acolhedor que fez a menina se sentir amparada de imediato, ao receber um abraço dele.

— Calma, papai está aqui. — disse ele, com segurança.
?! — sussurrou da cama, ao erguer de leve o corpo e notar a presença dela — O que aconteceu?
— Nossa princesinha está aqui. — respondeu ele, pegando a filha no colo com uma mão e ajudando-a segurar o cachorro com a outra.

Em um piscar de olhos, arrastou seu pijama para debaixo das cobertas e se vestiu rapidamente, então se levantou seguindo até eles. Parando diante do marido, olhou a menina com doçura e tomou a cabeça, fazendo-a rir sem esforço.

— O que aconteceu princesinha? — indagou a residente — Não consegue dormir?
— Queria dormir com vocês hoje. — disse ela, em sussurro, com medo de ser repreendida — Eu posso?!
— Hum…. — se fez de pensativa, então deixou outro sorriso surgir em seu rosto — É claro que pode… Mas…
— Mas?! — Molly manteve sua atenção nela.
— Você acordou a tia , e sabe o que acontece quando me acordam?! — perguntou se fazendo de séria.
— Não, o que? — perguntou a criança, já se encolhendo no colo do pai.
— Eu acordo com muita fome… — fez algumas cócegas nela, que soltou gargalhadas juntamente com , que segurou o cachorro para que não caísse ao chão.

Após o momento de risadas e brincadeiras, Molly e o animalzinho se aconchegaram no sofá que estava área de estar da suíte, com ao seu lado direito já com o controle na mão, atenta à procura do desenho escolhido pela enteada. Enquanto isso, se encarregou de ligar para o serviço de quarto e pedir pizza para eles. Uma escolha de sua esposa.

— Está com saudade de casa? — perguntou a criança.
— De morar com a tia Rosalie não, mas da mamãe, às vezes. — assentiu a menina, enquanto acariciava seu cachorrinho — Mas estou gostando de morar com o papai e a senhora.
— Que bom, sabe que tenho muito carinho por você, então… — manteve o olhar de carinho para ela — Sempre estarei aqui para você também, assim como o papai.
— O que estão falando de mim?! — indagou , num tom brincalhão — Espero que estejam falando o quanto me amam.

Elas riram de leve.

— Nossa pizza já está a caminho. — anunciou ele, seguro de seu pedido a recepção.
— Papai, eu te amo! — disse Molly, de forma repentina e inocente — E também te amo, tia .
— Nós também te amamos, pequena. — assegurou ele, com um sorriso largo no rosto.
— Sim. — concordou , ao acariciar os cabelos dela — Nós te amamos muito.

Molly assentiu com um sorriso e se moveu de leve para abraçá-la, então se aninhou em seus braços logo em seguida, com seu cachorrinho. A pequena pausa para o lanche não demorou muito, e logo a pequena foi embalada pelo sono e acomodada na cama. Não era a primeira vez que dormia com o casal e certamente não seria a última, entretanto, sentir-se protegida por sua família, lhe deixava ainda mais alegre e esperançosa.

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- Algum lugar do Texas



Para um sliter, nada como um treino silencioso de madrugada para manter seus pensamentos em ordem e suas habilidades afiadas. Era assim que Collins estava afiando suas duas aprendizes para o torneio anual do acampamento, a maior conquista de um treinador era ter seus aprendizes no topo da cadeia alimentar. Para Meg, estar entre o top 5 de aprendizes significava ter respeito, já que ela era a chacota da academia. Contudo, para , significava uma conquista e uma benção, dar orgulho a sua avó.

— Por favor, eu juro que não aguento mais. — Meg pediu clemência, após finalizar sua série de exercícios físicos e corridas pelo perímetro.
— Está dispensada. — disse Collins, não se atentando a ela.

Pelo contrário, seu olhar estava na outra aprendiz que parecia presente apenas de corpo.
— Sinto que está mais distraída do que o natural. — comentou ele, ao lançar uma vara de bambu para ela, para que iniciassem uma luta com instrumentos.
— Impressão sua. — disse ela, ao pegar o objeto no ar — Estou atenta.
— Não é o que vejo. — ele respirou fundo — E isso, foi depois da ligação do seu herdeiro.
— Ele não é o meu herdeiro. — corrigiu ela, disfarçando o pulsar forte do coração — é apenas meu amigo.
— Não estou falando dele. — explicou Collins, fazendo-a refletir mais — Já se passaram três semanas após seu retorno de Chicago, ambos vieram aqui para te ver, e só permiti por causa da sua avó.
— Aonde quer chegar?! — ela o olhou com seriedade — Acha que estou distraída por causa do ?!
— Me prove o contrário. — ele ergueu a vara em sua mão, instigando-a.

assentiu ao desafio e com seu estilo singular de luta, transferiu o primeiro golpe iniciando o embate que levaria mais algumas horas para terminar. A cada ciclo de golpes, Collins fazia questão de falar o nome do Dominos caçula, para analisar as reações e movimentos dela, estratégia essa que custou muito caro para bailarina, que ganhou alguns hematomas além do necessário.

— Eu disse que não estava atenta. — repetiu ele, ao finalizar seu golpe, derrubando-a mais uma vez ao chão — Então, não tente me enganar.
— Não quero te enganar. — ergueu seu corpo, permanecendo sentada — Estou mesmo me esforçando para não me distrair.
— Você gosta mesmo dele, não é? — indagou Collins.
— Eu o amo. — respondeu ela, com segurança — Só não quero me machucar novamente.
— Está aqui por causa dele? — insistiu ele.
— Não, estou aqui por minha causa. — garantiu ela, ao se levantar do chão o olhando com mais segurança ainda.
— Agora sim, está pronta para a competição. — ele sorriu de canto — Está pronta para vencer.
— Como tem tanta certeza?! — perguntou ela, com o olhar desconfiado.
— Acredito no seu olhar, bailarina, e na sua persistência. — explicou ele, se virando para juntar as ferramentas — Agora me ajude com isso.
— Se eu vencer, poderei ter meu date com ele? — perguntou ela, no impulso da empolgação.
— Você ouviu nossa conversa? — perguntou ele, rindo baixo.
— Não, mas a Meg me ensinou leitura labial. — respondeu ela, de forma inocente.
— Você ouviu a nossa conversa. — afirmou ele.

Uma pausa silenciosa, uma gargalhada vindo dele…

— Se você ganhar, eu te libero para um date com o Dominos. — disse ele, com serenidade — E depois, voltamos aos treinos.
— E quando eu me tornarei a aprendiz da minha avó?! — indagou ela, com sua ansiedade transparente.
— Quando eu achar que está pronta. — ele riu mais um pouco — Está com tanta pressa assim para saber os segredos da sua avó?
— Hum… — ela murmurou.
— Primeiro, precisa saber guardar os seus. — aconselhou ele, ao finalizar e fechar o zíper da bolsa.

Só um dia (só um dia)
Se nós pudéssemos ficar juntos.
- Just One Day / BTS







Anos atrás…
Outono de 2012



Era fria madrugada de outono, as folhas das árvores dançavam pelo chão ao sopro do vento. A passagem principal para todas as residências naquela região tinha sido bloqueada pela última tempestade. Porém, havia uma estreita estrada de terra que levava a uma pequena fazenda, ao sul do estado de Oregon, próximo a cidade de Cliron. Esta, carregava o sobrenome da Família que morava nela: Dominos.
Com a modesta casa construída bem ao centro da fazenda, toda de madeira maciça, assim como os dois celeiros que haviam atrás. Um desejo de sua saudosa esposa, realizado pelo patriarca da família em 1957, quando adquiriu o terreno após cobrar do amigo uma dívida de jogo. William Dominos, era um respeitável homem que participou de muitas guerras, se saindo bem em todas e prosperando seu lar. De geração a geração, aquela fazenda tinha sido passada.
Mas, naquele dia, em toda a extensão da fazenda, havia restos do que deveria ter sido uma feliz festa de casamento. Que notoriamente foi interrompida. A casa estava revirada, com marcas de tiros, cortes e garras nas paredes e no piso. Portas e janelas quebradas. Na porta de entrada, uma mulher encapuzada se mantinha parada, tentando entender tudo que estava vendo. Ela tocou de leve na marca de madeira queimada em ferro quente, que havia no marco da porta e sentiu um calafrio em seu corpo. Entrando na casa, pode sentir um cheiro forte de sangue entrando em suas narinas, logo sentiu seu estômago embrulhar e levou a mão na boca.
Olhando de onde surgia o cheiro, viu uma poça de sangue atrás da porta que dava para o porão. Adentrando mais na casa ela foi até a cozinha e se deparou com duas pessoas estiradas no chão, podia ser visto claramente as marcas em seus corpos, as roupas ensanguentadas e rasgadas. De repente uma gota de sangue caiu em seu ombro, ao sentir seus olhos se voltaram para o teto de imediato, viu uma mancha de sangue do que seria de outro membro da Família em um dos quartos no segundo andar.
Ela tentou manter o foco, mas o desespero começou a tomar conta, e no calor da angústia somente uma pessoa vinha em sua mente. A mulher começou a vasculhar os cômodos da casa procurando. E ao sair na varanda dos fundos, ela ficou ainda mais perplexa com a cena, vários corpos caídos sobre o solo misturados aos destroços dos móveis do jardim. Fechou seus olhos por um momento ao sentir as lágrimas se formarem no canto dos olhos, o coração já acelerado de ver tanto horror em sua frente, uma família completamente dizimada.
Respirando fundo, não poderia perder o foco, não agora, não desistiria daquela pessoa que tanto queria encontrar. A pessoa em especial que quando criança a ajudou no momento mais difícil de sua vida, ela devia muito a ele. Se movimentando de forma rápida, ela foi olhando corpo por corpo e identificando alguns, parando por um momento ouviu um gemido vindo do milharal próximo. Quanto mais perto chegava, mais ela conseguia identificar o som como um grito preso de dor.
Uma pessoa estava, sim, agonizando. Suas roupas um pouco rasgadas, seu corpo machucado e baleado, seu rosto metade ensanguentado. Porém, tudo isso não a impediu de identificar a pessoa, era ele quem ela tanto procurava. Se ajoelhando ao seu lado, ela rasgou uma parte da sua blusa, vendo que seu ombro estava baleado, assim como sua perna direita. Tentou limpar o rosto dele, controlando seu desespero em vê-lo naquela situação.

. — ela disse segurando as lágrimas, teria que ser forte para ajudar seu único e melhor amigo.
— Isla... — ele tentava falar, mas o sangue que escorria de sua boca o impedia e sua visão embaçada, não o deixava ver o rosto dela.
— Calma, não diga nada. — ela encaixou sua mão nas costas dele, o virando de lado para não engasgar com o sangue — Estou aqui, vou cuidar de você.

Ela começou a pensar no que poderia fazer, tinha aprendido primeiros socorros, nos tempos de colégio, mas ali estava completamente sem recursos.

— Meu... — o dedo indicador de Isla encostou em seus lábios.
— Não se preocupe, seu irmão vai ficar bem. — ela tentou analisar a situação, então rasgou mais dois pedaço da blusa dele, amarrou na perna que esvaia sangue e com o outro pedaço pressionou no ombro dele — Vou te levar pra casa, vai ficar tudo bem. Você consegue se levantar?
... — cuspiu uma grande quantidade de sangue — Não posso... Perder... Meu irmão.
está em segurança, não se preocupe. — Isla respirou lentamente, tentando superar todo aquele cheiro de sangue, que havia no ar de todo o terreno da fazenda, que embrulhava seu estômago — Agora preciso cuidar de você, .

Com dificuldade, ela o ajudou a se levantar e quase arrastando-o, levou seu amigo para a casa e o colocou deitado sobre o sofá da sala. Ela correu até o banheiro, procurando algum tipo de kit que ajudasse ela naquele momento, até que ouviu o barulho de um carro vindo do lado de fora.

— Então, esta foi a ruína dos Dominos. — disse uma voz feminina que escondia seu olhar triste atrás dos óculos escuros.

Que se aproximava de Isla, em passos suaves.

— Donna Fletcher. — Isla a olhou de forma séria, porém com surpresa no olhar — Como chegou aqui?
— Segui os rastros do caos, os tiros e gritos... — ela retirou o óculos, mesmo assim sua face ainda era um pouco coberta pelos sedosos cachos dourados que seu cabelo formava.
— Ele não está aqui. — disse Isla se referindo ao pai de — Mesmo sabendo que sua família seria atacada, ele não veio protegê-los.

Um gosto amargo de revolta veio sobre a boca de Isla.

— Ele não pode vir. — Donna deu mais alguns passos até ela, a suavidade em sua voz era uma característica sua.
— Preciso de ajuda. — Isla, segurou as lágrimas ao lembrar-se da face de ensanguentada — Por favor.
— Estou aqui para isso. — assegurou a mulher — Foi exatamente Isador que me enviou aqui, ele sabia que um dia, isso aconteceria.

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Atualmente, outono de 2019
Instalações Darko, Manhattan



Sete anos se passaram, desde o dia em que uma família fundadora havia sido atacada, e a guerra começou. Sete anos em que Lionel Tenebrae se manteve no comando de sua família, perseguindo inocentes. Sete anos de busca pela verdade que apenas poucas pessoas sabiam: quem era a herdeira Tenebrae.
Se antes achavam que a reunião mais esperada do ano fora o jantar dos herdeiros, a Assembleia dos Fundadores era considerada ainda mais importante e necessária para as cinco famílias. E sendo a única pessoa com direitos de convocar tal evento, por sua família ter sido boicotada, afinal, era para os Sollary estarem a frente da Continuum, deu o passo que seu pai não teve coragem. Talvez por Gregori se intitular neutro, ou por medo de represália, o médico patriarca apenas mantinha sua preocupação em seus negócios. Entretanto, nem mesmo o silêncio dele, havia lhe protegido da fúria de Andrei.
Em uma mesa redonda, estavam os herdeiros e chefes das cinco famílias, juntamente com a líder dos sliter Donna Fletcher e sua herdeira. A sala era exatamente ao centro do andar de maior destaque das Instalações, com paredes de vidro que permitiam os olhares curiosos dos demais membros das famílias que presenciaram a reunião do lado externo. O clima estava visivelmente pesado, principalmente após a chegada de Lionel, que manteve seu olhar de superioridade para todos os outros, principalmente .

— Boa tarde a todos. — disse , em seu tom mais sério e firme, levantando-se da cadeira destinada a ele — Todos sabemos o propósito desta Assembleia, uma acusação foi feita e provas apresentadas, sendo o herdeiro dos Bellorum e minha família a responsável pela ordem na Continuum…

Ele se esforçou para conter seu olhar, ao mesmo tempo que estava feliz pela presença de , seu coração seguia partido por saber que a escolha da bailarina não havia sido ele.
Uma respiração profunda, e retomando ao seu raciocínio…

— Declaro Lionel Tenebrae réu, responsável por todas as ações de seu sobrinho Andrei Tenebrae, responsável pelo ataque à família Dominos e morte dos seus membros, responsável pelo desaparecimento de Isador Dominos e sua esposa, responsável pelo acidente de Godric Tenebrae e por usurpar um lugar que não lhe pertence. — finalizou ele, resumindo a lista de acusações contra o homem.

Logo o burbúrio do lado externo chamou a atenção, pois os filhos de Lionel protestavam, assim como os outros que assistiam o acusavam, juntamente com os neutros que discutiam entre si, se era realmente verdadeiro as acusações. Não precisou mais do que um olhar de , para que até mesmo seu avô, o general Bellorum, entendesse a necessidade do silêncio e ordenasse a todos que aquietassem.

— E esta jovem residente fez todas estas acusações contra mim?! — indagou Lionel, não se importando de imediato com sua situação.
— Sim. — também se levantou, e retirando duas pastas da bolsa ao lado de sua cadeira, as colocou educadamente em cima da mesa — Todas as provas reunidas e apresentadas aos Bellorum.

O olhar de Sollary voltou-se para o velho general por um momento.

— E desta vez, sem nenhuma chance de ser destruída. — ela voltou seu olhar para Lionel, mostrando que sabia muito bem sobre a amizade de ambos, que dificultou o processo de justiça.
— A família Baker apoia as acusações, chefe e herdeiro. — Annia se pronunciou, após bebericar seu cappuccino, com o olhar tranquilo e sereno, de quem sabia de toda a verdade e só estava ali para acompanhar o desenrolar das coisas.

, sentado entre ela e a esposa, assentiu com o olhar. O herdeiro Baker também estava de poucas palavras, sua atenção estava na filha e no sobrinho, que permaneciam concentrados na tela de um celular com fone de ouvido do lado externo. Mesmo sendo crianças, faziam parte das famílias e era necessário sua presença no ambiente. Annia voltou seu olhar para as duas cadeiras vazias ao lado de Lionel, a qual pertencia aos Dominos.

Ambos os irmãos, ainda ausentes por um motivo.
— Como chefe da família Tenebrae e atual presidente da Continuum, tenho o pleno poder de revogar estas acusações. — Lionel sorriu de canto, achando-se já vitorioso, ao lançar seu olhar superior para — Então, esta Assembleia não se faz necessário.

Pelo silêncio seguro de , que voltou o olhar para o irmão sentado na cadeira do lado, levou apenas alguns segundos para que o sorriso de Lionel se desfizesse.

— Você não pode revogar. — disse Annia, num tom baixo, dando uma pequena gargalhada no final.
— E por qual motivo não posso?! — indagou ele.

Mais um silêncio pairou sobre o lugar, com o olhar de todos voltando-se para o elevador que se abria naquele exato momento, revelando as pessoas que estavam internamente.

— Por que a partir de hoje, não será mais o chefe dessa família. — declarou , seguro de suas palavras — Este posto pertence à herdeira Tenebrae.
— Ela está morta. — disse Lionel, convicto de suas informações.
— Foi isso que Andrei te contou?! — a voz de soou, assim que adentrou acompanhado a sala, então riu baixo — Você acobertou todos os rastros de destruição de Andrei, e ainda assim, ele te traiu e te jogou aos lobos.
— Do que está falando?! — Lionel se colocou de pé, percorrendo seu olhar pela sala até chegar em sua família.

, que estava logo atrás do irmão, permaneceu em silêncio e se distanciando, assentou na cadeira vazia a qual lhe pertencia.

— Pai, como seu primogênito, quero te apresentar a herdeira do tio Godric. — o tom de Carlise foi baixo, porém rígido, com seriedade no olhar, transmitindo uma ponta de desaprovação pelo que o pai fizera.

E estendendo a mão para a mulher ao seu lado.

Joanne Tenebrae. — pronunciou Carlise, olhando para ela, com mais suavidade.
— Impossível… — sussurrou Lionel, ao manter seu olhar naquela que era apenas uma sliter.
— Por que eu sou uma sliter? — indagou , mantendo sua postura impecável diante dele.

Mesmo ainda em recuperação, ela jamais deixaria de estar presente.

— Adeline Ross não teve apenas uma filha, ele teve duas, gêmeas idênticas. — declarou , ao abrir uma das pastas — Meu tio, Gustav Sollary, foi o obstetra que fez o parto e com a ajuda de Isador Dominos, escondeu as crianças.
— O que significa que o posto em que está, não lhe pertence mais. — completou , agora, com um sorriso de canto.
— Como a herdeira Tenebrae, eu, Joanne Tenebrae, lhe deposto do porto de chefe da nossa família e entrego esta tarefa a Carlise, seu primogênito, por sua lealdade ao meu pai, Godric, e por me ajudar a guardar todas as provas que comprovam minha legitimidade. — disse a sliter, com segurança e mantendo o olhar fixo no réu.

Diante dos fatos, o corpo de Lionel caiu sobre a cadeira que sentava, como se tivesse perdido todas as suas forças.

— Por todos os seus crimes irrevogáveis, como herdeiro Bellorum, lhe declaro culpado e sob as leis que regem a Continuum, Lionel Tenebrae, você pagará por seus crimes. — se mostrou enfático na sentença.

Gerando mais barbáries do lado externo e uma comoção da família Tenebrae. Por mais que quisesse derramamento de sangue naquela tarde, desde o início todos os assuntos sérios eram sempre tratados com diálogos. Uma tradição que iniciou com os cinco amigos fundadores que perdeu-se pelos anos após a amizade entre as famílias ser quebrada pela inveja, ganância e soberba de Lionel e Andrei.

— Achei que seria mais difícil. — comentou , com sua avó, ao observar Lionel desolado, enquanto era levado pelos agentes da Darko.
— Lionel sempre foi o lado pacífico da história, nunca sujou suas mãos, pois tinha o sobrinho para fazer isso. — explicou Donna, também observando a saída do homem — Agora, a verdadeira guerra começa.
— Fala do Andrei?! — moveu seu olhar para ela.

A matriarca Fletcher apenas assentiu com o olhar, contendo sua preocupação interna, por saber que não seria fácil a continuação desta história. Assim que os agentes levaram Lionel, seu primogênito voltou a atenção para a agora, oficialmente, sua prima.

— Obrigado, por ter mantido isso de forma pacífica. — Carlise, soltou um suspiro aliviado.
— Eu também sei cumprir minha palavra, há muitos meios de se pagar pelos erros. — disse , aceitando o agradecimento dele — Obrigada, por aceitar ficar a frente da família.
— Eu que agradeço por mais essa confiança. — ele sorriu de leve — E como vai ficar a cadeira da Continuum?!
— Nas mãos da pessoa que nasceu para isso. — o olhar dela se voltou para .
— E como sabe que ele não vai se corromper?! — indagou o primo, preocupado com o efeito que tamanha responsabilidade tinha em alguém.
— Eu sou a sua consciência. — garantiu ela, com o olhar esperançoso.

Um novo tempo estava nascendo para os herdeiros e chefes das famílias. Um tempo em que após sete anos de incertezas e injustiças, agora estava caminhando para a verdade. A amizade que criou a Continuum e uniu a todas, finalmente havia sido restaurada pela nova geração, e certamente se estenderia às posteriores, através da lealdade da residente Sollary, do mecânico Baker, da executiva Annia Baker, do detetive Bellorum, do chef de cozinha Dominos, do CEO Dominos, da sliter Tenebrae, com a adição de Fletcher e Cedric Lewis.

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Meses depois…
Algum lugar do Texas



— Bom dia, flor do dia. — disse , assim que seus olhos se abriram, e pode contemplar o rosto de sua amada.
— Bom dia… — sussurrou , ao se espreguiçar de leve.

Ambos, assim como o restante dos herdeiros amigos, estavam desfrutando de uma semana agitada no Acampamento Fletcher, acompanhando o Torneio dos sliters aprendizes e podendo ver o quão habilidosa havia se tornado.

— Meses se passaram e ainda não me disse como irei assumir a Continuum, se você pode apenas passar o cargo para alguém da sua família. — indagou .
— Você se preocupa demais. — disse ela, com serenidade, ao se levantar da cama e caminhar até a janela.
— Me preocupo?! — ele bufou de leve, e se levantou logo atrás, detestava o jeito misterioso em que ela lidava com tudo — Não seria assim, se me contasse as coisas, tive que descobrir sozinho sobre você ser a herdeira.

se virou para ele e lhe deu um sorriso tão doce e sutil, que o fez se esquecer de sua chateação por um momento.

— Por um momento, vamos apenas viver o hoje. — pediu ela, ao se aproximar dele e lhe roubar um selinho — Vamos viver a segunda chance que nos foi dada…
— Por que está falando assim?! — indagou ele, com o olhar preocupado.
— A Assembleia… Me fez refletir e ver que também temos sangue nas mãos, Lionel não é o único, e também pagamos por nossos pecados. — explicou ela, respirando fundo — Se quer saber… Eu ia lhe fazer uma surpresa, mas posso te responder agora.

apenas permaneceu sério e silencioso, porém, envolvendo seus braços em sua cintura, trazendo-a para mais perto.

— Você se lembra da nossa primeira noite juntos?! — perguntou ela, atenta às expressões pensativas dele.
— Sim. — assentiu ele, dando um sorriso de canto — Meu coração nunca se manteve tão aquecido quanto naquela noite, o melhor natal de todos…
— Então… O que mais se lembra daquele dia?! — continuou ela, com seu passo a passo de revelação.
— Tivemos algumas reuniões pela manhã e… — ele foi vasculhando sua mente — Eu assinei alguns papeis, mas não os li… Por confiar em você.
— Não existem apenas laços sanguíneos em uma família. — assegurou ela — O matrimônio também é considerado.
— Matrimônio?! — ele engoliu seco, sentindo seu coração acelerar.
— É a única forma, senhor Dominos. — explicou ela, o fazendo entender — Pode me chamar de senhora Dominos, após repetirmos nossa noite de núpcias.

ergueu seu corpo iniciando com um beijo suave, não lhe dando tempo de reação, apenas fazendo-o corresponder com mais intensidade e amor que sentia em seu coração. E distante do quarto superaquecido, em uma caminhada matinal para se alongar, estava acompanhada de seu novamente namorado. Sendo observada a distância por seu treinador.

— Ele não dá mesmo descanso. — brincou , ao segurar em sua mão e lhe puxar para mais perto.
— Tecnicamente, eu preciso me manter concentrada. — explicou — Hoje terei a luta mais aguardada da minha vida, em que vou provar meu valor como herdeira da minha avó.
— Por isso escolheu lutar com a ?! — perguntou ele, curioso.
— Eu não posso escolher meu próprio treinador, e ela é a número 1. — respondeu de imediato a lógica da situação.
— Entendi. — ele riu de leve, e parando lhe roubou um selinho rápido.
?! — tentou repreendê-lo, porém sem sucesso.

Ambos riram um pouco.
As horas se passaram, e os preparativos no galpão a todo vapor. Por ter conquistado o topo dos aprendizes, obteve o privilégio de uma luta especial com o top 5 de sliters. Agora, ela estava frente a frente com sua melhor amiga, e cheia de ansiedade por tudo o que havia vivido desde o dia em que conheceu , no hostel de sua tia Beth. A doce bailarina não era mais uma garota inocente, que a família lhe escondia e protegia, agora ela era uma sliter herdeira em treinamento, e se sentia mais forte por isso.

— Não pense que eu vou pegar leve com você. — disse , num tom suficiente para que todos escutassem.
— Não se contenha amiga. — pediu , arrancando cochichos de todos.

Ambas estavam ao centro do lugar, e várias cadeiras em volta. Seus amigos sentados na primeira fileira, juntamente com Donna e Collins.

— Cuidado , não se esforce muito, já é pesado demais para uma grávida lutar contra uma aprendiz, mesmo sendo a sua amiga! — disse Annia, revelando a surpresa da amiga, que seria contada após a luta.



7 anos de história
Será por isso que é ainda mais especial?
- Friends / BTS

Amizade: "O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade."
[ Provérbios 17:17 ] - Pâms



Fim.



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Nota da autora: Espero que estejam gostando de conhecer a Continuum, quem sabe futuramente temos mais linhas desse grupo de amigos!






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