O ambiente mergulhava na penumbra quando Xiao , exausto após um longo dia de trabalho, finalmente se deitou na cama. Ele observou os contornos familiares do quarto antes de se acomodar sob as cobertas. O cansaço pesava sobre seus ombros enquanto buscava um momento de paz e descanso. O quarto permanecia silencioso, iluminado apenas pela luz fraca da lua que filtrava pelas cortinas entreabertas.
Entretanto, ao se acomodar na cama, Xiao se deparou com Wang Yibo, o alfa, deitado e esparramado. Tentar removê-lo dali se tornou um grande esforço e fonte de estresse, mas sem sucesso. O ômega, exausto, simplesmente se ajeitou sob a coberta, tentando não cair da cama, já que Yibo dormia de forma tão desordenada.
Com os olhos cerrados, tentava ignorar a situação em busca de um sono reparador. Contudo, seus sentidos logo despertaram novamente. O calor do quarto parecia sufocante, como se as paredes se fechassem ao seu redor. Um aroma distinto flutuava no ar, penetrando suas narinas: o cheiro amadeirado característico do cio de Wang Yibo, misturado com uma suave nota de hortelã. O ambiente era preenchido por essa energia intensa.
Xiao forçou-se a abrir os olhos, encontrando Yibo adormecido ao seu lado. Um misto de embaraço e desconforto percorreu seu corpo. Tinha esquecido completamente da presença tão próxima e vulnerável do alfa. Eles eram amigos, mas Yibo estava no cio, algo que Xiao , sendo um ômega, não podia simplesmente ignorar. Com cuidado, tentou se afastar sem movimentos bruscos, temendo acordar o alfa que, mesmo durante o cio, permanecia em sono profundo.
Contudo, seus esforços foram em vão.
O alfa resmungou, estendendo um de seus braços levemente musculosos sobre Xiao , puxando-o para mais perto. O ômega corou intensamente, sentindo-se envergonhado e desconcertado com aquela proximidade repentina. Ao mesmo tempo, seu olhar desviou para o peito do alfa, fazendo seu coração acelerar ainda mais.
Ao se acomodar, ajustando-se para ficar num nível mais baixo que o de Xiao , ele pressionou seu rosto contra o pescoço do ômega, e este pôde sentir a respiração quente, um arrepio percorrendo seu corpo.
Não havia razão para se culpar por essa fraqueza. Afinal, ele era um ômega – e um ômega virgem, para ser mais preciso – enquanto Yibo era um alfa, um com uma mentalidade quase infantil e, talvez, um tanto pervertido. Mas ele poderia estar errado, certo?
Aquela reação era totalmente natural.
Às vezes, sua razão insistia que não era correto permitir que Yibo dormisse em seu apartamento, ainda mais em sua própria cama. Logo as pessoas começariam a comentar, algo que já estava se tornando mais frequente, exceto quando estavam trabalhando juntos. Mas, por que se preocupar? Yibo sempre retornaria e se acomodaria como se fosse o dono do lugar. Afinal, Xiao o havia mimado demais.
Xiao estava prestes a fechar os olhos quando sentiu algo inesperado: uma língua quente e úmida deslizou suavemente por seu pescoço, enviando arrepios por sua pele. Ele reprimiu um grito, levando a mão até a boca, seus olhos se arregalando de surpresa. A sensação vinha do lado onde o alfa estava, e ele concluiu que Yibo o havia lambido.
Num primeiro impulso, Xiao preparou-se para reagir com um soco, mas, ao olhar mais atentamente, notou a expressão serena no rosto adormecido de Yibo. Talvez não tivesse sido intencional, mesmo com Yibo estando no cio.
Uma mistura confusa de sentimentos e dúvidas inundou a mente de Xiao . Ele sabia que Wang Yibo era impulsivo e temperamental, mas não conseguia acreditar que ele fosse um pervertido.
Com dificuldade, Xiao tentou virar-se, buscando alguma distância entre eles. No entanto, antes que pudesse completar o movimento, Yibo grudou-se ao ômega novamente, colando cada centímetro de seus corpos.
Xiao sentiu o calor subindo pelo seu rosto, tingindo suas bochechas de um vermelho intenso. Estava tão envergonhado que mal conseguia acreditar no que estava prestes a fazer.
Determinado a dar a maior surra que Yibo já levara em sua vida, ergueu o punho, pronto para desferir o golpe. No entanto, algo inesperado capturou sua atenção, congelando seu punho no ar.
Seus olhos se arregalaram, chocados diante da cena que se desenrolava diante dele.
― Isso não pode estar acontecendo! ― exclamou Xiao , a voz misturando confusão e incredulidade.
Seu punho colidiu contra o rosto de Wang Yibo, rompendo o silêncio daquele quarto. Yibo foi arremessado com violência contra a parede, mas logo se recuperou e em um instante, a força e agilidade do alfa entraram em ação, caindo sentado no chão em uma posição defensiva.
― SEU IDIOTA! ― gritou Xiao , seu rosto ficando vermelho como um tomate. Desviou o olhar para o chão, incapaz de encarar diretamente o alfa.
― Um demônio? O que está acontecendo? O que eu fiz? ― Yibo berrou de volta, perplexo. Ele passou a mão pelo local onde Xiao o havia socado, uma expressão confusa estampada em seu rosto.
Xiao respirou fundo, tentando controlar a mistura de embaraço, raiva e surpresa. Com um gesto trêmulo, apontou para o meio das pernas de Yibo, onde uma ereção evidente se exibia.
― Mas que droga é essa? ― Yibo exclamou, seu rosto refletindo choque e confusão enquanto olhava para suas partes baixas.
― Yibo, você está no cio. É melhor ir embora agora ― disse Xiao em pé na cama e segurando uma almofada para se proteger.
O alfa, ainda confuso, encarou Xiao por alguns momentos, seus pensamentos turvados pelo cio. Por fim, levantou-se e pegou seu casaco que estava sobre a cadeira.
― Vou pegar seu carro emprestado ― disse Yibo, sua voz soando incerta enquanto se dirigia à porta e saía do quarto.
Enquanto a porta se fechava, Xiao respirou fundo, sentindo alívio. Abaixou a almofada e sentou-se na cama, tentando processar a enxurrada de emoções que invadia sua mente: confusão, constrangimento, e um toque de ambiguidade. Como ele poderia lidar com aquilo?
Lembranças da ereção de Yibo ressurgiram em sua mente, provocando uma nova onda de vergonha. Ele pressionou o rosto na almofada, ainda impregnada com o aroma amadeirado de Yibo. O perfume invadiu suas narinas, evocando memórias compartilhadas e um turbilhão de sentimentos contraditórios.
Xiao sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos confusos, levantando-se e decidindo que um banho seria a melhor maneira de acalmar sua mente conturbada.
🍁
Decidido, Xiao caminhava em direção ao bar. Buscava desabafar com uma amiga de confiança, e sabia que Lulu Xuan certamente o ajudaria de alguma forma.
Desde aquele fatídico encontro há três dias, o ômega estava imerso em um turbilhão de pensamentos e emoções. Primeiro, a raiva e o constrangimento o dominaram, mas, quando se viu sozinho em casa, a vergonha tomou conta dele. Afinal, Yibo estava daquele jeito por causa dele? Será que seu amigo o desejava? Xiao sacudiu a cabeça negativamente, tentando afastar esses pensamentos indesejados. Não era certo pensar assim, afinal, Wang Yibo era seu melhor amigo.
Eles eram apenas melhores amigos.
Contudo, a dúvida persistia, corroendo sua mente. Aquele incidente poderia ser apenas um mal entendido, uma reação instintiva de Yibo devido ao seu cio. Yibo agiria da mesma forma com qualquer outro ômega, certo? Ou não?
Xiao continuava a caminhar, perdido em seus pensamentos. Questionava a natureza de sua amizade com Yibo, relembrando todos os momentos compartilhados desde a infância. Os risos, as lágrimas, as aventuras. E agora, essa delicada situação pairava entre eles, deixando-o inseguro e incerto sobre o que ela realmente significava.
Enquanto se aproximava do bar, uma conversa imaginária ecoou em sua mente.
― Talvez seja apenas uma resposta hormonal... Talvez ele não sinta isso realmente por mim, mas por qualquer ômega que esteja por perto... ― sussurrou Xiao para si mesmo.
Sua consciência rebateu: mas e se for diferente, Xiao ? E se o que vocês compartilham vai além da amizade? Você já sentiu a conexão, a intensidade dos momentos que passaram juntos... Não seria possível que Yibo sentisse o mesmo?
Xiao balançou a cabeça, a mente repleta de pensamentos.
― ? Tudo bem? ― Deu um pulo ao ouvir a voz de sua amiga, Lulu Xuan, que estava parada próxima a ele.
― Ah, sim... Hehe. ― Sorriu nervoso, tentando esconder a tempestade de emoções que o consumia.
Ao levantar o olhar, encarou a grande fachada do bar. Como havia chegado ali tão rápido?
― Hum... Estranho. Você estava aí fazendo um monte de caretas estranhas. Imaginei que estivesse com dor ou algo assim. Tem certeza de que está bem mesmo, Xiao ? ― Lulu Xuan comentou, observando atentamente o amigo.
Ele a encarou, notando a preocupação estampada em seu rosto. De qualquer maneira, não tinha motivo para mentir. Suspirou desanimado, abaixando a cabeça e fixando o olhar em seus pés, onde uma formiga ora tentava subir em seu tênis, ora tentava contorná-lo. Sua expressão desanimada e ombros levemente curvados refletiam a tensão e a preocupação que o consumiam.
― Acho que não. Lulu Xuan... ― Xiao hesitou por um momento, incerto sobre compartilhar seus sentimentos. Mas ele confiava em Lulu e sabia que ela sempre estaria lá por ele. ― ...será que podemos conversar?
Ela abriu um sorriso largo, contagiada pela sinceridade e vulnerabilidade de Xiao . Segurou seu braço com entusiasmo, puxando-o para dentro do bar e escolhendo um canto mais reservado. Seus olhos brilhavam com a determinação de ajudar o amigo.
― Claro que sim! Vamos para aquela mesa ali. ― Apontou para uma mesa vazia próxima à janela, procurando um lugar tranquilo.
Enquanto Xiao era conduzido por Lulu Xuan, pensamentos ansiosos invadiram sua mente. Ele se perguntava se seria capaz de expressar adequadamente o que estava sentindo e se encontraria as palavras certas para explicar seu conflito interno. No fundo, porém, se sentia grato por ter uma amiga tão leal e confiável quanto Lulu Xuan ao seu lado.
O bar estava praticamente vazio, criando um ambiente estranhamente silencioso. A iluminação suave e o som baixo de uma música de fundo ecoavam no ar, contribuindo para a atmosfera reflexiva que envolvia Xiao e Lulu Xuan. O ambiente parecia refletir a intensidade das emoções que preenchiam o coração do rapaz naquele momento.
Os dois ômegas se sentaram um de frente para o outro.
― E então, o que aconteceu? ― perguntou Lulu Xuan.
E Xiao começou a contar tudo. Desde o momento em que chegou em casa e encontrou o alfa deitado em sua cama até o momento em que socou a cara dele. A cada palavra que saía da boca de seu amigo, seus olhos se arregalavam mais e suas bochechas ficavam vermelhas. Lulu Xuan franziu a testa, mordeu o lábio e ergueu uma sobrancelha enquanto processava as informações. Uma gota de suor escorreu por sua nuca ao perceber que um certo alfa tinha feito o mesmo com ela.
Nesse exato momento, a pessoa em questão entrou no bar com passos elegantes e uma expressão carrancuda, dirigindo-se ao balcão. Lulu Xuan corou e, antes que seus pensamentos a traíssem, concentrou-se novamente no que Xiao dizia.
Ao terminar o relato, Xiao suspirou.
― Não sei o que fazer.
― Ahn, ? ― Lulu Xuan não sabia o que dizer. Afinal, seu amigo ainda não tinha percebido. Ela não tinha certeza, mas se Wang Yibo estava fazendo o que ela pensava que ele estava fazendo... ― Eu não acredito mesmo que vou dizer isso, mas não acho que ele tenha feito por mal. Digo, foi um acidente, não é? ― Lulu sorriu, tentando encontrar uma explicação para o comportamento do alfa. ― Esse tipo de coisa acontece. Afinal, você é um ômega e ele é um alfa e... Bem...
Nesse exato momento, suas palavras foram interrompidas pelo som de passos pesados se aproximando. Na entrada do bar, uma sombra raivosa se aproximava. Era Wang Zhuo Cheng.
Seus olhos estavam furiosos, faíscas de indignação dançando em seu olhar. Suas olheiras profundas e sua postura rígida mostravam o peso em seu corpo.
Ele seguiu lentamente em direção à mesa onde os ômegas se encontravam, e os olhares curiosos dos presentes se voltaram para ele, intrigados com a sua expressão carregada de raiva.
― Arg, Zhuo Cheng? Tá tudo bem? E o Yibo? ― Meng Ziyi perguntou enquanto servia um cliente, lançando um olhar preocupado para o alfa raivoso.
Ele ergueu lentamente a cabeça e encontrou o olhar de Meng Ziyi.
― Não quero saber de merda nenhuma sobre ele ― exclamou Zhuo Cheng, sua voz transbordando frustração.
― Oh! ― Meng Ziyi recuou, percebendo que o alfa não estava aberto a mais perguntas naquele momento.
Zhuo Cheng seguiu em frente até chegar à mesa ocupada por Xiao e Lulu Xuan. Ele pegou o copo de Xiao e deu um gole antes de se sentar ao lado do ômega.
― Cheng? ― Dessa vez, foi Xiao quem o chamou. ― Por que está com essa cara?
― Aye... Não consegui dormir! O maldito do Yibo ficou choramingando e resmungando a noite inteira por causa do cio. Por três dias seguidos, quase colocou fogo na casa e em mim. Esse filhote de desgraça. ― O alfa resmungou, sua voz carregada de frustração. ― E agora ele não quis vir comigo porque está chateado. ― Ele levantou a cabeça e apontou acusadoramente para Xiao . ― Xiao , isso é tudo culpa sua, maldito filho da mãe. Peça desculpas para aquele alfa idiota.
― O quê? ― Xiao exclamou, confuso. Por que ele iria pedir desculpas? Seria por causa daquele dia? Por causa da ereção…?
Ver Yibo chateado era uma raridade, especialmente chateado com Xiao . O ômega olhou para Lulu Xuan, que lhe lançou um sorriso sem graça. Ele suspirou, sentindo o peso de seu corpo aumentar dez vezes.
Lulu Xuan observou o homem que ainda estava bebendo no balcão e voltou seu olhar para seu amigo à sua frente. Uma lâmpada acendeu-se sobre sua cabeça, e ela teve que suprimir o sorriso que ameaçava aparecer em seu belo rosto, preparando sua melhor expressão de tristeza.
― Hein, , Zhuo Cheng tem razão! ― afirmou, acenando com a cabeça e cruzando os braços. ― Por que você não pede desculpas para Yibo? Assim, ele pede desculpas para você e tudo fica resolvido!
Xiao estava prestes a contestar, mas percebeu que sua amiga estava certa. Precisava resolver aquilo o mais rápido possível. Ele se levantou com determinação, agradeceu à amiga e seguiu o caminho para fora do bar, ainda ouvindo os gritos de Zhuo Cheng.
― Aye! Aquele alfa de merda está em casa!
Suspirando, Xiao pegou seu celular e enviou uma mensagem para Yibo, pedindo que ele fosse à sua casa. Permitiu que seus pés o guiassem enquanto pensava no que diria ao vê-lo.
Após deixar o bar, um alfa se aproximou da ômega Lulu Xuan risonha que o encarava.
― Você escutou tudo, não é? ― A pergunta retórica da ômega pairou no ar, carregada de incredulidade. ― Eu não acredito no que está acontecendo. ― Ela riu, com uma mistura de surpresa e antecipação. ― Mesmo já sabendo que isso ia acontecer algum dia.
― Humpt! Aquele alfa imitador. ― O alfa se sentou ao lado de sua parceira e a puxou facilmente para o colo, arrancando dela um "Hey!" de protesto.
Ela o olhou com um bico nos lábios, descontente com o tratamento. Ele apenas sorriu maliciosamente e afastou delicadamente os cabelos da nuca dela, dando-lhe um beijo rápido ali. Orgulhosamente, expôs a marca que indicava que ela era sua parceira.
E algo no fundo de sua mente lhe dizia que em breve uma outra pessoa seria marcada.
Lá estava ele, parado em frente à sua própria casa, hesitante. Fechou os olhos por um momento, permitindo que a ansiedade se misturasse à textura fria da maçaneta em suas mãos. Com um clique suave, girou-a e a porta se abriu lentamente. Seu coração batia dolorosamente no peito, como um tambor que ecoava suas expectativas.
Adentrando a casa, Xiao fechou a porta atrás de si e deu um passo adiante. Uma onda de emoções conflitantes o envolveu, fazendo com que suas mãos encontrassem instintivamente o peito, como se estivesse buscando coragem em seu próprio batimento cardíaco. Talvez estivesse sendo um pouco dramático demais.
Respirando fundo, decidiu acalmar seus pensamentos e deixar de lado a tensão desnecessária. Não era como se Yibo fosse se vingar dele ou algo assim.
Deslizando os sapatos dos pés, Xiao caminhou até o quarto e se sentou na cama, sentindo a ansiedade como um nó apertado em seu estômago. Suas mãos tremiam levemente, e ele podia sentir seu coração acelerado, como um tambor desenfreado dentro de seu peito. Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, a energia inquieta percorrendo cada músculo de seu corpo. Inspirou profundamente, tentando encontrar uma sensação de calma que parecia inalcançável. Parou no meio do quarto, deixando escapar o ar de seus pulmões numa exalação lenta, como se liberasse um fardo invisível.
Enquanto começava a se acalmar, ouviu batidas na porta. A ansiedade retornou, fazendo-o dar um pulinho involuntário. Seria Yibo? Ele teria vindo? Ou não?
― Certo, vai ficar tudo bem. Vocês são melhores amigos, e tudo não passou de um mal entendido ― sussurrou Xiao para si mesmo, buscando coragem. Caminhou até a porta, seus pensamentos emaranhados em uma batalha interna.
Xiao ficou paralisado, a mão hesitante sobre a maçaneta, enquanto uma torrente de sentimentos tomava conta dele. Ouviu outra batida na porta, e isso o fez despertar para a realidade. Respirou fundo, tentando se convencer de que ficaria tudo bem. Repetiu as palavras de encorajamento em um sussurro.
Ao abrir a porta, seus olhos se encontraram com os de Yibo.
Yibo estava deslumbrante, vestindo calças pretas, uma camisa preta de gola alta e um cordão de prata brilhante adornando seu pescoço. O coração de Xiao deu um salto em seu peito ao vê-lo. Ficou sem palavras, incapaz de articular qualquer som. Yibo simplesmente entrou na casa de Xiao , seguindo diretamente para o quarto, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Xiao ficou ali, parado, observando Yibo com surpresa estampada em seu rosto. Assim que percebeu o que estava acontecendo, fechou a porta atrás de si e adentrou o quarto. Seus olhos se fixaram no alfa esparramado em sua cama, o olhar perdido no teto como se este fosse a coisa mais fascinante do mundo. O coração de Xiao acelerou com uma mistura de confusão e irritação, enquanto ele tentava entender a situação.
Pigarreou, desejando chamar a atenção de Yibo, mesmo que tivesse certeza de que o alfa estava ciente de sua presença desde o momento em que ele girou a maçaneta, talvez até antes disso. No entanto, Yibo continuou a ignorá-lo, o que era completamente absurdo. Estava sendo ignorado dentro de sua própria casa! Uma veia saltou em sua testa, mas Xiao fez um esforço para se acalmar. Ele estava tentando fazer as pazes com Yibo, não piorar as coisas.
Com um sorriso forçado, Xiao tentou chamar a atenção do alfa.
― Humm... Yibo? ― chamou, sua voz cheia de expectativa. Surpreendentemente, Yibo continuou a ignorá-lo, como se estivesse perdido em pensamentos profundos. A confusão se misturou à sua irritação. ― Desculpa... Sabe, não foi minha intenção te dar um s-
― Certo! ― interrompeu Yibo, tomando impulso e pulando da cama, surpreendendo Xiao . Abriu um enorme sorriso, colocou as mãos atrás da nuca e deu as costas, seguindo em direção à cozinha como se nada estivesse acontecendo.
A reação de Yibo deixou Xiao ainda mais confuso. Aquilo parecia fácil demais. Mas o que diabos estava acontecendo?
― Tá perdoado! Só não faça mais isso! Seu soco doeu muito ― disse Yibo com uma risadinha, provocando um misto de surpresa e confusão em Xiao . O ômega tentou decifrar os sentimentos que se agitavam dentro dele. Por um lado, havia um toque de irritação pelo fato de Yibo parecer tão indiferente ao pedido de desculpas. Por outro lado, uma pitada de alívio, como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros. O turbilhão de emoções tornava difícil para Xiao encontrar as palavras certas para expressar o que estava sentindo.
Enquanto tentava processar tudo, ouviu o som da geladeira sendo aberta e fechada, seguido pelo barulho de Yibo vasculhando seu interior. Normalmente, ele teria reclamado, dizendo para Yibo comer em outro lugar e que aquela era sua casa. Mas a perplexidade que dominava Xiao o mantinha estático, incapaz de se mover ou repreender o alfa.
Xiao havia acabado de se desculpar por algo que nem deveria, esperando que Wang Yibo também se desculpasse e que tudo voltasse ao normal. No entanto, Yibo não o fez. E Zhuocheng não mencionou que Yibo estava tão deprimido a ponto de nem querer ir ao bar? A situação toda era confusa, e Xiao se questionava sobre o que estava acontecendo.
A verdade atingiu Xiao como um soco direto no estômago. Era tudo uma farsa, uma encenação cuidadosamente montada pelos dois! E o pior de tudo, ele havia caído direitinho nessa farsa! A mistura de frustração, confusão e raiva inundou Xiao , fazendo com que sentisse vontade de bater a cabeça contra a parede pelo menos uma dúzia de vezes.
O som de algo pesado caindo no chão o tirou do estado de choque e o impulsionou em direção à cozinha. No entanto, mesmo diante da destruição aparente de sua preciosa cozinha, isso foi prontamente ignorado em sua mente perturbada.
― Oeee! ― Ah! Xiao estava furioso, suas palavras carregadas de indignação e incredulidade. ― Você não tem que pedir desculpas também?
― Ué, por quê? ― Yibo olhou para ele, franziu a testa e os olhos mostraram perplexidade. Ele pegou um último pedaço de carne do osso e o jogou em algum canto, parecendo completamente alheio à tempestade emocional que se formava ao seu redor. ― Arg... ― Suspirou, olhando em volta da cozinha bagunçada. ― Hehe! Se é por isso, então desculpe.
Xiao fez uma anotação mental de que faria Yibo lamber o chão da cozinha como punição.
Yibo sorriu abertamente, sem se sentir constrangido ou arrependido.
― Não estou falando disso! ― Uma gota escorreu por sua nuca. ― Estou falando daquilo. ― Corou involuntariamente, sua mente retornando àquele acontecimento embaraçoso. ― Da-daquilo.
― Hum? Daquilo? ― Yibo acariciou o queixo, franzindo a testa enquanto tentava entender o que Xiao estava tentando transmitir. ― Daquilo o quê?
Xiao ficou de boca aberta, atordoado com a possibilidade de Yibo estar brincando.
― Ora... Aquilo! O que aconteceu à noite! Há três dias. ― O ômega virou o rosto, corando, sua mandíbula apertada pela tensão.
― E o que aconteceu? ― Xiao virou o rosto em direção ao alfa com um movimento rápido, sentindo um estalo em seu pescoço. Seus olhos se arregalaram ao perceber a expressão aparentemente confusa no rosto de Yibo.
Yibo só podia estar brincando! Era impossível que ele não soubesse do que se tratava. Ou ele era ingênuo demais ou um mentiroso habilidoso, digno do título.
― Você sabe! ― Xiao começou a fazer gestos e mímicas desesperadamente, suas mãos tremendo de frustração e confusão. Embora suas ações fossem um tanto indecifráveis, ele esperava que Yibo pudesse entender.
― Ah! Aquilo. ― Yibo se encostou na parede, cruzando os braços, e observou Xiao com uma expressão séria. Ele fechou os olhos por um momento, balançando lentamente a cabeça, como se estivesse refletindo sobre algo intrigante. ― Mas por que eu deveria pedir desculpas?
― Você só pode estar brincando ― afirmou o ômega com uma carranca, sua voz carregada de frustração e incredulidade.
― Eh?! Por quê? O que aconteceu não é normal? Digo... ― Yibo apoiou o queixo com a mão, olhando para cima como se estivesse tentando se lembrar de algo. ― Meu irmão disse que isso aconteceria ― murmurou para si mesmo, sua expressão revelando uma mistura de confusão e seriedade. ― Afinal, somos parceiros, não é?
E o alfa sorriu.
Aquele sorriso enorme que geralmente desarmaria Xiao e o faria esquecer o motivo de estar bravo com o alfa, mas não hoje.
― Somos, mas isso não quer dizer que...
― Então está resolvido! ― Yibo o interrompeu.
― Claro que não está! Somos parceiros, mas isso não quer dizer que... Que você... Que aquilo pudesse acontecer... Não é normal... Er... ― Não sabendo como expressar aquilo, Xiao olhou para baixo, para os lados, para cima. Mas quando finalmente olhou para frente, não estava preparado para o que viu.
Yibo encarava o ômega de perto com uma carranca profunda. Seus olhos estreitados, como se tentasse decifrar os pensamentos de Xiao . A proximidade entre eles aumentava a tensão no ar, e a respiração quente de Yibo acariciava o rosto de Xiao , tornando-o mais consciente da presença do alfa. Seu coração começou a bater furiosamente em seu peito, uma mistura de medo, insegurança e uma crescente tentação de ceder. Xiao apertou as mãos com força na própria roupa, lutando contra suas emoções.
― , você está estranho. ― Yibo disse, se afastando, mas seu olhar revelava uma mistura de curiosidade e algo mais, deixando as intenções do alfa ambíguas.
🍁
O sol desaparecia no horizonte, e o ômega ainda não conseguia acreditar nos últimos acontecimentos. Até ontem tudo estava normal: Yibo jogando videogame e ficando com raiva quando perdia, Zhuo Cheng arrumando brigas, Lulu Xuan tentando evitar a morte iminente dele e Xiao sendo Xiao .
Mas agora, os pensamentos de Xiao sobre Yibo haviam se tornado uma obsessão. Era como se seu coração acelerasse estupidamente toda vez que o alfa se aproximava, e ele se perguntava o motivo disso. Sentia um formigamento na pele toda vez que seus olhares se encontravam, um aperto no peito que o deixava sem fôlego. Estava entrando em um caminho perigoso e sem volta, e ele sabia disso.
Francamente, o que estava fazendo consigo mesmo? Pensar cada vez mais no alfa hiperativo não ajudaria em nada. Ele queria afundar o rosto em suas mãos, mas ao fazer isso, notou que seus dedos começavam a enrugar devido ao tempo excessivo que passara na banheira.
Ele esticou o braço, alcançando a toalha branca enquanto saía da banheira, sentindo a água quente escorrer pelo seu corpo. O aroma do sabonete ainda pairava no ar, e a sensação de limpeza o envolvia. Com cuidado, ele se envolveu na toalha macia, absorvendo a umidade de sua pele.
Decidindo não se demorar na higiene, pois estava ansioso para dormir e esquecer o turbilhão de pensamentos, Xiao escolheu seu pijama habitual. Uma camisa longa e fina de um tom marrom suave, que se ajustava confortavelmente ao seu corpo, e uma cueca azulada que lhe oferecia liberdade de movimento.
Olhou no espelho e deu uma pequena voltinha, admirando-se em seu pijama recém-trocado. Satisfeito com a aparência, começou a cantarolar uma música para ocupar sua mente.
No entanto, seu momento de tranquilidade foi abruptamente interrompido quando seus olhos encontraram a figura que assombrava seus pensamentos.
― MAS O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! ― Sentado com toda a dignidade existente na Terra em sua preciosa e macia cama, estava Yibo. Parecia estar concentrado em um livro que parecia já estar no fim.
Xiao arregalou os olhos ao perceber qual livro Yibo estava lendo. Em um movimento rápido, o ômega saltou sobre o alfa, arrancando o livro de suas mãos e posicionando-se de frente para ele.
― O que você está fazendo lendo isso? E por que está apenas de cueca, seu tarado?
Yibo olhou para Xiao , sua expressão séria carregada de curiosidade.
O coração de Xiao batia descontroladamente em seu peito, a respiração acelerada revelando sua agitação interna.
― , você já fez alguma dessas coisas escritas no livro? ― Yibo perguntou, fixando os olhos em Xiao .
As palavras ecoaram na mente de Xiao , enquanto seu corpo parecia reagir por conta própria. Uma pontada de culpa percorreu sua consciência, suas mãos tremiam ligeiramente e um leve suor começava a se formar em sua testa. Ele se esforçou para manter a compostura e encarou o alfa.
― C-claro que não! ― respondeu Xiao nervoso. ― Que pergunta! Quero dizer, eu não sei! Eu nem sequer li o que está escrito aqui.
Ele mentiu descaradamente, tentando esconder as verdadeiras emoções que fervilhavam em seu interior.
― Hum... Bom. ― Yibo respondeu com um sorriso.
Xiao franziu a testa e, confuso, se levantou, afastando os cobertores. Antes que pudesse pensar duas vezes, Yibo também se enfiou debaixo deles, provocando um arregalar de olhos surpreso no ômega.
Xiao franziu a testa, confuso com a atitude inesperada.
― Ei! O que você pensa que está fazendo? Vá para casa! ― exclamou, suas sobrancelhas franzidas em um misto de irritação e surpresa.
Yibo continuou sorrindo, parecendo divertido com a reação de Xiao .
― Não estou a fim ― declarou, seu sorriso se alargando ainda mais.
Xiao soltou um suspiro frustrado, sentindo-se simultaneamente irritado e cativado pela teimosia de Yibo. O turbilhão de emoções dentro dele era difícil de decifrar. Enquanto se aconchegava debaixo dos cobertores, ele percebeu uma tensão suave em seu estômago e um calor reconfortante se espalhando por seu corpo.
― Então, pelo menos vista sua roupa! ― Xiao declarou, notando que até mesmo sua camisa havia sido dispensada.
― Não quero! ― Yibo virou-se na direção do ômega, abraçando-o como se fosse um ursinho de pelúcia. Ele apertou Xiao contra si, envolvendo-o em seu calor reconfortante.
― Por que você está fazendo isso? ― Xiao dramatizou, deixando umas lágrimas falsas escorrerem pelo seu rosto. Seu coração acelerado revelava a mistura de surpresa e confusão.
― Porque somos parceiros, não somos? ― Yibo perguntou, desfazendo o sorriso e criando um momento de pausa que parecia se estender infinitamente. O tempo parecia congelar enquanto eles se encaravam. O coração de Xiao batia tão forte que ele podia senti-lo ecoando em seu peito.
― Sim... ― respondeu Xiao em um sussurro trêmulo, mal conseguindo encontrar as palavras.
Yibo fechou os olhos por um longo momento, como se ponderasse profundamente suas próximas palavras. Um sorriso confiante surgiu em seus lábios, iluminando seu rosto.
― , eu me decidi.
― Decidiu o quê? ― Xiao perguntou, mal conseguindo conter a ansiedade em sua voz.
Yibo abriu os olhos e olhou fixamente para Xiao , suas palavras carregadas de significado.
― Decidi que, de hoje em diante, você é meu...
Continua...
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