O Inverno Mais Frio



    Autora: Betiza
    Scripter: Ana Paah
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Finalizada em: 22/12/2021






“I see your face in my mind as I drive away 'cause none of us thought it was gonna end that way. People are people and sometimes we change our minds, but it's killing me to see you go after all this time!”

Eu estava sentada em uma cadeira qualquer do aeroporto enquanto olhava os aviões pela janela do mesmo. Mas a minha mente trabalhava sem parar em outra coisa: .
Eram nove e meia da manhã e eu só conseguia pensar em como ele estaria agora… Vislumbrei o meu relógio de pulso - um presente de Mário, meu irmão - e ele acabava de pular para as nove e trinta e um. Eu havia saído um pouco antes do amanhecer e provavelmente uma hora dessas ele estaria de pé, já bem acordado.
Como estaria a cabeça dele? Quais pensamentos estariam rondando por lá? Será que estava doendo nele da mesma maneira que estava doendo em mim? Fechei meus olhos e a imagem dele me veio, clara e cristalina como se eu o estivesse vendo em minha frente. A nossa história ainda poderia ter um fim diferente do que eu estava escrevendo hoje? Porque por mais que eu estivesse escrevendo-a de forma torta e que a culpa de tudo o que aconteceu fosse única e exclusivamente minha, nenhum de nós dois imaginou que viveríamos a semana mais intensa de nossas vidas e eu jamais imaginei que estaria sentada aqui neste aeroporto, com um buraco sendo fechado e outro quase maior sendo aberto no meu peito. Eu fiz todo um roteiro na minha mente para essa viagem, e com certeza conhecer não estava nos planos. Mesmo assim, eu o encaixei no meu teatro, mudando todos meus planos. Eu só não achei que fosse me apaixonar por ele tão rápido, e estava me matando ter que deixá-lo tão abruptamente…
Mas o que mais eu podia fazer?

*****


“Music starts playing like the end of a sad movie. It's the kinda ending you don't really wanna see ‘cause it's tragedy and it'll only bring you down. Now I don't know what to be without you around…”

Eu ajeitei algumas coisas da mala no guarda roupas e depois me pus a observar a vista que tinha da sacada do meu hotel. Eu estava em Porto Alegre, e tiraria aquele dia para descansar. Eu ficaria quinze dias pelo Sul antes de partir para a Argentina. Havia preparado todo um roteiro de viagem para os quinze dias, mas será que eu conseguiria? Eu sentia o meu corpo todo doer, como se um caminhão tivesse me atropelado, e eu mal conseguia ficar sem chorar. Coloquei uma playlist qualquer para tocar no spotify do computador depois que mandei um e-mail para meus pais e amigas. Então eu voltei a mexer em minha mala. Foi quando o destino quis brincar com a dor que eu sentia, colocando “Porto Alegre” de Fresno para tocar.
“Faz frio em Porto Alegre toda noite, e de longe eu não posso te ver." Me sentei na beirada da cama sentindo as primeiras linhas da música atingirem meu peito com força, enquanto eu pensava em , provavelmente ainda em Natal… nós estávamos em dois extremos.
Eu e havíamos nos conhecido pelo puro acaso do destino em Natal, num luau. Ambos sozinhos, ele havia ido com os pais, a irmã e alguns amigos adolescentes da mesma. Como ele não se dava bem com os pais, estava sozinho, e eu? Eu havia perdido meu irmão - e melhor amigo - para um acidente de moto no auge de seus vinte e nove anos, havia uma semana. Minha viagem tinha um único propósito: aceitar a morte dele. Eu não queria conhecer ninguém, não queria criar vínculos e não planejava fazer amizades, quem dirá me apaixonar. Na minha mente eu tinha tudo programado, um nome falso, uma vida falsa caso alguém se aproximasse… O problema é que a única pessoa que se aproximou, foi .

Flashback:

“A garota então se aproximou dele, abanando com as mãos, achando que ele talvez estivesse passando mal, e de certa forma ele estava mesmo.

- Moço? - ouviu ela questionar de novo.

Nada. mal respirava e não conseguia reproduzir nenhum som. A menina então pediu para a garota que os levou até ali, pegar água, e ela mesmo não entendendo nada, o fez. entregou a garrafa para , que aceitou e bebeu quase a garrafa toda de uma vez. A menina o olhava, apoiada em seus joelhos, ainda assustada.
passou novamente os olhos por ela, e sim era ela. Ele tampou a garrafa e começou a tentar se acalmar, ou ela acharia que ele era maluco.

- Me desculpe! - ele finalmente conseguiu falar - Acho que minha pressão baixou! Obrigada pela gentileza da água!

Ele entregou a garrafa para ela que pegou e deu um gole. Depois os dois se olharam. ainda não acreditava que estava de frente para a garota dos seus sonhos.

- Imagina! Você está melhor mesmo?

sorriu, ainda nervoso. pensou em como ele conseguia ficar ainda mais bonito sorrindo.

- Estou sim! Muito obrigada, mesmo. - ele passou a língua pelos lábios - Qual seu nome?

já tinha ensaiado todo um roteiro para caso conhecesse alguém pelo caminho que questionasse seu nome. Não estava ali para criar laços, para paquerar, só queria se reconectar consigo mesma, aceitar a morte do irmão, pensar no que fazer dali para frente. Não contaria seu nome de verdade para ninguém.

- Olívia! - ela mentiu .

balançou a cabeça, encantado, com a boca meio aberta. Estava hipnotizado.

- E você? - “Olívia” questionou.
- Pode me chamar de ! - respondeu o moreno dizendo a verdade.

sorriu e estendeu a mão, queria abraçá-la e dizer que sonhava com aquilo há meses, mas aí sim a garota o acharia um completo maluco, então ele apertou a mão dela. Os dois sorriam abertamente um para o outro, e engataram uma conversa.
queria saber tudo sobre a garota que invadia seus sonhos todas as noites. O problema é que não havia falado a verdade de basicamente nada. Até que eles resolveram levantar um pouco, dançaram, beberam um pouco. Até que resolveu que precisava ir embora, estava ficando tarde.

- Eu levo você até onde está hospedada. É perigoso!

não queria ter que mentir mais uma coisa para , ela havia gostado dele, ele parecia ser uma ótima companhia, mas realmente era perigoso ir embora sozinha àquela hora da noite numa cidade que você não conhecia nada nem ninguém. Então aceitou. Assim que chegassem em alguma pousada perto da sua, ela diria que era lá e quando fosse embora ela caminharia para sua verdadeira pousada.

- Você está sozinha, aqui? - atreveu a se perguntar.
- Estou, vim sozinha! - ela olhou para ele.

Deus, como ele era bonito!

- Eu também vim sozinho. - ele jogou a isca.

, não era boba e percebeu o que ele estava querendo dizer.

- Se quiser, podemos nos encontrar amanhã! - mordeu o lábio com medo se arrepender.

sorriu, como se fosse uma criancinha ganhando um presente.

- Eu posso vir te buscar na sua pousada.
- NÃO! - se exaltou e se assustou - Imagina! Você tá longe daqui! Não vou me sentir confortável de te dar esse trabalho! A gente se encontra aqui nesta praia, perto do quiosque onde estava acontecendo o luau e decide para onde vai, pode ser?
- Se você acha melhor, claro! Que horas? Umas nove?

assentiu que sim, e percebeu que sua pousada estava próxima, então parou de andar.

- É aqui! Prontinho, pode voltar para sua pousada! - ela sorriu sem graça por estar mentindo - Muito obrigada!
- Obrigada você também! Bom, então até amanhã! - ele levantou a mão dando um tchau sem saber direito o que fazer.
- Até! - retribuiu o aceno.

não se aguentou e acabou depositando um beijinho rápido no canto da boca de e logo saiu correndo, tal qual mais uma vez como uma criança, e riu. Havia realmente gostado dele.”


E desde então, eu e ele ficamos uma semana grudados um no outro… E eu juro que tentei evitar, mas foi muito mais forte que eu! A companhia dele me prendia, ele me hipnotizava, me fazia rir de graça, e eu precisava daquilo de certa forma… Me pergunto se algum dia terei a oportunidade de dizer a ele o quão importante ele foi para mim e para me ajudar com toda a situação de Mário.
Ele me acalentou sem sequer imaginar a guerra que eu enfrentava, ele cuidou de mim sem nem imaginar meu verdadeiro nome, idade, profissão… Nada! Tapei o rosto com as mãos enquanto chorava outra vez, e no computador ecoava: “Só não queria dizer adeus (é que eu tinha tanto pra contar) eu não queria dizer..."

*****


“Never wanted this, never want to see you hurt. Every little bump in the road, I tried to swerve, but people are people and sometimes it doesn't work out. Nothing we say is gonna save us from the fallout…”

Eu acordei verificando que era perto das dezessete e eu não havia comido nada desde que chegara a cidade, mas também eu não sentia fome. Só um vazio, um enorme vazio ecoava por cada poro do meu corpo. Voltei a pensar em como teria sido a reação dele ao acordar e não me encontrar a seu lado no quarto de hotel que ele havia alugado para a nossa última noite… será que ele já sabia que eu era uma mentira? Será que havia chorado? Eu não suportaria vê-lo chorar, não suportaria vê-lo machucado, quebrado… Não quando ele havia começado a juntar os meus pedaços! Fechei meus olhos outra vez enquanto me virava para o outro lado da cama abraçando um dos travesseiros desejando que ele fosse .
A culpa me consumia por completo, e eu só conseguia rezar baixinho: “que ele não sofra meu Deus, que ele não sofra…”
Se lembrou do primeiro beijo dos dois:
“O pôr do sol já estava começando e então os dois se levantaram para assistir e passou um dos braços pelos ombros de que abraçou sua cintura. E assim eles ficaram até que decidiram que estava na hora de voltarem.
Antes passaram por uma das duchas que havia na praia para tirar o excesso de areia do corpo. se lavava com uma espécie de mangueira que vinha da ducha, enquanto o aguardava já molhada, assim que terminaram foi pegar sua toalha que estava sobre o cano da ducha, mas foi mais rápido e pegou primeiro.

- Me dê ! - ela esticou os braços.
- Então vem pegar! - brincou com a toalha no alto.
- Devolve ! - deu alguns pulinhos tentando.
- Pega Olívia! - ele pulava junto com ela dificultando mais ainda.

gargalhava, enquanto tentava não rir. Estava cansada, queria ir para a pousada dormir, enquanto parecia uma criança que nunca se cansava.

- Você tem que pegar Olívia!
- Esquece! - disse pegando suas coisas e indo embora.
- Ah, espera aí! Eu to brincando, calma!
a segurou pelo braço, virando-a para si.
- Eu seco seu cabelo, hum? - ele enrolou a toalha em volta da cabeça e cabelos de , secando-os.
- Desse jeito, hã? - ele balançava a toalha enquanto ria - Tá linda Olívia! Você tá linda, hã?

Ele parou de secar os cabelos de , encarando-a. Depois começou a secar-lhe o rosto. Foi aí então que colocou suas mãos sobre as mãos de na toalha, e então ela tomou a mesma de suas mãos e fez o mesmo com ele, lhe secando o rosto.

- Se abaixa! - ela pediu.
- Abaixar? - questionou , já o fazendo.

E aí fez o mesmo com ele, lhe secando e bagunçando os cabelos.

- Ah, para Olívia! - se levantou, enquanto colocava a toalha em volta de seu pescoço.

Ela lentamente foi aproximando seu rosto do de , o puxando pela toalha, que já fechava os olhos se antecipando ao que viria. Os lábios dos dois se chocaram lentamente, como se quisessem se conhecer primeiro. Logo as mãos de já estavam em sua cintura, a puxando para cima, diminuindo o desconforto de estar com a coluna daquele jeito. Era engraçado como o corpo delicado dela se moldava perfeitamente ao dele. Os dois se beijaram por mais alguns minutos, até que abriu os olhos sorrindo, e distribuindo vários selinhos no lábios de “Olívia”. Se sentia vivia.”


Se sentou na cama com dificuldade, enquanto limpava as lágrimas que desciam por seu rosto, ela resolveu que tomaria um banho, quem sabe a água levasse as lembranças da semana com embora. Se despiu ainda no quarto, mas antes ajeitou o pijama sobre a cama e uma roupa íntima para colocar assim que saísse do chuveiro.
Assim que a água caiu sobre as costas dela, ela soube que não, o banho não levaria as lembranças embora… Se lembrou outra vez da última noite dos dois.
“Os dois resolveram se banhar depois de se beijarem no andar de cima debaixo da chuva. Os dois haviam confidenciado um ao outro que nunca haviam se beijado na chuva e que gostariam de fazer isso um com o outro.
segurava a cintura dela enquanto afundava o rosto no pescoço ainda cheiroso de . Ela o ouviu dizer:

- Eu te conheço há uma semana ou há dez anos? Eu sinto como se te conhecesse há uma vida, Olívia!

A garganta dela fechou, as lágrimas se formando por lá.

- Eu também! - subiu o olhar encontrando o rosto molhado dele - Você faz as coisas parecerem tão leves! Eu gosto tanto de você!

engoliu seco e então sentiu ele lhe beijar a testa.

- Posso ir aonde você for? - fechou os olhos.

lhe apertou a cintura.

- Podemos ser próximos assim para todo o sempre?
- É a nossa última noite juntos aqui ! - sussurrou com a voz começando a embargar - Ela viu sorrir sem mostrar os dentes enquanto encostava a testa na dela.
- Tudo está bem quando termina bem se o final for com você.

E então eles se beijaram, lentamente, com toda doçura que o momento pedia e grudou o corpo ao dele, como se quisesse fazer dos dois, um só. Quem sabe isso diminuiria a dor?”

Mas ela sabia que não! Que nada que eles dissessem os salvaria da queda.

*****


“And we know it's never simple, never easy, never a clean break, no one here to save me. You're the only thing I know like the back of my hand…”

segurava pela mão, praticamente o arrastando pela mesma enquanto ele ainda sonolento apenas seguia a garota cegamente. Ele mal sabia como havia conseguido dirigir uma hora e meia até Canguaretama. Os dois haviam combinado de passear de quadriciclo pela Barra de Cunhaú, e assim fizeram. Depois de algumas risadas e de almoçarem, os dois estenderam uma canga que havia levado debaixo de uma árvore para observarem a paisagem que o lugar oferecia. , calado, observava o sol e o mar. sabia que algo havia acontecido, já o conhecia como a palma da própria mão.

- Você quer me contar o que tem te pertubado hoje? - ela acariciou os cabelos pretos dele.
- Nada! - ele desviou o olhar para a areia.
- ! - ela acariciou a bochecha dele.
- É só que a gente tem só mais dois dias aqui! Eu vou ver você de novo, não vou?

Os dois agora se encaravam, ainda acariciava a bochecha dele. Não lhe respondeu nada, apenas o beijou com força, sentido-o corresponder e deixar a língua dos dois se chocarem. sabia que o gosto dele ficaria em seus lábios por anos… Às mãos de lhe apertaram uma das coxas e mordeu o lábio inferior dele antes de colar os lábios nos dele outra vez. Assim que os dois se separaram, voltou a acariciar o rosto delicado dele.

- Não pensa nisso agora ! Não sofra por antecedência, hum?
- A gente vai dar um jeito, né? - assentiu”

Já eram oito da noite e eu tentava comer um sanduíche natural, mas por enquanto sem sucesso. Eu só conseguia repassar as nossas lembranças.

“- Toma! - disse depositando um papel muito bem dobrado sobre a mesa na direção de “Olívia”.
- O que é isso? - questionou pegando o papel sobre a mesma.
- Meu telefone e meu endereço! E também o endereço da galeria com a data da estréia da minha exposição! - piscou.

engoliu seco e sentiu que a pressão estava baixando. Droga! Porque ele estava fazendo as coisas ficarem ainda mais difíceis para ela?

- Me prometa que nós dois não vamos acabar aqui? Me promete que quando nós dois voltarmos pro Rio você vai me procurar…

abaixou a cabeça, olhando o papel em suas mãos. Instantaneamente a frase de uma de suas músicas favoritas veio à sua mente e que por coincidência casava muito bem com toda a situação: “Sem qualquer destino, sem qualquer garantia, minha única promessa é que essa noite é a melhor das nossas vidas.” Quando ia reproduzir a frase, o maître surgiu a salvando.

- Pois não? Tudo bem por aqui? - ele questionou educado - Posso ajudar em algo?
- Sim! Tudo ótimo! Só queríamos a sua ajuda para saber que tipo de vinho você nos indica para acompanhar o escondidinho de vocês? - questionou aliviada enquanto guardava o papel dentro da bolsa.”


Coloquei o prato de lado e então tapei o rosto com as mãos voltando a chorar outra vez. Voltei a rezar baixinho: “que ele não sofra meu Deus! Que ele não sofra!”

****


“It's 2AM, feeling like I just lost a friend! Hope you know it's not easy, easy for me.”

Eram duas da madrugada e eu não conseguia dormir, por sorte havia uma cadeira - que mais parecia uma espreguiçadeira - na sacada, e eu me ajeitei por ali, vestida de moletom dos pés a cabeça e ainda embrulhada com o edredom. Meus olhos vagavam entre as pessoas lá embaixo e as polaroids que eu havia pegado do quarto onde passamos nossa última noite. Duas apenas: ambas eram selfies, uma onde nossos rostos estavam colados e nós sorriamos, como um casal, e outra onde nos beijávamos, também como um casal.
As pontadas no meu peito não passavam por nada, e eu me perguntei o que ele estaria fazendo agora? Provavelmente já de volta ao Rio de Janeiro, nossa cidade. Será que o peito dele estava dilacerado como o meu? Algum dia eu teria coragem de ir atrás dele? Ou eu havia perdido para sempre? Será que algum dia, pelo menos amigos, seríamos? Eu sequer havia comido ou saído do quarto, eu só conseguia pensar e pensar em , eu só fazia repassar nossos momentos. Repousei as fotos em meu colo e então acariciei a pulseira que ele havia comprado para nós dois na nossa última noite. Meu único vínculo com ele depois de tudo. Voltei a olhar as fotos e me debulhei em lágrimas. Quando além da dor, o frio também me castigou, eu adentrei o quarto outra vez. Remexi a minha bolsa, encontrando o papel com as informações que havia me dado. Passei meus olhos pelo telefone dele escrito ali. Meus olhos quase pularam para o telefone fixo do quarto. Ele provavelmente estaria sentado em sua sacada, assim como eu, cansado da viagem, eu poderia apostar que ele, assim como eu, também estava acordado! E pensando em mim…
Eu só queria poder dizer a ele que precisei de todas as minhas forças para não ligar, e não pegar o primeiro avião para o Rio, e correr para ele. Eu só queria poder dizer a ele que nós fizemos uma grande bagunça e que talvez seja melhor desse jeito, mas que eu só consigo pensar na mão dele acariciando meu rosto. Olhei para o telefone do hotel outra vez e então o peguei, digitando rapidamente o número escrito no papel. Mas fui covarde o suficiente para desligar antes que sequer chamasse. Mas quase liguei. E nós sabemos que nunca é simples, nunca é fácil, nunca é um término justo, ninguém aqui para me salvar…
Rezei baixinho mais uma vez: “que ele não sofra meu Deus! Que ele não sofra!”

*****


“I can't breathe without you, but I have to breathe without you… But I have to breathe without you… But I have to!”

Eu não consegui sair do quarto durante minha primeira semana em Porto Alegre, eu só conseguia chorar e me culpar, a dor me consumia! Eu ligava para ele, mas sempre desligava antes de chamar… Depois, me permiti fazer o roteiro que havia planejado para a última semana na cidade, mas nada parecia ter graça sem ele por perto. Depois parti para a Argentina e Chile. Mas nada tirava a dor e a culpa de dentro de mim, e eu não deixava de pensar nele. E nem de rezar baixinho: “Que ele não sofra meu Deus! Que ele não sofra!”
Foram dois meses sem ele, dois meses onde eu preenchia o buraco que Mário havia deixado no meu peito e cavava ainda mais o buraco que eu mesma havia construído com as mentiras que contei para . E assim eu voltei para casa, revi meus pais e minhas amigas, falei sobre as partes boas da viagem, entendi e aceitei a morte de meu irmão com mais sabedoria, e por fim, lá estava eu deitada em minha cama vislumbrando a pulseira e as fotos, únicas coisas que me deixavam perto de , mesmo que minimamente.
Limpei algumas lágrimas e então me sentei na cama, encostando as costas na cabeceira da mesma. Então eu abri o celular e corri até o perfil do Instagram dele, que tinha tido a coragem de procurar mais cedo no aeroporto enquanto esperava pelo vôo de volta para casa. Minhas lágrimas voltaram a correr pelo rosto enquanto eu vislumbrava a foto mais recente que ele havia postado. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tantas coisas diferentes! Eu me perguntava todos os dias se ele estava bem, se vinha comendo, se estava se cuidando, se conseguia se divertir… Porque eu não! E tudo bem que eu não conseguisse, eu merecia! Carregaria esse fardo pelo tempo que fosse necessário, mas ele não! Ele não tinha culpa de nada, e não merecia sofrer!
Eu precisava aceitar que jamais o veria novamente, porque eu jamais teria coragem de correr até ele e encarar seus olhos. Como ele reagiria a tudo isso? Com que cara eu apareceria e simplesmente despejaria a verdade toda no colo de ? Ele reagiria bem ou mal? Infelizmente eu nunca saberia… teria que seguir a minha vida com todas essas dúvidas e com a saudade dele que me massacrava o peito.
As lágrimas agora corriam livremente pelo meu rosto, fazendo o simples ato de respirar difícil demais. E vinha sendo assim, desde que eu o deixara em Natal. Eu não conseguia respirar sem . Mas eu tinha que respirar sem ele…
Abri a foto de outra vez e me pus a sussurrar para ele, e para o Universo, como uma prece:

“Me desculpe, me desculpe! Me desculpe, me desculpe! Me desculpe, me desculpe! Me desculpe…”



Fim.



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Nota da autora: Oieee! Espero que tenham gostado! Essa fanfic é um spin-off de Inevitável, se quiser ler ela está na seção de k-pop e restrita. Deixa um comentário se puder e quiser que ajuda bastante a saber o que vocês acharam! Qualquer coisa me chama no twitter que eu tenho mais de 20 fanfics no site! É @namjnhope






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