O local que Johnson havia nos levado era bonito, era um salão grande onde muita gente dançava no centro, nas laterais haviam mezaninos rodeando o local e em cada escada havia um segurança. Estávamos em um desses, com poucas pessoas lá dentro, mulheres bonitas, vestidos curtos e homens com coquetéis em mãos. O público era majoritariamente LGBTQIA+, eu nunca tinha visto tanta gente bonita por metro quadrado. Era uma fama do Brasil que realmente se concretizou: todo mundo era muito bonito e simpático.
estava... Como eu posso dizer? Perfeita? Meu corpo nunca desejou tanto o seu, e a mistura de álcool com sua roupa sensual, e seu sorriso encantado em minha direção faziam minha cabeça ficar zonza. A música que tocava era sempre um POP alegre e, quando tocava Britney Spears, o pessoal lá de baixo parecia enlouquecer e a gritaria começava. Johnson às vezes nos deixava ali, indo lá embaixo com seus amigos, reclamava que ali estávamos de “casalzinho” e ele queria aproveitar. E não tinha como negar aquilo, já que dançava comigo e Tobey e Gaby não se soltavam por nada no mundo.
Provavelmente algumas fotos daquele momento iriam rolar na internet, então eu e conversamos antes de irmos sobre não fazer nada que pudesse estragar sua recém imagem na internet ou causar um alvoroço desnecessário entre os fãs de Zendaya que ainda não aceitaram nosso término, então nossa dança era no estilo dois amigos se divertindo, sem muito contato de nossos corpos o que era realmente uma pena, pois o que eu queria era levá-la a um canto mais reservado e beijá-la até que ela dissesse para irmos para casa terminar o que iniciamos.
A noite continuou tranquila, em um certo momento fomos lá embaixo nos divertir com alguns amigos de Johnson, batemos algumas fotos com quem nos reconheceu e em um certo momento da noite, vi chamando Gaby para ir com ela ao banheiro e as duas se afastaram. Eu e Tobey subimos para o camarote novamente e ficamos olhando todos lá embaixo e comentando sobre as fantasias mais legais, eu e ele não fomos fantasiados, já que não estávamos com roupas nas malas para este tipo de evento e o local onde estávamos hospedados não tinha uma loja de aluguel de fantasias.
Gaby voltou sozinha, em seu rosto uma expressão que não consegui decifrar, mas a urgência em seus movimentos ao falar no ouvido de Tobey me fez ficar alerta.
— Vem. – Tobey apenas me disse de cara fechada, e segui os dois sem entender muito bem o que houve.
— O que houve? Cadê a ? – Perguntei e não recebi respostas.
A cena que eu vi em minha frente me assustou um pouco: havia um homem no chão, segurando a testa com força, gritando coisas na direção de que não entendi, seu supercílio sangrava e estava respondendo ele à altura, berrando palavras rápidas e astutas.
Um segurança chegou logo depois, segurando pelo braço e levando-a para longe do homem caído.
Gaby conversava com ele explicando a situação, e outro segurança pegou o homem e o levou para longe dali, assim conseguimos nos aproximar dela, corri junto com Tobey e ambas ainda conversavam em português com o segurança. parecia estar bem e mesmo assim meu coração parecia querer sair pela boca.
— Você está bem? – Consegui perguntar acariciando seu ombro, próximo de seu ouvido. Ela apenas acenou com a cabeça, enquanto ainda explicava algumas coisas ao segurança.
Alguns minutos de conversa foram o suficiente para o segurança liberar ela, algumas mulheres ao redor de nós aplaudiram e ela riu acenando para todos e comemorando.
Tobey a abraçou e perguntou se ela estava realmente bem.
Todo o ocorrido não durou mais do que dez minutos.
— O que diabos aconteceu?! Eu deixo vocês sozinhos por dez minutos e a nocauteia um macho? – Johnson se aproximou de nós, a fofoca já havia corrido pelo local.
— Cadu. – Gaby falou sem realmente explicar muita coisa.
— Não acredito que aquele stalker te seguiu até aqui! Ele é DOIDO! – Johnson disse pondo as mãos sobre a boca.
— Desculpe, quem é Cadu? – Tobey perguntou o que eu estava prestes a perguntar.
— É o ex tóxico da , o cara é doidão real. – Gaby disse, girando o dedo sobre a orelha.
— Você está bem? – Voltei a perguntar a ela, dessa vez deixando claro que estava realmente preocupado com a situação.
— Estou sim. Fiz aulas de defesa pessoal. A cabeça só vai doer um pouco amanhã. – Ela brincou, esfregando o topo da testa, onde provavelmente atingiu a cabeça dele.
— Merda, , você quer ir embora? – Perguntei mais baixinho para que apenas ela ouvisse, meu coração ainda palpitava de modo diferente pelo susto.
— Na verdade, eu quero, vou falar com eles... Você vai comigo? Não quero ir sozinha.
— É claro. – Mal sabia ela que eu estava literalmente do outro lado do mundo apenas por sua causa. Eu iria aonde ela quisesse que eu fosse.
Algo naquele momento me dizia que estava feliz em estar sozinha comigo, os sinais estavam todos ali. Voltamos no Uber rindo de todo o acontecido, eu a apelidei de Tyson, suas mãos não paravam quietas, me tocando a todo momento. Minhas mãos, meu ombro, meu rosto... Cada toque seu fazia a porra do meu peito incendiar, e como se isso não fosse o suficiente, e eu estávamos levemente embriagados, eu sabia que era levemente pois tomamos exatamente as mesmas bebidas na festa e, bom, eu era nitidamente mais fraco para bebidas do que ela, então, se eu estava levemente bêbado, ela tinha que estar levemente menos bêbada do que eu.
E eu gostava de estar levemente bêbado com ela.
Chegamos na casa em que estávamos hospedados e eu simplesmente não podia aguentar mais, tinha que tomar aquela iniciativa. Ela abriu a porta para entrarmos e, puxei sua mão quando ela adentrou o ambiente, puxando-a contra mim, fazendo nossos troncos se chocarem com a força que fiz para puxá-la.
Aquele momento não precisava de palavras, eu já estava suficientemente nervoso, e se arriscasse soltar algumas palavras, podia ser a deixa para ela fugir de mim. Eu não a queria fugindo de mim, e por um momento, meu coração dizia que ela não fugiria de mim, mesmo que eu falasse algo completamente fora de contexto.
Ela me encarava, aquela porra de olhos absolutamente estonteantes, seu hálito alcoólico batia em meu rosto e eu sabia que aquela era a deixa para beijá-la. Assim o fiz, colei nossas bocas com a urgência que meu corpo pedia, minhas mãos apertando sua cintura nua enquanto suas mãos embrenhavam-se em meus cabelos perfeitamente penteados com gel (penteado feito por Johnson).
O beijo foi denso como jamais tinha sido, eu podia sentir a sua intensidade pairando no ar, sua língua misturando-se com a minha com um encaixe que eu diria ser muito próximo da perfeição. Empurrei-a cegamente pelo cômodo de entrada, nossos corpos tão sincronizados que eu simplesmente sabia que em algum momento encostaríamos em algo que daria para apoiar.
As mãos dela estavam inquietas, entre meus cabelos, meu pescoço e ombros, nossas bocas ainda estavam emaranhadas em uma merda de beijo delicioso, minhas mãos estavam presas em sua cintura com força, meus dedos afundando em sua pele macia, puxando-a o máximo que eu podia para perto de mim. Seu corpo trombou com algo sólido, partiu o beijo para ver o que era, senti meus lábios pulsarem em uma reclamação contida de renúncia, a bunda de havia batido na mesa de jantar. Ergui-a pela cintura com facilidade, sentando-a na mesma, não perdeu tempo, puxando-me com as pernas e fazendo nossas virilhas se chocarem. Porra. Eu estava explodindo de tesão com aquela amostra sexy de Britney Spears que me olhava com desejo.
— . – Consegui reunir em meu cérebro, um pouco de sanidade para finalizar uma sentença. – Se eu ultrapassar esse limite, não sei se consigo parar. – Avisei-a sem delongas, a garota em minha frente sorriu, os belos dentes moldados com seus lábios borrados, aquilo significava algo importante: estava ciente do que aconteceria e queria aquilo tanto quanto eu.
Ao contrário do que eu esperava, desceu da mesa, e guiou-me pela sala, chegando na porta de vidro que arrastou para o lado e quando estávamos na beira da piscina, a garota me empurrou. Emergi com velocidade o suficiente para vê-la retirar as botas, descer o short, deixando uma calcinha preta de algodão à mostra e não perdi tempo desabotoando minha camisa. era a porra de uma gostosa de carteirinha. Ela desceu na beirada da piscina, sentindo a temperatura com os pés antes de mergulhar, a água estava morna, tão deliciosa quanto a mulher que se aproximava de mim com um olhar malicioso nos olhos.
Seus braços contornaram meu pescoço e ela uniu nossas bocas novamente, o gosto de cloro adentrou minha boca com suavidade junto com sua língua, e minhas mãos foram parar em sua bunda como a porra de um imã, ela não contestou, e por esse motivo dei um apertão forte puxando-a para mais perto de mim. Seus lábios desceram para meu pescoço, causando-me arrepios em minha espinha enquanto minhas mãos passeavam por seu corpo, chegando ao fecho de seu top, que parecia ser igual o fecho de sutiã normal, só que com mais ganchinhos. Iniciei a abertura de cada um, em uma concentração falha, enquanto sentia sua língua passeando pelo meu pescoço. Soltei o top e minhas mãos seguiram para seus seios magneticamente assim como antes, eram lindos e cabiam na palma da minha mão com perfeição como se tivessem sido desenhados para estarem ali. Ouvi suspirar em meu ouvido quando desci meus lábios para seu pescoço com o intuito de descer até seus mamilos e foi o que eu fiz. Suguei-os com voracidade, ouvindo seus gemidos leves em meu ouvido me fazendo ficar mais duro ainda.
Ela agarrava meus cabelos com força, enquanto a empurrei para a borda da piscina ainda com minha boca em seu colo. Levei minhas mãos até minha calça e desafivelei o cinto enquanto subia meus lábios por seu pescoço, buscando sua boca novamente.
segurou meu rosto com as duas mãos, seus dedos firmes em minha nuca.
— Tom, eu preciso de você dentro de mim agora. – Sua voz era autoritária e fez meu pau pulsar com intensidade.
— Fuck. – Gemi fazendo-a rir. Retirei minha calça com a agilidade que consegui dentro da água, não retirei minha cueca ou sua calcinha, fiz exatamente o que ela pediu: segurei meu membro enquanto afastava sua calcinha para o lado e a penetrei com força. Juro que vi estrelas.
Seu gemido ressonou em meu ouvido e ela colou nossas bocas quando movi meu quadril, e enrolou as pernas em minha cintura, ajudando-me com o movimento. Misturei nossas línguas novamente enquanto meu corpo entrava e saía do seu, minhas estocadas fazendo meu interior se torcer de prazer, enquanto eu ouvia alguns gemidos fugindo de sua boca.
desceu seus beijos para meu pescoço e levei minhas mãos até seu quadril, mantendo o ritmo das estocadas adequado, ela apoiou sua teta em meu ombro, puxando o ar com dificuldade.
— Porra. – Ouvi a palavra em português fugir de seus lábios e levei uma de minhas mãos até sua vulva, porém percebi que seu clitóris estava coberto por sua calcinha, não me veio outra ideia a não ser simplesmente rasgar a peça mínima de roupa que estava nos incomodando. me olhou assustada por um segundo e depois sorriu sacana mordendo o lábio inferior.
Fechei os olhos por um segundo respirando fundo para não estragar a festa antes da hora. Merda.
Respira Tom. Você quer isso há muito tempo para estar querendo gozar cedo demais.
Abri os olhos e voltei a fazer o que estava querendo, pus meu dedão em seu clitóris e fiz movimentos circulares com leveza. fechou os olhos com força, abrindo a boca sem fazer som algum, aquilo me dava um tesão dos infernos.
Mantive as estocadas firmes e fortes, já que a água prejudicava minha velocidade, gemia abertamente agora, cada um de seus gemidos entrando em meu ouvido como um mini orgasmo, fazendo com que eu mesmo segurasse alguns gemidos. Confesso que o fato de sermos pegos a qualquer momento deixava tudo mais delicioso e meu ápice veio quando disse as seguintes palavras:
— Continua assim que eu vou gozar. – Sua voz era leve e dengosa, os olhos fechados com força e as mãos firmes apertando minha nuca.
Aquilo foi como música aos meus ouvidos e continuei pondo força em meu quadril, guiando meu dedo em seu clitóris e socando fundo sentindo minhas bochechas esquentarem quando ouvi seus gemidos alterados e suas unhas fincando em meus ombros, aquela cena de gozando, as pernas tremendo em volta de minha cintura e seu tronco arqueando-se para trás, fez meu pau vibrar soltando todo meu tesão acumulado de semanas dentro daquela garota perfeita.
Respiramos fundo por alguns segundos, sorriu abertamente acariciando a lateral do meu rosto.
— Vamos para o meu quarto? – Perguntou ela depois que recuperamos o fôlego.
— Não precisa me pedir duas vezes.
Mais tarde, transamos mais uma vez durante o banho para tirar o cloro da piscina e, pela primeira vez nesta viagem, finalmente tive uma noite de sono tranquila e confortável sentindo o cheiro dos cabelos molhados de salpicando meu rosto enquanto minha mão pousava suavemente em sua cintura e ela dormia serena de costas para mim.
Acordei assustado ouvindo um grito que supus ser de Johnson. Vi que também pulou ao meu lado.
- O que foi isso? – Ela perguntou zonza. Seu rosto amassado de sono era adorável.
Ouvimos o grito novamente.
Levantei em um pulo, nem perdi tempo buscando minha camisa, apenas meu short de banho com desenhos de pêssegos me pareceu decente no momento. levantou-se comigo, usando minha camisa preta que eu poderia ter perdido tempo procurando, saiu do quarto tão assustada quanto eu e corremos até de onde parecia ter vindo o grito.
— Amiga, graças a Deus você apareceu! – Johnson disse rápido, nos guiou até a área da piscina.
Tobey e Gaby apareceram tão amassados e sonolentos quanto nós.
— O que será que aconteceu aqui???!
Johnson perguntou dessa vez falsamente preocupado, e engatou uma risada maldosa e histérica. Juntou do chão o top encharcado de , o short amontoado e fez questão de se ajoelhar ao lado da piscina para alcançar minha calça que estava dentro da água, porém próxima da superfície. Minhas bochechas queimaram, dei as costas para todos sentindo o calor subir pelo meu pescoço.
— Johnson, você é uma vadia. – exclamou com a voz esganiçada e arrancou a minha calça ensopada da mão de Johnson que ria com tanta vontade que lágrimas corriam por seu rosto. Não tive coragem de encarar Tobey, apenas segurei pelo ombro e guiei-a para dentro de casa.
— Ahhh, não, é brincadeira gente! – Johnson berrou ainda em meio aos risos.
— Johnson, você não vale um centavo. – Gaby disse com a voz trêmula, segurando o riso e quando eu e voltamos para o seu quarto, caímos na gargalhada. Ambos nervosos e com as bochechas coradas, não demos a moral de rir na frente de Johnson, mas assim que estávamos em um ambiente seguro, rimos feito dois idiotas, as gargalhadas altas fazendo nossos corpos perderem força.
Depois de nos recuperarmos das risadas, decidimos que era hora de sair e encarar as consequências de transar na piscina e simplesmente largar nossas roupas lá.
— Bom dia. – A voz foi de Tobey, e ecoou pela cozinha com um tom ligeiramente mais sério do que estávamos acostumados... Ou seria coisa da minha cabeça?
Percebi que todos já estavam sentados à mesa e que havia um homem negro bem-apessoado ao lado de Johnson.
— Bom dia. – Eu e dissemos juntos.
Johnson conversou em português com o homem, e em algum momento eu ouvi meu nome, sorri e acenei para ele que retribuiu animado.
O café foi leve, e antes de eu me levantar da mesa para escapar daquele momento ligeiramente constrangedor (pelo menos em minha cabeça, parecia ser), Tobey levantou-se junto comigo e me chamou para conversarmos.
— Tobey, pega leve com o garoto, a última vez que você foi conversar com alguém na praia a pessoa voltou desmaiada. – Gaby disse ainda sentada, com um sorriso doce no rosto. Vi o semblante de Tobey amolecer um pouco e suspirei aliviado, vendo piscar para mim enquanto eu saía pela porta da frente.
— Cara, relaxa. – Tobey disse assim que chegamos na praia. Aquele lugar ainda me parecia surreal, admirei a paisagem respirando fundo. – Não estou aqui para brigar contigo, eu sou adulto, você é adulto e é adulta. Eu só... Estou preocupado.
— Preocupado? – Perguntei sem saber exatamente o que dizer.
— É, preocupado com você.
— Comigo? – Por que ele estaria preocupado comigo?
— Sim, Tom, estou preocupado contigo. Preocupado com o fato de que você é uma criança, e está se apaixonando pela minha irmã.
— Você acabou de me chamar de adulto. Agora sou criança? Tob, não estou entendendo muito bem o que você quer dizer. – Uni as sobrancelhas e o acompanhei, já que ele havia começado a caminhar.
— Tom, eu quero dizer que talvez você esteja se apaixonando pela e não sei se ela está preparada para isso.
— Eu não estou... – Minha voz foi perdendo a intensidade, porque sim, eu sabia que estava me apaixonando por ela. – Merda. Está tão evidente assim?
— Está. Mas está tudo bem, sabe? Eu só estou preocupado que talvez vocês não estejam na mesma sintonia. Você já conversou sobre isso com ela?
— Tobey, eu mal tinha conseguido beijá-la de verdade até ontem.
— Aaah cara, então você está, com certeza, com problemas. – Tobey disse, pondo a mão em meu ombro.
— É, tipo, a gente já tinha se beijado, mas não tinha sido algo realmente sério.
— Eu sei, é só que... Eu gosto de você Tom, e acho que você possa estar entrando de cabeça em um território preocupante.
— Você sabe que esse território é a sua irmã, não é?
— Sim, e eu a amo demais. É só que é bem crescidinha, sabe? Muito bem decidida. E eu não quero que você se machuque com isso. Não acho que você vá machucar ela, nesse caso acho que você pode acabar se machucando.
— Você acha que ela não quer nada comigo?
— É, acho que essa pode ser uma opção da qual você possa estudar um pouco.
— Entendi. Então você não está bravo por eu...?
— Ter dormido com minha irmã? Deus, não. Ela é dona da vida dela. Não fiquei bravo com Andrew, por que ficaria com você?
— Com Andrew?! – Merda, eu tinha minhas desconfianças de que isso pudesse ter acontecido, mas nunca tive uma confirmação realmente oficial. Johnson nunca me contou.
— Oh, merda. – Tobey disse, virando o rosto para não olhar para mim.
— Está tudo bem, eu já... – Perdi a fala por um instante e isso não me ajudou em nada. – Eu já imaginava, só fui pego de surpresa.
A insegurança deu as caras, apertando meu peito por um segundo. E se estivesse nesse momento comparando minha transa com a de Andrew? E se ele fosse melhor? E se ela tivesse finalmente decidido que eu não valho nada? Que eu era a porra de uma criança e que Andrew era um cara muito mais maduro e completo do que eu jamais seria?
Meus passos acabaram ficando mais lentos e Tobey parou de andar olhando para trás.
— Tom, não entra em paranoia. – Disse pondo a mão em meu ombro novamente, me encarando com os olhos azuis preocupados.
— E se... E se ela perceber... E se ela ver que Andrew é muito melhor do que eu?
— Não, cara, tira isso da cabeça. Você está aqui, você veio! Esquece o Drew. Você é a pessoa que ela está agora. Hoje. Pensa no hoje.
Respirei fundo enquanto Tobey ainda falava algo que eu não estava mais ouvindo.
Merda.
Ela não ficaria comigo caso estivesse em algum tipo de relacionamento ou com algum tipo de sentimento pelo Andrew, certo? Não me parece o tipo de coisa que ela faria. Mas, o que eu conheço sobre ela? Foi apenas uma paixonite besta pela irmã do meu amigo. Eu não estou me apaixonando por ela, eu mal conheço ela!
É isso. Eu posso lidar com isso. Não estou apaixonado pela .
Não estou. Não estou. Não estou. Quantas vezes tenho que repetir para começar a acreditar?
— Está tudo bem Tobey, relaxa. Eu só me desliguei por um momento.
Tobey parecia preocupado comigo, então tentei dar meu melhor sorriso.
— É sério. Está tudo bem. Eu vou conversar com ela, está bem? Vou ver a que pé estamos e vai dar tudo certo. Não se preocupe comigo e obrigado pelo toque. Acho que eu estava mesmo precisando de um “empurrãozinho”.
Ele sorriu.
— Você é meu amigo Tom, eu só quero o teu bem e o da minha irmã.
— Você teve alguma conversa assim com Andrew?
— Tive algo parecido. – Tobey apenas disse, rindo como se lembrasse da conversa. Vi que ele não falaria mais nada sobre aquilo e preferi mudar de assunto.
Continuamos conversando e caminhando até chegarmos ao fim da praia e voltamos, não era muito longe já que a vegetação fechava o caminho.
Na casa, Gaby e haviam ido ao mercado comprar os ingredientes para o almoço e Johnson havia se despedido de seu ficante. Enquanto Tobey ia para dentro trocar de roupa para irmos até a praia, Johnson me chamou em um canto, ainda risonho, e me parabenizou pela calcinha rasgada, alegando que havia escondido para que Tobey não visse e me dizendo que estava feliz por finalmente ter encontrado um cara que ela merecia na cama. Demos boas risadas até que as meninas chegassem e ajudamos a fazer o almoço.
Durante nossa ida vespertina na praia, engatamos em uma conversa sobre o acontecido na noite anterior e explicou para mim e para Tobey sobre Cadu, seu ex-namorado: eles se conheceram em uma academia e engataram um relacionamento casual, depois de seis meses de um homem completamente dedicado, educado e carinhoso, ele a pediu em namoro e aceitou. Namoraram durante mais seis meses até ela perceber que ele era possessivo, agressivo e assustador. Ela tinha medo dele a todo momento e manteve o relacionamento preocupada com o que ele podia vir a fazer se ela pedisse para terminar.
Foram Johnson e Gaby que a convenceram a finalizar aquele namoro fadado ao fracasso, já que ele era ciumento e fazia chantagem emocional para que não visse mais seus amigos.
Eu e Tobey ouvimos cada detalhe assustados e atentos.
— Quando eu terminei com ele, foi a primeira vez que ele me machucou psicologicamente. Ele sempre me proibia de usar algumas roupas, ou até mesmo batons chamativos, mas nada foi tão impactante quanto as palavras dele dizendo que ia me matar e se suicidar se eu não continuasse namorando ele. – disse catando conchinhas do mar do chão e colocando sobre sua coxa em linha reta. – Saí de lá correndo para a delegacia da mulher, fiz um boletim de ocorrência contra ele, e mais tarde recebi uma ordem de restrição depois que consegui provar que ele me perseguia, por muita sorte, o irmão do meu padrasto é policial e me passou seu número pessoal para que eu ligasse para ele sempre que eu me sentisse ameaçada. Foi muito gentil da parte dele.
— A ordem de restrição ainda está valendo? – Perguntei preocupado.
— Sim, foi isso que estávamos tentando explicar ao segurança ontem à noite. – Ela suspirou.
— É, mas agora a luta mais que o Bruce Lee e nocauteou o palhaço. – Johnson disse empurrando pelo ombro, fazendo-a sorrir.
— Eu fiz vários cursos de autodefesa, consigo imobilizar um homem com até duas vezes o meu peso. – disse, suas bochechas corando violentamente.
— Isso, sem contar a habilidade com as facas, né? – Gaby disse rindo. – Vocês tinham que ter visto ontem, ele deu um puxão no braço dela e quando viu que era ele, ela só apertou a mão dele de um jeito que ele simplesmente ficou de JOELHOS e deu uma puta cabeçada nele. Foi incrível, , todas as mulheres ao redor vibraram!
— Minha melhor amiga é a porra da Mulher Maravilha! Ícone aclamada! – Johnson abraçou o pescoço de e o clima da conversa ficou mais ameno. Mesmo com o tom de brincadeira de todos, notei que Tobey estava incomodado com aquilo e não posso fingir que não estava também.
era a porra de uma mulher incrível, me incomodava demais saber que algum babaca havia a machucado daquele jeito, era óbvio que ela estava bem, dava para ver em seus olhos que sim, mas aquilo não apagava a bagagem que ela carregava: mais uma mulher que agora fazia parte da porcentagem de mulheres que já sofreram violência dos parceiros.
Me levantei de supetão e estendi minhas mãos para , ela segurou-as e a puxei para cima, seguimos para a água em silêncio.
— Você está realmente bem? – Perguntei quando a água morna porém agitada batia em meu peito. ficava linda com o cabelo molhado puxado para trás.
— Estou sim, Tom. Se isso tivesse acontecido há um ano, eu teria ficado apavorada. Mas fiz bastante terapia, e fiz o que era possível para me defender.
— Você é incrível, , porra, cada vez que eu conheço um pouquinho mais sobre você, eu acabo ficando mais encantado.
Ela sorriu, um sorriso adorável que me derreteu inteiro, e acariciou a lateral do meu rosto antes de aproximar nossos corpos e colar nossas bocas.
Existe alguma remota possibilidade de eu não me apaixonar por ela?
— Tom. – Ela me chamou, interrompendo o beijo que nem chegou a se aprofundar. Ela estava com as pernas ao redor da minha cintura, minhas mãos repousavam em suas coxas, não era de maneira alguma uma posição sexual, mas eu gostava do contato que estávamos tendo. – Acho que preciso conversar algo com você.
Aquele timing perfeito com a conversa de Tobey me fez repensar se ele havia conversado com ela também.
— Claro. – Afastei meu tronco do dela e ela fez o mesmo, ficamos assim, na mesma posição com certa distância um do outro para que pudéssemos nos encarar.
— Eu não sei exatamente como dizer isso, Tom, não quero de maneira alguma que você me entenda errado, mas... Eu preciso que você saiba que eu não estou pronta para um compromisso mais sério.
— Você diz... Tipo um namoro?
— É, eu sei que o que nós estamos vivendo agora não tem um rótulo definido, nem estou supondo que você esteja pensando nisso. Eu só quero deixar claro que realmente não é o momento. – Ela disse, os olhos de cores diferentes penetrando minha alma, queimando meu interior com seu calor.
Confesso que este assunto já havia rondado minha mente uma vez ou outra, porém eu sabia que era apenas uma criação de minha cabeça. Agora, com ela falando aquilo, meus pés firmavam-se no chão, descendo das nuvens das quais minha mente havia colocado.
— Eu entendo, , não se preocupe. Vamos só... Curtir o momento. – Afirmei dando um sorriso de boca fechada e ela assentiu.
— Me desculpa puxar esse assunto do nada... É só que eu acabei me fechando bastante para relacionamentos desde o ocorrido com Cadu, é um mecanismo de defesa perfeito para não sair mais machucada. Sempre que eu vejo que algum relacionamento meu está ficando um pouquinho que seja mais sério, alguma sirene já toca em meu cérebro.
Era completamente compreensível, e saber que ela estava sendo madura o suficiente para me falar aquilo sem qualquer tipo de enrolação só me mostrava o quando era especial.
— Está tudo bem, ok? Você tem todo o direito de sentir o que quiser, sou a última pessoa que vai te forçar a algo. E obrigado por compartilhar isso comigo.
— Obrigada por entender, Tom. – Ela disse suspirando e sorrindo em seguida. Eu sorri com ela e percebi que o assunto havia acabado ali.
— Você sabia que Johnson me chamou hoje para me parabenizar pela calcinha rasgada? – Mudei de assunto, fazendo-a gargalhar alto.
— Alguém precisa parar o Johnson!
Continuamos conversando na água até nossos dedos ficarem murchos, nossos amigos logo se uniram à nós e as risadas foram garantidas até o entardecer.
O assunto do ex de não foi mais citado e à noite fomos levados a um restaurante que servia pizza a vontade, todos os sabores possíveis e imagináveis foram oferecidos e eu comi até minha barriga começar a doer.
me chamou para dormir em seu quarto.
É, seria bem mais difícil do que eu esperava manter minhas expectativas baixas.
As férias de meu irmão e de Tom passaram mais rápido do que eu queria realmente aceitar. Há uma semana, Johnson havia se despedido de nós, pois precisava voltar a trabalhar. Agora estávamos todos a caminho do aeroporto.
Tobey e Gaby estavam tão consolidados quanto uma rocha, faziam tudo unidos como um casal fofo deve ser e, a cada momento que passavam juntos, eu percebia que aquele relacionamento seria duradouro, só não sabia exatamente como iria funcionar, porém estava na cara que eles dariam um jeito.
Eu e Tom não estávamos no mesmo patamar que eles, tínhamos a intimidade de um casal, mas no fundo sabíamos que não passava de um namoro de verão.
Na verdade, eu havia deixado aquilo bem claro para ele.
Ele não queria aceitar no começo, não forçou nada, não disse nada e não tentou nada... Eu só percebia a decepção em seus olhos castanhos doces, não tinham mais aquele brilho fugaz de um garoto apaixonado, aquele brilho que havia no dia do aeroporto, quando ele me beijou de surpresa em nossa despedida. Era apenas o Tom normal que estava ali comigo, o Tom que segurava a minha mão quando íamos caminhar na praia, mas que não segurava quando íamos ao mercado comprar algo para comer. E aquilo me reconfortava, pois era exatamente o que eu precisava naquele momento, o aconchego de alguém por perto sem o sufoco que a palavra “relacionamento” me trazia.
Sinto que sua ficha finalmente caiu quando eu o convidei para ir comigo até a farmácia para comprar uma pílula do dia seguinte.
Seu queixo caiu no chão quando percebeu que havíamos feito sexo sem proteção na piscina, e caiu mais ainda por perceber que eu não queria correr o risco de engravidar dele mesmo sendo famoso e rico. Sorte que ele não teria com qualquer uma, mas não quero entrar nesse mérito. Aquela situação só me mostrava o quão despreparada eu e ele estávamos para o que aconteceu. E a verdade era que eu ainda não estava preparada para qualquer tipo de relacionamento, fosse ele com alguém que pudesse me bancar pelo resto da vida ou não.
, acorda. Você também é milionária agora. Não precisa ser bancada mesmo que quisesse.
Fiz uma nota mental para pesquisar quanto realmente eram trinta milhões de dólares.
Meu relacionamento com Cadu havia me marcado de maneiras tão absurdas que apenas pensar em estar “presa” com alguém me fazia ter vertigem, e depois de algumas conversas que chegaram neste assunto. Tom foi um cavalheiro em me dar o tempo que eu precisava para respirar sem me sentir sufocada.
Toda esta minha bagagem com meu ex tóxico, esta situação financeira incerta, meu futuro completamente em crise e minhas sérias dúvidas em processar o fato de que Andrew Garfield e Tom Holland estavam realmente interessados em mim faziam minha cabeça não desligar à noite, minha psicóloga teria uma semana difícil quando eu finalmente colocar esses dois estrangeiros dentro do avião. Eu não dormia bem há dias, meu coração palpitava estranho durante os momentos em que eu me pegava pensando em algumas dessas situações, principalmente o fato do meu futuro ser tão imprevisível. Não consigo dizer se aquela ligação que eu atendi há tantos meses, que fez minha vida virar literalmente de cabeça para baixo, era uma ligação da qual eu atenderia novamente. Sei que estou sendo dramática (quem, em sã consciência, não iria querer a vida que estou tendo no momento?), mas sair de dentro da concha, da zona de conforto, e encarar o desconhecido é muito difícil! Ter que reconfigurar a sua vida inteira no período de seis meses não era exatamente o que eu estava esperando encontrar quando atendi o telefonema de meu irmão naquele dia. Eu me sentia dormente. Como se não fosse realmente eu que estivesse no controle de mina vida, como se eu estivesse vendo alguém viver minha vida em terceira pessoa, como se eu fosse uma coadjuvante, e o verdadeiro personagem principal fosse algum desconhecido.
— Acho que dessa vez, é realmente um “até logo”, não é? – Tobey perguntou enquanto me abraçava no aeroporto. Havíamos combinado várias coisas, uma delas era que eu iria o quanto antes para os Estados Unidos com o intuito de arrumar meus documentos e legalizar todos os papéis para virar uma cidadã americana e receber minha herança.
— Sempre vai ser um até logo, Tob. Agora não tem mais como voltar atrás. – Brinquei e já ouvi seu fungar em meu ouvido.
— Obrigada por tudo , você foi incrível, nossa estadia aqui foi incrível. Tão incrível que eu não quero voltar. – Ele segurou meus ombros e olhou em meus olhos, seus olhos já estavam marejados.
— Você não quer voltar por causa da sua namorada, não finge que é por minha causa. – Fingi estar indignada enquanto ele virava os olhos para cima.
— Você é impossível.
— Eu também te amo, Tob. Vou tentar arrumar as minhas coisas o mais rápido que eu puder, tá bem? – Beijei seu rosto e ele sorriu me puxando para mais um abraço.
— Vou ficar te esperando.
Gaby e Tobey se despediram com promessas de um novo encontro, de uma nova viagem e de um relacionamento duradouro.
Eu e Tom nos despedimos como velhos amigos, eu havia feito uma conexão com ele nesta viagem, transamos como um casal de adolescentes prestes a serem separados pelos pais a qualquer momento, na piscina, na cozinha, na praia, em banheiros de bares e até no quarto de Johnson (como uma vingança pessoal pelo que ele fez no dia da piscina). Ele era incrível e eu realmente gostaria de manter essa conexão com ele quando eu voltasse à América, caso ele estivesse por lá.
— Você não vai esquecer de mim quando estiver milionária, não é? – Ele me perguntou sorrindo de lado, passando seus braços por minha cintura.
— Só se você quiser que eu me esqueça. – Brinquei, passando meus braços por seu pescoço.
— Nem fodendo.
Nosso beijo foi sem pressa, minhas mãos em sua nuca, suas mãos em minha cintura, não tínhamos mais medo de sermos fotografados nem precisávamos explicar o que estava acontecendo entre nós.
E assim, como em um passe de mágica eu estava sozinha novamente.
Depois que os dois foram embora, pude finalmente começar a colocar as coisas em ordem. Fiz uma publicação fofa com algumas fotos tiradas durantes estes dias no Instagram, um carrossel onde:
A primeira foto era eu e Tobey em minha casa na noite em que ele chegou e dormiu lá em casa, eu segurava Jacquin no colo e Tobey enquadrava a foto em uma selfie.
A segunda foto era eu e Tobey entre meus pais, todos sorrindo para a câmera, quem tirou a foto foi Tom.
A terceira era eu e Tom na praia, seu rosto tinha a marca vermelha característica sobre as maçãs do rosto e o nariz, e eu estava com os cabelos molhados e revoltados, ambos encostando a cabeça uma na outra e sorrindo sem mostrar os dentes.
A quarta foto foi no dia da festa, eu, Gaby e Johnson vestidos de Britney Spears, com pose das Panteras.
E a quinta foto era uma das brigas de galo, onde eu estava sobre os ombros de Tom e Gaby estava sobre os ombros de Tobey, todos estávamos rindo muito.
Na legenda eu apenas escrevi “melhor verão de todos”.
Aproveitando a onda de colocar as coisas em ordem, marquei um horário com minha psicóloga e informei minha mãe que gostaria de conversar com ela e Pedro no próximo fim de semana.
Eu sabia que tinha tudo sob controle, porém nunca me senti mais perdida na vida, o medo, a insegurança e a ansiedade dando as caras: Por mais que eu soubesse tenho dinheiro para ser considerada uma milionária, no momento o saldo da minha conta bancária era de R$ 112,00 (minha rescisão ainda não havia saído). Por mais que eu soubesse que logo eu iria para os Estados Unidos para mexer na minha papelada de imigração, o que eu faria até lá? Colocaria minha casa para vender? Alugaria? Como eu faço para levar um gato para os Estados Unidos? Como vou conseguir ajudar meus pais estando lá? E o meu carro que nem foi pago completamente ainda? E estando lá, irei morar com Tobey? Até quando? Devo comprar uma casa lá? Em Los Angeles? Não é um local muito tumultuado para uma pessoa normal como eu?
Deus, minha cabeça iria explodir desse jeito!
***
— Então, eu preciso conversar uma coisa bem séria com vocês. – Falei enquanto Pedro me servia um copo de cerveja gelada.
— Você está me assustando, . – Minha mãe me olhou desconfiada com seus olhos castanhos.
— Não é algo para se assustar, só quero a ajuda de vocês. – Sorri amarelo com medo da reação que eles teriam.
Esperei que os dois estivessem confortáveis, sentados lado a lado, cada um com seu copo bem servido para iniciar. Dei um gole para umedecer a boca antes.
— Bom, vocês sabem que eu e o Tobey nos reconectamos completamente nesses últimos meses, não é?
Ambos concordaram com a cabeça.
— Nesses dias que ele passou aqui...
— Ele e o britânico gato. – Minha mãe fez o favor de me interromper dando uma piscadinha marota.
— É, ele e o Tom, mas o foco é ele. – Falei não conseguindo segurar uma risadinha. – Nesses dias que ele passou aqui, ele acabou me chamando para uma conversa bem inesperada.
Esperei um segundo para ver se eles iam fazer alguma observação e continuei:
— Tob me disse que o dinheiro do seu pai está guardado em um banco desde que ele morreu e que eu tenho dinheiro à metade da quantia que está lá.
— Puta merda. – Pedro deixou escapar.
— Filha, estamos falando do dinheiro sujo do homem que te abandonou aqui?
— Não é sujo, mãe. É dinheiro.
— Eu sei, eu sei, desculpa, é o hábito. Mas não deixa de ser um dinheiro que ele não queria que você tivesse acesso, não é?
— Provavelmente sim. Mas Tobey quer que eu tenha, é meu por direito. – Expliquei com calma, não queria que ela saísse correndo para fugir dessa conversa.
— Não sei não, ... Isso não me cheira bem. – Minha mãe tinha uma intuição que ela confiava com toda a sua força, às vezes era certeira, e às vezes era só uma pulga atrás da orelha, ela tinha o mesmo trauma de confiança que eu tinha. O que era completamente justificável quando levamos em consideração o que o pai de Tobey havia feito com ela. Mas agora era o momento de dar a volta por cima.
— Mãe, estamos falando de muito dinheiro. Coisa que mudaria nossas vidas para sempre. Um dinheiro que poderia aposentar Pedro e vocês poderiam aproveitar a vida de vocês do jeito que quiserem.
— De quanto dinheiro estamos falando, ? – Pedro perguntou, como qualquer pessoa normal perguntaria. Diferente de minha mãe, Pedro provavelmente pensava "Vamos aproveitar a vida nas custas desse filho da mãe que fez o amor da minha vida sofrer tanto”, e era exatamente o que eu queria que ele pensasse.
— Tobey diz que está na faixa dos trinta milhões de dólares.
Ambos ficaram boquiabertos.
— Eu sei. É difícil de digerir num primeiro momento. – Bebi minha cerveja me divertindo com a cara que eles faziam.
— Filha... É muito dinheiro. – Minha mãe disse me acompanhando na cerveja.
— Você tem certeza disso? – Pedro perguntou ainda boquiaberto.
— Sim. E eu quero aceitar o dinheiro, quero ajudar vocês.
Pedro era marido de aluguel, ganhava a vida fazendo bicos: elétrica, encanamentos, pequenas reformas, consertava eletrônicos, coisas assim. Era um trabalho honesto e ele gostava muito, mas sempre foi autônomo sem carteira assinada, e agora no ápice dos seus cinquenta e poucos anos, estava encurralado para conseguir a sua aposentadoria pois nunca foi realmente regularizado no INSS.
Isso sempre me incomodou muito, mas sempre que eu tentava conversar com ele sobre isso, ele mudava de assunto dizendo que não queria incomodar.
Então sim, agora que a ideia do dinheiro finalmente havia entrado em minha mente por completo, ignorando meu primeiro estágio de negação, eu tinha que ajudar meus pais.
— Olha só, poucas pessoas têm a chance de conseguir retribuir a ajuda e o apoio que seus pais deram durante a vida. Eu tenho essa chance.
— Você não precisa, . – Pedro disse, girando o copo de cerveja em suas mãos.
Mas eu quero<. Mãe? – Chamei-a, já que ela olhava fixamente um ponto na mesa sem dizer nada.
— Querida, como eu vou dizer para você não aceitar esse dinheiro? Eu lutei a minha vida inteira para que você fosse alguém. Você é incrível no que faz e tenho certeza que vai ser alguém mesmo sem esse dinheiro ou seu irmão, mas não posso te pedir para não aceitar esse dinheiro, sendo que tudo eu faço na minha vida é pensando no melhor para ti. – Ela desabafou com os olhos marejados. – Vou estar lutando contra tudo que lutei até agora.
Eu entendia o que ela queria dizer: Não quero que fique com esse dinheiro, mas como posso negar isso se tudo que uma mãe quer é que o filho seja feliz?
— Mãe, é a reparação natural das coisas, essa é a verdade. Demorei para aceitar isso também, mas a vida é assim. Aquele homem fez da sua vida um inferno, agora é a hora dele pagar por isso. – Falei com calma. – E ele vai pagar da maneira certa, estou dentro da lei, e o filho legítimo dele está do meu lado. Ele quer isso também.
— Ela está certa, minha flor. – Pedro disse, acariciando o braço de minha mãe. Acalmando a sua fera interior. – É o correto, é a justiça.
— Você sabe que vai ser um caos, né? Que esse dinheiro vai demorar a cair na sua conta, que vão duvidar de você, vão pedir exames de DNA, a mídia vai dizer que você está extorquindo Toby... – Minha mãe me lembrou de tudo que eu estava tentando esquecer, mas respirei fundo.
— Eu sei, mãe. Eu e Tob já conversamos sobre isso. Isso me traz ao outro tópico dessa conversa: Eu vou ter que me mudar para os Estados Unidos, pelo menos até tudo isso se resolver.
Novamente os dois foram pegos de surpresa, como se suas cabeças estivessem muito ocupadas com o assunto do dinheiro para conseguir assimilar duas possibilidades ao mesmo tempo.
— Não dá para resolver daqui? – Perguntou minha mãe, engasgada de surpresa.
— Dá, provavelmente dá. Mas eu quero ir, quero ter uma ideia de como seria morar lá, e esse acabou sendo o melhor momento, estou desempregada, tem toda essa papelada para resolver, creio que seja a melhor opção.
Vi minha mãe engolindo seco, e depois segurou minhas mãos com os olhos marejados novamente.
— Desculpa, filha, me desculpa por essa conversa não estar sendo do jeito que eu imagino que tu querias que fosse, mas eu sou uma mãe superprotetora.
— Está tudo bem.
— Não, é só que... Você é a minha filhinha. E eu vou demorar a me acostumar com o fato de que você não vai estar debaixo da minha asa para sempre. – Ela fungou e eu acariciei suas mãos.
— Estamos felizes por você, . É só que estamos acostumados com você por perto, vai ser difícil para nós. – Pedro complementou, com um sorriso meio triste no rosto.
— Eu sei disso. Vai ser difícil para mim também. Sou apegada demais, mas preciso fazer isso, é um desafio pessoal que eu preciso enfrentar.
Continuamos conversando, eu disse algumas ideias do que gostaria de fazer por eles, por exemplo: dar-lhes uma casa nova e um bom carro, dar-lhes dinheiro para que façam o que bem entender, comprar roupas novas, eletrodomésticos e principalmente, fazer o passaporte deles, para que possam ir me visitar nos Estados Unidos.
***
Um mês depois, eu estava saindo do avião e, pela segunda vez no ano, Tobey me aguardava sorrindo. Dessa vez, quem segurava uma plaquinha com meu nome escrito era Otis, ao seu lado, Ruby sorria tanto quanto seu pai.
Fui recebida por um abraço triplo de muito carinho.
— Oi, meus amores, como vocês estão? – Perguntei com a voz abafada. Os braços de Tobey apertavam meu tronco, os de Ruby nos abraçavam pela esquerda e Otis pela direita.
Soltei o abraço, beijei o rosto de Tobey e segui para Otis.
— Que placa linda, foi você que fez? – Beijei o topo de sua cabeça e baguncei seus cabelos. A placa tinha meu nome escrito com uma letra arredondada muito bonita e tinha desenhos de garfos, colheres e facas flutuantes, feitas por um canetão preto.
— É claro que não, Tia . – Ruby respondeu rápido. – Otis não tem coordenação motora para isso tudo.
— Ei! – Otis bateu nela com a placa e a garota caiu na risada.
— Ruby, não fale assim do seu irmão. – Tobey interferiu.
— Como você está, espertinha? – Perguntei beijando-a no rosto também.
— Tudo bem. É verdade que você está namorando o Tom? – Perguntou ela sem regalias e dei uma risada gostosa.
— Ruby! – Tobey a repreendeu segurando o riso.
— Ah, pai, eu preciso saber!
— Não, Ruby, eu não estou namorando com o Tom... Obrigada pela preocupação. – Falei brincando e ela me mostrou a língua.
— Como você está, ? Tudo certo na viagem? – Perguntou Tobey passando o braço pelo meu ombro e me guiando para fora daquele tumulto de pessoas encontrando pessoas.
— Tudo certo sim, só estou meio cansada. – Falei jogando os ombros para frente dramaticamente e todos riram. – O voo acabou atrasando um pouco na conexão em São Paulo, fiquei mais de duas horas sem fazer nada no aeroporto. Mas valeu a pena, pois consegui dar o calmante para o Jacquin com tranquilidade.
Jacquin era o terror de qualquer gateiro quando o assunto era tomar remédios, decidi dar o comprimido a ele em São Paulo, já que de Santa Catarina até lá o voô dura apenas 40 minutos. Com isso, o bichano conseguiu aturar as 12 horas e meia dentro da cabine aos meus pés sem miar feito uma gata no cio em cima do telhado.
Meus sobrinhos pareceram finalmente perceber que eu carregava uma caixa de transporte de animais.
— Esses atrasos são péssimos. – Tobey concordou, nos guiando até a parte onde haviam as esteiras com as malas.
O gato dormia enrolado no próprio corpo, abri a portinha e mexi no seu pescoço peludo apenas para me certificar de que estava tudo bem. Meu veterinário havia me receitado um calmante. Por sorte, ele é um gato gordo e dorminhoco que não se incomoda com muita coisa.
— Meu Deus, que amor! – Ruby pirou quando viu o gato e entreguei a caixa transportadora em suas mãos, pois ainda precisava pegar minhas malas.
— Espera um segundo, vou pegar um carrinho de bagagem. – Tobey se afastou de nós e voltou alguns minutos depois. Ele já sabia que dessa vez, eu levaria mais do que apenas uma mala.
Com minhas malas organizadas, conseguimos sair de lá com tranquilidade.
— Noite da pizza? – Perguntou Tobey para nós e concordamos em comemoração.
Entrando na casa de Tobey, percebi que eu sentia falta daquele lugar. Era uma nova sensação de “estar em casa”, me acostumei a estar ali tanto quanto estar em minha verdadeira casa, sabe aquela sensação de ir na casa da sua melhor amiga, e por mais que você saiba que aquela não é a sua casa de verdade, você se sente como se fosse sempre bem-vinda? Pois é, essa era a sensação de voltar a casa de Tobey, olhei o sofá, e a minha transa com Andrew veio como um flash em minha mente. Sacudi a cabeça rapidamente me livrando do pensamento intruso e abri a caixa acolchoada de Jacquin pegando-o no colo.
— Tá na hora de acordar, meu bem. – Fiz carinho em seu pescoço, vendo o gato de espreguiçar ainda meio grogue.
Otis e Ruby não desgrudaram os olhos dele, e coloquei-o no colo de Otis que ficou feliz com a tarefa de cuidar do gato sonolento.
— E como estão as coisas? – Tobey perguntou, me ajudando a subir com as malas pela escada.
— Tudo certo. – Respondi sem saber exatamente o que dizer, já que não tinha certeza do que ele se referia.
— Está falando com Tom?
Finalmente entendi.
— Ah, não muito. Somos amigos, Tob, eu expliquei a ele que não queria algo sério enquanto minha vida não se resolvesse, sabe?
— Entendi. E Drew?
— Não falo com ele desde que voltei ao Brasil. Nunca conversamos sobre algo sério, então apenas resumi que fosse algo apenas para aproveitar o momento. – Expliquei e ele concordou com a cabeça, abrindo a porta do meu quarto. As coisas lá dentro estavam do mesmo jeito que e eu havia deixado há alguns meses.
Tobey colocou minhas malas em um cantinho e voltou até mim me dando um abraço forte, deitei minha cabeça em seu peito.
— Eu estava com muita saudade , estou muito feliz que você esteja aqui de novo.
— Eu também estava Tob, obrigada por me receber de novo.
— Você sempre vai ser bem-vinda.
Ele continuava com cheiro de perfume com amaciante de roupas, uma mistura que me deixava confortável e nostálgica. Ele soltou o abraço e depositou um beijo em minha testa.
— E você? – Perguntei sorrindo.
— Eu o que? – Ele sabia exatamente o que eu estava perguntando.
— Como estão as coisas com minha melhor amiga?
— Ah... – Fingiu surpresa, como se não tivesse pensado naquilo fazia muito tempo. – Bom, eu ainda converso com ela, mas a distância é muito complicada.
Eu sabia que eles se falavam por vídeo chamada quase todos os dias, sabia também que Tobey havia a convidado para passar um tempo na América com ele, e que Gaby estava pensando no assunto, sabia que Gaby estava completamente apaixonada e que meu irmão tinha grandes chances de estar também. Mas fingi que não sabia de nada para saber o que ele pensava a respeito.
— E você está pensando em alguma opção para tentar resolver isso, ou vai ser só um namoro de verão?
— É mais do que um namoro de verão, tenho certeza disso, só não sei como resolver ainda. Não quero fazê-la largar tudo que construiu por mim.
— Entendo, bom, vocês vão resolver isso logo. Tá bem?
Ele concordou com a cabeça, ligeiramente cabisbaixo. Meu irmão estava de quatro pela minha melhor amiga, e eu não podia estar mais feliz por isso.
— Vem cá, quero bater uma foto. – Ele me puxou pelo braço antes de sairmos do quarto. Batemos uma selfie fofa, ele sorrindo e eu mostrando a língua, com uma piscadinha ladina, meu rosto estava um trapo, meus cabelos arrepiados e cheios de frizz, porém nunca negaria uma foto com ele.
— Para quê essa foto?
— Para eu guardar.
Achei estranho, já que normalmente era eu que pedia para bater as fotos, mas apenas dei de ombros.
Lá embaixo, Ruby e Otis brincavam com um Jacquin agora mais desperto. Ruby fazia stories dele, enquanto Otis chacoalhava o cadarço de seu tênis para o gato brincar.
Tobey ficou responsável por pedir as pizzas enquanto eu arrumava o cantinho de Jacquin com meus sobrinhos, Tobey havia comprado uma caminha acolchoada para ficar ao lado do sofá na sala e uma toca fofinha para ficar na lavanderia quando ele quisesse um pouco de sossego.
Otis encheu a caixinha de areia, enquanto Ruby encheu os potinhos com comida e água.
Jacquin estava explorando a casa, subindo o sofá, cheirando as almofadas, espreguiçando-se sobre o tapete, escolhendo seus lugares favoritos, seu humano favorito já era Otis, e ele o seguia para todos os cantos andando por entre suas pernas.
Senti meu peito se encher de alegria enquanto via aqueles três brincando com meu gato, sentados no tapete da sala com a mesinha de centro afastada. Parecia que Jacquin era o elo que mantinha minha cabeça sã de que aquilo não era coisa da minha imaginação, eu nunca teria criatividade o suficiente para conseguir imaginá-lo na casa de Tobey. Meus sobrinhos nunca estiveram tão tranquilos e confortáveis em minha presença, Tobey estava em seu habitat natural e eu não me sentia mais uma intrusa em sua vida, parecia que finalmente as coisas estavam caminhando para a mesma direção e eu me sentia livre.
Livre como não me sentia há muitos anos, livre sabendo que eu nunca encontraria meu passado quando virasse a esquina e livre de saber que minha vida estava tomando o caminho certo.
Comemos pizza, conversamos sobre várias coisas, colocando o assunto em dia, Ruby havia entrado no ensino médio, e me admitiu estar namorando com um garoto chamado Garret, Tobey não gostava muito dessa conversa, mas o garoto parecia ser um amor e ainda estava cedo para apresenta-lo a família, segundo Ruby. Otis ainda estava no ensino fundamental e me contou que havia pedido para sua mãe, se ele poderia fazer algum curso de culinária para crianças. Tobey me olhou com ternura nos olhos nesse momento, e eu comemorei com Otis por sua coragem, o entusiasmando a continuar com esse pensamento.
Assistimos De Repente 30, pois as crianças nunca haviam assistido e acabei cochilando no sofá, exausta. Acordei com Tobey acariciando meu braço, dizendo que era melhor eu ir dormir no quarto, subi as escadas sonolenta, com Jacquin me acompanhando e Tobey com sua mão em minhas costas para me guiar caso eu estivesse dormindo em pé.
— Boa noite, .
— Boa noite, Tob. – Falei mandando um beijo para ele na porta, e rindo quando vi Jacquin subindo na cama deitando-se sobre minhas pernas.
Acordei no dia seguinte ouvindo meu celular vibrar, vi que era uma mensagem de texto:
“Hey, pequena Maguire.
Fiquei sabendo que você está de volta em Los Angeles.
Saiba que estou precisando de uma companhia na próxima semana, está interessada?
Na semana seguinte, Tobey contratou os serviços de Gen e Carlos, minha maquiadora e meu cabeleireiro preferidos. Eu iria acompanhar Andrew em um evento para promover sua nova série, Em nome do céu, Tobey me incentivou a ir para me distrair de tudo que ainda rondava em minha cabeça já que nesta semana, havíamos ido à um cartório iniciar o movimento da papelada para meus documentos.
— Você está de volta! – Carlos me abraçou com vontade quando nos encontramos em meu quarto de hotel em Malibu.
— Estou sim, e dessa vez é para valer! – Retribuí o abraço.
— Você está linda. – Gen disse sorrindo sincera quando me abraçou também. – Está bronzeada!
— Obrigada, você também está linda, está radiante, diferente... – Falei indicando suas mechas de cores diferentes da última vez que a vi.
— É o amor... – Carlos fofocou, e levou um tapinha no ombro da colega.
—- Lembra do DJ da sua festa? – Gen perguntou envergonhada. – Estamos juntos até hoje!
Comemorei com eles e colocamos as fofocas em dia enquanto eles me aprontavam, Carlos puxando meu cabelo de um lado para o outro e Gen pincelava meu rosto.
— Prontinho, gata. – Gen disse, indicando que eu podia levantar a cabeça do encosto da cadeira.
Me olhei por inteiro no espelho grande que havia na minha suíte e meus olhos marejaram, Carlos e Gen tinham o dom de me fazer parecer a porra de uma deusa. Meus cabelos estavam presos em um “coque banana” despojado e cheio de fios propositadamente soltos e meticulosamente enroladinhos em cachos perfeitos que combinavam com as ondas naturais do meu cabelo ondulado. Meu rosto estava pintado para que eu parecesse uma atriz muito bem paga e poderosa, meus olhos estavam “leves” com tons de marrom claro e creme com um delineado que me deixava com o olhar de uma felina perigosa, na boca eu tinha um tom de vermelho escuro tão bonito que parecia veludo.
Meu vestido era da cor de meus lábios, liso simples, de caimento fluido, preso em meu pescoço por dois botões deixando meus ombros e minhas costas de fora.
— Você está linda.
— Está pronta para o comeback com o Andrew. Ele vai ficar mais de quatro ainda por você. – Carlos brincou.
— Como se isso fosse possível. – Gen adicionou, fazendo nós três cair na risada.
Nos despedimos e pedi para que marcássemos algum rolê juntos, fiz questão de ensinar a palavra em português e eles ficaram empolgados, principalmente na parte em que eu disse que ia contar em detalhes como seria a noite de hoje.
A última vez que eu tinha visto Andrew, foi na casa de Tobey há alguns bons meses, onde ele me pediu para ficar em Los Angeles, pois tinha a sensação de que “me perderia” caso eu voltasse ao Brasil, como se ele previsse que eu teria uma chance com outra pessoa lá.
E eu tive, ele não estava errado.
De qualquer maneira, combinamos de nos encontrar no hall do hotel pontualmente às 17h, não tive como vê-lo antes pois o motorista que Tobey havia contratado para me levar não tinha horários diurnos, então tive que fazer a “viagem” de algumas horas durante a madrugada (Arthur era um senhor muito simpático). E Tobey não confiava em Uber’s para viagens longas.
Quando deu 16h55, desci o elevador com uma mulher muito elegante e uma garotinha que ficou me encarando de boca aberta, dei um tchauzinho à ela, que sorriu para mim e fiquei mexendo despretensiosamente no celular enquanto Andrew não descia.
As pessoas viviam diariamente me marcando em publicações relacionadas ao Tom e Andrew, fã clubes lotaram minha caixa de mensagens com perguntas absurdas e sites de fofoca sempre tinham algo para falar sobre mim, mesmo eu fosse uma pseudo-celebridade. Já existia uma página no Instagram dedicada a mim, postando fotos antigas do meu facebook e revivendo tweets, por sorte sempre fui uma pessoa pouco ativa nas redes sociais, mas aquilo estava começando a me incomodar um pouco, e agora eu entendia o motivo de tanto Tob quanto Andy não ter redes sociais.
É um lugar desprezível de se estar: falavam de minhas celulites e estrias, do meu cabelo e da cor dos meus olhos, duvidavam da minha legitimidade como irmã de Tobey e falavam do meu suposto namoro com Tom, falavam da vida da minha mãe, do Brasil e até do meu gato, me chamavam de gorda, de mal cuidada, de desempregada, oportunista e vagabunda.
É… é compreensível que tantas pessoas causem tantos danos a si mesmos depois de algum problema na internet. Os gatilhos são muitos.
Mesmo assim eu me mantive firme, mantendo o pouco conteúdo que sempre tive e tentando não dar bola aos comentários, afinal não havia absolutamente nenhum motivo plausível para me cancelarem. E com comentários sobre meu corpo eu sabia lidar: mulheres sempre foram alvos fáceis de comentários, se Zendaya, Rihanna, Anitta, Scarlett Johansson e até a gostosíssima Paola Oliveira (a lista é interminável) eram constantemente insultadas pelo corpo delas, mesmo sendo mulheres absolutamente incríveis, quem era eu na fila do pão, certo?
— Puta merda, ... – Andrew estava no pé da escada, usava um terno creme com uma camisa off-white com a gola aberta, tão lindo quanto eu me lembrava. Eu sorri. E juro que ouvi ele sussurrar um: - Fuck.
Fui até ele e o abracei, sendo recepcionada por um beijo no rosto, uma mão na cintura e a outra na nuca.
— Você está ainda mais linda do que eu me lembrava. – Ele disse antes de me soltar do abraço, eu conseguia ouvir seu sorriso.
— Você também não está de todo mal.
Andrew sorria de orelha a orelha, como se me ver ali fosse algo que ele realmente estava ansioso que acontecesse, seus olhos tinham um brilho diferente como se estivessem marejados, mas não estavam. Ele estava tão cheiroso que a minha vontade era de abraçá-lo novamente, enfiando meu nariz em seu pescoço com força.
— Como você está, pequena Maguire?
— Estou bem, meio preocupada com as proporções que a internet cria em minha cabeça, mas estou bem. – Respondi dando de ombros, ele prestava atenção em mim, lendo meus lábios e olhando em meus olhos. – E você?
— Estou bem. Esqueça essa porcaria da internet, esse lugar só tem sanguessugas e desgraça. Vamos?
— Vamos... É, acho que vou ter que aposentar minhas redes sociais. - Brinquei.
Fomos conversando no caminho até lá, Andrew sempre dando a entender que eu devia ignorar tudo relacionado à internet, porém informei que uma de minhas opções, caso nenhuma oportunidade de trabalho surgisse, seria a de influencer gastronômica. Ele apoiou a ideia, só pareceu preocupado com o fato de eu ter que encontrar uma psicóloga para poder manter a sanidade mental.
— Posso posar para as fotos com a mão na sua cintura?
Eu sempre adorei o fato de que Andrew tinha a capacidade de me pegar pela cintura, me prensar contra a parede me fazendo tremer na base como uma garotinha do colegial, mas sabia ser o verdadeiro cavalheiro que a gente espera que fosse na frente dos outros.
— É claro. – Respondi sorrindo.
— Não vai pegar mal para o seu namorado? – Ele zombou de mim, seu sorriso malino denunciava a brincadeira.
— Está com ciúmes, Andy? Logo você?
— É claro que estou, você é o tipo de mulher que é bem difícil de esquecer, , saber que você esteve com outro cara, seja ele quem for, acaba me deixando preocupado.
É óbvio que eu não esperava aquele tipo de resposta. Mesmo assim, não senti como uma bandeira vermelha.
— Preocupado?
— De que você pudesse não querer mais sair comigo. De que estivesse apaixonada. – Pôs as duas mãos sobre o peito, suspirou alto e piscou várias vezes, fingindo ser uma pessoa apaixonada.
Soltei uma gargalhada divertida vendo o seu sorriso meigo de boca fechada.
— Não me apaixono assim fácil não, pode ficar tranquilo. – Brinquei mordendo a pontinha na língua e vi que ele perdeu tempo demais admirando minha boca.
O carro pegou uma fila para chegar na entrada do local.
— Ok, é que eu estou meio que pirando aqui. – Ele disse movendo a cabeça como se tentasse se livrar de alguns pensamentos intrusivos.
— Como assim?
O motorista andava devagar, acompanhando o fluxo de carros que estavam na nossa frente, alguns paparazzis já batiam fotos pela janela do carro, por mais escuro que fosse o vidro.
— Ah, , não vem com essa! – Ele disse sorrindo sem jeito, passou a mão pelos cabelos macios e desceu pela nuca.
— Eu não faço ideia do que você está falando Andrew.
— Deus. – Ele suplicou antes de olhar em meus olhos. – Eu estou completamente louco por você, Maguire.
— Não, você não está. – A resposta saiu tão automática da minha boca que a primeira reação que ele teve foi dar uma gostosa gargalhada.
— Tudo bem, eu já estive nesse estágio de negação. Vou deixar você refletir um pouco, o que acha?
Nessas horas, meu coração não sabe muito bem como prosseguir.
— Garfield, não gosto desse tipo de brincadeira.
— Não é uma brincadeira. – Ele disse sério, antes de abrir a porta e os flashes me cegarem por um instante e estender a mão para que eu saísse.
Daisy Edgar-Jones era estonteante pessoalmente e provavelmente a mulher mais adorável que já conheci entre os famosos que tive contato. Tive um mini ataque cardíaco quando vi Sam Worthington, um crush da época de Avatar. E Wyatt Russell era um grande gostoso. Todos foram muito atenciosos comigo, me incluíam na conversa e nas fotos em todos os momentos. Mesmo assim, eu tentava sempre deixar espaço para que eles tivessem seu momento sozinhos diante das câmeras, afinal eu era uma mera convidada.
— Senti falta do seu cheiro. – Em certo momento Andrew sussurrou em meu ouvido, me fazendo sentir meu estômago gelar.
Aquilo me fez lembrar da conversa esquisita que tivemos no carro.
Andrew estar louco por mim ainda não fazia sentido em minha cabeça. Ele já havia dormido comigo, isso é o que todo homem quer, certo? Ele já provou que consegue pegar a irmã do amigo, agora pode seguir em frente. Por que ele não seguia? Eu segui!
Eu era uma mera conquista efetivada em cima de algum tipo de aposta que ele havia feito com Tom: Essa era a única razão decente que vinha em minha mente.
Ok, eu sabia que ele gostava de mim, eu já havia conversado o suficiente sobre isso com meu irmão e minha psicóloga para aceitar esta verdade, mas... Estar louco por mim? Isso era novidade, o que significava? Que sua sanidade estava beirando o colapso e a única pessoa que ele conseguia se relacionar era eu por ser uma pessoa confiável no ramo da indústria de Hollywood?
Eu não tinha trejeitos atrativos o suficiente para sustentar uma tese de que Andrew gostava de mim pelo que eu sou e só isto. Por Deus, nós saímos juntos algumas poucas vezes! Era maluquice pensar que ele estava louco por mim depois de duas transas. Duas transas deliciosas, posso afirmar com certeza, mas aquilo não era suficiente para que eu ficasse louca por alguém, por exemplo.
Senti a mão de Andrew apertar sutilmente a minha cintura, chamando minha atenção.
— Perdão, o que? – Perguntei voltando à realidade.
— Você está linda! Como se sente estando aqui no meio de tanta gente famosa e talentosa?
Eu senti a alfinetada da jornalista, querendo insinuar que eu era uma intrusa.
— Obrigada! É um Bottega Veneta. – Respondi simpática, lembrando-me da cortesia de sempre dizer quem era o design que usava em ocasiões como esta. – Nossa, estou nas nuvens, isso ainda é muito surreal para mim.
— E o que está rolando entre vocês dois? E o Tom Holland? – Ela perguntou.
— Somos amigos. – Andrew respondeu ligeiramente irritado. – Por que todo mundo quer saber sobre a vida pessoal da ?
— Você não tem alguma pergunta sobre a série para fazer? – Daisy apareceu de surpresa, engatou o seu braço no meu, sorrindo tão simpática que a jornalista se envergonhou.
Agradeci com os olhos, deitando minha cabeça em seu ombro, fazendo o momento ser mais fofo do que realmente foi. A jornalista mudou de assunto e eu e Andrew nos afastamos um pouco da parte onde os jornalistas estavam todos amontoados.
— Você está bem? – Perguntou ele segurando meu queixo.
— É claro. – Respondi sorrindo fraco.
— Não deixa esse tipo de coisa te abalar, você não está fazendo nada de errado.
— Eu sei, Garfield. Mas confesso que gostaria que todos soubessem disso e não ficassem me perguntando como se fosse algo realmente relevante. – Suspirei indignada.
— Você é relevante. Vai ter que aceitar isso mais cedo ou mais tarde. – Ele enrolou uma mechinha do meu cabelo solto nos dedos.
— Isso é ridículo. – Falei feito uma criança birrenta, e Andrew sorriu me puxando para um abraço.
— Você é única, Maguire.
A noite passou mais tranquila depois disso, Andrew me incluía nas conversas, brincava comigo durante as entrevistas e nenhum jornalista chegou a tocar no assunto de novo, fosse sobre ele ou Tom. Fomos convidados para uma festa na casa de Rory Culkin, mas Andrew educadamente recusou me usando como desculpa. Dizendo que ele deveria me levar em segurança para Tobey.
No hotel, durante a subida do elevador que levava aos nossos quartos, diferente das vezes em que estivemos sozinhos, Andrew parecia ligeiramente nervoso. Mas isso não impediu ele de pôr uma das mãos em minha cintura e a outra em minha nuca e me informar algo muito importante:
— Eu vou te beijar agora.
Tremi na base, sentindo seus lábios roçarem nos meus e em menos de um segundo, nossas bocas estavam enroscadas como alguns meses atrás, minhas mãos ansiosas normalmente iriam para sua nuca puxar seus cabelos, porém, dessa vez me peguei abrindo os botões de sua camisa. Minhas unhas encontraram seu tronco e ouvi um grunhido contido de Andrew, quando ele puxou minha cintura mais para perto espalmando sua mão em minha bunda. O nível de intimidade entre nós já estava estabelecido, e o desespero de uma transa também, já que senti seus lábios descerem por meu queixo fazendo o desenho de minha mandíbula e parando em meu pescoço. Soltei um suspiro leve exatamente ao mesmo tempo em que o elevador apitou abrindo as portas. Separamos nossas bocas olhando para a porta e notamos o corredor vazio. Andrew levou as duas mãos em minha cintura e me ergueu com facilidade. Enrosquei minhas pernas em sua cintura sorrindo, passando as mãos por sua nuca buscando apoio.
— Será que este soft porn vai estar na internet amanhã? – Perguntou ele divertido.
Soltei uma gargalhada sabendo que o hotel cinco estrelas que estávamos não teria este tipo de vazamento.
— Se for para vazar, melhor dar bons motivos para isso. – Respondi rindo enquanto ele me guiava para fora do elevador, olhando para os dois lados do corredor antes de dizer:
— Não precisa pedir duas vezes. – E colou nossas bocas novamente, nossas línguas sincronizadas misturando-se com urgência.
Levamos mais de dez minutos para chegar em um percurso de trinta segundos do elevador até o quarto mais perto, no caso o de Andrew.
Quando ele fechou a porta atrás de si, prensou-me contra ela gemendo deliciosamente.
— Porra, . – Senti o volume roçando em minha virilha e girei os olhos nas órbitas sorrindo maliciosamente. Empurrei sua camisa para trás, indicando que ele devia se livrar das peças de roupa, ele estava quente e cheiroso. – Você não faz ideia do tempo que eu estou sonhando em tocar a sua pele de novo.
Aquilo me deixou incrivelmente molhada.
Ergui meus braços e desabotoei o botão em meu pescoço, fazendo a parte da frente do vestido cair e o mesmo ficar preso em meu corpo apenas pelo elástico em minha cintura e a pressão que Andrew fazia em mim contra a porta.
Suas mãos foram automaticamente para meus seios e eu prendi a respiração sentindo a sensação de estar sendo derretida sob a pele. Prendi minhas pernas com mais força em volta de sua cintura quando Andrew voltou a me beijar e agarrei sua nuca quando percebi que ele queria me guiar para outro lugar.
Atravessamos a sala, e ele apoiou minhas costas em uma superfície gelada: estávamos na borda infinita de vidro da fachada do quarto, as cortinas estavam abertas e dava para ver a cidade inteira lá de cima, estávamos no vigésimo andar. Era incrível.
Soltei minhas pernas e toquei o chão, seus lábios beijavam meu pescoço e desciam em direção aos meus seios enquanto suas mãos desciam a parte de baixo do meu vestido.
— Não acredito que estou com você sem calcinha ao meu lado a noite inteira. – Gemeu quando desceu o vestido até meus pés.
— Você não perguntou. – Dei de ombros sorrindo.
— Isso é maldade. – Resmungou levando a mão para o bolso de trás da sua calça. Pegou uma camisinha dentro da carteira, pôs entre os dentes e desabotoou a calça, ficando apenas de cueca.
— Cala a boca. – Falei puxando seus cabelos, trazendo sua cabeça para mais perto, segurei a camisinha em uma das mãos e colei nossas bocas novamente. Dessa vez o beijo correspondia a o que a gente já sabia que aconteceria, as bocas quase se engolindo, mordidas provocativas, línguas se enroscando. Agora não havia nada que fosse nos impedir como das outras vezes, tínhamos tempo, tínhamos sintonia e tesão reprimido.
Andrew deslizou uma das mãos por entre minhas pernas fazendo-me gemer alto e percebi os pelinhos do seu braço se arrepiarem.
Me penetrou com um dedo, fazendo-me romper o beijo para gemer com mais vontade.
— Merda. – Escapou por meus lábios e o vi sorrir, estocou o dedo mais duas vezes antes de eu abrir o pacote de camisinha e balançar na frente do seu rosto para que ele entendesse que era a hora.
Retirou a cueca, pôs a camisinha, me ergueu pela cintura me prensou contra o vidro, senti seu membro escorregar com facilidade para dentro de mim e um gemido de prazer rasgou minha garganta ao mesmo tempo que ele soltou uma lufada de ar em êxtase. Respiramos olhando um nos olhos do outro, as testas molhadas coladas enquanto Andrew iniciou as estocadas que faziam seu pau entrar e sair de mim por completo, fazendo meu corpo pulsar de tesão e meus dedos do pé se contorcer.
Suas mãos apertavam minha cintura com força, buscando o equilíbrio dos seus movimentos ali, minhas mãos arranhavam suas costas de acordo com os gemidos que eu dava, eu alternava entre morder seu ombro, beijar sua boca e lamber seu pescoço.
O vidro em minhas costas começava a escorregar quando comecei a sentir aquele calor que sempre vinha da ponta dos meus pés e vinha subindo com lentidão, as estocadas dele alternavam entre rápida e devagar, profundas e só até a metade, as vezes ele tirava-o de dentro e pincelava minha intimidade, fazendo-me ver estrelas, mas quando senti esse calor subindo, apenas o informei:
— Continua assim, Andy, eu vou... – Não precisei terminar a frase, ele entendeu o recado e iniciou as estocadas profundas e lentas que me faziam gemer sem escrúpulos. Eu amava as suas estocadas fortes e lentas. – Caralho. – Xinguei em português, sem forças para pensar em nada quando o ápice me atingiu em cheio, fazendo minhas pernas tremerem em torno da sua cintura e notei que Andrew gozou junto, provavelmente incentivado pelas minhas contrações internas involuntárias.
Respiramos exaustos durante alguns minutos sem dizer nada, sua cabeça repousava baixa em meu ombro e meus braços moles estavam largados em seus ombros.
— Quer... tomar um banho? – Perguntou ele, a voz rouca fez meus pelinhos se arrepiarem.
Eu concordei sorrindo e ele sorriu junto.
No dia seguinte, acordei antes de Andrew, corri para o banheiro para me higienizar, respondi uma mensagem de Tobey, dizendo que tudo estava bem e voltei para a cama.
Andrew estava acordado.
— Hey. – Seu rosto estava amassado e os cabelos bagunçados. Adorável.
— Hey, dormiu bem? – Perguntei enfiando-me embaixo das cobertas.
— Demais. – Ele escapou da cama rapidinho e fez sua higiene pessoal, voltando para a cama em menos de dois minutos. Enfiou-se embaixo das cobertas e puxou minha cintura para perto dele.
— Eu posso me acostumar com isso. – Disse com a voz abafada contra o meu pescoço.
— Isso o que? – Perguntei me fazendo de boba, levando minhas mãos até seus cabelos macios.
— Acordar ao seu lado.
— Deus do céu, o que você fez com o antigo Andrew? – Perguntei rindo e ele riu também.
— O que você fez com ele. – Ele afastou o rosto do meu pescoço e selou nossos lábios por um segundo.
Sua mão acariciava a lateral do meu corpo, das coxas até a altura das minhas costelas, ele pigarreou.
— Olha, , acho que eu preciso falar com você. – A atmosfera pesou um pouco e ele ficou visivelmente nervoso, virou-se de barriga para cima analisando o teto.
Mantive minha posição, olhando com curiosidade.
— Claro.
— Eu sei que isso vai soar meio assustador e completamente inconveniente, talvez até mesmo meio bobo, mas eu sinto que preciso te falar isso.
— Andrew, você está me assustando.
— Eu sei, desculpa. – Ele suspirou alto, ainda encarando o teto. – , eu nem sei exatamente como começar a falar isso, mas... Desde que você entrou na minha vida, alguma coisa mudou... Não sei dizer exatamente o quê, eu só sinto que não era assim antes de te conhecer.
Ele suspirou alto, espiou minha expressão por um segundo e continuou:
— Fazia muito tempo que eu não me sentia assim vivo, contando os dias para saber quando você voltaria e sentindo um aperto no coração quando vi aquelas fotos suas com o Tom no Brasil... Seja o que for, eu tive alguma conexão contigo que não consigo explicar, eu só sei que continuo sentindo isso.
Senti meu estômago revirar de ansiedade enquanto ele fazia o seu discurso, minha boca secou e meu coração disparou. E ele continuou:
— Pensei que quando você voltasse, talvez tudo aquilo que eu sentia na sua ausência fosse apenas algum tipo de ansiedade boba de saber se você voltaria ou não, mas que quando eu visse você aqui de novo, tudo voltaria ao normal, do tipo “Ok, agora que ela está aqui, vai ficar tudo bem”. Mas isso não aconteceu, eu precisava te ver, te sentir, saber que você estava aqui comigo.
Ele suspirou alto, eu pude sentir o seu nervosismo. Era palpável.
Andrew estava... se declarando para mim? A cena parecia um cenário de um sonho muito distante, algo que eu não acreditaria se não estivesse vivenciando.
— O que eu estou querendo dizer é que... Eu acho que estou apaixonado por você . Quando eu estou com você, quando eu sei que você está aqui comigo, as coisas mudam. A ansiedade vai embora e eu consigo respirar com tranquilidade.
— Andy... – Era óbvio que eu não sabia o que dizer. Meu coração estava tão disparado que pulsava alto em meu ouvido.
— Não, não... Deixa eu terminar para não perder a coragem. – Ele disse rindo nervoso, ainda encarando o teto. – Foi algo que me arrebatou de primeira, no momento que eu te vi lá na première do Homem-Aranha com aquele vestido vermelho e azul, nossa, a sua pele brilhava, o seu sorriso me desmontou e o beijo daquela noite... Deus, eu não consegui dormir, virei a noite pensando em você. E então eu percebi a sua insistência em pensar que eu era demais para você... – Ele virou-se de frente para mim, olhando em meus olhos. Uma mão em minha nuca - , entenda de uma vez por todas: Você é demais para mim. Você é inteligente, talentosa e engraçada, tem uma humildade acima da média e o seu apreço pela sua família só me faz gostar ainda mais de você. E, porra, você é linda, seu corpo é de outro mundo, os seus olhos... Fuck, eu acho que nunca vi nada igual.
As paredes altas que custei tanto a construir estavam querendo se deteriorar.
— Eu pensei que podia te tirar da cabeça quando finalmente transamos, que talvez fosse alguma loucura da minha mente perturbada, algum tipo de aposta subconsciente que eu havia feito comigo mesmo, e que quando acontecesse minha mente voltaria ao normal. Não aconteceu, e na verdade só piorou. Fiz sexo com outras mulheres e não teve o mesmo efeito entorpecente que houve quando eu estava com você... E agora eu estou aqui, olhando na porra desses olhos incríveis, depois de uma noite incrível com a única mulher incrível que eu quero estar no momento. Você entende o que eu estou querendo dizer? – Suspirou de olhos fechados e voltou a abri-los. – Eu quero você , e só você.
Ele finalizou puxando um lençol sobre o rosto e gemeu alto como se quisesse tirar algo de dentro de si, me fazendo rir nervosa.
Ok.
Primeiro eu precisava me lembrar de como se respira.
Um, dois. Um, dois. Cheira a flor e sopra a vela. Cheira a flor e sopra a vela.
— Andrew, eu... Eu não sei o que dizer. Eu realmente não estava preparada para isso.
— Eu sei, eu não queria falar isso tão cedo. – Ele respondeu com a voz abafada debaixo do lençol. - Eu juro que não tinha planejado nada disso, eu só acordei ao seu lado agora e percebi que tinha que te falar. Mas você não me deve uma resposta, não é justo com você.
— Eu só preciso de um segundo para organizar meus pensamentos. – Falei nervosa.
— Você tem todo o tempo do mundo.
Me levantei, e ouvi um suspiro longo dele então lembrei que eu ainda estava nua. Só não sabia dizer se o suspiro foi pelo fato de eu não saber o que dizer ou pelo fato dele me ver nua.
Encarei meu reflexo no espelho do banheiro com um sorriso desacreditado no rosto.
Tudo pelo o que eu havia terminado com Tobey caiu por terra, eu era sim o motivo do colapso de Andrew e não estava preparada para isso.
O que ele queria? Um relacionamento? Ou apenas esclarecer as coisas? Não havíamos conversado sobre absolutamente nada disso, apenas conversei sobre relacionamentos com Tom.
Suspirei passando as mãos pelo cabelo, surtando um pouco, meu coração a mil por hora.
Ouvi uma batida na porta.
— , vou descer para tomar um café, tá bem? – A voz de Andrew surgiu abafada pela porta.
— Tudo bem, já estou indo também.
Fritei minha mente mais um pouco.
Ok, , você está apaixonada pelo Andrew?
Você tem algum sentimento que corresponda minimamente às expectativas do que ele havia acabado de te admitir?
Você se vê em um relacionamento com ele?
Você está preparada para um relacionamento?
Você não estava para o Tom, porque estaria para o Andrew?
Você teve muito mais tempo e momentos com Tom e mesmo assim não viu faísca alguma.
Havia faísca com Andrew? Ou apenas um sentimento de comodidade sexual?
Passei pelo lobby e segui para o restaurante, Andrew estava sentado em uma mesa para dois bebendo algo que parecia ser café. Usava uma blusa branca lisa, uma calça jeans básica e chinelos de dedo.
— Hey. – Falei sentando-me de frente para ele.
— Hey. – Ele sorriu, eu sorri.
— Andy, eu... – Iniciei, mas fui interrompida por um garçom. – Um mocca, por favor.
Ele assentiu e saiu.
— Primeiro eu queria entender o que você quis dizer com tudo aquilo. – Fui direto ao ponto.
Ele enfiou uma garfada de panquecas na boca e uniu as sobrancelhas.
— Como assim?
— É... Você tem algum tipo de interesse em ter um relacionamento? Ou só quis me manter informada do que está havendo nessa sua cabecinha?
— Como eu te disse, não foi algo do qual eu me planejei para falar. Eu só... precisava tirar aquilo de dentro de mim.
O garçom trouxe meu pedido e eu beberiquei.
— É que eu não sou do tipo que se apaixona fácil Andy, e eu não quero te magoar de maneira alguma, mas... não está no topo da minha lista namorar alguém, e se acontecer de eu me apaixonar, é bastante provável que eu finja que não aconteceu. – Fui sincera, Andrew me observava com seus olhos castanhos brilhantes. – Nunca passou pela minha cabeça encontrar alguém aqui quando aceitei o convite de Tobey. Eu só queria me aproximar do meu irmão, sabe?
Ele concordou com a cabeça, era nítido em suas feições que ele não gostava do caminho que o meu monólogo estava indo.
— Bom, se apaixonar faz parte do processo. Você pode ter certeza também de que eu não estava com essa intenção quando me aproximei de você.
— Eu sei disso, eu tenho esse problema, me desculpa.
— Do que você está falando?
— Eu não sou boa com sentimentos Andrew, eu sou a porra de uma pedra emocional, minha psicóloga sempre me diz que eu tenho que aprender a confiar nos outros, que meus traumas não vão se repetir, e ela inclusive ficou muito feliz de saber que eu estava confiando em Tobey... mas quando se trata de relacionamentos, eu me fecho.
Ele me olhava com atenção, as sobrancelhas erguidas em tom de surpresa a xícara de café parada em frente a boca suspensa pelas duas mãos, como se o que eu estivesse dizendo fosse mais importante do que bebê-lo.
— Não me entenda mal, eu sinto as coisas, eu fico feliz quando estou com você, eu gosto da sua companhia, eu...
— Oh, merda... – Ele fechou os olhos, soltando o café. – Você vai me dispensar, não vai?
— Eu não sei o que fazer Garfield, você jogou uma bomba em meu colo e eu não sei desarmá-la. – Expliquei ligeiramente alterada.
— Ok, você está certa. Eu não tinha o direito de falar aquelas coisas para você.
— Não é isso, você tem todo o direito de me falar o que bem entender, você foi honesto comigo e eu estou tentando ser honesta com você também, então aqui vai: Eu não estou pronta para um relacionamento, meu psicológico ainda não está pronto para algo sério, porque meu último relacionamento sério foi um lixo tóxico, e assim como qualquer lixo tóxico, mesmo depois de anos ainda dá para sentir a radiação.
Andrew ficou sem respostas.
— Eu gosto muito de você, de verdade mesmo. Mas eu juro que nunca fiz algo de propósito para que você se apaixonasse por mim Andy.
— Eu sei disso, e acho que é um dos motivos de ter acontecido. Você nunca teve ideia do poder que tem sobre mim, é algo surreal. – Andrew mexeu nos cabelos, ele estava nervoso a ponto de não saber o que fazer com as mãos.
— Me desculpa, Andrew, me desculpa por não conseguir corresponder seus sentimentos à altura. – Levei minha mão até a dele sobre a mesa e apertei.
— Está tudo bem, , você não tem nenhuma obrigação de corresponder aos meus sentimentos... por favor, não fique se sentindo pressionada, mas não me arrependo de ter dito. – Ele correspondeu meu aperto colocando sua outra mão sobre a minha. – Eu precisava tirar isso de dentro de mim.
— Fico feliz que tenha tirado, e vou soar meio babaca agora. – Falei dando um sorrisinho amarelo. – Mas eu gostaria que continuássemos amigos, eu realmente gosto muito da sua companhia.
— Isso depende.
— Do quê?
— Seremos o tipo de amigos com benefícios?
Soltei uma risada alta que chamou a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.
— Não? – Ele insistiu, com seu sorriso torto e as sobrancelhas arqueadas.
— Você é impossível.
— Tá bom, então quem sabe podemos voltar para o quarto e resolvermos isso?
Dei mais uma risada alta, dando um tapa em seu braço.
— Qual é, . Agora que eu sei que não posso te ter, as coisas ficam mais difíceis ainda!
— Andrew, fala baixo! – Eu não conseguia parar de rir, minhas bochechas queimando.
— Não consigo, estou nervoso demais! – Ele admitiu rindo comigo.
— Você não presta.
— Não, eu nunca prestei e você sabia disso. – Seu maldito sorriso bonito me fez derreter de novo. Peguei-o pela mão e voltamos para o quarto.
Eu tinha certeza de que ele prestava sim. Andrew exalava o ar de potencial de namorado, porém eu ainda não podia senti-lo.
Alguns meses se passaram desde a última vez que falei com Andrew pessoalmente. Minha vida seguia rápido, eu mal conseguia acompanhar, incontáveis vezes tive que ir ao cartório, fiz mais de três viagens de volta ao Brasil, assinando documentos, levando de volta, juntando assinaturas, atestando papéis... Recolheram minha saliva, meu sangue e minha urina, fizeram o mesmo com Tobey, que estava sendo um verdadeiro apoio ao meu lado. Estávamos tão sintonizados que acho que se meu teste de DNA desse negativo, ele me adotaria ou me sequestraria, as duas opções estavam em seu radar.
O humor era nosso novo método de levar as coisas: tem mais uma viagem ao Brasil para fazer? Ele dizia: Graças a Deus! Pega meu protetor solar e meu chapéu.
Mais uma coleta de amostras? Estou precisando perder uns quilinhos mesmo.
Mais um papel que tem que ser impresso e homologado? Ainda bem, achei que o papel estava ficando obsoleto!
Tudo era motivo para darmos risadas, os dois rodando como duas baratas tontas indo atrás de advogados e esperando mandarem fazermos outra coisa repetida.
Passei a virada de ano no Brasil com minha família e amigos, Tobey me acompanhou, quando voltamos desta vez, ele me ajudou a escolher um apartamento em Los Angeles para comprar, ele queria algo chique, bem localizado e grandioso, mas fiz questão de deixar claro que queria algo mais “caseiro”, um loft no estilo de “New Girl”, algo especial que me representasse. E foi isso que o seu corretor encontrou, obviamente fora do bairro de gente rica onde ele morava. Eu gostava da ideia de morar um pouco longe dele, pois me dava a falsa sensação de estar encarando tudo aquilo sozinha, e às vezes a gente precisa sim de um pouco de independência.
Desde que novos vídeos meus com Andrew no tapete vermelho da sua série circulavam na internet, decidi abandonar minhas redes sociais. Não sei quanto tempo levaria até que eu voltasse, mas estava me sentindo bem com a nova liberdade temporária. Os comentários na internet estavam me deixando paranoica, e por mais que todos ao meu redor me pedissem para ignorar, é difícil engolir quando comentam exatamente aquele ponto sensível que você sempre teve insegurança.
Em minhas viagens ao Brasil, eu gostava de ver como meus pais estavam lidando com o dinheiro, estavam reformando a casa, trocaram de carro e guardaram um pouco para emergências. Tudo fluía muito bem.
Tobey sempre me acompanhava em minhas vindas, de modo que seu relacionamento com Gaby estava tão firme quanto uma rocha, na verdade, estava firme o suficiente para que minha melhor amiga aceitasse se mudar para os EUA conosco.
Sim, pode soltar a música de final de filme e subir os créditos!
Minha vida estava no caminho certo, tudo, absolutamente tudo estava caminhando para a melhor versão. Eu até tinha conseguido liberação para levar minha motocicleta, Matilda, na minha próxima viagem de volta a LA!
— Qual seria a música? – Perguntei erguendo uma caneca de chopp, querendo brindar com meus amigos na nossa última noite juntos.
— Acho que Unwritten combina com o momento, estamos escrevendo nossos novos passos. – Gaby disse sonhadora, erguendo o copo junto.
— Eca! Essa música cheira a filme hetero sonso. – Johnson disse dramaticamente. – Acho que pela , podia ser Rich Girl da Gwen Stefani.
— Na na na na na na… – Cantei rindo mexendo os ombros e Johnson me acompanhou.
— Não! Eu me recuso a participar dos créditos de um filme onde a moral da história é que a mocinha ficou rica. – Gaby baixou sua caneca.
— Falou a gata que vai casar com o ricaço. – Johnson falou virando os olhos para cima.
— Não estou com ele por conta do dinheiro. – Bufou.
— Nós sabemos, Gab, é brincadeira. – Falei, como sempre, apaziguando a situação.
— Que tal Love Song da Sara Bairelles?
— Muito batida, já tem em várias comédias românticas. Se for uma música que já foi usada, tem que ser icônica.
— JÁ SEI! Uma música de uma cantora que une todas as tribos, das patricinhas (disse dando um olhar significativo à sua gêmea), das gostosas (piscou para mim) e das gays patricinhas gostosas, eu mesmo. – Eu e Gaby já estávamos dando gargalhadas. – Uma música que fala sobre fazer o que bem entender, já que todo mundo dá pitaco mesmo sem pedir, que fala sobre a vida de uma mulher gostosa que não tem um minuto de paz... Shake It Off da nossa rainha Taylor Switf.
— PERFEITA! – Gaby berrou, atraindo os olhos de algumas pessoas ao nosso redor.
Erguemos nossas canecas e brindamos à minha música oficial de encerramento, cantamos o refrão fazendo escândalo, até que o dono do bar colocou a música para tocar e cantamos a todos pulmões. No fim da música, todos nos acompanhavam. Rimos como os três idiotas que éramos. Como eu sentiria falta daquilo!
— Você acha que estou tomando a decisão certa? – Perguntou Gabriela para mim quando Tobey foi ao banheiro do aeroporto.
—- Não acho que é questão de ser certo ou errado, é questão do que você quer. Lembra quando Tobey me ligou pela primeira vez? Para mim era muito errado ir até lá, parecia que eu estava traindo minha mãe... Mas eu queria ir. Queria matar essa curiosidade.
Gaby mordeu o lábio, nervosa.
— Você quer ir? – Perguntei acariciando seu ombro, fitei seus olhos brilhantes e ela sorriu.
— Quero, , teu irmão é maravilhoso. Estou muito feliz que vocês tenham feito as pazes e não falo isso porque estou com ele, falo por ti. Caramba, olha como você está feliz! Olha como a tua vida mudou!
— Sim, Tobey é incrível mesmo. É um capítulo da minha vida que eu tenho muito orgulho, estou muito feliz de ter ele de volta na minha vida. Mas não estamos falando de mim aqui... – Tentei voltar o assunto e ela riu sem graça.
— Eu sei que é o certo... Mas o coração dá aquela palpitação nervosa, sabe?
— Sei, mas vai dar tudo certo. Eu vou estar lá também, lembra? Se não der certo, é só voltar... Não tem crime nenhum nisso. – Tentei deixá-la mais tranquila.
— É, você está certa.
— Mas você sabe que não vai ter nada de errado, não é? Vocês dois são incríveis juntos. Nunca vi Tobey desse jeito, sei que eu fiquei afastada dele por muito tempo, mas ele está genuinamente feliz. E eu te conheço a vida inteira, amiga. Você está completamente derretida.
Gaby apenas riu encabulada, e vi em seus olhos o brilho quando ela avistou Tobey se aproximando de nós.
Eu gostaria de sentir esse brilho em meus olhos um dia, mas ainda tenho a sensação de que esse dia está muito longe. Como quando você inicia um livro de mil páginas, você quer chegar no fim de todo jeito, no meio se pergunta se era aquilo mesmo que você precisava, pensar em desistir, ficar folheando das folhas faltantes pensando que nunca vai acabar... Mas no fim tudo se explica, tudo se encaixa e você percebe que foi uma jornada incrível.
Assim que pousamos em LA, senti meu celular vibrar.
— Alô?
— Oi, . Aqui é o Tom. – Seu sotaque era reconhecível em qualquer lugar e eu tinha o seu número salvo em meu celular, então sabia que era ele mesmo antes de atender.
— Oi Tom, como você está?
— Estou bem e você?
— Estou ótima.
— Então, , estou te ligando para perguntar se você não estaria afim de jantar comigo hoje, tenho algo para conversar com você, e adoraria fazer isso pessoalmente.
— Ahm, eu acabei de chegar em casa, Tom. Literalmente.
— Eu sei! Tobey me avisou isso, mas eu vou voltar para Londres amanhã e...
— Quer saber? Tudo bem. Vou tomar um banho demorado de banheira e já fico renovada.
— Isso! Ótimo. Passo aí às… sete? Não, não, oito, assim você consegue descansar mais tempo. Pode ser?
— Claro!
Mal soltei a mala na entrada do meu loft e Jacqui veio se esfregar em minhas pernas. Jacquin era o verdadeiro herói dessa história, passou por tantas mudanças que não sei como ele ainda gosta de mim! O peguei no colo e cheirei seu pescoço quentinho, ele tinha uma babá que vinha cuidar dele e brincar com ele todos os dias em que eu estava fora. A garota me mandava áudios e vídeos de como ele estava diariamente. Mas não era a mesma coisa de estar ao seu lado fisicamente e eu sabia que ele sentia muita falta. De qualquer maneira, minhas viagens estavam ficando menos frequentes e agora eu tinha tempo para ficar com ele. Ainda com ele no colo, segui para o banheiro, liguei a água e deixei a banheira enchendo enquanto procurava uma roupa legal para ir ao jantar com Tom.
Peguei uma taça de vinho e fui até a banheira, coloquei uma playlist calma e relaxei deixando minha mente finalmente pensar naquele convite de jantar.
Tom já sabia o que se passava em minha cabeça quanto à “nós”, então eu não estava levando aquele convite como algo que pudesse ir para esse lado, eu apenas iria jantar com um amigo, porque sim, eu o considerava um amigo, um cara divertido e descontraído com quem fiz sexo algumas boas vezes.
Minha mente me levou automaticamente para as vezes em que fizemos sexo, Tom era bom no que fazia e realmente me surpreendeu com uma agressividade deliciosa que eu não via no garoto que ele era quando não estávamos transando. Tínhamos uma sintonia gostosa e encerramos nossa aventura de maneira leve.
Me arrumei com uma nova sensação em meu corpo, um relaxamento proveniente do banho de banheira, usei um camisão branco por cima de uma regata fininha e uma calça de alfaiataria cor de barro.
Meu interfone tocou as oito horas em ponto, eu estava terminando minha trança boxeadora.
— Oi, já estou descendo.
— Ok.
Passei um batom nos lábios, chequei meu reflexo uma última vez no espelho e saí.
— Irmã Maguire! – Como sempre, Tom estava lindo. Seus cabelos estavam bem mais compridos e ele usava uma camiseta de gola rolê preta, justa o suficiente para mostrar seus músculos bem definidos e uma calça jeans de caimento perfeito.
— Thomas! – Imitei seu entusiasmo e segui até ele de braços abertos, encaixando um abraço caloroso. Tom me apertou com força, seu cheiro me abraçando junto.
— Como você está? – Perguntou ele, soltando do nosso abraço e sorrindo para mim.
— Estou bem, na verdade estou cansada da correria, mas estou muito bem.
— Ah sim, a correria com a papelada, não é? Como está isso?
— Já está bem adiantado. Já estou com o dinheiro, mas ainda sou uma cidadã americana provisória.
— Provisória? – Perguntou ele abrindo a porta do carro para mim.
— É, se eu não matar ninguém nem for presa no período de cinco anos, serei oficialmente uma cidadã americana.
— E vai poder exercer sua profissão de assassina de aluguel em tempo integral?
— Exatamente, não vejo a hora.
Soltamos uma risada e o carro nos guiou pelas ruas movimentadas, como de costume, não nos faltou assunto, ele me perguntou da minha família, de Johnson, de Gaby, de Tobey e até do meu gato.
Quando chegamos ao mesmo restaurante que ele me levou no nosso primeiro encontro, eu finalmente perguntei o que ele queria tanto falar comigo que só podia ter feito pessoalmente.
— Na verdade, , não quero que você me leve a mal, por favor. Mas você lembra do chef daqui? – Perguntou ele, quando nos acomodamos na mesma mesa da outra vez. Um garçom nos serviu vinho.
— É claro, Tomás, certo?
— Isso. Da última vez que nós viemos aqui, você lembra que vazou uma foto nossa? Que foi a foto que o Jimmy Fallon usou no programa dele?
— Lembro.
— Bom, Tomás teve que demitir o funcionário que vazou a foto, pois aqui é um lugar muito profissional e utilizado por muitas celebridades... Ele não pode se dar ao luxo de ter alguém na equipe dele que não entenda o quão perigoso pode ser um vazamento de fotos desse. Ele se desculpou comigo algumas vezes.
Eu apenas o olhava concordando com a cabeça.
— Enfim, Tomás me perguntou se você não estaria interessada em trabalhar com ele. – Ele disse em um tom sério. - Eu sei que você tem muito dinheiro, e nem sei se você está interessada em trabalhar... Só quis falar isso para você, porque pode ser uma ótima porta de entrada para esse ramo aqui nos Estados Unidos. Não queria que você perdesse uma oportunidade dessas só porque eu supus que você não quisesse, sabe?
— Nossa, Tom! Isso é incrível.
— Você gostou? – Ele parecia incerto, como se estivesse esperando que eu achasse a ideia horrível.
— É claro. Eu ainda não tenho certeza do que eu quero, ainda não tenho dimensão do dinheiro que tenho, mas... Uma oportunidade de conhecer uma cozinha americana? Pode ser que eu nunca mais tenha uma oportunidade dessas! Posso trabalhar com ele enquanto decido o que faço, qualquer tipo de experiência é válida.
Tom finalmente sorriu de alívio, seu semblante deixou de ser sério e seus ombros descansaram um pouco.
— Eu ainda me surpreendo com você... – Disse dando um sorriso sincero.
Senti minhas bochechas esquentarem e bebi um gole de vinho.
— Não quero deixar de fazer o que eu amo só porque tenho dinheiro, eu realmente gosto muito desse ambiente, gosto da pressão, da correria e de saber que tem pessoas que vem neste lugar apenas pelo que eu faço. Vai me dizer que você não ama o que faz? Mesmo já tendo dinheiro o suficiente?
— Sim, eu te entendo completamente. Então... Podemos ficar aqui até Tomás ter um tempinho para conversar com você?
Olhei para a direita, onde estavam os cozinheiros, e vi Tomás entre eles comandando a orquestra.
— É claro.
A noite fluiu, Tom estava encantador exatamente do jeito que eu me lembrava, bebemos vinho, jantamos, dividimos uma sobremesa e aguardamos os cozinheiros limparem as bancadas.
O clima de Tomás era agradável, ele não era um cara enigmático ou misterioso, era um chef descontraído e divertido, um latino espirituoso que me agradou de cara. Conforme nossa outra conversa, ele me disse como as coisas funcionavam no seu restaurante, disse que teríamos um período de experiência, mas que sabia que não teria problemas comigo e me perguntou se eu me importava em fazer um pequeno teste para ver como eram minhas habilidades com a faca.
— Não tenho problemas com isso.
Ele me entregou um avental, e uma bandana para prender o cabelo. Pediu para um auxiliar me trazer três cenouras descascadas.
— Você conseguiria me fazer cortes à julienne, brunoise e macédoine?
Aquilo chegava a ofender um pouco, mas era entendível vindo de um chef que estava querendo contratar uma pessoa que nem havia entrevistado direito.
Fiz os cortes com precisão e cuidado, do jeito que havia feito um milhão de vezes, não cortei os dedos, não fiz sujeira e quando terminei, Tom e Tomás me olhavam admirados.
Combinei mais alguns detalhes com Tomás, e ele se despediu de mim com um sorriso sincero no rosto, alegando que não atrapalharia mais a minha noite com Tom. Vi as bochechas de Tom ruborizando por um segundo.
A volta de carro foi tranquila, Tom elogiou minha performance em frente à Tomás e entramos no assunto de cozinha, onde se resumia a eu explicar os tipos de cortes e facas enquanto ele reagia a cada um com o rosto realmente interessado e admirado.
Tom era um querido de carteirinha, eu realmente adorava a sua companhia, dava para sentir a sua bondade e ingenuidade pairando à sua volta, seus olhos eram carinhosos e doces... Era uma amizade que eu gostava de saber que havia se consolidado.
— Eu sempre fui muito desajeitado na cozinha, tentei me arriscar algumas vezes e acabei percebendo que não era algo para mim. – Ele disse, passando a mão por seus cabelos ondulados.
— Nem o básico? Uma panqueca, ovos mexidos? – Perguntei divertida e ele riu.
— Eu sou meio desastrado. – Disse erguendo os ombros.
— Você é preguiçoso, isso sim. – Brinquei e ele riu, empurrando meu ombro.
Rimos em sincronia e quando os sorrisos foram se desfazendo, notei que ele tinha olhos diferentes para mim, fitou minha boca por um instante antes de falar:
— , eu preciso fazer uma coisa. – Sua mão deslizou para a minha nuca com uma sutileza tão grande que só percebi que estava lá quando ele puxou os cabelos com leveza.
Tom ia me beijar, e eu não tinha motivos para negar aquilo, foi uma noite agradável e estávamos com nossa conversa em dia sobre relacionamentos, um beijinho amigável não faria mal a ninguém.
Tom umedeceu seus lábios finos e uniu nossas bocas, seus dedos mergulharam em meus cabelos enquanto eu abria minha boca para aprofundar o beijo, sua língua e a minha se misturaram com naturalidade. Minha mão seguiu para seu ombro forte enquanto a sua mão livre me puxava para mais perto. O beijo era quente e lento, um beijo com algum significado por trás, pois eu sentia que Tom estava nervoso. Já havíamos passado dessa fase de nervosismo, mas por algum motivo eu sentia algo naquele beijo. Nossas bocas se separaram com calma, sem interrupção, só um beijo que chegou ao fim.
— Merda. – Tom sussurrou mais para ele do que para mim.
— O que foi? – Perguntei baixinho também, fazendo ele sorrir.
— Esse beijo, essa porcaria de beijo bom pra cacete, . – Ele disse com uma irritação falsa, segurando mais um sorrisinho.
— Não entendi.
— Eu precisava te beijar de novo... Para tentar me convencer de que você não é a garota certa para mim. Mas é bem difícil nessas condições. – Era nítido que ele estava sem graça, eu sorri tentando amenizar a situação.
— Tom...
— Não, não precisa dizer nada, eu sei que não é o momento. – Suspirou. – É só que... Eu precisava fazer isso, sabe? Eu precisava ter certeza.
— Me desculpe, Tom, não queria ter que fazer você passar por isso, não quero que pareça que estou te...
— , relaxa. Está tudo bem. Você sempre foi muito clara quanto aos teus sentimentos, sou eu quem peço desculpas.
— Está tudo bem, Tom. – Acariciei seu rosto, sorrindo. – Você vai encontrar a pessoa certa para você, entendeu? Mas infelizmente não sou eu.
— Eu sei, eu sei... – Ele disse tristonho, mas ao mesmo tempo sorrindo fraco.
Colamos nossas bocas mais uma vez, com um certo saudosismo no ar, e o carro estacionou na frente do meu prédio.
— Até mais, Tom. Obrigada pelo jantar e... Puxa, obrigada por tudo! – O abracei com força, ele precisava daquilo.
Seus olhos doces me admiraram com um brilho extra.
Olhei meu reflexo no espelho, vendo cada fio perfeitamente penteado e meu rosto pintado como uma verdadeira pintura dos deuses. Fazia tempo que eu não me maquiava para um evento e acabei me emocionando um pouco, roubei um lencinho do estojo da maquiadora e enxuguei a lágrima que se formou no canto dos meus olhos antes que ela fizesse um estrago.
Respirei fundo e ajeitei a gola do meu roupão.
Peguei o véu, a lingerie nova, as joias emprestadas, e o “algo azul” que seria uma fita de cetim azul celeste belíssima que seria trançada atrás do vestido. Saí do quarto.
— Aonde você estava?! – Johnson me encontrou no corredor, ligeiramente esbaforido de tanto procurar.
— Estava terminando a maquiagem. – Dei de ombros, unindo as sobrancelhas. – Por que? Aconteceu alguma coisa?
— Porque não fez a maquiagem com as madrinhas?
— Eu precisava de um espaço, estava ficando sufocada!
— ‘Tá bem, vem logo! Baby está pirando achando que você fugiu.
Johnson chamá-la de Babyme fez sorrir, me lembrei dos nossos dias na escola, havia pelo menos uns quatro anos que ninguém a chamava assim, talvez quem sabe Tob quando eles estavam em um momento mais íntimo.
Acompanhei ele até o quarto da noiva.
— Graças a Deus! – Gabriela gritou ponto as mãos para o céu. – Pensei que você tivesse pirado, fugido com algum garçom bonitão.
Os garçons daquele lugar realmente eram bonitos.
Abracei minha melhor amiga que estava absolutamente linda, uma trança lateral fazia seus longos cabelos dourados descerem por seu ombro, propositalmente desfiada, a trança era elegante e despojada. Seu rosto estava maquiado de modo “natural”, nós mulheres sabemos que uma maquiagem leve não quer dizer que não há camadas e mais camadas de base, corretivo e pó, mas a maquiadora que fez o serviço em minha amiga sabia o que fazia, e a deixou até com as poucas sardas que haviam em seu nariz empinado. Gab sempre me lembrou um pouco de Jennifer Lawrence, e agora, no auge da sua alegria e da sua beleza, eu sabia que ela era parecia sim com a atriz.
— Não seria uma péssima ideia. – Brinquei e ela riu.
—- Você não faria isso, Johnson talvez. – Olhou de soslaio para Johnson que se admirava no espelho ao lado, passando a mão pelo pescoço sentindo saudades do seu antigo cabelo longo recém cortado.
— Arrependido? – Perguntei a ele, que rolou os olhos dramaticamente.
—- Gata, eu saí de Brad Pitt em Tróia para Leo DiCaprio em Titanic, continuo gostoso. – Fez uma cara esnobe e eu franzi o nariz mostrando a língua.
Johnson não estava exagerando em comparar sua beleza com a de Brad Pitt ou Leo DiCaprio, assim como a irmã, ambos poderiam ser comparados a belezas Hollywoodianas. Mas Johnson tinha uma beleza mais suave, delicada e jovial, como a de Bill Skarsgard.
— Ok, beleza americana. – Gaby disse rindo. – Você está linda, .
— Você está divina. - Meus olhos se encheram de água novamente, vendo-a daquele jeito.
Minha melhor amiga ia se casar com meu irmão! Isso é bem coisa de fanfic, não é? Parece que todos os meus sonhos mais malucos estavam acontecendo, minha vida era o epílogo de um conto de fadas, uma pequena amostra do que acontece depois do “felizes para sempre”.
— , mulher, se recomponha!
— Eu estou tentando! – Falei com a voz chorosa e Gaby abriu os braços para me acolher.
— Vocês estão parecendo Rachel e Mônica. Com a exceção de que as personalidades estão trocadas. é a cozinheira mandona e Baby é a patricinha chorona.
— Você é o Ross. – Gab disse rindo sabendo que o gêmeo iria reagir.
— O que?!! Nunca mais me insulte desse jeito, piranha!
— Você é a Phoebe, Johnson, nós sabemos. – E ele realmente era, uma pessoa que morou na rua, tinha ideias malucas, e ainda era barraqueira? Nós éramos o trio perfeito.
Trocamos de roupas, junto com as outras madrinhas, o vestido que Gabriela havia escolhido para as madrinhas era lindo e simples: rosa envelhecido, quase nude, com apenas uma alça no ombro, o caimento era leve com tule, combinava muito bem com o clima primaveril do hotel em que eles estavam se casando. Depois de estar praticamente pronta (deixei para calçar os sapatos altos apenas na hora de entrar), saí do quarto da noiva alegando que queria ver como Tobey estava.
Meu dia seria inteiramente dedicado à minha melhor amiga, sem sombra de dúvidas, mas eu precisava checar os ânimos de meu irmão também. Seria seu segundo casamento, mas isso não tira o mérito dele.
Segui pelos corredores do hotel, com meu vestido esvoaçante e pantufas da Florzinha, um presente que ganhei de Johnson em meu aniversário deste ano.
— Tia ! – Ouvi a voz grossa de Otis e já abri um sorriso. Eu nunca iria me acostumar com Otis daquele tamanho. Não sei a quem ele puxou, sendo que Tobey não é tão alto e nem a sua mãe, Jennifer.
Ele veio me abraçar.
— Cada vez que eu te vejo, você está maior! – Exclamei o abraçando.
— Na verdade acho que é você que está menor. – Brincou ele rindo.
Entramos em uma conversa rápida sobre como ele estava. Otis estava no último ano do ensino médio e disse que estava bem interessado em seguir os meus passos e se tornar um cozinheiro profissional, mas sua mãe estava bem decidida a não o deixar estragar seu futuro com isso. Não me senti ofendida ou atacada de maneira alguma, a cozinha não é um lugar fácil, sei que ela também sabe disso, ela só está tentando proteger o seu caçula. Então ele concordou em cursar Administração de negócios, visando uma carreira futura na cozinha, onde ele poderia abrir o próprio negócio.
Ele abriu espaço para que eu entrasse no quarto do noivo. Tobey estava logo atrás dele, com as mãos agarradas em seu próprio pescoço de maneira cômica.
— ! Graças a Deus. – Ele suspirou aliviado.
— Está tudo bem?
— Está, sim, está. – Ele riu nervoso, passando as mãos nos cabelos perfeitamente penteados. – Só estou pirando um pouquinho.
Me puxou para um abraço, enquanto o abraçava encontrei ninguém mais ninguém menos do que Tom Holland próximo da janela, ele nos observava com um sorriso no rosto.
— É normal pirar um pouquinho. – Falei esfregando minhas mãos em seus ombros, ele já estava com o paletó azul perfeitamente engomado e usava uma camisa branca por baixo. – Mas não o suficiente para querer fugir.
Ele riu ainda nervoso.
— Nem parece que já passei por isso... – Tob soltou mais uma risadinha. – Como ela está?
— Gaby está bem, não se preocupe com ela. – Tentei tranquiliza-lo.
Finalmente dei um pouco de atenção à Tom, não queria me distrair do foco que era Tobey e Gaby nesse momento tão importante.
Tom, como sempre, estava lindo. Eu não o via pessoalmente há alguns anos. O tempo lhe fez bem, estava mais encorpado, mais maduro e indiscutivelmente mais britânico. Os cabelos estavam curtos, a lateral praticamente raspada, eu nunca o tinha visto daquele jeito.
— Thomas! – Falei sorrindo e ele abriu os braços ao mesmo tempo que abriu um sorriso.
— Irmã Maguire, quanto tempo!
Seu corpo era tão sólido quanto eu me lembrava, e seu cheiro ainda era o mesmo, tudo nele era muito reconfortante.
— Como você está? – Perguntei genuinamente interessada e ele ergueu os ombros de maneira descontraída.
— Estou bem, estou em Londres quase sempre. Focado no teatro.
— Isso é ótimo. Romeu e Julietta, certo?
— Sim! Ainda estou esperando que você vá lá prestigiar. – Brincou fazendo um biquinho. - E você? Como está o restaurante?
Durante esses cinco anos que se passaram, minha vida mudou mais do que nunca. Trabalhei durante um ano e meio com Tomás até perceber que eu precisava fazer meu próprio caminho. Retirei um ano sabático para viajar por todo o Brasil, fiz estágios em vários restaurantes, em todos os estados, conhecendo e aprendendo sobre toda a cultura brasileira que ainda era muito limitada para uma pessoa que viveu e cresceu apenas em Santa Catarina. Fiz novas amizades, tive novas aventuras e consegui finalmente me deixar perdoar pelas coisas que aconteceram no passado. Voltei para os Estados Unidos com Jacquin em minha mochila de viagem e resolvi abrir um restaurante de comida brasileira. O sucesso foi estrondoso e o Miranda virou um point de requinte entre estrelas hollywoodanas, é claro que ser irmã de Tobey Maguire fez isso acontecer com mais facilidade, não tenho como negar um nepotismo escancarado, mas não tinha como fazer isso de outra maneira. Porém Miranda se consolidou como um restaurante ótimo por conta própria.
— Está perfeito. – Nunca em toda a minha humilde existência, achei que fosse chegar nesse patamar, a dona de um restaurante requintado que estava a caminho de receber minha primeira Estrela Michelin. – Estou muito feliz com o andamento das coisas.
— Isso é maravilhoso, querida. – Disse com seu sotaque carregado.
Conversamos os quatro durante alguns minutos, reforcei que Tom e Otis tinham um trabalho sério de manter Tobey nos eixos e os deixei.
Segui para a cozinha para acompanhar o mise en place do jantar. Tudo estava organizado, apenas toques finais estavam sendo feitos, brotinhos de feijão sendo separados com pinças, fatias de vieira sendo cortadas em finíssima espessura e todas as postas de robalo já estavam temperadas no vácuo. Provei a farofa, estava crocante e sequinha. Confirmei alguns detalhes com meu sous chef e voei para fora.
Os convidados já estavam começando a chegar e eu ainda estava de pantufa!
Corri de novo para o quarto da noiva. Haviam duas mulheres em cima de Gaby, arrumando fios de cabelo fora do lugar, ajeitando o véu que eu havia levado mais cedo para lá.
— Amiga, desculpa, fui ver como estava a cozinha.
— Alerta de workaholic. – Johnson cutucou e eu mostrei a língua para ele.
— Você não foi conferir seus fotógrafos nem uma vez? – Retruquei. Assim como eu estava responsável pela cozinha, Johnson era responsável pelo grupo de fotógrafos do casamento.
— Ele foi sim, algumas vezes inclusive. – Gab respondeu e eu franzi o nariz para ele.
— Está tudo perfeito. A cozinha está organizada, Tobey está nervoso mas não irá fugir, e os convidados estão começando a chegar.
— Ótimo, . Obrigada. – Ela agradeceu com os olhos pelo reflexo do espelho.
Calcei minha sandália, roubei um chiclete de Johnson e peguei a aliança que eu deveria entregar à ela na hora certa. Tudo estava absolutamente em perfeita harmonia.
Deus, que alívio!
O fardo de ser a madrinha principal, irmã do noivo, responsável pelo buffet da festa estava me levando a loucura nas últimas semanas, Gabriela estava ansiosa e acabava me deixando ansiosa também, Tobey estava nervoso e acabava me deixando nervosa também. Até o pobre Jacquin sentia que eu estava uma pilha de nervos e vinha deitar em meu colo sempre que tinha uma oportunidade, ele sentia tudo!
— Tia ? – Vi Ruby conversando com algumas madrinhas e reconheci minha sobrinha.
— Caramba, Ruby! – Falei indo até ela. Ruby estava absolutamente estonteante.
Os cabelos caíam em seus ombros em cachos largos e perfeitos, sua maquiagem era leve e moderna, algo que Kylie Jenner usaria. O vestido era bordô e ela andava com confiança em um salto belíssimo. Por Deus, Ruby havia se tornado uma mulher maravilhosa!
— Você está linda! – Falei animada e ela sorriu vindo me abraçar.
— Obrigada, tia, você também.
Entramos em uma conversa sobre a sua vida, onde ela confirmou que estava animada para viver a vida que o seu pai também teve: ser atriz. Tobey já havia me revelado que não queria que ela seguisse seus passos, por isso nunca investiu em cursos ou aulas de teatro quando ela era menor. Mas eu já sabia, em conversas com a própria Ruby e até com a sua mãe, de que a garota sempre teve esse sonho e durante seu tempo no ensino médio, sempre fez parte de todos os clubes de teatro, e aulas particulares com diversos professores.
Agora que ela já era uma adulta e podia ter a sua própria narrativa de vida, a garota estava, devagarinho, entrando nesse mundo da mídia cinematográfica, já havia feito algumas pontas em filmes famosos e logo estaria no topo do mundo como o seu pai já esteve. Eu estava especialmente orgulhosa dela.
Entrei no salão ao som de Love On Top tocada de forma belíssima por uma banda de violinistas, eu me sentia em alguma temporada perdida de Bridgerton. Otis me acompanhava já que ele era o padrinho principal de Tobey, nossos braços estavam enlaçados de maneira formal. Quando chegamos ao altar, ele beijou minha mão com um sorriso encantador no rosto, ele era uma cópia pura de Tobey na sua idade, o mesmo sorriso ladino e os olhos azuis cristalinos. Enquanto eu aguardava a entrada dos outros padrinhos e madrinhas, consegui dar uma olhadinha nos convidados. A cerimônia era bem reclusa e poucas pessoas foram convidadas, mesmo assim consegui ver Leonardo DiCaprio na primeira fila, ao lado da mãe de Gaby, de minha mãe e Pedro. Ainda na primeira fila estavam Hugh Jackman e Ryan Reynolds com suas respectivas esposas.
Na primeira fileira do outro lado, pude ver Scarlett Johansson, Margot Robbie e Elizabeth Banks com seus respectivos maridos, e no fim da fileira vi um par de olhos castanhos me encarando com um sorrisinho torto no canto dos lábios, senti meu coração dar um baque descompassado, meu rosto esquentou e minhas mãos suaram.
Acenei discretamente com a cabeça para Andrew perceber que eu estava o cumprimentando e seu sorriso se abriu. Elizabeth Banks o viu sorrindo e puxou assunto, seguindo seus olhos até mim e eu olhei para outro casal de padrinhos que entravam, disfarçando.
Por fim, Tobey entrou acompanhado de Ruby, notei que quase todos no salão ficaram tão estarrecidos quanto eu. Ruby realmente parecia uma estrela de cinema, se destacando de maneira absoluta, roubando os holofotes do noivo ao seu lado e era perceptível que Tobey queria que todos olhassem para ela para ficar mais confortável naquele momento.
A marcha nupcial começou a tocar e a noiva apareceu acompanhada de Johnson, afinal seu pai não havia sido convidado, eles não se conversavam desde que ele deu as costas à Johnson.
Ver meus melhores amigos ali, naquele momento tão especial deixava meu coração transbordando de amor, aqueles ali eram a minha família, meus pais estavam lá, a mãe de Gab e Johnson, Tobey e meus sobrinhos. Não consegui conter uma lágrima fujona e a madrinha atrás de mim me entregou um lencinho discretamente.
A cerimônia seguiu conforme o planejado. Entreguei o anel para Gabriela no momento, chorei mais um pouco enquanto via meu irmão mais velho e minha melhor amiga recitando palavras e promessas de amor um ao outro.
Gaby e Tobey foram anunciados pela primeira vez como Sr. e Sra. Maguire e foram até o centro do salão grande para dançarem a primeira valsa. Gaby estava absolutamente incrível, seu vestido era de cair o queixo, branquíssimo, no modelo sereia com uma longa cauda, as fotos do casamento ficariam perfeitas. Aqueles dois eram perfeitos demais para ser verdade.
Otis veio até mim e estendeu a mão, me puxando para dançar a valsa, era o combinado entre os padrinhos e madrinhas.
— Está preparado para o assédio das tia-avós chatas? – Perguntei fazendo-o rir. Havíamos entrado em uma conversa um dia desses sobre isso, que o fato dele ter crescido seria um assunto permanente entre os mais velhos da festa.
— Estou. E você está preparada para ser assunto entre os solteiros amigos do papai?
— Será que estou muito velha para o DiCaprio? – Brinquei e ele riu novamente.
— Tia , você sabe que eu não quero te ofender dizendo isso, mas sim, você está velha demais para o Tio Leo.
— Como você ousa! – Exclamei dando-lhe um tapinha no ombro.
— Hum-hum. – Ouvimos uma garganta arranhar, chamando nossa atenção. – Me concede esta dança, bela senhorita?
Era Johnson. Otis sorriu (ele não pagava imposto para ser simpático) e entregou minha mão a ele.
— Será que ele é do vale? – Perguntou Johnson me guiando pelo salão enquanto a valsa calma ainda tocava.
— Otis? Talvez. Seu gaydar não apitou?
— Na verdade não. Uma pena... Qual é, estou brincando! – Johnson riu da cara que eu fiz. – E então?
— E então o que?
— Não vamos falar sobre o elefante na sala?
— Que elefante, Johnson?
— O elefante gigantesco chamado seus dois antigos amantes.
Soltei uma risada falsa, jogando a cabeça para trás.
— Johnson, isso foi há cinco anos... Acho que todo mundo aqui já esqueceu essa história.
— Eu, com certeza, não esqueci que minha melhor amiga fisgou os dois homens mais gostosos do universo Marvel.
— Sebastian Stan mandou lembranças.
— Pare de se fazer de sonsa, isso é trabalho da Baby. – Johnson se fingiu de irritado. – Eu ainda sou team Andy.
— Deus do céu. – Bufei e ele se divertiu. – Muda de assunto, por favor!
— Eu não, o assunto era casamento, agora que aconteceu e estamos todos aqui, preciso de combustível para... Tom!
Virei o rosto com pressa e avistei Tom ao nosso lado sorrindo para Johnson, Deus... Essa valsa era realmente assim tão longa?
Tom pousou a mão gentilmente em minhas costas, ele usava seus óculos de grau que o deixava mais bonito e mais inglês do que de costume.
— Eu juro que vim em paz. – Ele iniciou a conversa se defendendo. – Só quis vir aqui te pedir desculpas pelo nosso último encontro.
— Não existe motivos para isso, Tom. Foi um encontro tranquilo que me rendeu uma experiência incrível. Não tenho o que desculpar, só agradecer.
— Eu fiz e refiz aquela última conversa umas mil vezes, peguei o celular para te ligar e conversarmos direito algumas boas vezes em que estive na América, mas nunca me parecia certo... Enfim, só quero dizer que eu sinto muito por derramar tanta coisa em cima de você.
Tom falava rápido, nervoso e inseguro, me olhava com seus olhos castanhos me queimando. Porém, eu sentia que algo era diferente dessa vez, ele me falava aquilo por peso na consciência de uma conversa de cinco anos atrás, mas não significava que ele queria algo comigo... Ele só estava se explicando, dei um sorriso sincero.
— Thomas, está tudo bem. De verdade. Eu nunca vi toda essa história como algo ruim, ou como se você tivesse “derramado” algo sobre mim! Não se martirize por conta disso, tá bem? Estamos bem, somos amigos, não somos?
Mesmo sem vê-lo, ou por termos aquele histórico de romance durante um curto período de tempo, eu via sim um semblante gostoso de amizade pairando sobre nós.
Tom sorriu, um sorriso largo e sincero que mostrava seus dentes bonitos.
— Somos sim, sempre te considerei uma amiga. Sinto que posso confiar em você.
— Você pode. – A valsa lenta nos embalava os olhos de todos ao redor eram sobre os recém-casados.
— Então você não vai contar para ninguém se por acaso eu disser que conheci alguém? – Seus olhos brilhavam em expectativa.
Então era sobre isso que essa dança se tratava! Tom estava inconscientemente preso a mim por uma situação de cinco anos atrás que, por ele, ainda não tinha um ponto final e precisava dessa aprovação para seguir em frente. Minha psicóloga ficaria orgulhosa.
Eu sorri, fazendo-o sorrir junto.
— Talvez eu conte para o Johnson... – Fiz uma carinha de falsa inocente e ele soltou uma risada gostosa.
— Ok, posso lidar com isso.
— E quem é a sortuda? Ela está aqui?? – Falei virando o rosto para os lados, e suas bochechas automaticamente receberam o tom rosado.
— Está. Na verdade, ainda não aconteceu nada, mas... Eu estou sentindo algo, sabe? Eu precisava falar isso para alguém.
— Eu estou genuinamente feliz de que você me escolheu para isso! – Falei animada e a valsa terminou. Tom segurou minha mão, me fez dar uma voltinha e finalizamos a dança.
— Obrigado, eu... Sabe aquele sentimento gostoso, aquele friozinho na barriga de quando você recebe uma mensagem da pessoa? Estou me sentindo um adolescente. – Ele passou a mão nos cabelos visivelmente nervoso.
— Eu sei! Como sei! – Falei rindo enquanto ele continuava encabulado. – Olha só, aproveita esse momento, respira, e vai em frente. Tom, você é um cara incrível de verdade, eu me senti confortável contigo de um jeito que nunca me senti com ninguém, você é leve, divertido e doce. Essa garota com certeza está tirando a sorte grande!
—- Obrigado, , eu realmente precisava disso. – Ele deu um sorriso torto e eu acariciei seu ombro.
— Vai em frente, só seja você mesmo.
Tom concordou com a cabeça, me deu um abraço forte e se afastou de mim sorrindo.
Suspirei feliz, vendo o garoto se transformando em um homem enquanto o observava se afastar.
Bati algumas vezes com a faca em minha taça para chamar a atenção dos convidados.
—- Com licença, boa noite. – Eu sorri, dando tempo de todos se acostumarem com o fato de que eu iria falar. Peguei o microfone sem fio que já estava sobre a mesa para aquele momento.
— Bom, para quem não me conhece, meu nome é , e eu sou irmã do noivo e melhor amiga da noiva. Não quero me gabar mas esse casamento só está acontecendo por minha causa. – Brinquei e as pessoas riram educadas, ouvi até um “Woo” que eu podia apostar que era de Johnson. Pigarrei. - Eu conheço Gabriela a minha vida toda, estudamos juntas na infância, crescemos juntas, criamos laços juntas, sempre tivemos uma ligação de irmãs, eu sempre me considerei uma terceira gêmea perdida. Eu, ela e Johnson sempre fomos o trio perfeito, as três espiãs demais, as meninas superpoderosas, Daphne, Velma e Scooby-Doo. – Pausei para o momento das pequenas risadinhas, ouvi Johnson reivindicar seu posto gritando que ele era a Daphne. – Não foi uma surpresa para mim ver que meu meio-irmão Tobias havia se apaixonado pela sua personalidade, Gaby. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço, uma amiga fiel, engraçada, dedicada e carinhosa e você merece tudo de bom que está acontecendo na sua vida. E, bom, do outro lado temos Tobey, e a minha história com ele é tão sensacional quanto esta união. Eu também conheço Tobey a minha vida toda, nos separamos quando eu era uma criança e se não fosse por sua insistência, eu nunca teria voltado para a sua vida. Tob, muito obrigada por me fazer tão feliz, por virar minha vida de cabeça para baixo da melhor maneira possível, eu não podia ser mais grata. E em contrapartida, imagino que se você não fosse tão insistente, não estaríamos aqui hoje comemorando essa união fantástica. - Fiz uma pequena pausa, deixando de olhar o salão cheio e olhei para eles. – Vocês dois juntos são a prova de que verdadeiro amor existe, de que não existe distância na terra que faça uma fagulha apagar, que não há nada que o amor não conquiste. Eu amo fazer parte dessa história e amo vocês dois. – Nessa última parte, minha voz se afetou um pouco pela emoção. Ergui minha taça e finalizei: - Ao melhor casal de todos! Tobey e Gaby.
Todos ergueram as taças e aplaudiram.
Depois do jantar, eu pude finalmente respirar sossegada sabendo que a comida estava perfeita e os garçons do hotel estavam bem coordenados com o meu grupo da cozinha.
Agora eu pude aproveitar o restinho do casamento sem nenhum tipo de ansiedade. Circulei por entre as mesas, conversei com a mãe de Gaby, conversei com minha mãe e Pedro e fui até a noiva conferir se estava tudo bem.
— Está tudo ótimo, . Senta, relaxa. – Ela indicou a cadeira ao seu lado. Tobey estava nas mesas, fazendo uma social com seus amigos famosos.
Conversamos um pouco sobre os convidados e durante nosso minuto de descanso, vi Tom sair da sua mesa, passar por nós com um sorrisinho no canto dos lábios e seguir até a mesa onde Otis, Johnson e Ruby estavam. Ele se sentou ao lado de Ruby e eles entraram em uma conversa animada e... Não pode ser! Será que Ruby era a mulher que Tom estava conversando? Espera, ela não é muito nova para ele? Em um segundo, uma conversa sobre esse assunto veio em minha mente, onde Ruby me chamou de velha e Tobey comentou com ela de que Tom teria trinta e cinco quando ela tivesse vinte e cinco. A diferença de idade deles era menor do que a diferença de idade entre Tobey e Gaby, e bom, Ruby já tinha vinte e um.
Analisei os dois por mais alguns minutos, Ruby estava linda e sorria muito enquanto Tom gargalhava sobre alguma coisa, jogando sua cabeça para trás com naturalidade. Eram um casal incrivelmente bonito. Eu estava muito feliz com aquela informação.
O baile iniciou logo depois com as luzes se apagando, me dei ao luxo de beber um pouco mais de champanhe agora que todos os meus deveres estavam completos como madrinha.
Rondei mais um pouco pela festa, Johnson me puxou para um canto para comentar sobre o clima entre Tom e Ruby na mesa em que eles estavam, e eu gargalhei o chamando de fofoqueiro e indicando que já sabia do babado.
E antes de sair, Johnson pegou algo do bolso interno de seu paletó e me entregou.
“Você está ainda mais bonita do que eu me lembrava, é algum tipo de feitiço brasileiro?”
O bilhete estava escrito de caneta azul, a caligrafia era bonita e leve como eu me lembrava da caligrafia de Andrew na festa do meu aniversário de alguns anos atrás.
Johnson me encarou ansioso, dando pequenos pulinhos rindo e eu não consegui conter um sorriso sentindo meu estômago revirar.
- E então? – Meu amigo perguntou animado.
Mordi o lábio inferior nervosa. Eu evitei pensar em Andrew e em Tom durante todos os preparativos para o casamento, por sorte eram tantas coisas para fazer, orçamentos, caçadas de vestidos, bolo, decoração, arranjos de flores, véu, grinalda, lista de convidados, menu degustação, que quando eu chegava em casa não tinha tempo de pensar em nada.
Mas não posso mentir que durante esses cinco anos longe de qualquer um deles, as vezes eu me pegava pensando... E se?
Confesso que além de não estar emocionalmente preparada para um relacionamento, naquela época, Tom não era uma opção, ele era mais novo do que eu, tinha acabado de sair de um relacionamento também e por mais gentil, fofo e querido que ele fosse, ele não fazia meu coração palpitar de forma diferente.
Além, é claro, do meu instinto de síndrome do impostor que nunca me considerou uma pessoa aos pés de qualquer um deles e não importa o quanto Tobey falasse, eu nunca iria conseguir engolir aquilo. Hoje, depois de muita terapia, muita conversa com meus amigos e um pouco mais de bagagem de amadurecimento, eu consigo entender que sim, eu podia ter um relacionamento saudável com qualquer um deles. O fato de eu ser filha de uma mulher simples do Brasil não me diminuía perante a qualquer pessoa.
E mesmo assim, aquele bilhete em minhas mãos pareciam ter vindo de um sonho esquisito que eu não podia me deixar enganar. Eu não podia deixar a impostora me abalar.
— Vai responder o bilhete? – Johnson me trouxe à realidade novamente.
— Não.
— Não?!
Me virei, deixando ele falando sozinho, apertei o bilhete em minha mão tão forte que ele virou uma bolinha de papel. Segui meu caminho até uma determinada mesa que haviam alguns convidados famosos de Tobey.
— Garfield, posso falar com você? – Minha psicóloga disse que eu tinha que aprender a enfrentar as limitações que a minha impostora me submetia.
Ele foi pego de surpresa. Eu sorri para o resto da mesa, não querendo parecer rude. Percebi que ele estava em uma mesa apenas com mulheres casadas, como se elas estivessem lhe aconselhando, minha suspeita se confirmou com a expressão delas quando ele se levantou para falar comigo. A risadinha delas quando ele me acompanhou para longe da festa deu o toque final para eu me sentir um pouco mais confiante.
Fomos para um corredor na lateral da festa, o som ali era mais abafado.
— Você pode me explicar o que isso significa? – Perguntei o encurralando contra uma parede, mostrando o bilhete amassado a ele.
Andrew estava bem arrumado, os cabelos perfeitamente arrumados para trás, a barba estava um pouco mais comprida do que eu me lembrava, mas bem aparada.
— Significa o que está escrito, achei que estava bem explicado... Talvez minha caligrafia não esteja das melhores e...
— Isso não tem graça, Andrew.
Seus olhos brilhavam mais do que o normal, era nítido que eu tinha o tirado da sua zona de conforto o trazendo até ali e era exatamente isso que eu queria. Não queria ser a mesma bobinha que flertava por bilhetinhos uma festa inteira. Eu queria ser uma mulher que conversa e põe as cartas na mesa.
— Me desculpe, . Eu só precisava ter um motivo para puxar assunto com você. – Ele disse encostando as costas na parede e pondo as mãos nos bolsos da calça.
— E porque você iria querer isso?
— Porra, , eu achei que a gente fosse flertar um pouquinho antes de chegar nessa parte da conversa. Eu nem estou bêbado o suficiente! – Ele disse rindo nervoso, passando uma mão nos cabelos e desviando o olhar.
— Não entendi. – Talvez eu estivesse entendendo, mas não queria cair em minha própria armadilha. Uni as sobrancelhas e continuei o encarando. Meu coração batia forte em meu peito e minhas mãos estavam começando a suar. Ele suspirou alto, voltando seus olhos até os meus.
— Esses olhos... Eu nunca vou esquecer esses fucking olhos. – Ele disse umedecendo os lábios. – Maguire, eu tentei por cinco anos, eu juro pela minha falecida mãe que eu tentei te esquecer.
Abri a boca para falar, mas ele levantou um dedo como se pedisse um minuto.
— Eu conheci muita gente, namorei, mas nada chegou nem perto do que eu senti naquela noite, a noite em que eu te vi com uma faca na mão, tão habilidosa que eu pensei duas vezes se eu iria mesmo tentar flertar com você. – Ele sorriu. – Eu sei que você não sentiu o mesmo. Eu sei. Mas te ver hoje me fez lembrar de tudo de novo... Esse vestido... Você está linda.
Eu não sabia dizer exatamente qual expressão eu estava fazendo.
— Andrew, eu...
— Está tudo bem, . Eu vim preparado para o não. – Suas sobrancelhas mostravam certa tristeza.
Meu peito ardia de uma maneira esquisita, meu coração estava disparado e por algum motivo as palavras de Andrew me atingiram, eu nunca estaria preparada para palavras como aquelas, ninguém está. Nunca dei a chance ao meu coração de poder se apaixonar por alguém depois de Cadu porque minha cabeça sabotava qualquer possibilidade, mas confesso que me senti nua com o que havia acabado de ouvir. Nua, vulnerável e absurdamente feliz.
— Você não tem o direito. – Minha voz saiu fraca e rouca.
— Do que?
— De fazer eu me sentir assim.
— Assim como, ?
— Confusa.
Suas sobrancelhas se uniram, agora era ele quem estava confuso.
— Você nunca esteve confusa. Você sempre soube o que queria e... – Sua voz foi sumindo e seu rosto se clareou. – Merda, Maguire, não me dê esperanças.
— Eu não sei o que estou fazendo, isso é bem novo para mim. Mas quando eu te vi hoje, lá no altar do casamento... Foi diferente. Quando eu recebi o bilhete... Algo aconteceu.
Senti as mãos de Andrew agarrando minha cintura e me puxando para perto, em um movimento simples nossos lugares estavam trocados e minhas costas estavam coladas na parede.
— Só me dá uma chance de te provar que eu não sou como qualquer cara que já tenha te feito algum mal. – Seu cheiro me envolveu como um abraço quentinho, um cheiro que estava guardado em uma caixa em minha mente que eu jurava que já estava fechada. Todos os momentos divertidos e deliciosos que eu já havia passado com ele vagaram em minha mente.
— Você não precisa provar nada. – Falei antes de unir nossas bocas.
O primeiro contato foi apenas um selinho demorado, daqueles em que você só lembra de respirar e nada mais. Separamos nossas bocas e notei que minhas duas mãos estavam em sua nuca, por Deus, eu tinha certeza de que estavam suadas mas ele fingiu não notar. Andrew deu seu sorriso bonito que eu tanto adorava e voltou a unir nossos lábios, dessa vez com a sua língua encontrando a minha. Não era um beijo apressado, um beijo agressivo ou um beijo desesperado por mais. Era um beijo de quem tinha tempo para apreciar, nossas bocas se encaixavam do jeito certo e meus dedos mergulharam em seu cabelo.
Estar com Andrew naquele momento era exatamente o que eu devia estar fazendo, era o que todos os meus passos estavam me levando até aquele ponto. Eu não podia ter me apaixonado por ele antes porque eu não estava pronta, meu coração e minha mente não estavam prontos. Mas agora, eu sentia em meu íntimo, em meu sangue que aquilo era o correto.
— Mm-hmm. – Ouvi alguém pigarrear. Separamos nossas bocas assustados, nossas cabeças se viraram ao mesmo tempo. – Desculpa incomodar os pombinhos, mas a noiva vai jogar o buquê e ela quer a presença de todas as madrinhas solteiras. Quero dizer... Você está solteira, ?
Johnson era um filho da puta.
Andrew riu, afrouxando as mãos da minha cintura.
— Por favor, Johnson, tenha misericórdia, estou pisando em ovos aqui. – Ele disse, querendo referir que não queria me assustar com rótulos. Soltei uma gargalhada, finalmente tirando minhas mãos da sua nuca.
— Vamos, Garfield. Eu tenho um buquê para pegar. – Falei séria, puxando a sua mão para ver a reação que ele teria.
— Aposto cem euros que você não consegue. – Ele brincou, me fazendo rir.
— Feliz aniversário, Pequena Maguire. – Não importa quantas vezes eu dissesse para Andrew que eu não era uma Maguire, ele havia se acostumado a me chamar daquele jeito e confesso que eu achava fofo.
Seus olhos castanhos me encaravam com uma alegria contagiante enquanto me oferecia um pequeno bolo de chocolate lambuzado com uma cobertura claramente amadora feita por ele mesmo.
— Pega leve nas críticas, estou aperfeiçoando minhas habilidades culinárias.
— Não acredito que você fez isso! Está lindo! – A cobertura do bolo estava decorada com raspas de chocolate preto, eu já havia informado a ele que granulado colorido estava banido da nossa casa e fiquei muito orgulhosa dele lembrar desse detalhe.
Andrew era assim, ele se esforçava para manter um relacionamento saudável e leve.
— Está realmente lindo ou você está com pena de mim?
— Deixa eu cortar o bolo e ver como está o meio que eu te respondo.
Isso o fez dar uma gargalhada genuína.
— Que maldade. – Comentou ele colocando o bolo sobre a bancada de madeira da ilha na cozinha e vindo ao meu encontro para me abraçar.
— Feliz aniversário, . – Ele repetiu quando me ergueu do chão, selei nossos lábios.
— Obrigada, Andy.
Os últimos meses haviam me mostrado que eu estava certa no casamento de Tobey e Gabriela, eu estava pronta para o amor, pronta para um compromisso e Andrew era a pessoa certa.
— Quer comer o bolo? – Perguntou ele quando me pôs no chão.
— É claro!
— Tudo bem, mas...
— Andy, não sou crítica de culinária. – Me defendi abrindo a gaveta dos talheres enquanto ele pegava os pratos.
— Mas é a dona do restaurante mais conhecido de Hollywood, não sei onde eu estava com a cabeça quando pensei em te fazer esse bolo.
— O que??! – Fiz um drama maior do que era. – Eu vou comer um bolo feito pelo mais novo ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante, isso não é uma honra?
Ele riu ligeiramente envergonhado enquanto eu cortava o bolo.
— Tá bem, tá bem. Estamos quites. – Ele disse erguendo as mãos em rendição.
Depois de comermos o bolo (que estava delicioso), eu tinha prometido que iria ensiná-lo a andar de moto. Matilda finalmente tinha sido aprovada pela papelada de importação, e Andy estava mais animado do que eu para ligar o motor.
— Ok. – Falei entregando um capacete a ele. E subindo na moto para mostrar todos os detalhes. – Acelerador, embreagem, freio de mão, freio de pé, marcha, primeira para baixo as outras para cima. Entendido?
— Sim senhora. – Ele disse sorrindo sem mostrar os dentes de maneira adorável.
— Você vai tirar o pezinho do chão, está vendo? Assim. Vai virar a chave, esperar essa luz aqui apagar no painel e ela está pronta para ligar. – Apontei para a luz da injeção eletrônica. – Você pode ligar ela na partida elétrica, mas eu acho mais charmoso... – Bati o pé no pedal de partida, e a moto roncou deliciosamente. Segurei a embreagem e acelerei fazendo a moto mostrar toda a sua potência. Seus olhos brilharam de ansiedade.
Fiz todo o reverso e desliguei a moto para ele fazer o mesmo.
— Você fica muito gostosa em cima dessa moto. Quero dizer, você é gostosa em tempo integral, mas confesso que a Matilda está me fazendo imaginar coisas. – Ele admitiu rindo, e eu soltei uma gargalhada divertida. Desci da moto e dei espaço para ele subir.
— Deus do céu, eu mereço ouvir isso em pleno dia de aniversário.
— São apenas verdades incontestáveis. – Ele deu de ombro, dando uma volta na moto antes de subir, analisando o design dela. – Você acha que isso é normal? – Perguntou ele, apontando para algum lugar próximo à correia da moto. Fiquei preocupada pois nem tive tempo de procurar um mecânico de confiança para levar Matilda para uma revisão depois da viagem até aqui.
— O que? – Perguntei me aproximando do local, olhei todos os detalhes da correia, do kit relação e até os raios da roda. – O que está errado, Andy? – Perguntei novamente, dessa vez desviando meu olhar para ele, de modo que ele me mostrasse o que ele tinha visto de errado. Porém, o que eu vi foi um Andrew ajoelhado, segurando uma caixinha de veludo azul marinho fechada.
— A-Andrew? – Minha voz falhou.
— , eu pensei em mil e uma maneiras de fazer isso, na casa de Tobey, na casa dos seus pais, até na cerimônia do Oscar... Pensei em mil palavras, ensaiei... Mas no fim de tudo, a única coisa que eu quero é estar aqui em casa contigo. Você, de alguma maneira, agora é o meu lar e eu não quero mais esperar para gritar para quem quiser ouvir que você é a mulher a minha vida. Então... – Ele abriu a caixa, revelando uma linda aliança dourada com um diamante solitário. Fiquei sem ar, meus olhos marejaram e a única coisa que se passava em minha cabeça era que Andrew estava tão lindo, leve e simples. Em meio segundo, lembrei de tudo pelo que nós passamos, revivi alguns momentos e senti meu peito se encher de felicidade. – Você quer se casar comigo?
Soltei uma risada que fez uma lágrima teimosa descer pela minha bochecha.
— Sim!
— Sim? – Ele perguntou se levantando enquanto sua boca se abria naquele sorriso que eu tanto amava.
— Sim! – Agarrei seu pescoço e o abracei com força.
— Eu te amo, . – Seus braços estavam envoltos em minha cintura, enquanto os meus estavam em seu pescoço.
— Eu também te amo Andy. – Suspirei, beijando seu rosto antes de me afastar. – Me desculpe se eu não falo isso o suficiente, ou se eu não te faço declarações de amor fofinhas no instagram. É só que eu gosto do nosso íntimo, gosto do nosso simples, dessa leveza que a gente tem. Não quero estragar isso.
— Eu sei disso , você não precisa se explicar, acho que já teve muito da sua vida sendo publicada sem a sua permissão para querer me explicar isso. A única coisa que eu te peço é que caso não me ame mais, me avise.
— Andrew, você fez um bolo para mim, me deu um anel de diamantes e não são nem dez da manhã ainda, como eu poderia não te amar? – Brinquei e ele riu me puxando para mais um beijo.
E naquele momento, enquanto ele me erguia pelo ar e dava o seu melhor sorriso, eu soube com toda a certeza de que seríamos para sempre.
FIM!!!
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Nota da autora: Caramba! Que aventura foi escrever isso, foram quase três anos de loucura, de emoções e muitas ideias. Quando eu iniciei a escrita dessa fanfic, as ideias ainda eram bem abstratas, mas o escopo era bem definido, eu não tinha ideia de quem Sid iria ficar no final, mas depois de escrever algumas cenas com Andrew, a chave virou e eu nunca consegui desvirar. Eu nem gostava tanto assim do Andrew Garfield!, juro! Quando assisti o filme que inspirou a fic (Homem-Aranha: Sem volta para casa), eu nem se quer gostava do Espetacular Homem-Aranha, foi nesse filme que as coisas mudaram. Por mais que eu sempre pendesse um pouco para Tom (simplesmente por achar ele mais bonitinho), eu não conseguia sair daquela personalidade gostosa de Andrew. Depois de uns cinco capítulos escritos, eu sabia que não tinha volta: Sid ia ficar com Andrew e ponto. E eu sei que depois de um tempo acabou ficando meio óbvio, mas a vida é assim KKKKKKKKKKKKK
Eu adoraria agradecer à algumas pessoas que investiram seu tempo em Maguire, e aqui vão algumas delas: Giu (a primeira pessoa que acreditou no potencial), Ste, Li, Loisi, e em especial, Bruna. Obrigada por acreditarem em Maguire, obrigada por sempre me incentivar a continuar, saibam que de alguma forma vocês foram importantes para que eu conseguisse chegar ao fim dessa loucura.
E, por fim, obrigada a você leitore fiel que embarcou comigo e com a Sid nesse avião em direção a Los Angeles, obrigada por cada comentário, pelas mensagens no instagram, pelos votos nas enquetes que eu fazia nos stories e pelas cobranças, eu nunca teria conseguido terminar se não fosse por vocês. Mil vezes obrigada! <3
Nota da Beta: VEIO AÍ!!! Mdss o final de Maguire! Não estava preparada para me despedir, mas infelizmente o final veio e veio COM TUDO! Primeiro, obrigada Naya por me deixar betar essa maravilha de história na qual me apaixonei a cada capítulo. Segundo, a referência de Friends, TUDOOO! Terceiro, perdi tudo com esse final nenê, aii apaixonada demais.
Apoio spin-offs em datas comemorativas. Obg, de nada! <3