Autora: Li
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Finalizada em: 09/06/2021.
Capítulos: Parte I | Parte II | Parte III | Parte IV






"Eu queimei algo pelo bem de alguém
E isso me deixou sufocado
Eu misturei minhas prioridades e minhas emoções foram balançadas
Eu havia perdido de vista meu próprio eu…"


O barulho frenético da cidade às 7AM não me incomoda mais. Desde que me mudei, há cinco anos, que rapidamente me acostumei com o fato. Isso tudo se deve ao fato de eu ter conhecido ela: minha amada noiva. Me sinto privilegiado em acordar toda manhã ao lado dela. E foi o seu cheiro a primeira coisa que senti, antes mesmo de abrir os olhos. Estiquei os braços e tateei a cama, até encontrar o corpo dela e abraçá-la. Ela se aconchegou, chegando mais para trás, e segurou minha mão. Sentir o calor de seu corpo é reconfortante.

[🌸]

Acordei, minutos depois e Aimi já havia se levantado. Olhei, ainda sonolento, para a porta do banheiro aberta, ela não estava lá. A porta fechada do quarto indica que ela deve estar na sala e fechou a porta para não me incomodar. Ela costuma ouvir música enquanto se arruma.
Levantei, ainda com o corpo no modo slow por ter acabado de acordar, coloquei meus óculos de grau e fui até a sala. Assim que abri a porta, ouvi o som da música favorita dela tocando.

— Bom dia, amor — falei ao me aproximar, dando um beijo no rosto dela e depois um selinho.
— Bom dia, — Aimi respondeu e deu um sorriso. — Te acordei?
— Não. Eu já ia levantar — respondi e sentei-me à mesa, pegando um copo e enchendo com suco. — Tenho trabalho mais tarde hoje.
— Hm… — resmungou ela, enquanto mexia no celular. — Vai estar livre que horas hoje?
— 18h.
— Vamos jantar juntos? — indagou e levantou o olhar para mim.
— Claro! Você paga! — falei brincalhão. Nós rimos e ela jogou um pedaço de pão em mim.
— Mercenário! Ok, eu pago — sorri vitorioso e comi o pedaço de pão.

Terminamos nosso café e eu fui tomar banho. Aimi saiu para trabalhar, ela é modelo muito famosa no país. Realmente deslumbrante de linda. Somos noivos há quase cinco anos, quase o mesmo período que me mudei. Nos conhecemos no parque, em um dia ensolarado, me encantei pela alegria dela que brincava com seu sobrinho. Tão feliz, seu rosto irradiava alegria de viver. Aquele sentimento me contagiou de imediato.

[🌸]

Cheguei ao trabalho, que fica literalmente no centro da cidade, e fui direto para minha mesa. Hoje eu quero paz, porém meu amigo já me abordou com o caos.

? !? — , ou somente , me chamava, sussurrando. — !?
— O que foi, cara? — perguntei irritado. Eu literalmente havia acabado de sentar. Nem ligar o computador eu liguei direito. arrastou sua cadeira até mim e cochichou.
— Já soube da última? — gosta de ser o porta-voz de notícias que não lhe dizem respeito. O famoso: fofoqueiro.
— Não — respondi sem emoção, não dando muita bola. Finalmente o computador ligou.
— A , aquela gata do departamento de Marketing, sabe? Então, parece que ela está pegando o diretor Hiroki!!
— Sério?! — demonstrei atenção, mas logo fiquei sério de novo — Não acredito. A não ficaria com ele. Você sabe o porquê. Não faz o tipo dela. — conhecendo a , ela realmente não ficaria com o tipo canalha do diretor Hiroki.
— E qual o "tipo" dela? — ele fez o sinal de aspas com as mãos e me encarou curioso.
— Ela é muito gente boa para o tipo do diretor. Você sabe como ele é. Não direi em voz alta, gosto do meu emprego.
— Sei… — disse ele com o olhar suspenso. — Cara, somos amigos, certo?
— Claro que somos.
— Me responda com sinceridade: você já ficou com a ? Não minta para mim!
— Não! — Respondi espantado — De onde tirou isso?
— Você falou num tom enciumado.
— Você está ficando louco, ! Me deixa trabalhar, vai.

arrastou sua cadeira de volta para sua mesa, rindo da minha cara. Ciúmes?. Ah, tá.
Eu voltei a fazer os relatórios do dia anterior que acumularam. Sou suporte T.I. aqui na empresa há cinco anos. Aliás, eu só me mudei por causa dessa vaga de emprego. Não me arrependo.
Na hora do almoço, fui até a copa comer. No caminho, ouvi diversas pessoas comentando sobre a estar se relacionando com o diretor. é a chefe do departamento de Marketing, é uma mulher muito bonita, de fato. Um pouco mais nova que eu. Ela tem 30 anos e eu 32. Não acho que ela realmente esteja envolvida com o Hiroki. Ela é uma pessoa divertida, alegre, gentil, está sempre ajudando todo mundo e sorrindo pelos corredores. Foi ela quem me deu o apelido de , disse que tenho bochechas rosadas e fofas, boas para apertar. Bom, isso ela conseguiu comprovar.

! — me chamo , prazer. Mas, apenas meu chefe me chama assim, mas não era a voz dele que me gritava. — Parado aí! — gritou mais uma vez e chegou perto de mim que estava sentado, almoçando.
— Aconteceu algo, ? — ela estava quase cuspindo fogo pela boca, pude sentir o calor de sua irritação.
— Você! Quem mandou espalhar mentiras por aí sobre mim? — ela bateu forte na mesa e chamou a atenção dos demais ocupantes da copa.
— Do que está falando, ? Eu não disse nada para ninguém sobre ninguém! — fiquei nervoso com o nervosismo dela e ajeitei meus óculos no rosto.
— Não foi isso que me falaram! Essa carinha de inocente… — estreitou os olhos, me encarando — Ah, quer saber? Esquece! Só pare de falar sobre o que não sabe!

Da mesma forma repentina que chegou, ela foi embora, marchando irritada. As pessoas me encaravam e eu tentava entender o que havia acabado de acontecer. Será que ela acha que fui eu quem espalhou essa fofoca? Bem provável que sim. Suspirei frustrado e voltei ao meu posto de trabalho, após concluir meu almoço.
O dia está sendo bem cansativo.

[🌸]

O relógio marcava 17h55. Combinei com a Aimi de me encontrar com ela no restaurante. Pelo visto, eu cheguei primeiro. Solicitei uma mesa ao garçom e me acomodei para esperá-la. Dei uma olhada no menu e escolhi entradas e uma garrafa de vinho. Com o estresse que passei hoje na empresa, eu mereço beber, apesar de não ser muito do meu feitio.

! Me perdoe, está a muito tempo esperando? — Aimi disse, afobada, ao sentar-se à minha frente.
— Não muito — já passava das 18h30 e eu já estava quase acabando a garrafa de vinho. As entradas? Bom, eu comi as duas. — Está tudo bem?
— Sim! Acho que está, eu… , preciso te contar algo. — ela disse e me encarou. Parecia muito ansiosa.
— Parece importante, diga… — ela suspirou e disse de uma vez:
— Recebi uma proposta para trabalhar em outra cidade, como modelo internacional! — falou, muito empolgada.
— Isso é ótimo, meu bem! Incrível! Parabéns!! — ela tinha um sorriso tão deslumbrante que eu não quis estragar com o meu mau humor.
— Obrigada, ! — Aimi parou por um instante, parecendo cogitar falar ou não. Por fim, ela prosseguiu: — Eu vou me mudar hoje ainda. Amanhã cedo tenho que estar lá. Meu voo sai em duas horas.

Aimi terminou de falar e eu não sabia ao certo se eu tinha ouvido certo. Ela disse que viajaria para outro país em duas horas, foi isso? Eu gostaria de ser surdo neste instante. De repente, uma onda de angústia muito forte me invadiu. Minhas mãos começaram a tremer, acho que irei desmaiar aqui.

? — pude ouvir a voz dela me chamar. Despertei da minha quase morte e a encarei, confuso.
— Duas horas? Mas…
— Vem comigo!
— Quê?
— Vem comigo, ou senão teremos que terminar.
— Quê?!?! — repeti meu espanto, mais alto que antes. Algumas pessoas nos olharam, curiosas. — Eu não posso abandonar o meu emprego, Aimi.
— E eu posso, então? — questionou, indignada.
— Eu não disse isso! Não ponha palavras na minha boca. Isso é muito repentino…
— Eu sei, eu ia te contar antes, mas…
— Você já tinha tudo planejado? Aimi! — uma mágoa enorme se formou em meu coração, sinto que irá explodir a qualquer momento.
— Me desculpe, . Eu só queria contar quando estivesse tudo pronto.
— Tudo bem. — hiperventilando, eu senti como se eu estivesse caindo do alto de um avião. Sem paraquedas.
— Você não vem, não é? — levantei o olhar e encarei ela. Meus olhos queimando de mágoa e raiva. Sentimentos que eu não queria estar sentindo, ainda mais por ela.
— Como poderia, Aimi? Eu poderia ir depois, mas...
— Não precisa. Fica com seu emprego, vou atrás do meu sonho — ela levantou-se bruscamente e eu fiz o mesmo.
— Não haja como se eu fosse egoísta, Aimi! Você me pegou de surpresa, as coisas não se resolvem dessa forma.
— Está tudo bem, — me chamou pelo nome e jogou o guardanapo na mesa, com força. — Fique aqui com o seu empreguinho e morra fazendo o que faz e ganhando o que ganha. Eu vou embora! Sempre soube que estar com você era perda de tempo!
— Quê?!

Sem dizer mais nada, Aimi saiu do restaurante e me deixou sozinho, sem saber o que fazer. Paguei a conta e saí dali com a sensação de que havia perdido bem mais que a Aimi. A sensação de ter me perdido era gritante.




"Por favor, me ajude
Meu peito está ficando cada vez mais dolorido
Uma tristeza e um sentimento vazio
São as únicas coisas que batem aqui…"


Andando sem rumo certo, eu passei pelas pessoas apressadas que lotavam os transportes e calçadas da cidade, loucas para voltar para casa. Tudo que eu queria era não voltar para casa, tudo iria me lembrar a Aimi. Me sinto morto por dentro, como se tivessem levado todo meu sangue e meu coração não tivesse mais o que bombear a não ser a tristeza e decepção que habitam em mim. O vazio é enorme.
Involuntariamente, eu fiz o caminho de volta para minha casa. Passei pela estação de trem, como sempre estava lotada de pessoas saindo do trabalho e voltando para casa. Saí da estação e caminhei pelo bosque que há ao lado. Não é bem um bosque, mas sim um caminho com algumas árvores e uma ponte que atravessa esse lugar, é bem bonito. Porém, a minha melancolia é tanta que eu não consigo admirar a beleza da cidade como deveria. Saí dali e passei a andar pela parte mais urbana, os altos prédios e a iluminação forte e chamativa eram irrelevantes para mim. Caminhava cabisbaixo, me esbarrando nas pessoas e sendo xingado por isso. Até que fui barrado por uma delas.

— Não olha por onde anda, idiota?! — uma mulher berrou e deu um tapa no meu ombro, me empurrando um pouco para trás. Nem me importei com a agressão, estou apenas aceitando tudo que a vida coloca em meu caminho. — ? — a menção de meu apelido fez com que eu levantasse o olhar e encarasse a moça.
... — os olhos de também estavam vermelhos assim como os meus possivelmente estão agora. Ela usa um vestido vermelho, colado ao corpo, realça bem as curvas que possui. Segurava em suas mãos seus sapatos de salto alto da mesma cor de seu vestido. — Está tudo bem?
— Não, não está! — ela gritou e começou a chorar. Para melhorar o nosso drama, começou a chover. — Ah, ótimo!
— Meu apartamento é aqui perto, quer se abrigar lá? — perguntei com toda inocência desse mundo.
— Só irei porque sei que não tentará nada. Vamos.

E eu não tenho clima para "tentar nada", realmente. é o tipo de mulher, segundo , que é "areia de mais para meu carrinho de mão". Tenho que concordar com ele.

[🌸]

Abrir a porta do meu apartamento e vê-lo escuro e silencioso desse jeito só fez aguçar ainda mais a melancolia dentro de mim. Saber que Aimi não entrará por esta porta e me beijará depois de um cansativo dia de trabalho é deprimente. Eu queria poder chorar, a vermelhidão em meus olhos é apenas porque os cocei. As lágrimas me abandonaram, assim como a Aimi fez.

— Quer uma roupa para se trocar? Acho que a chuva vai demorar para passar — comentei e joguei as chaves em cima da mesinha. estava tímida, pela primeira vez a vejo assim. Seus olhos corriam por todos os locais iluminados pela luz acesa da sala.
— Eu posso dormir aqui? — perguntou ela, de repente, com a voz carregada em aflição. Não esperava por isso.
— Cla-Claro, . Eu, eu vou pegar um pijama e uma toalha para você tomar banho, fique à vontade — deixei ela sozinha e fui até meu quarto.

Faz tempo que não recebo visitas em meu apartamento. Antes, vinha dormir aqui várias noites, só depois que noivei com a Aimi que ele parou de vir. A única presença extra, além de mim, que existia aqui era a Aimi, porém, creio que não a terei mais.
Levei uma toalha e um pijama meu para vestir. Ela foi ao banheiro e demorou bastante para sair. Eu me joguei em minha cama e me deixei entregar as minhas lágrimas que tanto procurei durante as últimas horas. A sensação de vazio e tristeza era cada vez mais aguçada e forte. Sinto que morreria agora, se eu morresse não teria ninguém para se importar. A vida é tão injusta.
Eu não notei que estava parada na porta do meu quarto, que estava aberta. Deitado em minhas lágrimas, eu ainda chorava.

? — quase num sussurro, ela me chamou. Levantei meu corpo no susto, tentando secar minhas lágrimas e disfarçar o óbvio.
?! Ah, quer comer algo? Pode ficar à vontade, eu vou tomar banho…
— Você está bem, ? — ela se aproximou, entrando no quarto, eu relaxei o corpo e abaixei a cabeça. As lágrimas voltaram a cair com tudo. — O que aconteceu, meu amigo? — sentou-se ao meu lado e me abraçou.

Era desconfortável e estranho para mim ser abraçado por qualquer pessoa, ainda mais sendo uma mulher, ainda mais sendo a . O abraço dela é tão confortável que a sensação ruim, que eu normalmente sentiria, não despertou em mim. Pelo contrário, um imenso alívio e paz preencheram a sensação de vazio que eu tinha. O corpo quente dela me aquecia naquela noite fria de inverno. O abraço carinhoso dela me transmitiu a tranquilidade que eu precisava.

[🌸]

Acordei, sem abrir os olhos, e senti um corpo ao meu lado, abraçado a mim. Sua respiração leve e as batidas tranquilas de seu coração se misturavam com o ritmo do meu corpo. Abri meus olhos e vi os cabelos de caídos em suas costas, ela usava o pijama que dei a ela e eu ainda estou com a mesma roupa. Parece que adormecemos depois daquele abraço. Na posição em que estamos, não tem como eu me levantar sem acordar ela. Inevitavelmente, ela despertou na primeira esticada de braço que dei.

? — disse ela, sonolenta.
— É, , pode dormir na minha cama. Eu vou tomar banho e dormir no quarto de hóspedes. — me levantei e ela fez o mesmo.
— Não precisa, . Eu vou para lá. — ela sorriu, sem jeito e, quando passou por mim, pude ouvir sua barriga roncar. Soltei uma risada nasal.
— Está com fome? — olhei para ela, divertido e ela riu.
— Acho que você ouviu, né? Estou sim.
— Vou tomar um banho e preparo algo para comermos, ok? — ela concordou com a cabeça e me deixou sozinho no quarto.

Dormir ao lado dela, por alguns minutos, foi o suficiente para amenizar a dor de ter sido abandonado. Tudo bem, eu poderia ter apoiado Aimi e dito que iria para lá após um tempo, não deveria ter dito aquele "mas" após a frase, mas é que eu não pretendia e nem pretendo deixar meu emprego, meu país, para ir para seja lá onde for. Eu amo a Aimi, isso é inegável, porém, eu preciso também pensar em mim, no que eu quero. Não que eu não quisesse ficar com ela, eu ainda quero, mas eu já fiz muitas coisas que eu não queria só para agradar ela. Isso me tornou acomodado com o tempo. Infeliz. Eu não quero fazer mais uma coisa que a fará feliz, mas me deixará num limbo amargurado.
Não cometerei o mesmo erro.
Saí do banho e fui até a cozinha preparar algo para e eu comermos. Ela me ajudou. Incrivelmente, ela sabe cozinhar bem. E olha que ela espalhou para empresa toda que era péssima cozinhando. Durante o nosso jantar improvisado, ela me contou que estava num jantar com o diretor Hiroki, porém, nitidamente, não acabou bem. Parece que o diretor Hiroki deu um bolo nela e ainda gritou ao telefone quando ela ligou para perguntar se ele ainda iria. Acabei contando para sobre o que aconteceu entre Aimi e eu. Acabei deixando cair algumas lágrimas amarguradas, só de tocar no assunto. Eu espero que essa dor acabe. Eu espero ficar vivo. E ser feliz, nem que seja por poucos minutos, como estou agora conversando com a .




"Debaixo de um céu tão azul
Meu peito é envolvido por uma força
Uma força e um arrependimento
São as únicas coisas que batem aqui…"


O amor pela Aimi está cada vez menor, quase inexistente.
Os meses se passaram e a primavera chegou. Uma estação feliz, alegre e divertida. Os dias quentes e ensolarados sempre me atraíram pelo fato da brisa gostosa que se choca a mim, me tranquilizar. Os dias frios têm seu charme, mas só valem a pena se tiver uma companhia ou se estiver deprimido.
A companhia da tem sido frequente, desde aquele dia que ela dormiu em minha casa. Nos tornamos muito íntimos. brinca que estamos mais grudados que carrapato em cachorro e, com toda certeza, essa foi a pior comparação do universo.
Hoje é sábado e tentou me convencer durante toda a semana a virmos passear no parque. Sinceramente, parques me lembram a Aimi, afinal, nos conhecemos em um. Já faz meses que não sinto nada ao pensar nela, eu sei, porém ainda é um local nostálgico nesse sentido, essa lembrança foi muito forte para se esquecer assim. Mesmo assim, resolvi me encontrar com a no parque que fica próximo à estação de trem, caminho para meu apartamento, trajeto que fez tantas vezes só para me acompanhar.

! — já havia chegado e me esperava no gramado aberto que há aqui, propício para piqueniques.
— Não acredito! — ao me aproximar dela, pude ver uma toalha estendida no chão, duas cestas que devem estar recheadas de comida, três garrafas térmicas e algumas frutas numa cesta separada. — Piquenique? Nunca fui em um. — comentei e me sentei em frente a ela. riu de mim, pelo comentário, e disse:
— Pois vai participar agora, . Faço questão de tirar sua virgindade de piqueniques. — rimos, ela deu uma pausa, e prosseguiu dizendo: — Creio que já não seja mais virgem daquele jeito.
— Qual jeito, ? — me fingi de desentendido e ela estreitou os olhos para mim.
— Não seja sonso, ! Você sabe que estou falando sobre sexo. — ela repousou as mãos na cintura e fez um bico com os lábios.

Mais uma vez, nesses últimos meses, eu voltei a sentir um arrepio gostoso ao observá-la.
é tão divertida e fofa. Explosiva e gentil. Falante e quieta. Tantas qualidades que ela tem, qualidades muitas vezes opostas, mas que são só ela. Nós dois somos diferentes em muitos aspectos e iguais em outros. Acho que talvez seja isso que torna nossa relação de amizade tão legal.
Amizade.
Eu não sei mais se posso falar apenas isso sobre nós dois. Desde que nos aproximamos, que eu venho sentindo coisas estranhas perto dela. Analisando minha situação, percebi que sinto isso desde que a conheci, há cinco anos, mas sempre ignorei tais sentimentos. Atualmente, eu sinto medo de me apaixonar por ela. Medo de me magoar pela rejeição provável ou de magoá-la de qualquer forma.
e Aimi são muito parecidas. Ambas têm personalidade alegre, para cima e sempre de bem com a vida. A diferença é que a tem seus momentos de calmaria, muitos deles quando está comigo ou com alguém que ela confie muito, e ela sempre me coloca para cima me incentivando a melhorar. Ao contrário da Aimi…

? — Li chamou minha atenção. Parece que eu me perdi um pouco nos pensamentos. Pisquei os olhos e a encarei, mantinha uma expressão confusa no rosto desde que eu comecei a viajar em meus pensamentos e parei de prestar atenção no que ela dizia. — ! — ela disse mais energicamente e deu um tapinha de leve em minha perna. Por que eu me arrepiei somente com esse simples toque?
— Me desculpa, — comecei a falar e logo parei novamente. Por que o olhar dela tem que ser tão penetrante dessa forma? É difícil me manter concentrado em outra coisa que não sejam os olhos dela. — , você está saindo com alguém? — ?! Eu gostaria de ser mudo e surdo agora. Por favor, me interditem!
Hã?

me olhava de uma maneira muito confusa e parecia estar incomodada, pois começou a se ajeitar em cima das pernas e a mexer nos cabelos. Me pareceu, de onde estou, que ela começou a tremer e ofegar. Eu queria dar um abraço nela, mas ainda estou tentando entender o porquê de eu ter feito essa pergunta.

— É, é, esquece, . Eu não tenho direito de perguntar isso, eu não sou…
— Não, . — respondeu e eu levantei o olhar para fita-a. — Você quer sair comigo? — eu ouvi bem ou a acabou de me chamar para sair? , a chefe do Departamento de Marketing da minha empresa, acabou de me chamar para sair?! Devo estar sonhando ou alucinando. Deve ser o Sol… — !?
— Oi?! — eu pareço uma criança que leva bronca dos pais ou professores por estar distraído durante algo importante. Cresce, . — É, acho que… sim.
Você acha? , você quer ou não quer sair comigo? Tem que se decidir… — pois é, , tem que se decidir se continuará tendo coração para se expor para ela ou se vai desistir por pura covardia.
, eu… — fechei meus olhos e os apertei com força. É muito difícil para mim expor meus sentimentos, sejam quais forem, para alguém dessa maneira: cara-a-cara. Ainda mais sendo a , seus olhos tão brilhantes e felizes. Não me sinto merecedor o suficiente para tê-la ao meu lado. — Eu gosto de você, ! — desabafei e abaixei a cabeça, envergonhado e apertando novamente os olhos fechados com toda força.

Devagar, chegou mais perto de mim e me abraçou sem falar nada. Abri os olhos com o toque dela em mim e os fechei mais uma vez. encostou a cabeça em meu ombro e deu um beijo ali. O cheiro dela começou a me dopar de uma forma muito viciante. Eu queria morar no abraço dela, para sempre.




"Mesmo assim, eu vou continuar
Eu agarrei estas mãos com firmeza
Irei te alcançar, mesmo distante.."


1 ano depois…

7AM, o despertador toca e eu não quero levantar.
A noite anterior foi tão especial para nós que eu realmente não quero sair desta cama, ainda mais que minha companhia dorme tão serenamente.
Ontem, e eu completamos um ano de namoro e tivemos uma noite definitivamente memorável. Impressionante como meu amor por ela cresce a cada minuto em que passo em sua companhia. Poder acordar ao lado de quem se ama é um privilégio. Me digam, então, como é acordar ao lado de quem se ama e que te ame de volta, como se chama isso? O paraíso, talvez. Pois então, estou no paraíso todos os dias desde que aceitou o meu pedido de namoro.
Mantive minha respiração tranquila para não acordá-la. Repousei meu polegar em sua bochecha e acariciei de leve. Aos poucos, começou a esboçar uma expressão de riso no rosto. Sabia que ela estava acordada esse tempo todo.

— Então, a senhorita está acordada… — comentei, sorrindo. levou as mãos ao rosto, envergonhada e deixou uma fresta entre os dedos, de onde pude ver seu olhar travesso direcionado a mim.
— Bom dia, amor — sua voz sempre fica rouca pela manhã, muito sensual, mas ainda prefiro a voz dela pela noite, sussurrando em meu ouvido.
— Bom dia, rainha da minha vida — tirou as mãos do rosto e ela estava sorrindo tímida com o comentário. Tão fofa… — Hoje é domingo, vamos ao parque?
— Vamos! Como em nosso primeiro encontro — respondeu ela e chegou seu corpo para mais perto de mim, se aninhando em meu peito. Abracei seu corpo e apertei junto ao meu, aspirando o aroma de seus cabelos.
— Eu amo você, pequena — sussurrei e deixei um beijo na lateral de seu rosto.

[🌸]

Os parques se tornaram meus locais favoritos na cidade desde que comecei a namorar a . Atrelado a isso, o dia de hoje está propício para um longo passeio pelo parque. Sempre que viemos aqui, no parque próximo à estação de trem, fazemos uma espécie de ritual: ao chegarmos, nós vamos até alguma barraca de doces e compramos um doce para cada, pode ser algodão doce ou até pirulitos; depois, caminhamos pelas trilhas de pedra que levam a todos os cantos do parque; por último, nós nos deitamos na grama e observamos o céu.

— Amor, eu já volto, ok? — disse, ainda estamos deitados executando a última etapa de nosso ritual parquício. Girei a cabeça para olhar para ela, que já estava sentada.
— Ok, meu amor — respondi e fiz um bico, indicando que queria um beijinho de despedida. riu e inclinou o corpo para me beijar. Quando ela deu brecha, eu a agarrei, jogando-a na grama e me deitando em cima dela. Beijei-a com todo meu amor e depois a encarei sorrindo.
! Seu bobo! — reclamou ela e apertou meu nariz com os dedos em formato de pinça. — Já volto.

saiu e eu voltei a deitar. O céu está tão bonito azul, me parece até mais azul que de costume. Há poucas nuvens, mas as que têm, são rechonchudas e grandes. Algumas têm formato de animais ou de pessoas, como uma delas que insistiu parecer com o diretor Hiroki.
De olhos fechados, eu apenas senti que algo bloqueava a luz solar. Esse algo chegou mais perto e senti lábios encostarem em minha testa. Sorri, achando serem os lábios da minha amada namorada. Mas, para minha surpresa, quando abri os olhos não foi a quem eu vi.

Aimi?! — assustado, levantei num pulo e me afastei dela, me pondo de pé. Involuntariamente, olhei para os lados para ver se a não tinha visto, mas não a vi. Voltei meu olhar para a Aimi, que me encarava serenamente.
— Olá, — por que eu estou tão nervoso? Por que meu coração não para de acelerar?! Eu estou tendo um ataque cardíaco, socorro. — Você continua muito bonito. — o sorriso de Aimi, de canto de boca, me deixou desconcertado. Não sei se é pelo fato de eu não vê-la a muito tempo. Ou será que ainda sinto algo? Não, definitivamente eu não sinto mais nada por ela!
— O que faz aqui? E por que me beijou? — o fato da minha voz ter saído esganiçada me irritou profundamente. Não demonstre nenhuma fraqueza, ! Não na frente da sua ex.
— Eu voltei do exterior, cheguei hoje de viagem — respondeu ela.
— Isso eu notei — tentei me acalmar mais e tentar me livrar do pânico do primeiro impacto de tê-la visto de volta. — Quero saber o que faz aqui?! — falei e apontei para o parque ao nosso redor.
— O parque é público, .
— Isso eu também sei — ela fez uma expressão óbvia e sorriu.
— Senti sua falta, sabia? — ela disse, de repente e minha tranquilidade, que até então já estava estável, saiu dos eixos novamente.
— Sentiu minha falta? — ri involuntariamente. Comecei a gargalhar e parei bruscamente para encará-la. — Você só pode estar brincando comigo, não é?
— Não estou, , eu…
— Meu nome é ! — falei mais alto do que pretendia. Ajeitei meus óculos de grau no rosto e acalmei minha voz. — Se puder me chamar de , agradeço.
— Já fomos íntimos, não precisamos dessa formalid…
— Fomos do verbo "não somos mais". — interrompi.
— Podemos ser nov…
— Nunca! Nunca mais existirá "nós dois", Aimi. Eu estou feliz agora, por favor, não tente estragar minha vida novamente. — eu não estava mais nervoso de medo, meu nervosismo agora era de raiva pela audácia das palavras dela. — Aimi, como ousa falar isso depois de ter ido embora? — meu tom de voz saiu com muita mágoa. Mágoa essa que eu não queria sentir. Um ressentimento grande por tudo que vivi ao lado dela.
— Eu amo você, . — voltei a rir. Amor… essa foi boa.
— Ama? — soltei uma risada abafada e prossegui: — Se me amasse, você ao menos se importaria em ter me avisado sobre seus planos, por mais que eu não estivesse incluído neles. Você nem cogitou a possibilidade de continuarmos noivos mesmo à distância. Simplesmente foi embora, Aimi.
— Eu queria…
— Aimi, eu não quero falar disso. Já passou e eu já superei sua ida, ok? Eu realmente estou feliz agora e não preciso desse tipo de conversa, pois não há possibilidade de volta no nosso relacionamento.

Aimi sorriu e abaixou a cabeça. Por cima do ombro dela, eu pude ver o semblante da parado atrás dela. Meu coração gelou, involuntariamente. A expressão de choro de era nítida. Ela segurava dois potes de sorvete, um em cada mão, provavelmente de nossos sabores favoritos: baunilha e chocolate.
Passei pela Aimi, que segurou meu braço, me impedindo de andar até a .

— Me solta, Aimi — eu disse, tranquilamente.
… — a voz fraca de chegou até mim e eu me senti muito culpado por estar naquela situação, por mais que não tenha acontecido nada demais. Aimi se virou e jogou o olhar entre e eu, parecendo entender que temos um relacionamento.
, não vai… — dessa vez, foi a minha vez de jogar o olhar incrédulo para a Aimi, que me encarou de volta ainda segurando meu braço.
— Jamais voltaria para você, Aimi. Nunca! Com licença… — puxei meu braço do aperto dela e fui até que ainda estava paralisada.

Abracei pelos ombros e caminhei com ela para longe da Aimi.
Estamos a quase dez minutos andando pelo parque adentro calados. Achamos um dos playgrounds onde tinham poucas crianças brincando e nos sentamos em um dos bancos. Imóveis, ficamos sentados um ao lado do outro sem dizer nada.

… — resolvi quebrar o silêncio incômodo. Eu queria dizer que não aconteceu nada, mas eu não conseguia. Por que eu não conseguia? Um medo enorme de soar como uma desculpa esfarrapada. — Eu…
— O que a Aimi queria, ? — colocou os potes de sorvete no banco ao lado dela e se virou para mim.
— Ela queria voltar… queria reatar nosso relacionamento. — um nó gigantesco travava minha garganta. Quase não consigo respirar.
— O que? Depois de… depois de te deixar, de falar que você era fraco, ela queria reatar? Quase dois anos depois? ! — a indignação na voz dela era notável.
— Eu jamais voltaria para ela, ! Eu amo você! — segurei suas mãos e a fitei, sem desviar o olhar — Você é a única garota em meu coração e no meu mundo. Eu quero viver minha vida sempre tendo esses sentimentos por você. Só por você! Eu quero ter isso com você… — olhei para as crianças brincando no parquinho e ela fez o mesmo.
… — voltando a olhar para mim, completou emocionada: — Quer casar comigo?

Com o coração saltitando sem parar dentro do meu peito, eu quase chorei. Dizendo o "sim" mais certeiro de minha vida, eu abracei ela forte. Nos beijamos em seguida com muita emoção envolvida.
O beijo do "sim".

[🌸]

6 anos depois…

Mais um domingo de Sol e céu azul na cidade. Mais um domingo em que e eu viemos ao parque próximo à estação de trem. Nosso parque.
Dessa vez, temos a companhia de nossos filhos. Ren e Ichiro, com 5 e 4 anos de idade, respectivamente. Desde que eram bebês, nós os trazemos até aqui para brincar e respirar um pouco de ar puro. Claro que também levamos eles para o ar mais puro do país, vulgo cidade onde meus pais moram. Porém, com a correria de nossos empregos quase não nos sobra tempo para viajar até o interior do país para visitar meus pais.
ainda é chefe de Marketing da mesma empresa onde nos conhecemos. E eu? Bom, virei chefe de TI da mesma empresa, é meu braço direito, ele está muito orgulhoso disso e usa seu cargo para tentar namorar as estagiárias da empresa. não tem jeito, realmente.
Ajudei a sentar- se no banco, o sétimo mês de gestação sempre foi difícil para ela. Dessa vez, teremos uma garotinha, nossa Sayuri. Os meninos brincavam no parquinho e eu fiquei apenas observando e curtindo a brisa fresca que fazia.

— Aqui continua muito bonito nessa época, não acha? — questionei para a e segurei sua mão.
— Muito! Vou sentir falta daqui e creio que os meninos também — comentou, observando os meninos correndo um atrás do outro pelos brinquedos do parquinho.
— Vão sim, mas tenho certeza de que lá terá um parque como esse. — eu disse e ela concordou com a cabeça.

e eu, agora que está próximo do nascimento da Sayuri, vamos nos mudar para uma casa que fica na cidade vizinha. Lá terá mais espaço do que em nosso atual apartamento. Três crianças, dois gatos e dois adultos realmente precisam de espaço.
Desde que conheci a , que começamos a sair e que me apaixonei por ela, que aquela sensação de vazio que eu sentia pelo término repentino com a Aimi, passou. Não que eu ache que todos que passem por situação parecida que a minha precisem de um novo amor para superar. Porém, no meu caso, caiu como uma luva minha aproximação com a . Ela é realmente incrível e tudo que eu precisava.
A presença dela fez nascer uma flor em meu coração asfaltado*. Metaforicamente falando, é claro.

NOTA: *Referência à capa do CD da Luck Life entitulado "Lily", que traz a imagem de uma flor saindo da rachadura do asfalto.

"...Não estou mais olhando pra trás
O que eu tenho? O que eu poderia fazer?
À procura dessas respostas
Irei atrás do futuro"


Lily, Luck Life



Fim.



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Nota da autora: Meu Deus, finalmente acabei essa nenê de fic! Desde que vi a tradução que eu queria escrever a respeito de LILY, é uma música muito especial para mim, pois é um dos encerramentos de um dos meus animes favoritos: Bungou Stray Dogs (tem referência dele em um monte de fic minha agora kkkkkkk).
Espero que tenham gostado, de verdade ❤

Beijos! ✨
#26ers





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