— Achei que fosse precisar consolar você mais uma vez.
Bruno sorriu ao me observar parada perto da entrada que levava ao vestiário masculino; eu estava encostada à parede, com os braços cruzados e um sorriso nos lábios, como se estivesse esperando-o ali propositalmente. Enquanto ele não aparecia, eu cumprimentava todos os seus colegas de time que passavam direto por mim a caminho do vestiário. Eu podia, claro, tê-lo encontrado ainda no ginásio, mas estava tumultuado demais e eu sempre preferia um lugar mais calmo.
Principalmente quando era uma multidão cercada de fãs do levantador; eu simplesmente preferia me manter afastada, enquanto ele era recepcionado por outras mulheres, dando-as a atenção devida, como um bom e excelente ídolo.
— Só posso ganhar um consolo se perder alguma partida? — ele rebateu, com humor.
Arqueei as sobrancelhas.
— É isso que significa consolar — expliquei, com uma expressão óbvia.
Ele crispou os lábios, como se tivesse sido pego e parou na minha frente, imitando a minha posição, ao encostar-se contra a parede também. Eu podia ver que ele sentia-se um pouco cansado depois de uma partida demorada mas, aparentemente, ele nunca se cansava de me dar um pouco de atenção.
— Que bom que você conseguiu vir — ele disse.
Não contive o sorriso que surgiu nos meus lábios; um sincero, que explicava que eu estaria em qualquer outro lugar que ele pedisse.
— Claro. Você sabe que eu prefiro quando o campeonato começa, de fato, e que não tenho muita paciência para amistosos, mas você insistiu tanto... — provoquei.
Ele tentou beliscar a minha bochecha levemente.
— Vamos, não seja tão modesta — replicou, enquanto eu tentava me afastar do seu toque. — Estava morrendo de saudade de mim também.
Revirei os olhos, incapaz de discordar daquele bendito fato. A última vez em que eu o vi, tinha sido no baile da Vogue, ainda no Rio, em que perdemos quase o tempo inteiro da festa se escondendo juntos em um banheiro do terceiro andar. É claro que eu sentia falta dele.
— Não tenho como mentir, tenho? — rebati, fingindo fazer pouco caso.
Bruno balançou a cabeça, desdenhando o meu gesto e adotou uma expressão suave no rosto.
— Quanto tempo pode ficar?
Descruzei os braços, mostrando o meu pulso esquerdo e o pé direito enfaixados, como se aquela já fosse uma resposta.
— O tempo que eu quiser, na verdade — respondi, soltando um suspiro de lamentação. — Estou fora de campeonatos e treinos pelos próximos dois meses e meio.
Não era algo com que eu estava feliz, mas tinha acontecido. Eu não podia me forçar a continuar treinando e correr o risco de piorar as lesões e, consequentemente, acabar com a minha carreira na ginástica. Eu precisaria obedecer, a contra gosto, o médico.
— Como você conseguiu duas lesões ao mesmo tempo? — Bruno questionou, como se duvidasse da minha capacidade de me manter sã.
Deixei os ombros caírem, acompanhado de um suspiro derrotado.
— Não foi ao mesmo tempo, espertinho — retruquei. — Minha perna já estava ruim de uma lesão anterior, mas eu não comentei nada com ninguém. Me forcei a continuar treinando, mas algum movimento piorou a dor da lesão e acabei caindo em cima do meu pulso e tcharam! Outra lesão de brinde.
Ele me encarou.
— Uma proeza impressionante, — ironizou.
Não era muito comum que ele fosse irônico, mas como sua melhor amiga, eu estava acostumada.
— É, pois é.
— Já que isso significa tempo livre para você, o que pretende fazer? — perguntou.
Bruno passou o braço pela testa, uma mania que ele tinha, visível principalmente dentro da quadra, o tempo todo limpando o suor da pele. Era justamente por isso que ele usava mangas longas pretas por debaixo do uniforme da seleção. O movimento quase me distraiu, meus dedos coçando para tocá-lo.
— Eu não sei, voltar para Recife, talvez — respondi, meio vaga.
Eu realmente não tinha planejado o que faria no meu tempo livre. Deveria estar acostumada com férias forçadas daquela maneira, uma vez que não era a primeira vez que eu tinha lesões, mas eu nunca planejava nada.
— Venha comigo — Bruno soltou.
Pisquei meus olhos, meio surpresa com o convite repentino. Engoli a seco e assumi uma expressão confusa, esperando mais dois homens passarem por nós dois para falar.
— O quê?
Ele umedeceu os lábios antes de responder. Sua linguagem corporal me avisou que ele estava confiante e que não era a primeira vez que pensava sobre o assunto.
— A Liga das Nações vai começar — finalmente explicou; mas aquilo era óbvio, eu já sabia. — Você pode me acompanhar nas partidas do campeonato. Assistir a todos os jogos. Ficar comigo.
A última frase fez efeito: meu coração disparou como um idiota e precisei disfarçar para que ele não percebesse que tinha me afetado. Era terrível começar a agir daquela maneira e o pior de tudo: eu não sabia porquê agia daquela maneira.
— Ah, não sei se é uma boa ideia — respondi, coçando a minha bochecha.
Não era uma boa ideia por inúmeros motivos mas, estranhamente, não consegui pensar em nenhum que me impedisse de aceitar o seu convite.
Ele não pareceu abalado. Se aproximou de mim o suficiente para tocar o meu braço, acariciando a minha pele, como sempre fazia. A intimidade palpável entre nós era uma coisa que eu gostava muito. Não havia como ficar desconfortável perto daquele homem; era só mais um dos inúmeros motivos pelo qual ele se tornou o meu melhor amigo.
— O campeonato não dura muito tempo e você ainda volta a tempo de passar uma temporada com a sua família — argumentou, na tentativa de me convencer. — Fique essa semana aqui em Brasília e, antes de seguir para a próxima fase em Bulgária, você pode me dar uma resposta.
Eu não precisaria de uma semana para decidir. Não tinha orgulho de afirmar que bastava ele me presentear com o sorriso de sempre e eu aceitava qualquer coisa para passar um tempo restante ao seu lado. No entanto, eu não disse aquilo.
Eu simplesmente sorri e acenei, concordando com a sua condição.
E, desde então, já lamentava pelos conflitos internos que iriam me acompanhar quando se tratava dele.
Eu realmente tinha ficado em Brasília.
Depois do convite de Bruno, aumentei a minha estadia no hotel em que estava hospedada, quase no centro, não muito longe do ginásio. Comuniquei a minha família sobre a minha mudança de planos e precisei ser breve, ou ouviria Bianca insinuando coisas que eu não estava disposta a ouvir. Minha irmã era alguém insistente que não relaxava enquanto não provasse que todas as suas teorias estavam certas e, no momento, suas teorias envolviam o meu envolvimento com Bruno.
E como eu não queria minhocas na minha cabeça e nem pensar muito sobre se estava acontecendo algo ou não, eu mandava ela guardar as teorias para si, mas Bianca quase nunca me ouvia, então eu evitava-a quando o assunto era o meu melhor amigo.
O campeonato da liga começou ontem. No entanto, a seleção brasileira faria a sua estreia hoje à noite, na partida contra a Austrália. E era por isso que eu estava sentada em uma das milhares cadeiras livres da arquibancada, enquanto eles realizavam o treino do dia, se preparando para a partida de mais tarde. Como eu já estava mais do que acostumada em vê-los treinando, comecei a mexer no instagram, deslizando o dedo pela tela, verificando cada um dos jogadores que formavam a equipe da Austrália.
Tudo bem que hoje eles eram rivais do Brasil, mas isso não significava que eu não podia admirar um pouco aqueles que tinham a beleza que me atraía, certo? Quando eu estava prestes a passar para o próximo perfil, algo me atingiu no rosto, derrubando o meu celular e me fazendo soltar um palavrão em alto e bom som ao sentir minha pele arder. Quando procurei o objeto que me causou dor daquela forma, percebi que era uma das inúmeras bola de vôlei e olhei para o meio da quadra, fuzilando cada um dos meninos.
— Você está bem? — Bruno correu até mim, o semblante meio preocupado.
Encontrei o culpado ainda parado perto da arquibancada, com uma expressão desgostosa no rosto, como se lamentasse.
— Caralho, hein, Thales — resmunguei, ainda sentindo o ardor na pele.
Ele fez uma careta culpada e esfreguei a minha bochecha esquerda, no local onde a bola atingiu pra valer. Provavelmente ficaria a mancha de um machucado e meu olho ardia um pouco, mas ele não tinha batido a bola tão forte. Bruno virou meu rosto para si, avaliando o estrago.
— Estou bem — garanti, soltando um suspiro, parando de esfregar a bochecha. — Só está um pouco dolorido.
— Talvez deva botar um pouco de gelo — ele disse, atencioso. — Posso pedir para o Franco dar uma olhada.
Neguei com a cabeça; só estava dolorido e não havia machucado a ponto de sangrar, então eu realmente estava bem. Não era exatamente a minha primeira vez levando bolada na cara.
— Me desculpa, ! — Thales praticamente gritou, com uma feição ainda cabisbaixa.
Encarei-o e dei de ombros. Não havia como ficar com raiva dele por algo que não era sua culpa; aquelas coisas aconteciam com mais frequência do que alguém imaginava, principalmente em dias de jogo, quando a arquibancada estava ainda mais preenchida com mais do que a minha simples presença.
— Tudo bem, Thales — eu disse, percebendo que ele deu um suspiro aliviado, o que me fez sorrir. — Mas vou cobrar um café!
Ele concordou com nada mais do que um aceno e, ao olhar para Bruno, desfez a expressão e voltou para o treino, junto com os outros, que tinham parado para verificar se não me machuquei pra valer.
— Vou pedir que eles fiquem mais atentos — Bruno disse, enquanto eu passava meus olhos pelo chão, a procura do meu celular, que caiu em algum momento.
Umedeci meus lábios, fazendo um gesto de dispensa com uma das mãos, ainda sem olhá-lo. Eu podia sentir o cheiro do suor que ele exalava.
— Não precisa se preocupar comigo — dispensei. — Deveria voltar para o treino.
Bruno fez um barulho com a boca que indicava que estava infeliz com a minha resposta; depois, senti-o me cutucando pelas costelas e curvei o meu corpo, me esquivando das cócegas.
— Está procurando isso? — ele perguntou.
Quando olhei novamente para ele, sua mão me estendia o meu celular. Peguei-o de volta e bloqueei a tela, sem querer ser pega sobre o que eu estava pesquisando. Não que eu precisasse esconder tal coisa dele, só… foi simplesmente um impulso que eu senti.
— Obrigada.
— Tem certeza de que não quer ir para a enfermaria? — insistiu, tocando a minha bochecha, que ainda ardia. — Está bem vermelho aqui.
Soltei o ar pela boca e assenti.
— O Thales não fez por mal — continuei, pondo fim naquela discussão de cuidado médico. — Sério, eu estou bem. Falta muito para o treino acabar?
Já eram dez da manhã. Eu não tinha ideia mais de há quanto tempo estava ali, mas sabia que estava com fome. O misto quente de mais cedo não foi o suficiente para saciar o monstro faminto dentro da minha barriga.
Ele tirou a mão da minha bochecha e levantou.
— Estamos finalizando — respondeu. — Não acho legal fazer muito esforço para não ficarmos cansados na estreia do jogo. Pode esperar mais um pouco?
Cocei a minha nuca, sorrindo. A bochecha ainda ardia e comecei a pensar que colocar gelo seria realmente uma boa.
— O que mais eu faria, capitão?
🏐
Eu estava morrendo de fome.
O pessoal da equipe demorou mais uma hora inteira para finalizar todo o treino e mais vinte minutos para tomarem um banho rápido no vestiário. Eu continuei do lado de fora, esperando Bruno, porque ele tinha prometido que eu iria almoçar com o pessoal da equipe e, pela hora, o refeitório do ginásio já estava servindo o almoço.
Começando a ficar meio impaciente pela demora, eu estava quase invadindo o vestiário quando Lucarelli saiu primeiro, uma comoção barulhenta seguindo-o logo atrás. Ele me viu e abriu um sorriso e eu não tinha ideia do porque ele ainda estava ali, já que não estava treinando e nem jogando nessa primeira semana devido a uma lesão também. Talvez fosse demais para ele ficar tanto tempo longe do esporte — eu sabia disso com propriedade, já que meu corpo sentia falta dos treinos de ginástica.
— Acho que alguém está de mau humor aqui — ele implicou, parando na minha frente.
Bufei, soprando o ar para cima, mantendo meus olhos nele.
— O que você está fazendo aqui? — disparei. — Não deveria estar se recuperando da lesão?
Ele apontou para o meu pulso enfaixado.
— E você também não deveria? — rebateu, com a sobrancelha arqueada, como se tivesse vencido a pequena discussão no argumento. — E esse seu olho precisa de gelo.
Bem, tecnicamente ele tinha, mas eu também tinha um ponto. Levantei o dedo indicador, apontando rapidamente para ele.
— Estou bem — retruquei. — Eu não sou jogadora e não estou sendo cotada para as próximas partidas — argumentei.
Ele fez uma careta, balançando a cabeça, desgostoso.
— É terrível discutir com você — ele disse, me arrancando uma risada.
Apertei o nariz dele levemente, por pura implicância.
— Não seja careta — falei, abaixando a mão. — É ótimo ter você aqui.
Ele sorriu. Era um sorriso que eu sabia que arrancava alguns suspiros, mas meu coração estava blindado contra aquele tipo de coisa, porque só havia um único sorriso no momento que fazia meu coração disparar.
— Então — ele recomeçou a dizer, ignorando os outros passando por nós. — O que vai fazer no dia dos namorados?
— Por quê? — indaguei, com um sorriso. — Vai me convidar para alguma coisa?
Ele riu com vontade, balançando a cabeça mais uma vez.
— Jesus, não, — respondeu. — O Bruno me mataria.
Dei um soquinho no braço dele, sem utilizar a força. Dessa vez, eu quem balancei a cabeça, descartando o comentário dele; todo mundo ali sabia que eu e Bruno tínhamos algum tipo de envolvimento além de só amizade, mas aquilo já era um pouquinho demais.
— Claro que não, Lucarelli. Eu e o Bruno somos somente amigos.
Ele me olhou com uma descrença pura que indicava que não tinha acreditado nem um pouco nas minhas palavras.
— Gatinha, isso é o que vocês acham.
Eu estava prestes a rebater seu comentário, olhando-o feio, quando ouvi a voz de Bruno. Me virei na direção dele, sentindo o cheiro de banho recém-tomado, os fios do cabelo molhados e suavizei a minha expressão, mas as palavras de Lucarelli ainda estavam fixas na minha mente.
— Vamos? — Bruno perguntou, estendendo a mão para segurar a minha.
Lucarelli, que ainda estava ali, emitiu um som de risada contida e eu o olhei feio mais uma vez, encarando a mão estendida de Bruno.
Antes que ele percebesse que eu estava demorando muito para aceitar, segurei a sua mão contra a minha e Lucarelli deu um sorriso sarcástico na minha direção. Se eu pudesse, teria mostrado o dedo do meio para ele, ignorando a sua implicância, mas Bruno teria visto, então optei por ignorar a existência daquele jogador intrometido e continuei bem plena com a minha consciência tranquila em saber que melhores amigos podiam segurar a mão um do outro.
Não podiam?
— Vamos — eu respondi, finalmente.
Andamos até o refeitório do ginásio. Como eu tinha previsto, o almoço já estava sendo servido e a maioria da comissão técnica estava ali, pondo os próprios pratos. Eu não fazia parte da equipe e muito menos do time, mas ninguém se importava, acostumados com a minha presença e com a presença dos familiares dos outros jogadores. Lucas, um dos melhores amigos de Bruno e também jogador do time, já estava sentado em uma das mesas.
— Ei, — ele me cumprimentou, assim que soltei a mão de Bruno e me sentei no lado oposto da mesa. — Como está o olho?
Mexi um ombro, como se indicasse que eu não estava dando tanta importância mais. Não bastava o pulso enfaixado e o pé lesionado, o olho era só mais uma parte da minha coleção de breves machucados.
— Não dói mais — respondi. — Amanhã estará melhor.
Ele assentiu, concordando e apontou brevemente para trás de si, indicando a mesa de comida.
— Beatriz está na mesa das comidas. Disse que fizeram o seu favorito.
Pisquei meus olhos na direção dele, abrindo um sorriso praticamente animado.
— Purê de abóbora com creme de leite? — arrisquei.
Lucarelli sentou ao meu lado direito, enquanto Bruno ficou ao meu lado esquerdo. Lucão ficou exatamente à nossa frente, o lado esquerdo dele guardado para Beatriz. O resto do time estavam dispersos ou não estavam ali.
— Eu acho que sim — ele me respondeu, com um sorriso mínimo.
Era perceptível que ele não sorria tanto quanto os outros, mas eu também já estava acostumada com sua áurea mais séria.
Apesar de toda sua pose reservada, Lucão era mais divertido do que aparentava ser.
🏐
— O que você acha?
Bruno me olhou rapidamente, enquanto eu fiquei parada, apontando para a roupa que eu estava vestindo. Era a primeira partida da seleção brasileira, estreando na Liga das Nações e já estávamos no ginásio onde iria acontecer a partida. Mas como ainda faltava um tempo para todo o jogo começar, de fato, Bruno e eu estávamos escondidos perto do vestiário, os outros fazendo qualquer outra coisa que não me interessava no momento.
— Não está um pouco grande demais em você? — ele brincou, apontando para a camisa que eu usava.
Era a camisa dele, na verdade, uma antiga que ele não usava nos jogos mais; ainda tinha seu nome e o número 1 atrás, e sim, estava um pouco grande em mim, mas eu não me importava. Encasquetei com a ideia de usar aquela camisa e não tinha trazido nenhuma outra reserva, o que significava que aquela era a minha única opção. Além do mais, a camisa ainda tinha o cheiro dele, o que me acalmava um pouco em relação ao jogo.
— Devo tirar? — perguntei, começando a puxar a camisa para cima, o suficiente para ele perceber que eu não estava usando nenhuma outra por baixo, além do sutiã. — Não será problema nenhum para mim.
Ele olhou para os lados, uma olhada rápida para conferir os olhares dos outros e se aproximou de mim, tirando as minhas mãos da barra da camisa, soltando-a. Comecei a rir da sua reação e beijei a ponta do seu nariz, aproveitando que ele estava bem perto de mim agora.
— Você é terrível, sabia? — ele resmungou, deixando os ombros caírem em derrota. Em resposta à minha provocação, ele apertou minha bochecha boa e me roubou um selinho. O machucado de hoje de manhã estava bem melhor. — Estou lisonjeado que está usando a minha camisa. Espero que você sirva como um ótimo talismã hoje.
Umedeci os meus lábios e puxei-o um pouco mais para perto. Passei os olhos rapidamente pelo local, agitado demais, mas, mesmo assim, ninguém parecia interessado em prestar atenção em nós dois. Os jogadores estavam começando a ir para a quadra, para iniciarem um aquecimento antes da partida começar e eu não queria prender Bruno comigo por muito mais tempo.
— Bem, sobre isso… — comecei a falar, acostumada com a visão dele vestido com a roupa da seleção e seu braço coberto por uma manga preta e longa. — Há uma condição para o talismã funcionar.
Os olhos dele despertaram um interesse genuíno e senti o carinho de seus dedos na base da minha cintura, uma mania que ele tinha inconscientemente e que fazia quando estava muito perto de mim daquela maneira.
— E qual é?
— Um beijo — respondi.
Bruno estreitou os olhos, de um jeito engraçado.
— Você quer que eu te beije aqui? — perguntou. — Em público?
Engoli a seco, sem saber como deveria interpretar aquela pergunta. Sim, não era bem um costume nosso ficar trocando beijos divertidos em público, mas todos os seus amigos e colegas de time sabiam sobre nossa amizade colorida. Ninguém se importava mais com aquele fato e, além do mais, eles não contavam exatamente como público.
— Isso é um problema? — indaguei, mordendo meu lábio inferior.
Ele abriu um sorriso genuíno, balançando a cabeça, acalmando as batidas erradas do meu coração.
— Nada mal beijar a minha melhor amiga em público, não é? — ele devolveu.
Mais aliviada, dei palmadinhas leves acima do seu ombro, assumindo uma expressão séria no rosto, encarando-o.
— Trato é trato, capitão.
Eu desejava beijá-lo toda vez que ele sorria para mim daquela maneira; mas, daquela vez, ele mesmo me beijou, me envolvendo em seu gosto e seu abraço. Bruno segurou a minha nuca com delicadeza, conduzindo o beijo calmo e permaneci com as mãos espalmadas em seus ombros firmes. O beijo durou tempo suficiente e nos afastamos quase imediatamente ao ouvir um barulho de plateia vindo do ginásio.
— Espero que o talismã funcione.
Minutos mais tarde, deixei que ele fosse para o ginásio, onde estava a equipe. O jogo começaria em meia hora e eu estava em uma parte privilegiada da arquibancada, onde poderia ver com mais clareza todo mundo do time jogando. Eu não sabia o que achar do time da Austrália — além de que a maioria dos jogadores eram bonitos —, mas esperava que fosse um jogo menos sofrido do que os das Olímpiadas.
Precisávamos de uma vitória.
Começar o campeonato com um jogo vencido seria ótimo, além de entrar em vantagem. A energia que a arquibancada exalava era ótima e eu me sentia extasiada por participar daquele momento. Não havia como mudar de ideia a respeito do convite de Bruno. Fazer parte daquilo tudo seria uma ótima distração para mim, principalmente com minhas lesões impedindo que eu mesma participasse do campeonato e mundial de ginástica. Era um crédito e uma medalha a menos e, pior ainda, uma desvantagem. Quando eu voltasse a treinar, teria que pegar duas vezes mais pesado para compensar todo o tempo parada.
— Ei, !
Virei o rosto na direção da voz, sobressaltada sobre a multidão de vozes, e encontrei Lucarelli andando em minha direção. Ele estava vestido com o mesmo uniforme da seleção, embora eu soubesse que ele não iria jogar nenhuma dos jogos da primeira semana, por estar se recuperando, mas nada impedia aquele homem de estar presente ali como reserva.
Quando ele se aproximou o suficiente, ignorando as outras pessoas ao meu redor, que não eram muitas na verdade, porque escolhi aquele lugar estrategicamente e não era uma área para fãs, ele me entregou uma vasilha e uma barra de chocolate lacrado. Curiosa, abri a tampa da vasilha, espiando o seu conteúdo e abri um sorriso ao notar que era um pedaço de sanduíche caseiro. Melhor ainda, não era qualquer sanduíche: era o meu favorito, com queijo e manteiga derretida.
— Acho estranho como você me conhece bem — falei, olhando para ele.
Ele deu de ombros, sorrindo.
— Quando você começa a passar tanto tempo com o resto da equipe, nós aprendemos sobre suas manias — ele respondeu, explicando e se defendendo ao mesmo tempo. — Lucão preparou o sanduíche quando percebeu que você estava mais nervosa que todos nós. E sabemos que quando você está assim, nada entra no seu estômago — ele explicou novamente. — E como você adora comer assistindo aos jogos, aqui está. O suco e o chocolate são meus.
Ele me estendeu uma garrafa de suco de limão, outro do meu favorito, e eu aceitei. Eu estava tão perplexa pelos detalhes que eles tinham percebido que, inicialmente, eu não sabia muito o que falar. Geralmente, Bruno era quem me conhecia daquela maneira e, apesar de eu ser próxima do Lucarelli também, eu não imaginava que eles guardassem qualquer informação minha. Quando levantei os olhos e vi os jogadores da seleção, encontrei Lucão, do outro lado da quadra, exibindo um sorriso e um joinha para mim. Eu retribuí com um aceno e um sorriso agradecido, observando-o voltar para o exercício de aquecimento.
— Obrigada, Luca — agradeci, usando o apelido que eu o chamava por achar seu nome longo demais e conhecido demais pelos outros. Ricardo não rolava e Lucarelli dava preguiça de pronunciar, então encurtei tudo. — De verdade, obrigada.
Eu não tinha comido mesmo no começo da noite, tinha colocado somente uma fruta para dentro do meu estômago depois do almoço, mas ainda não era uma refeição digna de um jantar. Lucão estava certo; eu não comia muito — nada, na verdade —, quando estava nervosa ou ansiosa. Mas eu gostava de comer em qualquer ocasião, não importava qual fosse. Podia passar o tempo todo comendo, mas não conseguia enfiar um pedaço de comida quando o nervosismo atacava, o que era meio estranho, mas tudo bem. Cada um tinha suas manias.
— De nada, gatinha — ele devolveu com o mesmo apelido e eu sorri, desviando da sua tentativa de bagunçar o meu cabelo. — Você já é uma de nós.
Ele me lançou um sorriso também e foi embora pelo mesmo caminho que tinha vindo. Suas palavras melhoraram o meu humor e o nervosismo se dissipou um pouco, enquanto o jogo não começava.
Era bom pertencer a esse lugar. À essa família que Bruno tinha construído ao longo de toda a sua carreira.
O jogo tinha começado.
Eu sempre ficava entre ansiosa e nervosa a cada passo que um dos meninos errava um passe ou um bloqueio. Toda a multidão que preenchia a arquibancada e enchia o ginásio acompanhava o time em gritos, toda vez que eles pontuavam. Eu tinha comido o sanduíche para saciar os tiques nervosos das minhas pernas batendo contra o pobre chão.
Se eu fosse deixar toda a competição e a rivalidade com a Austrália naquele momento para trás, eu não conseguia deixar de negar o quão incrível era assistir Bruno jogar tão de perto. A energia caótica e firme que ele demonstrava em quadra era muito melhor de ver ao vivo do que em casa, pela TV. Toda vez que ele cumpria o seu papel de levantador, eu suspirava um pouco. Vez ou outra, a câmera tinha me enquadrado para todo o ginásio, transmitindo a minha aflição ao vivo. Era notável o quanto eu sentia falta de Lucarelli jogando, mas eu também não ia perder a oportunidade de vê-lo fazendo isso na segunda semana de jogos.
Eu ia acompanhá-los de perto.
Muita gente invejaria meu posto no momento; os fãs, principalmente, dariam de tudo um pouco para acompanhar a seleção tão de perto quanto eu estava. A princípio, eu nem tinha pensado sobre essa ideia até o convite do próprio capitão. E agora, era algo que eu gostava cada vez mais.
O dia a dia deles me fazia esquecer a falta que eu sentia da minha rotina. Eu tinha um seguimento rígido para seguir todos os meus treinamentos. Estar de férias forçadas era meio que um saco, apesar de eu poder dormir um pouquinho a mais sem me preocupar em estar atrasada. Não era uma rotina tão diferente da que o time de vôlei seguia.
O primeiro set seguiu e o Brasil fechou o primeiro ponto. Se continuassem com o mesmo bom trabalho na quadra, mantendo a união em equipe, conseguiriam fechar os dois sets restantes sem maiores problemas. Puxei meu celular do short jeans que eu usava e que a camisa longa e larga cobria; deslizei o dedo pela tela do aparelho, desbloqueando-o, abrindo direto no aplicativo do instagram, pronta para filmar um story curto mostrando um pouco do time, logo adiante de mim, a pouco metros de distância. Gravei o story e postei, com uma legenda curta que dizia "estreando no melhor estilo" e marquei alguns deles que eu lembrava os users, além de destacar a localização do momento.
Antes que eu começasse a receber a enxurrada de respostas do story, guardei o celular de volta e voltei a prestar atenção no início do segundo set. O jogo inteiro seguiu com alguma pouca aflição, alguns passes errados e pontos extraordinários. Enlouqueci junto com o público e gritei em torcida pelos meninos. Tudo seguiu com uma agitação enorme no último set, quando o Brasil fechou o terceiro set, formando 3 pontos, enquanto a Austrália seguia com 0. A equipe reserva e titular se juntaram no meio da quadra e começaram a se abraçar. O pessoal da arquibancada começava a esvaziar o ginásio, mas havia sempre alguns fãs que arriscavam ficar, na esperança de conseguir alguma foto ou autógrafo de alguém da equipe.
Eu sabia como era ser elas.
Bebi o restante do suco de limão que Lucarelli tinha trazido e finalmente saí do meu lugar, mais calma e mais agitada, animada pelo resultado vitorioso que eles tinham acabado de ter no jogo. Perder era uma merda, mas ganhar era revigorante.
Quando comecei a me aproximar deles, Alan e Cachopa foram os primeiros a perceber minha presença e os dois me encurralaram, me levantando do chão.
— Ei! — protestei, na tentativa que eles me soltassem e me colocassem no chão de volta, mas fingiam não me ouvir. — Espera aí!
Meus gritos eram inúteis e perdi o controle quando comecei a rir. Eles me levaram para o meio da quadra, só me soltando quando estava perto do restante do pessoal, me soltando no meio deles.
— Dar intimidade a vocês foi a pior coisa que eu fiz na minha vida! — exclamei, apontando para Alan e Cachopa, arrancando risadas dos restantes. Senti a mão de Bruno em meus ombros, indicando que ele estava atrás de mim. — Mas parabéns pelo resultado! Venham aqui!
Chamei todos eles com um aceno exagerado de mãos; quase me arrependi quando corpos masculinos e malhados me esmagaram em meio a um abraço bastante caloroso. Risadas se misturavam a outros sons; eles estavam felizes e a energia era contagiante. Ter uma vitória em casa pesava mais ainda em tudo.
— Certo… — murmurei, na tentativa que eles me soltassem, mas minha voz quase não saiu. — Sério, time, eu sei que vocês me amam, mas estão começando a me sufocar!
O drama deu certo e eles começaram a se dispersar, cada um depositando um beijo rápido na minha bochecha boa antes de se afastarem e seguirem para encontrar seus outros familiares. Bruno era o único que tinha ficado, ainda atrás de mim, apertando os meus ombros. Eu virei minha cabeça levemente para o lado, procurando o seu sorriso que eu sabia estar sendo exibido.
— Oi, capitão — murmurei.
Ele aproximou o rosto e apoiou o queixo do meu ombro.
— Eu poderia receber um beijo daqueles agora — ele brincou, soprando seu ar em meu pescoço, o que me causou um arrepio. — O talismã deu certo.
Soltei uma risada e balancei a cabeça, me virando para ficar frente a frente com ele.
— Prefiro não ter muitos holofotes sobre mim agora — falei, me referindo a milhares de câmeras ainda ativadas por ali. — Mas eu prometo que você pode ter o que quiser quando estivermos sozinhos.
Ele piscou os olhos claros para mim. Estava completamente suado e cansado, os fios de cabelo encharcados grudados na testa.
— Não é um prêmio de consolação, então? — ele arriscou perguntar.
Abri um sorriso e neguei com a cabeça, tocando a lateral da sua bochecha, sem me aproximar demais para não me encharcar de suor também.
— Não — respondi, com confiança. — É um prêmio muito melhor, capitão.
O sorriso satisfeito que ele me deu foi o suficiente. Principalmente quando ele sabia que eu cumpria muito bem as minhas promessas.
Joguei a bola para o outro lado da quadra, atravessando a rede; Alan riu da minha falta de habilidade e bateu contra a bola de volta para mim, mas ela foi mais rápida e caiu direto no chão, impedindo que eu a pegasse.
Arqueei meu corpo, descansando as minhas mãos nos joelhos, soltando o ar frustrado pela boca. Eu estava ali desde cedo, quando eles começaram mais um treino, para enfrentar mais um jogo, dessa vez contra a Eslovênia. E, ao invés de eu ficar sentada na arquibancada, entediada, os meninos me chamaram para treinar junto. Eu não era uma jogadora nata, como eles bem estavam percebendo, mas servia de alguma ajuda com a bola.
— Ainda bem que você é ginasta — Cachopa caçoou de mim, juntando-se a Alan. — Se fosse jogadora de vôlei…
— Ei, eu só não estou no meu melhor dia! — protestei, tendo a ciência de que eu estava um pouquinho distraída, e voltei a ficar com o corpo ereto novamente, pegando a bola de volta.
Os meninos riram e eu bufei, mirando a bola em um deles, jogando com um pouco de força, mas aqueles ridículos sabiam como agarrar a bola sem que fossem atingidos, então minha intenção não teve sucesso.
— Vocês são uns idiotas — murmurei, dando as costas para eles.
Alan riu ainda mais e eu aproveitei o momento para recuperar o meu fôlego. Não podia fazer tanto esforço com o pulso machucado, mas a bola não era tão pesada e eu podia lidar com os movimentos repetitivos e constantes com as mãos.
— Ei, ! — Alguém chamou e eu olhei na direção da voz. — Pensa rápido!
Uma bola amarela voou na minha direção e eu consegui agarrá-la a tempo; Vaccari sorriu na minha direção e se aproximou de mim, pedindo a bola de volta.
— Não ligue para eles — ele disse, assim que chegou perto o suficiente. — São uns idiotas, como você disse. Você não é tão ruim assim.
Olhei para ele com um pouco de descrença.
— Só porque consegui agarrar a sua bola agora? — brinquei, devolvendo a bola, ao passo que ele agarrou perfeitamente.
Ok, eu estava mesmo enferrujada em relação ao vôlei, mas havia um motivo pelo qual eu resolvi ser ginasta. Eu gostava de jogar o esporte, por puro prazer, mas era só isso.
— Não — ele respondeu. — Vai um pouco mais para trás.
Fiz o que ele disse e voltei alguns passos de volta para a quadra. Alan e Cachopa tinham ido para o outro lado, intercalando em um outro exercício.
— Mãos leves — ele instruiu. — Só precisa continuar passando a bola para mim.
Assenti, concordando. Mãos leves significavam as duas palmas abertas, do mesmo jeito que Bruno fazia ao cumprir sua função de levantador. Era um exercício para conseguir equilibrar a bola e saber jogá-la para o lado rival da quadra; na verdade, eu não tinha certeza. Eu só tinha me enfiado no treino porque um deles me arrastou.
Vaccari, que era um dos mais novos do time, continuou passando a bola para mim e ficamos naquela por algum tempo. Às vezes, a bola me escapava e eu corria na direção dela, sem intenção de deixá-la bater contra o chão. Um tempo depois, Maique se juntou a nós, até que Thales e Leandro também completassem o grupo. Eles eram melhores do que eu com a bola, mas como era só um exercício de treino e eu não fazia parte do time, não precisava fazer tanto esforço.
Quando eles começaram a decidir treinar o saque e o ataque, foi a minha deixa para sair e deixá-los treinar de verdade, em paz. Além do mais, o esforço de manter a minha mão em movimento estava fazendo o meu pulso lesionado voltar a doer.
— Vamos te roubar para o time, hein? — Maique me caçoou e eu fiz um gesto com a mão, dispensando o comentário dele atrás de mim, ouvindo as risadas.
Meu ritmo cardíaco estava acelerado. Andei até uma cadeira qualquer e puxei uma das inúmeras garrafas de água que ficavam ali, à disposição deles e bebi vários goles longos, matando a minha sede. Tentei regular a minha respiração, a falta de treino começando a me afetar. Eu precisava urgente da minha rotina antiga de volta. Estar ali com os meninos era o máximo que eu conseguia de me manter ativa e em movimento, mas também estava proibido que eu exagerasse. A faixa enrolada no meu pé e no meu pulso indicava aquilo.
— Eles te liberaram? — ouvi a voz de Bruno atrás de mim.
Antes que eu procurasse a sua silhueta, ele apareceu ao meu lado, sentando-se na cadeira disponível, com uma toalha enrolada no pescoço, usando o uniforme de treino. Eu estava com uma camisa velha sua e uma leggin justa, além de tênis.
— Depois de me humilharem? — devolvi, soltando um bufo, encarando o grupo ainda treinando os saques. — Eu mesma me dispensei.
— A última vez que eu te vi jogando vôlei foi há… — ele tentou lembrar, mas, como eu, não fazia a menor ideia de uma data próxima em que aquele evento aconteceu. — Esquece.
Comecei a rir, balançando a cabeça.
— Sou melhor ginasta que jogadora — falei. — Você sabe disso.
Ele assentiu, concordando com um aceno vago e esfregou o rosto na toalha novamente. Era visível que ele estava tão suado quanto eu e mais notável ainda o quanto eu estava desesperada por um banho gelado, quando alguém anunciou que eles estavam liberados dos treinos pelo resto do dia. Haveria uma partida contra a Eslovênia à noite e seria bom que eles tivessem algumas horas de descanso para não se sobrecarregarem. Mas continuei ali, encarando Bruno, analisando cada movimento seu, sentindo uma vontade súbita de estar ainda mais perto.
Quando começamos aquela coisa toda de amizade colorida e sexo casual, eu não tinha noção da atração que sentia por ele. Simplesmente tinha acontecido de nós dois irmos para a cama juntos e, no dia seguinte, pareceu uma boa ideia repetir a dose. Eu estava solteira, sem ninguém à vista e ele também. Uma coisa levou a outra e conquistamos aquele trato silencioso juntos: o de ir para a cama um do outro, sem que isso se tornasse um problema constante. Mas, naquele momento, a realidade me atingiu um pouco; percebi que, ao longo dos anos que acometia toda a nossa relação, minha atração por ele só intensificava. Eu sabia disso quando o menor do gesto dele conseguia captar a minha atenção. Como quando ele virava o rosto e sorria para alguém passando e eu sentia uma vontade súbita de beijar os seus lábios; ou quando ele parecia perder a paciência com qualquer coisa relacionado ao jogo e eu só queria arrastá-lo para a minha cama para que eu pudesse ajudá-lo a extravasar a energia de outro jeito. Ou quando ele… me olhava daquela maneira, uma que fazia cócegas no meio das minhas pernas e girava borboletas no meu estômago.
— …então, o que você acha? — ele continuou sem que eu percebesse qual era a questão sobre o qual ele estava falando. — ?
Sua voz chamando meu nome me despertou dos meus pensamentos. Balancei a cabeça e cocei a minha nuca, torcendo para que ele não percebesse o motivo da minha falta de atenção.
— Sim? — respondi.
Ele sorriu, me deixando perceber que ele tinha notado a minha mudança de comportamento, mesmo que por um breve momento. Não importava, ele não tinha mesmo como saber qual era o conteúdo dos meus pensamentos. E eu precisava parar de pensar sobre aquilo tudo; quanto mais tivesse consciência de tudo que estava surgindo em mim em relação a Bruno, mais razão eu teria que dar à Bianca.
Era melhor que eu não investigasse muito tudo o que ele me fazia sentir.
— Eu estava perguntando se você quer almoçar com o pessoal — ele tornou a explicar tudo o que perdi. — Não aqui no refeitório, mas no restaurante da esquina.
Eu amava passar o tempo com o resto da equipe; eles tinham me acolhido como parte deles, já que constantemente eu estava sendo acompanhada por Bruno. Mas, naquele momento, depois de uma manhã intensa e com um jogo para acontecer mais tarde, eu queria muito dormir um pouco e almoçar em paz no silêncio do apartamento em que eu estava hospedada.
— Acho que vou para o hotel — respondi, finalmente, encolhendo os ombros, doida para tomar um banho gelado e me livrar do suor. — Dormir um pouco, eu acho.
Bruno assentiu rapidamente, concordando, sem se dar ao trabalho de me convencer do contrário. Ele passou a toalha pelo rosto e me estendeu a sua mão.
— Vou te acompanhar, então.
Não protestei.
Uma hora depois, estávamos no meu quarto do hotel. Ficava há poucos minutos de distância do ginásio e só demoramos tanto porque esperei ele finalizar os últimos detalhes dos treinos e alguma coisa sobre o jogo de hoje à noite. Os outros lamentaram a minha ausência no almoço, mas prometi minha presença no próximo.
— Você está bem? — De banho tomado, eu estava jogada no sofá quando Bruno surgiu perguntando.
Olhei para ele, observando-o enxugar os fios de cabelo molhados na toalha, usando uma camisa velha e uma calça de moletom que tinha trazido na sua mochila.
— Só um pouco cansada — respondi, sentindo o meu pulso meio dolorido. Eu não devia ter exagerado com a bola de manhã. — Venha aqui.
Ele não hesitou em obedecer. Deixando a toalha de lado, Bruno veio até o sofá, sentando-se ao meu lado, exalando o cheiro do sabonete que o hotel disponibilizava nos quartos.
— Você parece cansado — observei.
Ele maneou a cabeça em um aceno positivo; era uma agenda rígida que ele e os outros seguiam para manter as partidas dos jogos. Mal havia tempo para um descanso de verdade, digno mesmo. Eles alternavam as folgas com treinos, sempre em busca de melhorar seus desempenhos. E o lado bom de eu também ser uma atleta, era que eu entendia perfeitamente todo o processo que eles passavam.
Droga, eu até sentia falta da rotina estressante.
— Você também — ele devolveu.
Um sorriso preguiçoso surgiu em meus lábios, sem a menor intenção de discordar de suas palavras; sim, eu realmente estava cansada. Acompanhá-lo naquela rotina não me excluía dos efeitos colaterais, principalmente quando os caras do time resolviam me arrastar para participar um pouco do treino ou para passar um tempo na academia.
Bruno buscou a minha mão, apertando a minha palma contra a sua. Eu queria muito fechar os olhos e me aconchegar no corpo dele e dormir por algumas horas, mas minha barriga reclamava de fome. Ele tinha pedido para alguém do hotel trazer nosso almoço no quarto e só me restava esperar. Então fiquei ali, com a cabeça encostada no sofá, as pernas apoiadas na mesinha de centro, sentindo ele passar o polegar na pele da minha mão.
— Você não precisa ficar acordando tão cedo e nem ficar o tempo todo no ginásio conosco — ele começou a falar, o tom de voz baixo. — Nós adoramos a sua companhia, é verdade. Mas quando te pedi para ficar comigo e me acompanhar pela liga, eu não estava pedindo que você se adequasse à nossa rotina obrigatória.
Eu entendia o que ele estava dizendo. E sabia também que ele só estava dizendo aquilo por causa do fato de eu estar cansada, mas aquilo nunca seria um problema para mim. Me ajeitei no sofá e virei o rosto para encarar o dele, o semblante mais calmo possível.
— E estava pedindo o quê, então? — provoquei, arqueando uma sobrancelha na direção dele.
Bruno soltou um suspiro e apontou com o queixo para a nossa posição no sofá, ele ainda segurando a minha mão.
— Algo como isso aqui — respondeu. — Estar com você me relaxa e isso é tudo o que eu preciso depois de um treino puxado ou uma partida ruim.
Engoli a seco, tentando controlar as batidas erradas do meu coração. Para disfarçar o quanto aquilo me afetou, umedeci meus lábios e exibi um sorriso.
— Acho que estou te acostumando muito mal, hein? — brinquei.
Nem tudo sobre nós era só sexo. Havia aquela cumplicidade, o conforto que encontrávamos na presença um do outro, o refúgio da própria realidade. Bruno tinha entrado na minha vida em um momento conturbado, mas tinha sido a melhor coisa que podia me acontecer na época.
Ele não tinha noção e nunca acreditava, mas ele me salvou.
— Sim, está — ele concordou, para a minha surpresa. — Tem noção de como é irritante sentir falta de você me enchendo o saco para assistir Crepúsculo? Ou simplesmente ser acordado com você berrando One Direction a plenos pulmões?
Comecei a rir descontroladamente, sentindo ele apertar meus dedos em protesto, mas a lembrança dele acordando de mau humor, a expressão derrotada e os ombros caídos me encarando da porta do quarto, invadiu a minha mente. Naquele dia, eu tinha mesmo começado a cantar Kiss You e simplesmente esquecido da existência dele no quarto, então eu não tinha ideia de que ele iria acordar daquele jeito. Mas aquela não era a primeira vez que aquilo tinha acontecido e, com certeza, não seria a última.
— Tudo bem, isso é chato mesmo — concordei com um aceno, tentando me aconchegar melhor no sofá, jogando as pernas cruzadas por cima do colo dele. — Não a parte de te encher o saco, isso eu gosto. Mas a parte de sentir falta.
Era claro como água que nossas rotinas eram diferentes, mas, mais do que isso, tínhamos carreiras e morávamos em lugares diferentes. Não éramos o tipo de amigos comuns que compartilhavam a casa um do outro na esquina ou que se viam com frequência; ao invés disso, tentavámos dar um jeito de nos encontrar algumas vezes por ano, enquanto mantínhamos o contato virtual, através de áudios, mensagens irritantes de textos e chamadas de vídeos, em meio a todo fuso horário quando ele precisava estar na Itália. No meio daquilo tudo, sentir falta um do outro tinha se tornado um fato inevitável.
Bruno beijou a minha bochecha e me puxou para mais perto dele.
— Eu gosto de acordar cedo e de estar no ginásio com você e o resto do time — continuei, descartando aquela preocupação sem fundamento dele. — Além do mais, eles parecem se divertir me zoando por ser uma péssima jogadora. Não precisa se preocupar comigo.
Ele olhou para mim por um tempo, até finalmente se dar por vencido. Não era difícil convencer Bruninho das coisas, mas ele precisava acreditar que era real.
— Tudo bem, você já faz parte do time de uma forma ou de outra mesmo — ele disse, me arrancando um sorriso sincero; eu adorava aquela sensação de ser bem acolhida por todos eles, até mesmo pelas famílias dos jogadores. — Mas você parecia distraída hoje.
E lá estava.
Eu podia acordar bem, seguir toda minha rotina matinal em cima da rotina dele, seguir o dia sem que meu corpo protestasse por meus esforços exagerados, esquecer tudo ao meu redor, ignorar os meus pensamentos sobre qualquer assunto que me incomodava, mas Bruno sempre parecia saber quando eu escondia alguma coisa. Eu não sabia como ele fazia aquilo; eu agia normal, sorria e ria, interagia com todo mundo sem revelar nenhuma mudança no meu comportamento, tudo o que indicasse que estava tudo bem comigo e com o resto das coisas, mas, ainda assim, deve ter algo que me denuncie para ele. Algo que eu ainda não tinha descoberto.
— Gabriel me mandou mensagem — foi tudo o que eu respondi, sabendo que me desviar do assunto era inútil.
Ele era meu melhor amigo. Não dava para esconder certas coisas dele.
Bruno deixou escapar o ar pelos lábios entreabertos; Gabriel não era o seu assunto favorito, mas ele se esforçava um pouco para me compreender. Ele desceu os dedos até o meu pulso enfaixado e tocou a pele acima da faixa branca, acariciando-a em uma espécie de massagem. Não me incomodei. Aquilo parecia melhorar um pouco o incômodo que eu estava sentindo por ter exagerado nos movimentos de mais cedo, no ginásio.
— … — ele começou, a voz contida em uma calma terrível, mas seus olhos estavam longe dos meus.
— Eu sei o que você vai dizer — disparei, soltando um suspiro também e me apressei em tranquilizá-lo. — E não precisa se preocupar. Eu não respondi.
Minhas palavras não tinham adiantado de muita coisa. Dava para ver a preocupação em seus olhos quando ele levantou o rosto para me encarar, como se procurasse qualquer coisa que indicasse o contrário. Não que ele não acreditasse em mim; ele acreditava. Ele só estava estudando o meu estado de espírito, tentando se certificar silenciosamente que eu estava bem. Porque Gabriel era um assunto que me afetava, ainda, mesmo depois de tanto tempo que eu pus fim ao laço de irmandade entre nós.
— E como você se sente? — ele, enfim, questionou.
Abri um sorriso tranquilo. Eu me sentia bem, de verdade; tinha precisado de muito tempo para trabalhar em não deixar mais o meu irmão me afetar. Era coisa do passado e eu precisava superar.
— Estou bem — garanti. — Talvez eu só precise trocar de número.
Ele assentiu, um tempo depois.
De algum jeito, eu sabia que ele estava lembrando da mesma coisa que eu. Do dia que eu fiquei tão arrasada que ele nem mesmo quis me deixar dormir sozinha por uma semana inteira até eu mesma expulsá-lo para cumprir as suas obrigações.
flashback on
três anos atrás
Gabriel era meu irmão por parte de pai. Três anos mais velho do que eu, ele era bastante problemático e, por esse motivo, depois de aprontar poucas e boas com a nossa família, todo mundo tinha desistido dele. Todo mundo, menos eu, a quem ele sempre recorria quando estava metido em alguma confusão. Bianca sempre me recriminava por ajudá-lo. Segundo ela, Gabriel não mudaria e o fato dele ter desperdiçado todas as chances que eu dei, explicava isso. Mas eu simplesmente não conseguia abandoná-lo à própria sorte, mesmo depois de… bem, tudo.
Eu estava no meu apartamento no Rio, sentada no sofá com Bruno, explicando porquê eu tinha discutido com Bianca mais cedo. Quando ele entendeu que o motivo de tudo tinha sido o nosso irmão, sua expressão mudou totalmente.
— Não espere que eu mude meu discurso, — Bruno tinha dito, sério. — Você é minha melhor amiga e uma das pessoas mais importantes da minha vida. É justamente por isso que eu me recuso a te apoiar nessa.
Ele estava com razão e eu sabia disso, mas mesmo assim, não conseguia impedir a irritação que crescia dentro de mim. Me afastei dele e soltei um suspiro contido. Bruno bufou, esfregando o rosto com as duas mãos.
— O que ele queria dessa vez? — perguntou.
Ele olhou para mim. Havia mais do que cansaço em seus olhos. Aquele assunto deixava-o mais exausto do que ele se sentia. Me deixava um pouco também, mas era problema meu, não dele.
— Nada que importe para você — respondi, a voz um pouco dura.
Não era a primeira vez que algum conflito surgia entre nós. O problema era que o maior dos conflitos entre nós dois sempre envolvia Gabriel. Ele não me apoiava em nada em relação ao meu irmão, embora não me julgasse e nem me impedisse de fazer alguma coisa, mas eu sabia, de algum jeito, que ele se sentia infeliz em me ver sempre batendo na mesma tecla, na esperança inútil que a situação de Gabriel mudasse.
Mas isso, provavelmente, era só eu sendo iludida. O problema do Gabriel era muito maior do que eu podia lidar. Desde cedo, ele tinha problemas com drogas; já roubou minha mãe, já ameaçou Bianca, gastou todo o dinheiro da comida dos filhos para comprar heroína, abandonou empregos e fugiu de todas as clínicas de reabilitação que consegui colocá-lo. Àquela altura, sua esposa tinha deixado-o e ninguém da minha família queria saber mais dele. Ninguém, exceto eu.
Mas eu também não sabia até quando podia suportar. Até que ponto eu podia ajudá-lo a se reerguer.
— , da última vez que ele te procurou, você ficou arrasada — Bruno argumentou. — E você arrasada me deixou preocupado pra caramba também. Só… tente ser razoável.
Umedeci meus lábios, me sentindo mais cansada do que antes.
— O que você espera de mim sendo razoável, Bruno? — murmurei, balançando a cabeça. — Que eu abandone-o?
— Ninguém te culparia por isso.
Senti uma bola se formar dentro da minha garganta. Lancei um olhar irritado para ele pela sugestão, mas bem, não era o que todo mundo me sugeria quando Gabriel me procurava? Bianca, principalmente. Ela era a primeira a torcer para que nosso irmão me deixasse em paz.
— Eu, sim — respondi, em um sussurro.
Bruno olhou para mim com ternura.
— Não dá para ajudar quem não quer ser ajudado, — disse, a voz mais neutra. — Ele não está te pedindo socorro. Está te afundando junto.
A voz embargada me entregou. Saber que todo mundo estava certo, que eu deveria desistir daquela história, que Gabriel não queria ser ajudado… me quebrava um pouco por dentro. E quando descobri que ele estava envolvido com traficantes, a coisa mudou de curso. Eu precisava abrir mão de algo que não estava mais ao meu alcance.
Porque Gabriel tinha me prometido que estava melhorando. Pelos seus próprios filhos. Mas era só mais uma mentira de tantas outras que ele me contava.
Se seus dois filhos pequenos não eram motivos suficientes para ele procurar ajuda de verdade e mudar de vida… eu não seria também.
— Ele disse que estava limpo — respondi a pergunta de Bruno. — Mas que não estava conseguindo trabalho e precisava de dois mil reais para comprar comida para os meninos.
Deixei minha irritação fluir e ir embora. Não fazia sentido ficar com raiva de Bruno por se preocupar comigo e querer cuidar de mim, ainda mais quando ele tinha presenciado tudo o que passei com Gabriel. Só… era difícil admitir que aquilo precisava de um ponto final.
— Eu sei que é mentira — continuei, sentindo uma vontade imensa de chorar, mas me contive. — Paloma me avisou que ele não vê os meninos há meses e está metido com traficantes. Eu simplesmente… não posso mais fazer isso.
Bruno foi interrompido de dizer alguma coisa pelo toque do meu celular. Como se adivinhasse que eu estava falando sobre ele, peguei o aparelho em cima da mesinha de centro e vi o nome de Gabriel piscar na tela. Deixei meus ombros caírem em derrota e, quando busquei o olhar de Bruninho, ele acenou, me incentivando a atender, prometendo silenciosamente que ainda estaria ali.
Engoli a seco e tomei coragem para atender o telefone.
— Alô?
um barulho chiou do outro lado.
— Ei, maninha! — Gabriel cumprimentou, a voz trêmula. — Você não respondeu a minha mensagem, então fiquei preocupado. Está tudo bem?
Pelo barulho de fundo, eu tinha certeza que ele não estava sozinho. Mas me recusei a pensar sobre ou me preocupar com o que quer que tivesse acontecendo. Não devia ser mais problema meu e, se ele conseguiu sobreviver tanto tempo naquele mundo desde então, eu não serviria de nada além de alguém com quem ele podia contar para arrancar dinheiro. Eu só esperava estar tomando a decisão certa.
— Fiquei ocupada — respondi, da forma mais curta que consegui e soltei um suspiro quando senti a mão de Bruno buscando a minha. — Olha, Gabriel, eu não tenho esse dinheiro. Eu te disse isso da última vez.
— , por favor — ele implorou. — As coisas estão difíceis aqui. Tomás e Hugo precisam…
— Pare — interrompi, incapaz de conseguir aguentar ele falando dos meninos. — Eu sei que você não vê os meninos há meses. Suas mentiras finalmente me cansaram, Gabriel.
— Eles te convenceram direitinho agora, hein? — seu tom de voz mudou. Havia uma raiva impressionante contida nele. Algo que eu sempre ignorei. — Sempre soube que você era uma vadia egoísta miserável. Igual a todos eles!
Seu grito me assustou. Meu corpo deu um sobressalto pequeno que manteve Bruno alertado perto de mim. Tudo dentro de mim estava se quebrando em pedacinhos. Gabriel nunca tinha me xingado daquela maneira, pelo menos não diretamente. Mas bastou que eu finalmente falasse um não e ele estava se mostrando.
— Gabriel…
— Vá pra puta que pariu, ! — ele berrou contra o telefone, antes de encerrar a ligação.
Meu corpo inteiro estremeceu quando comecei a chorar, o celular caindo em algum lugar do chão. Bruno, sem perder tempo nenhum, me abraçou, puxando-me para o calor e o conforto dos seus braços, me reconfortando do baque que era inevitável que eu sentisse. Eu tinha parado de ajudar Gabriel financeiramente daquela forma há algum tempo, quando ele me pediu uma quantia maior que dois mil. De certa forma, eu estava me preparando para aquilo, para o momento em que eu finalmente teria de deixá-lo com as consequências das próprias decisões. Se não fosse por Bruno, eu não saberia se teria coragem de cortar aquele laço há muito tempo quebrado.
Porque ele tinha razão.
Não dava para ajudar quem não queria ser ajudado e eu não podia mais ficar me desgastando por uma pessoa que eu não podia resgatar. Uma pessoa que eu tinha perdido há muito, muito tempo, quando ele decidiu experimentar o primeiro contato com a droga que destruiria seu futuro e sua vida.
flashback off
🏐
Passei as próximas horas seguintes tentando convencer Bruno que eu estava bem, apesar da mensagem. Gabriel não tinha dito nada demais e, como tinha dito ao capitão teimoso, não respondi a mensagem e apaguei. Eu ia trocar de número para que aquilo não acontecesse mais — isso ele me fez prometer. Quando ele parecia finalmente convencido, deixei todo ar pesado sair do meu corpo, porque era cansativo fazê-lo acreditar em alguma coisa. Eu me sentia bem melhor depois de uma hora de sono pós-almoço, até ele precisar levantar para voltar ao ginásio. Meu pulso tinha parado de me incomodar e, como eu não tinha mais nada para fazer sozinha no quarto do hotel, me arrumei e acompanhei-o até o ginásio onde iria acontecer a segunda partida contra a Eslovênia.
— Aqui dói? — Franco questionou, tocando em algum ponto do meu pé, verificando se eu ainda precisava continuar andando com aquela faixa.
Testei os seus dedos na minha pele, balançando a cabeça em negação em resposta à sua pergunta. O pé não me incomodava tanto quanto o pulso mais.
— Tem certeza? — ele insistiu.
Revirei os olhos.
— Sim, Franco, eu tenho certeza que não dói nada — respondi, tentando manter minha voz firme o suficiente para que ele acreditasse de uma vez. O homem era desconfiado pra caramba. — Já terminou?
Ele sorriu, afastando os dedos do meu pé.
— Não pode me culpar por duvidar de você — ele se defendeu. — Já escondeu uma lesão antes, o que te impediria de esconder agora?
Olhei feio para ele, mas deixei que ele me livrasse da faixa no pé, doida para que aquele troço fosse tirado logo. Era horrível querer coçar a pele e não poder.
— Não tenho nenhum motivo plausível para isso agora — rebati.
Eu não estava treinando mesmo. Já tinha sido tirada de todos os campeonatos possíveis pelos próximos dois meses, não tinha sentido esconder mais alguma lesão. Na verdade, fazer aquilo pioraria gradativamente o meu estado físico, o que só adiaria ainda mais a minha volta para a ginasta e eu já estava sentindo os efeitos de sua ausência.
— Não importa o motivo, , não se esconde uma lesão.
Bufei, coçando a minha bochecha, saindo da maca improvisada da enfermaria do ginásio. Testei o meu pé sem a faixa, aliviada por não precisar andar mais com ela, mas infelizmente, meu pulso ainda precisaria continuar com aquilo. Franco insistiu que eu parasse de me deixar ser arrastada para brincar com a bola no treino dos meninos, porque o movimento repetitivo da mão poderia piorar a lesão. E eu tinha que melhorar, não piorar.
Mas não prometi nada. Ele devia conhecer melhor do que eu o time que cuidava.
— Acho que nem assim ela vai aprender — a voz de Lucarelli surgiu.
Me virei na direção da porta, encontrando-o sorrindo para mim, erguendo uma garrafa de água na mão. Daquela vez, eu não estava nervosa, só um pouco ansiosa para assistir o jogo se desenrolar. Eu esperava que eles fossem o vencedor daquela partida novamente.
— Obrigada pelo apoio — zombei, vendo-o dar de ombros.
Franco balançou a cabeça, como se estivesse assistindo duas crianças e se virou para mim, apontando um dedo em riste na minha direção.
— Pare de exagerar com o pulso — ele aconselhou mais uma vez. — Sem movimentos repetitivos pesados.
E saiu, me deixando sozinha com Lucarelli. Ele me jogou a garrafa de água e eu calcei minhas sandálias de volta, feliz por estar sem a faixa no pé, mas que não significava que minha lesão estava melhor.
— Convidei a sua irmã para assistir o jogo de sábado — ele me avisou, se aproximando um passo. — Ela disse que só ia se fosse você a pagar as passagens.
Arqueei as sobrancelhas para ele, mas certamente aquilo era mesmo coisa de Bianca. Eu pretendia chamá-la para assistir a alguma partida aqui em Brasília antes deles seguirem para a próxima fase, mas acabei esquecendo desse detalhe. Além do mais, o fato dela me pilhar com Bruno não me deixava exatamente inclinada a convidá-la para alguma coisa.
— Você sabe que ela é casada, certo?
Luca me encarou com um pouco de confusão.
— Ela não tinha se separado? — indagou.
Dei de ombros, bebendo alguns bons goles da garrafa de água, notando só agora o quanto eu realmente estava com sede. Desde quando cheguei ao ginásio, deixei Bruno ir para o aquecimento com os outros e acatei a solicitação de Franco para verificar as minhas lesões. Ele não precisava cuidar de mim, uma vez que não era o meu médico, mas desconfiava que aquilo tinha dedo de Bruno, então simplesmente deixei pra lá e aceitei ser acompanhada nesse meio tempo.
— Continua casada no papel — respondi. — Além do mais, desconfio que os dois se encontram às escondidas.
Bianca não era exatamente mestre em esconder um segredo. Eu sabia que ela continuava se encontrando com André, mesmo depois de jurar de pés juntos que não o aceitaria de volta, mas qualquer um podia observar que os dois ainda se amavam. Eu, sinceramente, não entendia porque ela não voltava de uma vez. Até as crianças sabiam daquilo.
— Não se preocupe, eu não tenho nenhuma segunda intenção com a sua irmã — Lucarelli respondeu, rindo. — Acho que ela só estava tentando ser convidada por alguém.
Cocei minha bochecha, abrindo um sorriso zombeteiro na direção dele.
— E você foi o escolhido da vez para ela manipular? — provoquei.
Foi a vez dele mexer os ombros como se não se importasse com aquele fato. Bianca não tinha muito contato com o restante do time, mas tinha se dado realmente bem com Lucarelli e mantinham contato de vez em quando.
— Aparentemente — disse. — Como você se sente?
Estudei a sua expressão para saber se ele estava perguntando aquilo por perguntar ou porquê sabia de alguma coisa. Como não havia nada em seu comportamento indicando alguma coisa estranha, resolvi baixar a guarda.
— Ótima — respondi. — Animada para a partida.
Ele sorriu para mim e nós voltamos para o ginásio. Daquela vez, não fiquei longe dos outros e nem muito perto da plateia; Luca tinha me solicitado para ficar perto dos meninos no banco de reserva e, para me desviar de possíveis boladas, me sentei bem atrás dos outros. Dali, dava para enxergar muito bem a partida se desenrolando.
O primeiro set iniciou com um ritmo muito bem distribuído; os meninos estavam conseguindo manter a pontuação a seu favor com os saques e contra-ataques. Vez ou outra, algum erro me deixava aflita, mas eles conseguiam contornar a situação e, assim, também conseguiram vencer o primeiro set. No segundo, fomos vencidos pela equipe da Eslovênia, que finalmente conseguiu uma vantagem no empate. Os meninos silenciaram meus xingamentos com gritos de incentivos. Era animador, excitante e incrivelmente terrível ser torcedora daquela maneira. Vê-los errando saques e defesas me deixava ainda mais nervosa, mas continuei ali, assistindo com o coração à mil.
Eles conseguiram vencer o terceiro set, jogando ainda melhor e até mais tranquilos. Quando o quarto set deu início, Bruno foi substituído por Cachopa e foi levado para ser atendido por um fisioterapeuta. Eu, é claro, segui o levantador por entre o mar de pessoas. Ninguém me impediu.
— O que aconteceu? — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca, assim que consegui entrar na sala em que ele estava com o fisioterapeuta.
Bruno olhou para mim, deixando-se ser examinado no pescoço, onde aparentemente era o local de seu incômodo.
— Só um pequeno desconforto, nada demais — ele respondeu.
Tratando-se da incrível habilidade que os atletas tinham de amenizar lesões, resolvi não dar muito crédito à sua resposta. Eu mesma teria dito a mesma coisa, o que, por si só, não era uma resposta confiável considerando as duas lesões que escondi.
Me aproximei o suficiente da maca improvisada que ele estava sentado e cruzei os braços na altura dos meus seios, ficando a uma distância do seu lado.
— Cardoso? — chamei o fisioterapeuta, esperando uma resposta sincera dele.
O homem de óculos massageou a região do pescoço de Bruno, mas olhou para mim ao responder.
— Não se preocupe, — ele disse, com um sorriso tranquilizador. — Ele está com torcicolo agudo, mas não é nada preocupante. Vou receitar remédio, massagem e descanso. Acredito que estará melhor para a próxima partida.
Ele parou de examinar Bruno fisicamente e o jogador concordou com as últimas palavras do médico. Em seguida, ele pediu licença e me deixou sozinha com o meu melhor amigo. Deixei escapar um suspiro aliviado e, dali, dava para ouvir a animação da multidão, o que me indicava que a seleção brasileira estava vencendo o último set.
— Ei, eu estou bem.
Com cuidado de não movimentar muito o pescoço, ele virou o corpo inteiro na minha direção e descruzou os meus braços com um toque. Segurei suas mãos e encarei-o, percebendo como o dia foi meio merda e estava fechando com um meio termo.
— É bom mesmo que esteja — murmurei. — Está sentindo dor?
Ele fez pouco caso, como se estivesse acostumado com lesões muito piores.
— Um pouco — respondeu, determinado a não dar muita importância. — Como você está?
Revirei os olhos teatralmente e apertei meus dedos contra os dele, em um protesto silencioso para ele parar de fazer aquilo.
— Não sou o foco aqui, capitão — reclamei, encarando-o com um pouco de seriedade. — Pode parar de se preocupar comigo e me deixar cuidar um pouquinho de você?
Bruno me exibiu um sorriso pequeno; a expressão indicava que ele estava fingindo pensar sobre o meu pedido e eu deixei os meus ombros caírem em derrota quando a resposta dele finalmente veio.
— Uma tarefa meio difícil, mas sim — disse. — Soube que sua irmã vem assistir a partida de sábado.
Um suspiro mal contido escapou dos meus lábios. Eu estava animada com a possível presença da minha irmã, mas só de imaginar o inferno que ela faria me atormentando como toda irmã mais velha… sério, era um pesadelo.
— Não é nada certo ainda, e o Lucarelli devia parar de ser fofoqueiro — retruquei.
Bruno riu, me puxando para mais perto ainda dele. Ele abriu as pernas de modo que eu conseguisse me encaixar no meio dele. Como ficou meio desconfortável para mim continuar segurando as suas mãos naquela posição, soltei-as e depositei as minhas em seus ombros.
— Uma missão meio impossível, já que, você sabe, somos uma equipe? — ele provocou. — E não foi o Lucarelli quem me contou, foi o Lucão.
Estalei a língua de surpresa. Era meio difícil imaginar Lucão sendo fofoqueiro, mas bem, os homens não gostavam de surpreender?
— Ok, uma reviravolta surpreendente — admiti, me rendendo a um sorriso pela primeira vez desde que entrei ali.
Com as suas mãos agora livres, Bruno acariciou a minha bochecha com o polegar. Eu aproveitei para subir minhas mãos de seus ombros até o seu pescoço, devolvendo o mesmo carinho intencional. Ele estava meio tenso devido ao torcicolo, mas conseguia relaxar sob o meu toque.
— Que bom que está aqui — ele sussurrou.
Exibi um sorriso fechado e concordei com um aceno bem leve, sentindo meu coração começar a palpitar contra o meu peito. Aquilo vinha acontecendo com frequência e sem motivo aparente, mas resolvi não pensar muito sobre.
Se eu não pensasse, não arranjaria mais problemas do que aparentemente eu tinha.
Ali dentro, era possível ouvir a torcida da multidão lá fora. Mas Bruno não estava com pressa nenhuma de sair dali; seus braços me envolveram em um abraço silencioso e significativo.
Era bom poder admitir que, naquele instante, seus braços me envolvendo eram a melhor coisa do mundo.
Senti uma mão acariciar a pele do meu pescoço, me despertando lentamente do meu sono leve. A respiração pesada de Bruno atrás de mim me deixava com a consciência alerta de que ele estava mesmo ali. Eu tinha insistido — na verdade, não tanto —, que ele dormisse comigo aquela noite; não queria ficar sozinha, e ele precisava de cuidados, além de um bom descanso. Ele costumava dizer que eu me revirava muito na cama, mas, aparentemente, não havia reclamações sobre aquilo naquela manhã. Ao invés disso, ele continuou descendo a mão da pele do meu pescoço, alisando toda a lateral do meu corpo, já que eu estava deitada de lado e de costas para ele.
— Bom dia — ele murmurou.
Apertei os olhos, tentando me manter ainda mais desperta. Eu quase ri ao perceber as suas intenções nas entrelinhas e remexi o meu corpo, puxando o lençol para me cobrir ainda mais.
— Não — respondi, ignorando o seu cumprimento.
Não devia ser nem mesmo às seis da manhã. A luz do sol não conseguia entrar pelas janelas do quarto, mas dava para perceber que era cedo. Nossos corpos eram um relógio biológico acostumados a acordar sempre no mesmo horário: entre quatro e cinco horas da manhã.
— Não o quê? — ele questionou, a voz exalando a inocência que ele com certeza não tinha naquele momento.
— Não vou realizar uma transa matinal — respondi, como se fosse óbvio.
Ele tirou a minha mão do lençol e começou a descer o pano novamente, me deixando exposta. Agora, meus olhos estavam bem abertos, mas eu não tinha me virado para ele ainda. Temia que, assim que ele conseguisse observar as expressões do meu rosto, percebesse o quão me deixava afetada.
— O que te faz pensar que eu quero isso agora? — indagou, com falsa modéstia.
Revirei os olhos e bati contra a sua mão assim que ele quis alcançar a base do meu seio coberto. Meu bico já estava completamente duro só de ouvi-lo com a voz rouca logo cedo. Eu precisava parar com aquilo. Meu cérebro e corpo não estavam exatamente alinhados com o mesmo objetivo: um era a razão, me fazendo compreender que eu não devia instigar Bruno a piorar sua condição; o outro queria prazer.
— Sua mão passeando pelo meu corpo, capitão — respondi.
— Ok, pego no flagra — ele riu com gosto, me abraçando. — Mas você devia sentir uma coisa primeiro antes de me dizer realmente não.
Pressionando seu corpo contra o meu, eu senti o que ele queria mostrar: seu pau completamente duro contra as minhas nádegas, me arrancando um quase suspiro que me entregaria. Ao menos ele não conseguia sentir minha boceta latejando pelo menor toque.
Que inferno de homem.
— Bruno, pelo amor de Deus, você teve um torcicolo agudo ontem! — Tentei apelar para a razão, mas eu já sentia que seria um motivo inútil. — Pare de querer se movimentar o tempo todo.
Ele beijou a base do meu pescoço e eu finalmente deixei o suspiro escapar. Não de prazer, mas de derrota, por que quem é que resistiria àquilo?
— Me sinto melhor, eu prometo — ele insistiu.
Umedeci os meus lábios e virei meu corpo na direção dele. Ele estava sem camisa, usando somente um calção de tecido leve para conseguir dormir melhor à noite, enquanto eu usava um pijama de tecido completamente fino, quase como se fosse seda, mas era algodão. Não me preocupei com o que ele iria encontrar na minha expressão; ao invés disso, meu coração se afetou completamente com o sorriso que ele me despejou, a excitação fazendo seus olhos brilharem. Espalmei uma das mãos em seu peito, desistindo de resistir.
— Não vou te beijar — avisei, decidida. — Não antes de escovar os dentes.
Foi a vez dele revirar os olhos.
— , eu te beijaria mesmo você coberta de lesmas — disse.
Fiz uma careta desgostosa, balançando a cabeça em negação.
— Eca — murmurei. — Eu já disse para você desistir das cantadas, nunca dá certo.
Ele riu. Aproveitei o momento para erguer o meu corpo por cima do dele. Bruno ficou deitado debaixo de mim e me sentei na sua cintura, uma perna de cada lado.
— Vou resolver o seu problema, capitão. — Amarrei o meu cabelo em um coque bem feito, admirando seus olhos bem fixos em mim. Quando inclinei meu corpo na direção do seu rosto, ele tentou se mexer, mas espalmei minhas duas mãos, segurando a altura de seus ombros, me sentindo meio quente. — Mas só se você ficar completamente quieto, entendeu? — Avisei, esperando uma resposta; ele assentiu tão rápido que o movimento foi quase imperceptível. — Ótimo. Espero que se contente com uma rapidinha.
Mais desperta e com desejo de provocar ainda mais, rebolei contra o seu pau, ainda sentindo-o duro. As camadas finas de roupas não me deixava senti-lo como gostaria, mas me apressei em me livrar daquilo logo. Bruno pousou suas mãos na minha cintura, me ajudando a erguer o corpo só o suficiente para que eu me livrasse do short, já que eu estava sem calcinha. Ele soltou o ar preso pela boca entreaberta, meio ansioso para me sentir, pele a pele. Não me dei ao trabalho de me livrar da parte de cima do pijama; deixei meus seios cobertos pelo pano e abaixei o calção de Bruno só o suficiente para que seu pau saltasse para fora, ereto.
Minha boceta latejou ainda mais, minha excitação aumentando a cada segundo. Acordar com aquela visão era uma das inúmeras maravilhas do mundo e, embora eu sentisse que estava sendo um pouco tortuoso para ele não se mexer, Bruno não ousou desobedecer a minha única condição.
Meu coração acelerou com a adrenalina e minha respiração ficou um pouco descompassada quando me esfreguei contra o seu pau, ainda sem fazê-lo entrar dentro de mim. Bruno soltou um gemido mal contido, me causando arrepios. Seus olhos permaneceram fixos nos meus e sua mão subia e descia pela lateral do meu corpo, o único movimento que eu permitia que ele fizesse.
— … — ele quase implorou.
Sem querer estender muito o momento, principalmente quando eu tinha prometido somente uma rapidinha, segurei seu pau abaixo de mim e finalmente me encaixei contra ele, iniciando um movimento de vai e vem lento. Ele tentou se mexer, mas prendi minhas pernas contra seu quadril, olhando-o feio.
— Não se mexa.
Ele gemeu em protesto. Para melhorar o seu humor, continuei rebolando contra o seu pau, deixando-o me preencher, e inclinei meu corpo contra o seu, meus gemidos escapando contra a sua boca, mas sem beijá-lo. Ao invés disso, acariciei o seu pescoço com delicadeza, distribuindo beijos por toda a sua região, aproveitando a foda matinal para esquecer todos os meus problemas.
Estar com Bruno quase sempre tinha aquele efeito; mas toda vez que ele tinha a intenção de me foder daquela forma, não existia um mundo lá fora para mim. Somente eu e ele, o que só reforçava o meu pensamento sobre o acordo: tinha sido uma das melhores coisas da quais eu concordei em fazer. Aumentei a velocidade das cavalgadas, alternando sempre os movimentos, sentindo nossos corpos se encharcarem de suor, o pano do meu pijama de cima grudando contra os meus seios.
Ele não mexia o pescoço, ficando completamente imóvel, recebendo as minhas estocadas com grande prazer, nossos gemidos se misturando um ao outro; mas suas mãos não paravam quietas. Ele subiu a mão esquerda para o meu rosto, afastando os fios grudados de suor da minha testa. Um sorriso surgiu em seus lábios e eu tentei melhorar a minha respiração.
— Você fica linda assim — ele começou a dizer, a voz meio falhando, o peito subindo e descendo em uma velocidade irregular. — No comando, me fodendo dessa maneira, me deixando completamente como me sinto quase sempre a seu respeito.
Deixei o ar escapar pelos meus lábios. O corpo dele começou a ficar rígido sob o meu toque, a primeira indicação de que ele estava quase chegando lá. Eu tinha aprendido a ver os sinais antes que ele começasse a gozar dentro de mim, principalmente quando aquilo acontecia sem camisinha.
Merda.
Esquecemos de novo.
O que não era exatamente um problema, uma vez que nós sempre fazíamos exames e eu tomava remédio. Além do mais, eu não transava com mais ninguém e tinha quase certeza que ele também não. Eu não tinha tantos motivos para me preocupar daquela maneira. Confiava em Bruno mais do que confiei em qualquer outro homem na minha vida.
— Como você se sente quase sempre ao meu respeito? — perguntei, curiosa, assim que ele não completou a sua frase.
Bruno apertou a minha coxa e um gemido alto escapou dele. Fiz um último movimento de vai e vem, antes de sair de cima dele e deixar a minha mão assumir os últimos segundos do trabalho, assistindo-o explodir em completo êxtase, sujando um pouco da blusa do meu pijama e parte do lençol.
— Rendido — ele, enfim, respondeu.
Não sei se foi o cansaço ou a resposta que me fez cair deitada ao seu lado na cama.
Mas não achei que eu tinha capacidade de dizer alguma coisa, ainda tentando compreender o que aquilo significava. Vez ou outra, Bruno costumava dizer coisas assim sempre que estavamos transando, o que só me deixava confusa, porque quando o momento passava, nunca conversávamos sobre isso.
Foi o que aconteceu em Tóquio.
Na festa de fim de ano, na Itália.
No Baile da Vogue.
Agora.
E fiz ali o que eu tinha feito todas as outras vezes: eu não disse nada. Fosse porque não sabia o que dizer, ou fosse porque eu não queria criar expectativas em cima de algo que não significava absolutamente nada.
Porque a premissa de um acordo sexual era esse: só sexo. Nada mais.
Nada.
Mais.
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@gabiguimaraes Sumi, mas vocês já sabem que eu estou de volta! 💪🏻🇧🇷🏐
Semana de muito treino e foco na preparação pra semana em Brasília ✅ Simbora 👊🏻
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— O que você está fazendo? — Alan apareceu ao meu lado, perguntando.
Ele espiou por cima do meu ombro o que eu estava cutucando no celular, curioso, e me estendeu um pouco do pãozinho quente que tinha roubado de algum lugar da cantina para mim. Quase sempre, ele fazia isso. E, como todas as vezes, eu não reclamava de receber um pouco de comida, então bloqueei a tela do meu celular e aceitei o pão estendido, sentindo o cheiro de queijo.
— Eu só estava verificando se a Gabi não me odeia — respondi a sua pergunta, mexendo um ombro.
Ele balançou a cabeça, rindo, entendendo a qual Gabi eu estava me referindo. Todo mundo sabia que eu conhecia as meninas do vôlei também e que era amiga de algumas, principalmente da Gabi.
— Por trocá-la pelo Bruno? — ele provocou.
Olhei-o feio e empurrei-o com o ombro, mordendo um pedaço do pão, sentindo meu paladar se derreter de prazer em experimentar uma coisa tão boa.
— Não — respondi. — Por estar devendo tanto assistir algumas partidas.
Alan concordou com um aceno. Os outros estavam treinando separados. Às vezes, eles se revezavam em fugir do treino para me perturbar um pouquinho, ainda mais quando eu não me juntava a eles no treino. Mas daquela vez tinha sido por ordem direta de Franco, que proibiu os meninos pessoalmente de me arrastar para alguma tarefa que exigisse movimentos repetitivos das mãos. Então… cá estava eu, sentada em uma das inúmeras cadeiras na arquibancada vazia, vasculhando o instagram no celular, respondendo e curtindo alguns stories e fotos, respondendo as mensagens de Bianca sobre a sua vinda para cá no dia seguinte, sendo uma mera espectadora dos treinos deles.
— Bem, não é sua culpa que o calendário das partidas do feminino e masculino sejam diferentes — Alan me confortou. — O Mundial tá aí. Tenho certeza que você pode compensá-la, se o Bruno também não te convidar para outra tour.
Joguei um farelo de pão contra o rosto dele, recebendo outra provocação.
— Mesmo que ele me convide, eu não vou — rebati, recebendo uma expressão desacreditada dele, mas não me deixei abalar. — Até lá, vou ter voltado para meus próprios treinos e campeonatos.
— Se você diz… — ele deu de ombros, terminando de comer seu próprio pão.
Balancei a cabeça, sorrindo, aceitando a provocação só daquela vez.
Eu estava acostumada. Eles viviam jogando indiretas para cima de mim e de Bruno sobre como nossa relação era avançada demais para uma amizade colorida. Alguns deles gostavam de provocar o capitão, dando em cima de mim na frente dele, o que, eu confesso, era meio divertido. Bruno fingia não ligar; ele mantinha bem o papel onde era somente o meu melhor amigo e que não me impedia de ficar com outras pessoas, mesmo sabendo que eu quase nunca fazia isso. Na verdade, eu sequer tinha tempo para manter outras paqueras constantes.
— Olha lá o seu queridinho — Alan disse, apontando para um canto mais afastado da quadra, onde Bruno estava com Cardoso, enquanto uma pessoa gravava os dois juntos.
— Ih, Alan — resmunguei, terminando de comer o pão e apontei um dedo em riste para ele, chegando a minha vez de lhe provocar. — Vou começar a achar que você tem ciúmes de mim.
Ele me olhou com olhos incrédulos.
— Cai fora, — resmungou de volta, levantando-se do banco. — De nada pelo pão, sua ingrata.
Comecei a rir, deixando-o ir, mas gritei um obrigada só para implicar. Ele me deixou sozinha mais uma vez e fiquei observando Bruno gravar o que quer que fosse com Cardoso, mas a julgar pelo o que eu acompanhava das redes sociais em relação ao vôlei e os atletas, eles provavelmente só estavam dando uma atualização do quadro de saúde do capitão, tranquilizando os fãs sobre ele ter saído repentinamente da partida de ontem. E, como Bruno bem tinha me garantido de manhã, ele realmente sentia-se melhor. E estava liberado para jogar a partida de sábado.
— Ei, .
Eu mal percebi a presença de Darlan e Leandro ao meu lado. Devia estar tão concentrada em Bruno e Cardoso que não prestei atenção em qualquer outra coisa ao meu redor, revelando a minha falta de atenção. Quando olhei para os dois jogadores, eles estavam bem desconfiados, o que me levou a ficar desconfiada também.
— Ahn.. — O som escapou da minha boca e eu umedeci os meus lábios, estreitando os olhos na direção dos dois. — O que vocês querem?
— Você disfarça mal, cara, sai para lá — Leandro disse, praticamente enxotando Darlan. — Tem umas garotas lá fora.
Concordei com um aceno, como se aquela informação fosse bastante óbvia.
— E daí? — eu disse. — Tem sempre umas garotas lá fora.
Às vezes, o treino era aberto ao público e era normal que algumas pessoas ficassem pela arquibancada assistindo aos meninos, mas também havia dias, como aquele, que o treino era totalmente fechado, o que significava que qualquer admirador, homem ou mulher, sempre ficavam do lado de fora do ginásio, esperando alguma oportunidade de falar com qualquer um dos jogadores.
Leandro revirou os olhos.
— Você não costuma ser tão lerda assim — ele disse.
Evitei bufar, porque ele estava certo. Bastou dois segundos para me despertar o suficiente para associar o interesse deles com o fato de ter algumas garotas lá fora. Eu virei o rosto para Darlan.
— Você não namora?
— Achei que Bruno te inteirasse melhor sobre o resto da equipe — ele respondeu.
Cocei a minha bochecha, balançando a cabeça.
— Na verdade, — comecei a responder, fazendo uma careta meio desgostosa, sem querer imaginar saber da vida sexual e amorosa de metade deles. — eu prefiro ficar sem saber as aventuras sexuais de todos vocês.
Darlan riu, acobertado por Leandro.
— E aí? Vocês querem que eu vá lá e pegue o número de todas elas? — indaguei, provocando. — Porque vai faltar espaço na agenda.
Os dois reviraram os olhos para a minha provocação, me arrancando um sorriso sincero. Havia dias que eu esquecia como era estar cercada por eles; não havia espaço para pensar nos meus problemas ou no dilema interno que eu estava começando a ter em relação a Bruno.
Distração.
Era exatamente disso que eu estava precisando no momento. Como estava praticamente proibida de ser arrastada para treinar junto com eles, não faria mal me distrair com as paqueras daqueles dois.
— Não — Darlan quem respondeu. — Nós vamos te apontar as garotas.
Dei de ombros, concordando com um pequeno aceno e, depois de verificar que todo mundo estava ocupado demais para notar a nossa ausência, nós saímos de fininho pela quadra até o espaço do hall que liberava a entrada de todo mundo.
— Aquela loira — Leandro disse, apontando com a cabeça.
Quando olhei para a pequena multidão formada, tentando encontrar quem exatamente ele estava me apontando, virei o rosto para Leandro.
— Jura? — ironizei, esperando que ele entendesse o óbvio. — Sabe quantas garotas loiras eu estou enxergando daqui?
Darlan começou a rir, do meu outro lado. Leandro deixou os ombros caírem, sentindo-se… bem, um idiota, talvez.
— Precisa ser mais específico, cara — Darlan disse.
Daquela vez, eles conseguiram identificar com certeza em quem estavam interessados. Deixando os dois para trás, andei até o lado de fora, com os seguranças de olho em mim, mas nenhum deles interferiu. Eu podia ser uma ginasta conhecida, mas não era o trabalho deles me proteger ali, uma vez que nenhuma daquelas pessoas estavam ali por mim.
— Oi — murmurei, assim que cheguei perto das duas garotas que os meninos me apontaram. — Vocês estão juntas?
As duas assentiram.
— Ótimo — eu sorri, apontando um dedo para trás de mim em seguida, indicando os meninos. — Aqueles dois patetas estão convidando vocês para assistirem ao treino. Vocês topam?
— Claro! — A que parecia ser a mais velha, respondeu.
Pedi que os seguranças liberassem a passagem das duas. Eles não me questionaram nada; todo mundo ali já me conhecia. Me apresentei para elas e descobri que a mais velha se chamava Alicia, enquanto a outra se chamava Márcia e as duas eram primas.
— Espero que eu não me arrependa disso — avisei aos meninos, assim que todo mundo foi devidamente apresentado.
Leandro piscou o olho para mim, em agradecimento. Darlan sorriu e eu suspirei, assistindo os quatro voltarem para o treino que ainda estava acontecendo na quadra. É verdade que os dois deveriam estar focados no treino, mas bem, eu não era o técnico deles.
— O que foi aquilo? — Bruno perguntou.
Eu mal o vi se aproximar. Encarei-o e dei de ombros, respondendo a sua pergunta.
— O mesmo de sempre — falei. — Garotas.
Ele riu, entendendo perfeitamente o que eu estava querendo dizer. Não era a primeira vez que os meninos me abordavam para ajudá-los a demonstrar seus interesses nas outras garotas.
— Talvez você devesse parar de bancar a cupido — Bruno disse, sorrindo.
Deixei meus ombros caírem e fingi derrota.
— Nunca dá certo, não é?
Ele fez uma careta, balançando a cabeça negativamente.
— O fato de estarem sempre com garotas diferentes, responde a sua pergunta.
Umedeci meus lábios e pisquei meus olhos na direção dele.
— Como você se sente? — perguntei.
— Eu te disse, me sinto melhor — ele respondeu, reforçando o que já tinha me dito antes.
Assenti devagar, ainda meio distraída. Ele não estava suado, mas usava o fardamento da seleção para o treino.
— ? — Bruno me chamou, estalando o dedo bem na frente do meu rosto. — Você está bem?
A manhã daquele dia ainda estava na minha mente. O desejo por ele parecia me consumir cada vez mais; suas palavras continuavam ecoando direto para mim. Eu estava ciente de que ele tinha me feito uma pergunta, mas apenas olhei para ele, segurei a sua mão diante de olhos curiosos que cercavam a entrada e abri um sorriso que estampava a minha ideia.
— Quer um segundo round?
🏐
— Jante comigo esta noite.
Seus lábios ainda passeavam por meu pescoço, distribuindo beijos lentos pós-rapidinha. Minhas pernas ainda estavam meio moles e eu não me importava nenhum pouco em continuar me segurando nele. Nenhum de nós dois deveríamos estar fazendo tanto esforço, mas ser fodida de pé contra a parede não pareceu piorar nenhuma das minhas lesões e fiz o possível para que Bruno não se mexesse tanto.
— Fica difícil me concentrar em qualquer coisa com você tão perto assim — falei, afastando meu pescoço dele, segurando o seu rosto com uma de minhas mãos. — O que você disse?
Ele respirou fundo.
— Eu te convidei para jantar essa noite — ele repetiu.
Levantei uma sobrancelha, encarando a expressão serena dele. Eu adorava como ele ficava sereno daquela maneira toda vez que compartilhávamos aqueles momentos íntimos. Tinha certeza que eu o olhava quase da mesma forma, porque me sentia quente.
— Só eu e você? — me certifiquei, recebendo um aceno positivo dele. — Se você estiver me levando para um jantar surpresa com a sua mãe de novo, Bruno, eu juro…
Ele começou a rir, certamente lembrando-se de quando fizera aquilo. Claro que eu já tinha conhecido a mãe dele antes, afinal, éramos melhores amigos. Eu não tinha problema nenhum em jantar com ela, mas quando Vera descobriu que eu e seu filho dormíamos juntos, ela criou uma fantasia impossível e, o que deveria ser um jantar normal, acabou sendo um projeto de cupido muito mal sucedido.
— Relaxa, . Minha mãe não está aqui em Brasília — ele me tranquilizou. — É só eu e você.
Suavizei a minha expressão e mordi meu lábio inferior, acreditando que ele estava sendo sincero.
— Tudo bem, então.
Ele desistiu de continuar distribuindo beijos por minha pele sensível, satisfeito de ter conseguido uma resposta positiva minha. Quando ele se afastou, me dando espaço, comecei a ajeitar meu cabelo, para que não ficasse tão na cara o que tínhamos acabado de acontecer.
— A Bianca vem mesmo? — Bruno perguntou, vestindo sua roupa de treino de volta.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo muito bem feito e verifiquei se estava tudo certo com a minha roupa.
— Sim — respondi, olhando para ele. — Como estou?
— Como alguém que acabou de ser….
— Bruno! — repreendi a sua gracinha, arrancando um sorriso dele, com um meneio de cabeça divertido.
— Linda como sempre, — finalmente respondeu, terminando de vestir a camisa. — Quer que eu peça alguém para buscar a sua irmã?
— Não precisa — descartei a ideia. — Ela vai pegar um uber direto para o hotel. Com dois pirralhos para perturbar a minha manhã.
Eu estava com mais saudades dos meus sobrinhos do que propriamente da minha irmã. Falava com Bianca todo dia e não tinha esse mesmo contato com aqueles dois pingos de gente que não paravam de crescer e me pedir presentes que gostariam de ganhar.
— Acho que devemos aproveitar esta noite, então — Bruno disse.
Eu ri, balançando a cabeça e empurrei-o para abrir a porta, quando percebi que nós dois estávamos devidamente vestidos.
— Anda — espalmei minhas mãos contra as suas costas, empurrando-o contra a porta.
Não havia quase ninguém por ali, o que foi bom, porque eu não estava afim de ser pega saindo de fininho daquela maneira. Bruno riu da minha atitude e estalou um beijo na minha bochecha, me provocando.
— Você sabe que todo mundo já deve ter percebido nossa ausência, não sabe? — ele continuou provocando. — Não deve ser difícil para eles imaginar exatamente o que estávamos fazendo.
Continuei andando ao lado dele, seguindo o caminho de volta para o ginásio. Revirei os olhos, deixando um suspiro escapar e me virei para encarar o meu melhor amigo.
— Isso não quer dizer que precisamos confirmar.
Ele deu de ombros e entrou primeiro no ginásio, andando até alguns dos meninos que estavam treinando bloqueio. Não demorou nem mesmo um minuto inteiro e Lucarelli começou a andar na minha direção, com um sorriso sacana e um copo de café na mão.
— Acho que eu também estou precisando de uma amizade com benefícios — ele soltou, parando na minha frente.
Mordi a minha bochecha, lançando um olhar quase mortal para ele, mas às vezes eu simplesmente não conseguia me manter séria diante de Luca.
— Não a minha, eu espero — murmurei, com um sorriso esperto no rosto.
Ele fez uma careta.
— A ideia de te beijar é meio nojenta, — respondeu.
Juntei as sobrancelhas, confusa com o seu comentário e roubei o seu copo de café para mim, bebendo um gole. Eu nem tinha tomado café da manhã e a fome estava batendo com força agora, mas estava morrendo de preguiça de ir até a cantina.
— Seria como praticar incesto — explicou.
Comecei a rir, balançando a cabeça. Fazia sentido, claro, uma vez que eu também não via nada do tipo rolando entre nós dois. Mas ele sempre entrava na brincadeira, vez ou outra, de dar em cima de mim junto com os outros meninos, para provocar o seu capitão de time. Quando conheci Bruno, conheci Lucarelli logo depois e nossa ligação foi quase imediata.
— Justo.
Sentei em uma das cadeiras vazias da primeira fileira da arquibancada, com ele me acompanhando. Eu estava prestes a iniciar alguma conversa, sobre qualquer coisa, antes que ele voltasse a me provocar por causa de Bruno, quando as duas meninas de antes apareceram na nossa frente.
— Oi — A mais alta disse, recebendo nossos cumprimentos de volta. — Eu não queria incomodar, mas temos uma amiga lá fora que é muito fã do Bruninho.
— Tem alguma possibilidade de ela entrar aqui também? — A outra completou.
Cocei minha bochecha, forçando um sorriso, sem saber exatamente como responder àquele pedido.
— Depende — Luca começou a dizer. — Ela é só uma fã mesmo ou uma fã interessada?
Discretamente, dei uma cotovelada nele pela pergunta. Eu não queria saber a resposta, mas as meninas deram uma risada.
— Bem, ele é solteiro, não é? — A mais alta continuou. — Claro, nós sabemos que ele tem um rolo com a , mas…
Ela não continuou; apenas encolheu os ombros, como se fosse explicação suficiente. Luca prendeu o riso. E eu trinquei os dentes, sem saber exatamente porque o comentário me irritou.
— Sim, claro, ele é — Lucarelli confirmou. — Solteríssi…
— Desculpa — interrompi, forçando um sorriso amigável para as duas. — Tem um limite de pessoas que eu posso botar para dentro. Quem sabe em uma próxima.
Elas olharam uma para a outra e concordaram com um aceno sem graça, me agradecendo rapidamente, antes de finalmente se afastarem.
Lucarelli desatou a rir ao meu lado. Empurrei o copo de café contra o peito dele, que segurou.
— Você é um idiota — murmurei, me levantando para sair dali.
Ele continuou rindo, gritando o suficiente para que eu pudesse ouvir.
— Espero que saiba que isso foi muito parecido com ciúmes!
De costas, revirei os olhos sem que ele pudesse ver, mas ergui o dedo do meio como resposta para ele, ouvindo-o rir mais ainda.
Bruno me encarou com um sorriso bem humorado, apontando para o meu prato servido. Eu não tinha ideia do que era aquilo, embora o cheiro tivesse bom; a aparência, no entanto…
— Não sei se devo continuar participando dessa brincadeira — falei, na tentativa vã de me livrar.
Mas Bruno balançou a cabeça e apontou de novo para o meu prato, esperando silenciosamente que eu tomasse coragem para experimentar a comida estrangeira. Alguns anos atrás, começamos uma tradição meio idiota: íamos jantar juntos em um restaurante totalmente novo que nenhum de nós conhecíamos, de preferência estrangeiro, e experimentamos comidas que tinham nomes estranhos, sem saber o que vinha. Não tinha exatamente uma regra e muito menos um vencedor, a diversão consistia em ver um ao outro experimentando algo que poderia ser ruim. Nunca pedimos um prato completo para não desperdiçar a comida, era sempre um pouco de cada só para saborear.
— Sério, da última vez que fizemos isso, você lembra como acabou? — questionei, em outra tentativa.
Estávamos em um restaurante indiano. O local era aconchegante e as pessoas eram simpáticas e não havia muita gente ali, o que permitia que eu e Bruno ficássemos à vontade sem pessoas reconhecendo-o. Ele tinha pedido um prato cujo nome eu não sabia pronunciar. Quando experimentou a primeira colher, sua careta não me animou para a minha vez.
— Sim, eu lembro — ele respondeu, bebendo um gole do vinho, a única coisa decente e conhecida entre nós. — Precisei ficar dois dias trancado em seu apartamento cuidando de você por intoxicação alimentar.
Reviveu os olhos, pegando o garfo.
— E, mesmo assim, aqui estamos nós — murmurei, mas notei que ele não ia desistir.
Nem era o primeiro prato da noite, mas o embrulho no meu estômago indicou que deveria ser o último. Eu realmente deveria ficar só no vinho pelo restante da noite. Seria horrível ter outra intoxicação alimentar com a Liga das Nações acontecendo e com Bianca vindo me visitar amanhã, com duas crianças de bagagem.
Definitivamente, seria o último prato.
Por isso, tomei coragem e cortei um pedaço do que parecia um cogumelo pequeno, molhando-o no molho marrom que também tinha ali. Umedeci meus lábios, encarei meu melhor amigo com grande expectativa e finalmente levei o garfo até a minha boca, mastigando a comida.
E me engasguei.
— ! — Bruno exclamou, olhando para mim com preocupação.
Tossi um pouco, tampando a minha boca com a costa da mão direita, me obrigando a engolir o que eu tinha mastigado, me recusando a cuspir de volta no prato, porque era nojento. Bruno, em uma velocidade impressionante, se colocou do meu lado, alisando as minhas costas quando parei de tossir e me ofereceu uma taça de água.
— Isso é horrível! — reclamei, quando a crise de tosse passou e aceitei a taça de água da mão dele.
Ele riu e beijou a minha testa, desculpando-se por não ter me avisado, mas a graça do jogo era aquela.
— Vou te compensar — ele disse, me encarando com uma expressão mais serena agora, a preocupação abandonando as rugas de sua testa. — Pode pedir qualquer coisa comestível do cardápio, eu pago.
Arqueei a sobrancelha, virando o rosto para ele depois de beber um gole da água.
— Bruno, você vai pagar o jantar inteiro — eu disse, frisando a última parte. — Você me convidou e insistiu na brincadeira que quase me mata.
Ele revirou os olhos e voltou a se sentar no seu lugar, do outro lado da mesa, de frente para mim. Coloquei a taça de volta na mesa e afastei o meu prato, me sentindo bem melhor agora, mas aquela comida era realmente ruim.
— Esqueci que você pode ser um pouco dramática — ele comentou. — E foi você quem inventou essa brincadeira.
— Achei que tinha um paladar refinado, mas você é bem melhor nisso do que eu — me defendi da acusação, soltando o ar pela boca.
Ele sorriu, um pouco convencido demais, mas era verdade. Bruno nunca passava mal, mesmo depois de experimentar as piores comidas; eu vomitei duas vezes, tive enxaqueca e uma intoxicação alimentar. E parecia mais divertido continuar testando a minha imunidade, mas já aprendi que definitivamente eu não tinha um paladar refinado.
— Quer passar para as sobremesas? — ele perguntou.
— Não. Só quero tomar um sorvete como uma pessoa normal agora, por favor — respondi, dando por encerrada a nossa sessão desastrada de experimentos.
Ele assentiu e chamou um dos garçons, que limpou a nossa mesa e anotou o pedido de sobremesa. Meu melhor amigo pediu um pedaço de torta e um copo enorme de sorvete para dividir.
— Acho que eu não disse isso hoje, mas você está linda — ele comentou, assim que o garçom nos deixou sozinhos novamente.
Um sorriso idiota surgiu nos meus lábios; a sensação das bochechas queimando me consumiu e eu me repreendi por estar me sentindo como uma adolescente recebendo um elogio de alguem que gostava. Bruno me elogiava o tempo todo, eu estava acostumada, mas ainda assim…
— Você diz isso como meu melhor amigo ou como alguém que dorme comigo? — perguntei, sorrindo.
Ele balançou a cabeça.
— Os dois — respondeu. — Porque não tem diferença.
Ele parecia certo disso. 100%. Mas tinha diferença, não tinha? Eu temia que não conseguisse mais distinguir as duas coisas, porque deveriam ser duas coisas diferentes. Deveria existir uma versão nossa como melhores amigos e uma que dividia a cama, às vezes. Mas o "às vezes" se tornou recorrente e o que era para ser duas coisas diferentes, parecia ter se tornado uma. Como ele tinha acabado de afirmar.
— Eu disse alguma coisa errada? — ele perguntou, me puxando de volta para a realidade.
Quando encarei o seu rosto, havia confusão nas suas írises claras e percebi que tinha mudado a minha expressão. Ele sempre percebia todas as minhas mudanças, me dizendo ou não.
— Não, claro que não — Abri o sorriso de volta, descartando todos meus pensamentos; não tinha importância, ele continuava sendo Bruno e eu continuava sendo e nossa relação não era definida por só amizade ou por só sexo. — Só me perdi um pouco.
— Eu notei. Você anda meio distraída — Bruno disse, tocando no assunto. — É aquela coisa com o seu irmão ainda?
Antes fosse, pensei, mas pensar em Gabriel não me deixava distraída da maneira que ele estava se referindo, só me deixava meio distante. Tive tempo para pensar sobre a acusação de ciúmes que Lucarelli me fez, mas eu não tinha motivo para aquilo, certo? Eu realmente tinha um certo limite quanto a deixar outras mulheres assistir ao treino fechado.
— Não — respondi, coçando a minha bochecha, sentindo falta da taça de vinho que o garçom levou ao limpar a mesa. — Bloqueei o número e não recebi mais mensagens.
Ele levantou uma sobrancelha na minha direção, uma mão espalmada sobre a mesa, a luz do lugar deixando seu cabelo loiro ainda mais claro. Era incrível o quanto ele ficava bonito com qualquer coisa e em qualquer lugar.
— Achei que você ia trocar de número — constatou.
Mordi a parte interna da minha bochecha, deixando um meio suspiro escapar.
— Eu sei, eu só… me dê um tempo, está bem?
— , três anos não é tempo suficiente? — replicou.
Fechei a minha expressão e ele entendeu a minha mudança de humor, porque soltou um suspiro suave, esfregando o rosto com as duas mãos, como se precisasse se conter. Eu entendia o seu lado quando o assunto era Gabriel, e céus, eu também sabia que ele estava completamente certo, então por que eu continuava complicando tudo? Bastava trocar de número e pronto. Parte do problema já estava resolvido. Mas era o tom de acusação na voz dele, como se acreditasse que eu não trocava de número de propósito, nutrindo uma esperança tola por algo que nunca iria acontecer.
— Desculpa — pediu, mais tranquilo, estendendo a sua mão sobre a mesa. — Você sabe como eu fico quando o assunto é o seu irmão.
Foi a minha vez de suavizar a expressão. Não valia a pena tomar aquela discussão e estragar o clima do jantar, então eu só assenti e aceitei seu pedido de desculpas em silêncio.
— Vou trocar o número — prometi, disposta a finalmente cumprir a minha palavra.
Bruno não disse nada. O garçom chegou bem na hora, trazendo o pedaço de torta grande e uma taça enorme de sorvete com espuma e duas colheres. Agradeci com um murmúrio e o homem saiu.
— Pedi seu sabor favorito — Bruno disse, apontando para a taça de sorvete. — Apesar de eu não entender até hoje, você gosta disso.
Quando encarei o sorvete, a espuma cobria totalmente o sabor embaixo, então peguei a minha colher e puxei um pouco para experimentar, mas eu sabia qual era o sabor. Limão era meu sorvete favorito e Bruno detestava, mas nunca deixava de dividir comigo sempre que pedia. Gemi de satisfação ao experimentar, aprovando o sabor. Diferente das comidas, aquela sobremesa estava divina.
— Você aprendeu a gostar, não aprendeu? — rebati, esquecendo todo o assunto de antes, disposta a levantar bandeira branca e o clima descontraído.
Ele fez uma careta, levando um pouco do sorvete até a boca.
— Não, eu aprendi a tolerar — corrigiu.
Imitei a careta dele, fingindo estar ofendida pelo que ele tinha acabado de dizer, mas não me importei. Ele começou a comer seu pedaço de torta, me deixando saborear o sorvete um pouco sozinha e começamos a trocar olhares silenciosos, tentando ver quem ria primeiro. Me levantei, dando uma volta rápida pela mesa e me sentei ao lado dele, colocando uma perna em seu colo por debaixo da mesa.
— Folgada — ele acusou, mastigando mais um pedaço de torta, me oferecendo o próximo pedaço.
Eu aceitei, sentindo o sabor do morango derreter pela minha língua.
— Devíamos vir jantar juntos com mais frequência — sugeriu.
Lambi a colher, concordando com um aceno, ainda mantendo os olhos nele.
— Contanto que você não me faça experimentar comidas estrangeiras todas as vezes — respondi.
Ele quase se engasgou rindo, apontando um dedo em riste na minha direção.
— Você inventou isso, ! — ele me acusou novamente.
Dei de ombros, sentindo uma vontade súbita de sentir os lábios dele. Acontecia muito aquilo quando ele ria ou sorria.
— Quero beijar o seu sorriso — sussurrei.
Os olhos dele iluminaram-se. Ele inclinou a cabeça na minha direção, prestes a realizar o meu desejo, quando seu celular apitou indicando uma nova mensagem.
Ele suspirou, deixando os ombros caírem em derrota e puxou o aparelho do bolso da calça, passando o olho rapidamente nas notificações.
— É a minha mãe — ele avisou. — Aparentemente, ela soube que estamos jantando juntos.
Roubei um pedaço da torta dele, umedecendo os meus lábios.
— E quem contou? — indaguei.
Bruno deslizou o dedo pela tela, desbloqueando o celular, escrevendo uma mensagem em resposta à sua mãe.
— Acho que foi Lucas.
Balancei a cabeça, deixando escapar uma risada. É claro que tinha que ser o Lucão, que estava sempre quieto sobre as coisas, mas não conseguia se conter para fofocar uma informação. Eu desconfiava que ele tentava conspirar junto com Vera.
— Fofoqueiro — acusei, em outro sussurro. — O que ele ganha com isso?
Meu melhor amigo deu de ombros, como se não soubesse responder, e continuou respondendo a sua mãe pelo whatsapp, enquanto eu continuei me enchendo de sorvete e torta.
— Ela está… — ele começou a rir de um jeito gostoso, os ombros tremendo. — Ela está me perguntando se isso é um jantar romântico.
Bruno olhou para mim com humor despontando dos olhos.
— Ah, qual é? — Soltei uma risada. — O que Lucão disse para ela?
— Eu não sei, mas tenho certeza que ele instigou o que não deveria — respondeu.
Fiz um bico com os lábios e passei o dedo no sorvete, sujando o meu dedo e, em seguida, sujei o nariz de Bruno, que foi pego de surpresa.
— Isso é um jantar romântico? — provoquei.
Com a mão livre, ele apertou a minha perna por cima da sua e estreitou os olhos na minha direção.
— Acho que vamos ter que deixar ela descobrir — ele disse, posicionando a câmera do celular na nossa direção.
Ele ainda estava com o nariz sujo e sorriu para a selfie; eu, por outro lado, escorreguei o meu rosto direto para ele, me escondendo entre o seu ombro e pescoço, escutando o barulho do flash, indicando que ele tinha batido a foto. Mas continuei ali, sentindo o seu cheiro ainda mais de perto.
— Você tem cheiro de lavanda de bebê — comentei.
— Alguém colocou esse sabonete no quarto — explicou. — Tive que usar.
Passei o nariz pelo seu pescoço, me afastando logo em seguida.
— Eu gostei.
Ele alisou a minha coxa e deixou o celular de lado, satisfeito por ter respondido a sua mãe.
— Quer beijar o meu cheiro também? — Me provocou.
Revirei os olhos, limpando a sujeira que eu fiz no seu nariz.
Ele sorriu.
Era o sorriso que acelerava o meu coração e esquentava o meu corpo.
— Não — respondi. — Só o seu sorriso.
Ouvir o som da sua risada só me fez pensar sobre algo que Carly Rae Jepsen disse uma vez em sua música. Não divida o seu sorriso com mais ninguém além de mim.
Foi a única coisa que eu desejei pelo resto da noite.
🏐
— Como você é irritantemente pontual.
Bianca balançou a cabeça, mas não teve tempo de responder. As crianças, que eram meus sobrinhos, saltaram para cima de mim em um abraço gostoso que eu não recebia há muito tempo e por pouco não fui derrubada no chão. Eduardo e Malu agarraram minhas pernas, com gritos de “tia” e “saudades” no meio da frase que eu mal conseguia compreender.
— Oi, crianças! — cumprimentei, tão animada quanto, sentindo meu coração bater mais forte contra o peito.
Me agachei diante dos dois, apertando a bochecha de ambos, só para não perder o costume de vê-los fazendo careta.
— Não, tia! — Malu reclamou, o que me fez rir.
— Vem cá, pirralha.
Abracei os dois mais uma vez, esmagando-os como podia, tentando matar a minha saudade. Eu nem conseguia me lembrar da última vez que vi os dois.
— Você disse que tinha presentes! — Eduardo exclamou, lembrando, assim que me soltei dos dois.
Fingi um suspiro dramático e coloquei a mão acima do meu coração.
— Ah, é por isso que vocês estão bonzinhos! — apontei para os dois, soando divertida, escutando a risada de Malu ecoar, os dois dentes tortos da frente aparecendo. — Mas tudo bem, promessa é promessa. Está no quarto.
Eles nem mesmo esperaram, desataram a correr pelo corredor pequeno até o único quarto daquele hotel. A cama de casal estava cheia de alguns presentes que comprei quando ainda estava no Rio, mas não tive tempo de voltar para Recife e entregá-los pessoalmente.
— Você precisa parar de mimá-los — Bianca disse, entrando, deixando suas coisas bem do lado da porta.
Fechei a porta e dei de ombros, deixando para arrumar suas coisas depois, embora eu soubesse que ela não iria ficar muito tempo. Só iria assistir a partida de hoje e ir embora amanhã de manhã. Tentei fazer com que ela ficasse o final de semana inteiro, mas ela alegou compromissos do trabalho.
Eu apostava que o compromisso de trabalho tinha a ver com seu ex e o dia dos namorados, mas não comentei nada.
— Preciso manter o meu posto de tia favorita — me defendi, acompanhando-a até o sofá.
Ela riu, mas não contestou. Do lado materno da família, as crianças tinham somente eu como tia, mas do lado do pai, eles tinham mais três. Era óbvio que eu precisava competir pelo meu posto e não era nenhum esforço agradar aqueles pirralhos.
— E cadê o Bruno? — Minha irmã questionou, passando os olhos pelo resto do lugar.
Ouvi o barulho de coisas sendo rasgadas vindo do quarto e voltei minha atenção para Bianca, sentando-me ao seu lado no pequeno sofá creme que decorava a sala. O cheiro de Bruno ainda estava impregnado na minha camisa, porque, mais uma vez, ele dormiu comigo.
— No ginásio — respondi, com a voz normal. — Estão aquecendo para o jogo de mais tarde.
Ela assentiu e aceitou a explicação, mas de repente, um sorriso começou a surgir em seus lábios.
— E como vocês estão? — indagou, com interesse. — Ele já te pediu em namoro?
Revirei os olhos e bufei, jogando uma almofada pequena nela. Não era a primeira vez que ela fazia perguntas do tipo ou insinuava as coisas. Só tinha piorado desde quando voltei da Itália, depois de ter passado o fim de ano com ele.
— Vamos, Bianca, você sabe que não — respondi. — Quantas vezes vou precisar repetir que somos amigos?
— Amigos não transam, — ela insistiu. — E não olham um para o outro como vocês se olham. Você já viu as fotos que o Portal do Bruno posta?
Levantei uma sobrancelha.
— Eu nem sabia que você seguia um portal do Bruno — comentei.
Minha irmã deu de ombros, enquanto pegava seu celular no bolso da calça jeans. O barulho vindo do quarto aumentava, indicando que as crianças estavam se divertindo com os presentes.
— Gosto de acompanhar a carreira do cara que tem o coração da minha irmã — ela respondeu e eu joguei outra almofada nela pela provocação. Sério, porque Lucarelli tinha mesmo convidado ela? — Aqui.
Ela se aproximou mais de mim e esticou o celular de modo que nós duas conseguíssemos ver, enquanto clicava no perfil do portal, no instagram. Quando ela conseguiu, seu dedo deslizou direto para a rolagem do feed do perfil, clicando em uma postagem específica. Eram as fotos tiradas do jogo que aconteceu entre Brasil e Eslovênia. Os meninos em quadra antes da partida, durante e depois, quando venceram. Havia uma foto de quando eles me esmagaram em um abraço e outra depois, eu e Bruno sozinhos, conversando, sem tirar os olhos um do outro.
Era uma foto normal. Com duas pessoas conversando e sorrindo.
— Tá, e daí? — reclamei.
Bianca me olhou de cara feia, mas não se deixou abalar pela minha aparente falta de interesse. Ela fez questão de tentar da zoom na foto, mas não funcionou, então esfregou o celular praticamente na minha cara.
— Você está cega? — Ela quase gritou, me fazendo rir. — Amigos não se olham assim!
Talvez.
Era um argumento válido o que ela trazia e eu podia admitir, pelo menos só para mim, que aquela foto estava indicando alguma coisa, sim.
— Talvez amigos que estão em uma amizade colorida se olhem — respondi, me esquivando da sua agressividade. — Eu estava prometendo sexo de vitória para ele, como você queria que a gente se olhasse?
Ela deixou os ombros caírem e desistiu de ficar esfregando o celular na minha cara, o que eu agradeci. Bianca mordeu o lábio e ficou me encarando em silêncio, como se tentasse decidir se aquela era uma batalha perdida ou se deveria tentar mais alguma coisa. Ela sempre fazia aquilo. Principalmente se fosse para demonstrar que estava certa.
O que, devo admitir, quase sempre ela estava mesmo.
O que também era, na maioria das vezes, uma merda.
— É por isso que eu demorei a te convidar pra cá — apontei um dedo para ela, balançando a cabeça.
— Você não me convidou — ela me lembrou.
Dei de ombros, como se aquele fato não fosse importante naquela discussão. Bianca ficou em silêncio por um instante e guardou o celular de volta, erguendo os seus olhos para mim.
— Eu só queria que você fosse feliz — ela continuou, um sorriso manso no rosto.
— Bianca, eu sou feliz.
— Não, eu sei — admitiu, balançando a cabeça, como se estivesse procurando a melhor forma de se explicar. — Não quis insinuar o contrário, eu só quis dizer que seria ótimo vocês dois juntos.
Soltei um suspiro exagerado e foi a minha vez de balançar a cabeça, mas eu não estava irritada e nem nada do tipo. Chegou um momento em que todas aquelas insinuações dela passaram de irritante para engraçado.
— Nós já somos ótimos juntos, Bi — respondi, com um sorriso no rosto. — Não da maneira que você deseja, mas eu prometo, ainda somos ótimos juntos.
Ela finalmente cedeu, os ombros caindo em uma meia derrota. Aquilo não significava que ela tinha desistido, só dado um tempo.
— Tudo bem — ela aceitou, por enquanto. — Ah! Quase ia me esquecendo.
Procurando por sua bolsa de mão, ela vasculhou dentro, retirando um objeto pequeno de lá, virando-se para mim novamente, me estendendo o que quer que fosse aquilo. Quando aceitei, com a expressão meio confusa, meu rosto suavizou em entendimento.
— Bruno pediu que eu te entregasse isso — ela explicou. — Você vai trocar de número?
Crispei os lábios, encarando o chip novo na minha mão. Sério, não havia maneira mais sutil de me dizer que não estava confiando que eu fosse mesmo fazer aquilo. Obrigada, Bruno.
— ?
Eu sabia que Bianca sabia que eu tinha um motivo para isso. Eu simplesmente sentia que ela estava me sondando para saber se eu contaria ou não, mas aí é que estava o problema. Contar para Bruno sobre qualquer coisa do Gabriel já era ruim, contar para Bianca era muito pior.
— Prometi ao Bruno que eu trocaria — respondi a sua pergunta, sentindo os seus olhos em mim, o questionamento silencioso entre nós. — Gabriel me mandou mensagem, de novo.
Bianca não respondeu de imediato. Acho que ela esperava qualquer coisa, mas Gabriel era um assunto tão esquecido entre nós que ela não imaginava que eu fosse voltar a mencionar ele em alguma conversa. Quando ela bufou e me encarou séria, eu respirei fundo, irritada que Bruno armou aquela situação.
— Você respondeu? — ela questionou.
O seu tom era sério o suficiente para eu saber que ela estava furiosa com aquilo. Talvez não comigo, mas com Gabriel me importunando mais uma vez, depois de tudo o que ele já tinha aprontado. Lidar com família era difícil, mas elas tinham conseguido cortar laço com meu irmão, enquanto eu… Eu ainda estava tentando. Não responder as mensagens tinha mostrado que eu estava no caminho certo de conseguir.
— Não — respondi a sua pergunta. — Olha, Bianca, não tô com saco para sermão. Não respondi as mensagens dele e não tenho notícias. Bruno quer que eu troque de número porque Gabriel ainda tem acesso ao meu e sabe como entrar em contato, é isso.
Ela balançou a cabeça, mas sua expressão ainda indicava que ela não estava levando tudo aquilo numa boa. Conhecendo-a como eu a conhecia, ela não saberia deixar aquilo para lá.
— , eu te amo — ela começou a falar. — Mas também te conheço mais do que qualquer outra pessoa, então eu vou te falar. Esqueça o Gabriel. Ele fez a escolha dele e não posso permitir que a sua seja deixar ele estragar a sua vida de novo.
Engoli a seco, sem intenção de responder ou rebater qualquer coisa. Ela estava certa, claro, mas só queria que me dessem um pouquinho de crédito. Eu estava bem e sabia lidar com a porra do problema que Gabriel tinha se tornado para mim e para todo mundo. Eu realmente não tinha mais notícias dele e não queria saber. Demorei para aprender que não dava para ajudar quem não queria e estava firme na minha decisão.
Minha irmã deixou um suspiro escapar e se levantou do sofá, indo atrás das crianças, me deixando um pouco sozinha. Encarei o novo chip na minha mão e umedeci os lábios, contendo a minha irritação. Eu tinha feito uma promessa para o Bruno, não tinha?
Ele não me esperou cumprir.
Mas, finalmente, troquei a porra do número.
🏐
— Você sabe que tem uma posição privilegiada aqui, não sabe?
A voz de Bianca preencheu meus ouvidos, enquanto eu tentava dividir a atenção com as crianças: os filhos de Thales estavam presentes no ginásio para o jogo que ia acontecer daqui a pouco, junto com os meus sobrinhos. As crianças de Lucão estavam aqui em algum lugar também, mas não consegui trazê-lo juntos para brincarem. Joguei a bola para eles de volta, seguindo o olhar da minha irmã, percebendo que ela estava encarando os jogadores do time rival. Comecei a rir e balancei a cabeça, tirando as crianças do ginásio.
— Você sabe o que significa zona proibida? — questionei, tirando os olhos dos estrangeiros.
Eu entendia ela, claro, porque eu mesma encarava alguns deles, às vezes, não importava que time fosse. Se fosse bonito, não custava admirar um pouco, mesmo que eu não fizesse nada.
— A rivalidade só existe durante o jogo — Bianca avisou, dando de ombros, guiando os filhos para a área em que ficariam sentados, enquanto eu me certificava que Thales tinha pegado os meninos. — Você pode querer se dar bem com algum deles depois.
Respirei fundo, tentando me recuperar da energia agitada dos meninos e coloquei as mãos na minha cintura, apontando um dedo em riste em seguida para Bianca.
— Tu precisa se decidir, Bianca — acusei. — Não pode me querer com uma pessoa e me jogar para outra no minuto seguinte.
— Bem, você disse que era solteira, não disse? — Ela devolveu, piscando um olho para mim.
Desisti de argumentar, verificando o relógio no pulso, indicando que faltavam vinte minutos para a partida contra os Estados Unidos começar. Eu tinha levado Bianca e as crianças para almoçar em algum lugar perto e depois viemos diretamente para cá, já que eu nunca perdia nenhuma partida e tinha prometido que ela podia assistir.
— Mainha, quero ir ao banheiro — Edu pediu, cutucando o braço dela.
Bianca revirou os olhos, me avisou que já voltava e levou os dois para o banheiro, me deixando ali. Os meninos estavam aproveitando os poucos minutos para continuarem se aquecendo, principalmente quem ficaria de reserva. Quando cheguei aqui, não tinha falado com Bruno ainda, mas não fiz questão de encontrá-lo tão cedo. Eu ainda estava meio irritada com o lance do chip. Mas, como nem tudo na vida parecia seguir a minha vontade, escutei a voz de Lucarelli atrás de mim e, quando me virei na direção dele, agarrando a garrafa de água que ele me jogou, Bruno estava ao lado dele.
— Achei que não te veria hoje — Luca disse, olhando em volta. — Cadê a sua irmã?
Abri a tampa da garrafa, evitando o olhar de Bruno.
— Banheiro — respondi, tomando alguns goles, percebendo só agora o quanto eu estava com sede.
E calor. Ficar correndo pelo ginásio atrás de bola com quatro crianças de idades diferentes tinha me feito suar, mesmo com o lugar tendo ar condicionado.
— Obrigada — murmurei, indicando a garrafa de água na minha mão e ele concordou com um aceno silencioso.
— .
A voz de Bruno chegou até mim, acelerando meu coração. Mordi a minha bochecha por dentro, ainda evitando o olhar dele. Podia não fazer muito sentido ainda estar irritada com ele, mas eu não conseguia evitar. Não dava para afastar a sensação que ele tinha me causado ao demonstrar que não tinha confiado em mim para fazer uma coisa simples. Ele deu um passo adiante.
— , me desculpe.
Lucarelli olhou de mim para Bruno, tentando entender o que estava acontecendo, mas não se meteu. Ele simplesmente olhou para mim uma última vez e deu as costas, nos deixando sozinhos para resolver qualquer que fosse a merda. Apertei a garrafa e finalmente encarei o meu melhor amigo.
— Eu te prometi.
Ele coçou a nuca, completamente vestido com a camisa da seleção, pronto para entrar em campo. E estava lindo, como sempre, quase me distraindo do foco ali. Que droga.
— Eu sei — ele disse, soltando um suspiro de frustração. Dez minutos para a partida e estava na hora das apresentações. — Eu só…
As palavras não saíram. Eu precisava de um tempinho a mais para afastar aquela irritação de mim. Não havia nenhum sorriso seu hoje que me salvasse de esquecer aquilo tudo.
— Espero que fique satisfeito em saber que troquei o número — falei, o ginásio ao meu redor começando a ficar mais agitado. — Obrigada por confiar em mim.
— …
— Boa sorte com o jogo.
Sem tempo para continuar tentando conversar comigo, ele me deixou ir e foi direto para a quadra. Procurei meu lugar ao lado de Bianca e das crianças e Bruno entrou em campo com sua afilhada, Giulia. O olhar de Lucarelli encontrou o meu no meio da multidão e ele acenou discretamente para mim, um questionamento silencioso para saber se eu estava bem. Devolvi o aceno com um sorriso e me obriguei a me tornar uma mera torcedora, e não alguém que fazia parte do dia a dia do time.
Infelizmente, a seleção brasileira não conseguiu vencer os americanos.
Os meninos até tentaram, mas só venceram um set, sendo superado pela seleção rival. Depois das equipes técnicas se cumprimentarem, os meninos se dispersaram, um pouco cabisbaixos. Minha irmã, sentada ao meu lado, soltou um suspiro fraco, a bandeira do Brasil pequena deixada em seu colo.
— Que merda — ela murmurou.
As crianças não ligaram muito para a derrota; assim que o último set terminou, declarando vitória para os Estados Unidos, elas correram para o ginásio, voltando a brincar com a bola do vôlei.
— É, uma merda — concordei com um meio aceno, observando Lucarelli andar até nós.
Ele tinha um sorriso manso no rosto, uma garrafa de água na mão e encarou Bianca.
— Eu te convidei para vir até aqui e não recebo nem um oi? — ele começou a dizer, arrancando uma risada dela.
Revirei os olhos para os dois, decidindo ficar sentada ali mesmo, observando a agitação do ginásio pós-partida. Os filhos de Thales se juntaram com meus sobrinhos e Giulia estava nos braços de Bruno novamente.
— Eu não te encontrei antes! — Bianca se defendeu, levantando-se da cadeira. — E te mandei mensagem, seu idiota!
Os dois se abraçaram rapidamente, demonstrando como a amizade dos dois tinha dado certo. Ela não era muito mais próxima do que os outros como era dele e eu fiquei feliz por isso, porque Luca era um amigo incrível.
— Sinto muito pela derrota — falei, assim que os dois finalmente se soltaram do abraço.
Luca assentiu, olhando para a quadra rapidamente, onde alguns dos meninos estavam conversando entre si. Alan ria de alguma coisa ao lado de Cachopa e eu queria me levantar e falar com todos eles, mas bem, eu não estava com um humor muito bom para isso. Nenhum deles tinha culpa de nada para que eu acabasse descontando minhas frustrações sem querer.
— É, estou bem com isso — ele disse. — Mas alguém não está.
Ele encarou Bruno muito indiscretamente, me mandando uma indireta. Bufei, lançando um olhar feio para ele, assim que ele se virou para me encarar.
— O que rolou entre vocês? — questionou, com a testa franzida. — Quer dizer, eu sei que é normal duas pessoas brigarem, mas você está com uma cara péssima e nem preciso contar que Bruno não foi um dos melhores jogadores hoje.
— E você está dizendo que a culpa é minha? — devolvi.
Ele mostrou as duas mãos, como se estivesse se rendendo. Minha irmã fez uma careta.
— Vocês brigaram? — ela perguntou, mas não respondi. — Por quê?
Cocei minha bochecha, me levantando da cadeira também. Senti o olhar dos dois em cima de mim e tentei não soltar um suspiro irritado.
— Nós não brigamos — respondi. — Só… dá um tempo, ok?
Lucarelli virou o rosto para minha irmã, apontando a garrafa para mim.
— Não parecem um casal? — ele provocou. — Vivo dizendo que o que eles têm não é exatamente uma amizade, mas…
— Eu também! — Minha irmã concordou, nem um pouco sensata em esconder a sua reação. — Mas ela não me escuta.
— Sabia que ela estava com ciúme dele? — Lucarelli continuou, como se eu nem estivesse ali também. — Foi…
— Eu odeio vocês, sério — soltei, balançando a cabeça. — Vou dar o fora daqui.
Nem esperei uma resposta e dei as costas aos dois. Não estava com um pingo de paciência para lidar com a provocação dos dois juntos, porque também era irritante. Não me importava o rótulo que davam para o meu envolvimento com Bruno, ninguém sabia de nada com certeza.
Me afastei o suficiente para que eles não enchessem o saco e não pudessem me ver. Não estava preocupada com Bianca se sentir deslocada, porque ela se dava bem em qualquer ambiente e Lucarelli podia se responsabilizar por enturmá-la. Todo mundo a conhecia, mesmo que não mantivessem o mesmo contato que Luca. Parei do outro lado do ginásio, os fãs ainda se retirando dos lugares até a saída e eu aproveitei uma das arquibancadas livres para me sentar. Não tinha percebido que Bruno tinha me seguido até aqui, sem sua afilhada no braço. Ele parou na minha frente e deu meia volta para se sentar na cadeira vazia ao meu lado esquerdo. O tempo todo, permaneci calada.
— Não ganhei um beijo de boa sorte hoje — ele começou a dizer, tentando descontrair o clima.
— É, eu também não ganhei um voto de confiança, então… — falei, dando de ombros, sem me virar para olhá-lo.
Consegui ouvir o seu suspiro, mas mantive meus olhos na pequena multidão de jogadores no meio da quadra. Inquieta sobre o que fazer com as minhas mãos, cruzei os braços, engolindo a seco.
— Eu pedi desculpas — Bruno insistiu. — Eu não sabia que você ia ficar tão chateada por trocar de número.
Foi a minha vez de deixar um suspiro escapar.
— Bruno, você é um idiota se acha que esse é o problema — comecei a dizer, finalmente virando o rosto para encará-lo. — Eu ia trocar de número de um jeito ou de outro, a porra do problema foi você impor que eu fizesse isso. Não estava tão confiante que eu fosse cumprir a minha promessa?
Ele travou o maxilar, a postura calma demais. Ninguém podia dizer que estávamos em um clima ruim.
— Se tratando de Gabriel, não consigo evitar duvidar um pouco da sua promessa.
Um momento de silêncio surgiu entre nós. Suas palavras tinham me pegado um pouco e a única reação plausível que eu consegui ter foi apenas balançar a cabeça de um lado para o outro, totalmente em negação, como se eu não estivesse mesmo acreditando que ele tinha acabado de falar aquilo.
— Não falo com Gabriel há anos. Tirei ele da minha vida há algum tempo e nunca mais procurei saber dele ou algo do tipo — eu disse, piscando meus olhos, ainda observando a sua expressão. — Você sabe disso, porque nunca te escondi nada sobre esse assunto. Nunca menti para você, Bruno, porra.
Sua expressão vacilou, os olhos quase brilhando do que parecia ser arrependimento. Mas ele já tinha dito as palavras e o efeito também já se instalou em mim.
— , eu confio em você.
— Não foi o que você acabou de dizer — retruquei, um pouco irônica.
Era uma merda discutir com ele. Odiei todas as vezes em que aquilo aconteceu, e não foram muitas. Eu não gostava de conflitos, evitava-os enquanto pudesse, mas às vezes simplesmente não dava para fugir. Eu não conseguia ignorar minhas emoções o tempo todo, então se tornava inevitável um confronto direto como aquele. Bruno passou os dedos pelos fios de cabelo, já bagunçados pelo jogo, e meu coração doeu com a sua expressão. Ele tinha insinuado que não confiava em mim se tratando de Gabriel, como eu poderia reagir diferente?
— Eu confio em você — ele reiterou, frisando, como se precisasse que eu realmente acreditasse naquilo. — Não quis insinuar o contrário, só…
Levantando o rosto na minha direção, ele deixou os ombros caírem, derrotados. Bruno fez menção de me tocar, mas me esquivei da sua intenção, negando com um aceno.
— Eu confio em você, , mais do que confio em qualquer outra pessoa — Suas palavras saíram em voz baixa, ditas somente para mim. — Desculpe ter te deixado chateada ou que eu tenha agido como um babaca.
Eu não estava olhando mais para ele. Era muito fácil me render ao seu pedido de desculpas se estivesse encarando aqueles olhos claros. Também não tinha mais nada para falar, a não ser aceitar o seu pedido de desculpas, então continuei em silêncio. Ele esperou um pouco, sem insistir, mas um tempo depois, me deixou sozinha de novo, como se soubesse que eu precisava de um tempo para digerir tudo.
Era uma merda saber que, no fundo, eu já tinha perdoado-o. Só precisava aceitar aquela derrota e me dar por vencida. Mas eu não tinha desculpado Bruno com tanta facilidade só porque ele me pediu ou pareceu verdadeiramente arrependido. Era porque eu estava sendo hipócrita: se a situação fosse contrária, eu também teria duvidado de sua promessa.
🏐
— O que vão fazer no dia dos namorados? — Cachopa perguntou.
Joguei mais uma batata frita molhada de ketchup dentro da minha boca, até perceber que os olhares estavam todos voltados para mim. Pisquei os olhos, franzindo a minha testa, certa que a pergunta não foi direcionada a ninguém em específico, mas eles continuaram me encarando.
— O quê? — me dei por vencida, reclamando.
Bianca riu. As crianças estavam em alguma parte divertida do restaurante, brincando com outras crianças, enquanto estávamos jantando. Alan e Lucarelli também estavam ali.
— Eu tô curioso para saber porque Bruno não está aqui — Alan disse, bebendo algo do seu copo.
Respirei fundo, voltando a me entupir de batata frita, como se eu não me importasse de verdade com o assunto da conversa. Desde que Bruno tinha me pedido desculpas mais cedo, não voltamos a nos falar. Os meninos me convidaram para jantar e arrastaram Bianca junto, justificando que precisávamos passar um momento juntos antes que ela voltasse para Recife. E eu precisava me distrair, mas tinha esquecido que eles eram ótimos em quererem me perturbar, então não havia exatamente como me distrair.
— Ele está jantando com a Ale, as afilhadas e tal — respondi, mesmo já sabendo que era algo que eles sabiam. Bruno tinha postado um story. — E antes que voltem a insistir na pergunta, eu não vou fazer nada amanhã.
Não que eu não acreditasse, mas o dia dos namorados não era uma data comemorativa que me empolgava nem quando eu namorava de verdade.
— E por que você não está no jantar com ele? — Alan voltou a perguntar.
Lancei um olhar feio na sua direção, tendo a completa certeza que ele estava se divertindo com aquilo tudo. Sério, por que eu ainda aceitava jantar com esses idiotas se o hobby deles era me perturbar?
— Porque eu estou aqui — respondi o óbvio, murmurando entre dentes. — Vocês precisam arranjar uma namorada e me deixar em paz.
Eles começaram a rir e eu revirei os olhos.
— Cara, , você foi se envolver logo com o capitão do time — Bianca disse. — Não tinha jogador mais discreto?
Enfiei mais um punhado de batata frita dentro da boca e bebi mais um gole da coca, me entupindo de gordura para descontar toda a minha frustração do dia inteiro. Cachopa encheu mais o meu copo e murmurei um agradecimento antes de beber mais um pouco, olhando para minha irmã.
— Ninguém é discreto para eles — apontei para cada um, o dedo em riste em tom de acusação. — Eu podia me envolver com o papa, eles não me deixariam em paz. Duvido que saibam o que essa palavra significa.
Alan jogou uma batata em mim, mas me desviei a tempo, fazendo-a cair no meu colo.
— E você, Bianca? — Lucarelli desviou o assunto e eu quase respirei aliviada com o foco saindo de mim. — Vai fazer o quê no dia dos namorados?
Minha irmã abriu a boca para responder, mas fechou logo em seguida. Eu ri, balançando a cabeça, encostando o cotovelo na mesa e meu rosto na minha mão, me sentindo um pouco cheia para comer mais.
— Ela vai se agarrar com o ex-marido às escondidas porque pensa que ninguém sabe que eles estão se envolvendo — respondi por ela, recebendo um olhar feio. — De novo.
Os meninos riram.
— Como é que você sabe disso? — ela perguntou, com um tom falso de irritação.
Dei de ombros, como se não fosse muito esforço.
— Você já conseguiu esconder alguma coisa de mim na vida?
Ela deixou os ombros caírem, derrotada, porque era verdade. Bianca nunca conseguiu esconder nada de mim e, apesar dela não ter dito explicitamente que estava mesmo se encontrando com o ex às escondidas, ela tinha dado sinais sutis para que eu descobrisse. Sempre tinha sido assim até, enfim, ela admitir.
— E por que estão escondendo isso? — Cachopa questionou, curioso.
Lucarelli levantou da sua cadeira e deu a volta na mesa, sentando-se do meu lado.
— Por causa das crianças, eu acho — Bianca respondeu, sincera, bebendo um pouco mais da sua bebida. — Elas ficaram chateadas pela separação uma vez. Se isso realmente não der certo pela segunda vez, não quero que passem pelo processo tudo de novo.
Malu tinha sido a mais afetada. Não compreendia porque os pais estavam se separando e precisei intervir, tentando explicar que aquelas coisas aconteciam, às vezes, mas mesmo assim, tudo só ficou mais difícil para ela. Então, eu entendia completamente a preocupação de Bianca e ficava até mais tranquila que ela estivesse tendo esse cuidado com as crianças. Muitas pessoas não validavam os sentimentos dos próprios filhos.
— Qual foi o motivo da separação? — Alan indagou.
Bianca mordeu o lábio. Eu adorava o fato de que, mesmo sendo mais próxima de Lucarelli, ela não se sentia desconfortável com os meninos. Não havia problema em ela responder qualquer pergunta que eles fizessem. Ela encostou contra a cadeira e começou a responder:
— O casamento é difícil. Ele precisa de equilíbrio e que as duas partes estejam de acordo ou não vai dar certo — ela disse. — Foi ótimo por um tempo, mas depois que as crianças nasceram, André foi se afastando e eu me senti muito sobrecarregada. Então, tudo era motivo para briga.
Eu estava do outro lado do mundo, participando de campeonatos de ginástica e os fusos horários complicaram a minha vida nessa questão de manter contato, mas mesmo quando Bianca me ligava às 3 da madrugada, eu atendia e ouvia todo o seu desabafo porque ela só precisava ser ouvida. Eu sabia de tudo que ela tinha passado naquela época e foi justamente por isso que apoiei a sua decisão de se separar e ajudei-a com as crianças.
— Eu sentia falta dele — Bianca continuou. — Sentia falta da normalidade e de as coisas serem um pouco mais simples. Comecei a perceber que tudo aquilo não era o que eu queria em um casamento, então me separei.
Eu mal percebi que estava próxima demais de Luca, então encostei minha cabeça no ombro dele, me sentindo um pouco sonolenta.
— E está com ele de novo? — ele perguntou, do meu lado.
Bianca riu, fazendo uma careta.
— É, as relações humanas são complicadas.
Concordei com um aceno, em silêncio, percebendo que os meninos tinham concordado também. Eu esperava, de verdade, que Bianca soubesse o que estava fazendo. Só não queria que ela se machucasse com a mesma história de novo, mas eu também sabia que, apesar de tudo, ela ainda amava o ex. Bianca também era conhecida por segundas chances e eu não podia fazer nada, a vida era dela e exclusivamente dela.
— Eu e o Bruno discutimos — falei, depois de um momento de silêncio, todo mundo terminando o seu copo de bebida. Eles olharam para mim e eu afastei minha cabeça do ombro de Luca, terminando de beber o meu suco de laranja também. — Não sou idiota, sei que vocês perceberam que tinha algo errado, mas não precisam se preocuparem. E não, não foi briga de casal.
Eles riram antes mesmo de eu terminar a frase; conhecendo-os como eu conhecia, eu sabia que um deles ia dizer aquilo e antecipei a provocação antes que ela acontecesse.
— Mas está tudo bem agora? — Alan perguntou.
Senti o olhar de Lucarelli em mim e minha irmã não tirou os olhos da minha direção, como se também estivesse esperando por essa resposta. Revirei os olhos e virei o copo, terminando o líquido.
— Eu espero que sim.
Aquela foi a resposta mais sincera que eu pude dar naquele momento. Apesar de saber que eu já tinha perdoado Bruno antes mesmo de decidir isso, não me esforcei para mudar nenhum clima entre nós. Talvez um momento longe um do outro fosse exatamente o que estávamos precisando.
E também um momento propício para que eu pensasse se aceitaria o seu convite ou não.
🏐
Fui acordada com beijos pelo meu rosto, sentindo os lábios macios pressionarem a pele das minhas bochechas. O cheiro de floratta invadiu as minhas narinas e eu resmunguei, contrariada por estar sendo acordada tão cedo, apesar de estar acostumada. Devagar, abri os meus olhos, sendo recebida por um sorriso conhecido, que voltou a beijar a minha bochecha, passando uma das mãos por debaixo do meu corpo, me abraçando pela cintura. Ele enterrou o rosto no meu pescoço, inspirando o meu cheiro matinal e eu finalmente me despertei, coçando os olhos como uma preguiçosa.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, em voz baixa.
Ele murmurou algo contra a minha pele que eu não consegui compreender; sua voz saiu abafada, dificultando tudo. Bruno se afastou, me encarando com hesitação antes de finalmente me responder.
— Nós estamos bem? — quis saber.
Cocei minha bochecha, soltando um suspiro. Ele me olhava com uma expectativa insuportável e só havia uma resposta para dar.
— Depende — murmurei. — O que você trouxe para mim?
Ele tirou o seu braço da minha cintura, me roubando um selinho bem rápido, antes que eu tivesse a chance de reclamar. Ele saiu da cama e voltou alguns segundos depois, segurando uma cesta de café da manhã, repleta de frutas, duas fatias de bolo e chocolate. Muitos chocolates.
— O que é tudo isso?
Sentei na cama, recebendo a cesta, pegando um morango para experimentar. Bruno sentou na minha frente e apontou para a cesta e depois para mim.
— Isso é para reforçar o meu pedido de desculpas — ele começou a dizer, enquanto eu pegava outro morango. — E também porque é dia dos namorados, então… Feliz dia dos namorados, .
Ele me estendeu uma caixinha de papel com uma estampa brilhante e eu revirei os olhos, mas acabei aceitando. Não sei quando começamos com aquela tradição ridícula de comemorar o dia dos namorados sem sermos namorados de fato, mas acabou pegando. Ele me acordava com uma cesta de café da manhã ou algo assim e me presenteava com coisas que consideramos banais, mas que gostávamos.
— Eu fiquei tão irritada com você que esqueci disso tudo — admiti, abrindo a caixinha e revelando um chaveiro do homem-aranha em End-Game. — Você está me entregando a coleção inteira dos Vingadores.
Balancei Peter no ar, sorrindo. Então guardei o chaveiro de volta e olhei para o meu melhor amigo.
— Está desculpado, Bruno.
Fiquei mais aliviada com aquilo do que ele. Eu detestava criar um clima chato ou estranho entre nós, porque ficava me sentindo muito mal. Isso se estendia a qualquer pessoa, mas era pior com ele. O capitão do time se aproximou ainda mais de mim, deixando a cesta do outro lado da cama, seguro de nós. Bruno não disse nada, apenas passou os braços ao redor do meu corpo, me abraçando. Inspirei o cheiro dele, soltando um suspiro.
— Sou um idiota por achar que você fica sexy quando está super irritada comigo? — ele disse, ainda sem me soltar.
Eu ri, dando um soquinho desajeitado no seu ombro, beijando o seu pescoço em seguida. Não tínhamos passado nem dois dias direito naquele clima chato e eu estava morrendo de saudade da sensação do seu corpo no meu.
— Sim, é — concordei.
Ele riu, me soltando do abraço. Mesmo assim, seu rosto continuou bem próximo do meu e quando ele encarou a minha boca, eu sabia exatamente o que ele estava prestes a fazer e neguei com um aceno.
— Não faça is… — tentei impedir, mas ele me calou com os seus lábios.
Era meio impossível resistir ao seu beijo daquela forma. Eu odiava beijos matinais, logo depois de acordar, mas uma vez que seus lábios estavam se movendo em sincronia com o meu, me permiti não me importar com aquilo daquela vez.
— Espera aí, como você entrou aqui? — lembrei, assim que nos afastamos.
Ele pegou um pedaço de maçã e levou à boca, dando de ombros.
— Bianca.
Minha irmã ainda estava hospedada comigo e claro que ela abriria a porta para Bruno invadir o meu quarto com o seu charme único e sorriso que deixava as minhas pernas bambas. Ela nunca impediria ele de nada, principalmente quando estava torcendo para que fizéssemos as pazes. Pilantra.
— Beleza, eu pego ela depois — avisei, jogando o lençol para o outro lado da cama. — Mas você não tem jogo daqui a pouco?
Ele assentiu; percebi que estava usando as roupas normais e não o uniforme da seleção. Eu não tinha ideia de que horas eram, mas considerando que o time deveria estar no estádio antes mesmo do horário do jogo, considerei que era bastante cedo.
— Vim te buscar para ir junto — ele respondeu. — Mas acho que temos um tempo ainda e…
Comecei a rir, entendendo a sua ideia antes mesmo dele completar a frase. Bruno deixou os ombros caírem e me olhou com uma careta, antes de pegar uma uva e jogar em mim, batendo na minha bochecha.
— Eu não consigo entender essa sua preferência por transa matinal.
— Eu tenho preferência de transar com você em qualquer horário do dia, mas já que não vamos fazer isso, engraçadinha, comece a se arrumar para irmos — ele avisou.
Fiz o que pude para terminar de comer pelo menos um pouco mais das frutas da cesta, antes de acatar o pedido dele e me levantar para me arrumar. Optei por um short jeans, tênis e uma camisa antiga dele, com seu nome atrás. Deixei meu cabelo amarrado em um rabo de cavalo alto e, em menos de uma hora, conseguimos chegar no estádio, que estava começando a ficar cheio para a partida das 10h contra a China. Antes de virmos, descobri que Bianca tinha ido na frente com Lucarelli, que tinha vindo com Bruno até o hotel. O voo dela tinha sido alterado para o horário da tarde, então dava tempo dela assistir a partida conosco, antes de voltar para Recife.
— Eu já volto — Bruno disse e eu concordei com um aceno.
Andei até a quadra, onde os meninos estavam se aquecendo antes da partida começar e encontrei Bianca sentada perto da equipe técnica.
— Cadê os meus monstrinhos? — perguntei, anunciando a minha presença, me sentando na cadeira disponível ao lado dela.
Bianca levantou os olhos para mim e guardou o celular, os lábios em um sorriso sugestivo.
— Estão brincando com as afilhadas do Bruno — respondeu. — Como foi a sua manhã?
Cruzei uma perna em cima do meu joelho e estreitei os olhos para ela, apontando um dedo em riste na sua direção.
— Você é uma pilantra — acusei.
Ela nem sequer se abalou, como sempre.
— Mas fizeram as pazes, não fizeram?
Não respondi. Acenei para os meninos, que me cumprimentaram de volta e nós duas ficamos ali, conversando, enquanto a partida não começava. Os jogadores chineses também treinavam do lado oposto da quadra e Bianca começou a dar nota para cada um deles, me fazendo rir de cada absurdo que ela começava a falar. Não sei por quanto tempo ficamos nessa, mas os jogadores saíram da quadra para trocarem de uniforme e finalmente começar mais um jogo. Como ali era uma visão privilegiada de cada ponto do jogo, eu e Bianca ficamos ali.
— Oi, tia! — Malu apareceu, me abraçando, enquanto Edu sentou no colo da mãe.
Enchi ela de beijos, que riu e tentou se desvencilhar do meu ataque de carinho.
— Posso te sequestrar para mim? — perguntei, beijando as suas bochechas.
Ela balançou a cabeça.
— Não pode!
Fiz uma careta desgostosa, mas quando os jogadores começaram a entrar novamente, deixei ela quieta no meu colo, prestando atenção. Bruno entrou com Giulia no colo de novo, que estava devidamente uniformizada de verde e amarelo. Ele fez ela acenar para mim e eu devolvi com um sorriso enorme no rosto, porque eu tinha um enorme carinho por ela. Alguns minutos depois, ela foi devolvida para a mãe e a partida começou, mas não tivemos um resultado melhor que ontem.
— Ei, Giulia, vem cá!
Ela correu até mim com os braços abertos e tentei não apertá-la muito em um abraço saudoso. Eu quase nunca a via. Quando via, aproveitava a oportunidade, porque eu nem sabia quando conseguiria vê-la pessoalmente de novo.
— Tudo bem? — perguntei e ela assentiu, sorrindo. — Vamos abraçar o tio Bruno?
Giulia concordou mais uma vez; andei com ela nos meus braços até o centro do ginásio, onde Bruno ainda estava, falando com alguns dos meninos. A partida tinha terminado há alguns minutos, protagonizando mais uma derrota para a seleção brasileira em quadra. O peso de duas derrotas seguidas estava começando a fazer efeito.
O capitão percebeu a nossa presença e se virou, parando na nossa frente.
— Você tentou — eu disse, ao observar a sua expressão cansada e derrotada.
Ele umedeceu os lábios e aceitou os braços abertos da afilhada, pegando-a do meu colo para o seu e Giulia fez o que eu disse, circulando os seus braços pequenos ao redor do pescoço dele em um abraço silencioso. Eu sorri diante da cena, vendo ele acariciar as costas dela com carinho.
— Que abraço gostoso! — ele exclamou, fazendo a menina rir.
Giulia soltou ele e encarou o padrinho com uma expressão engraçada e confusa.
— Você não ganhou? — ela perguntou.
Eu ri, achando graça do bico que ela fez.
— Dessa vez não, Gi — Bruno explicou. — Mas não estou triste depois de um abraço desse. Posso ganhar outro?
Ela balançou a cabeça, abraçando-o outra vez. O sorriso satisfeito que ele me deu foi o suficiente para eu firmar a decisão que eu tinha tomado desde o momento em que ele tinha feito o convite, alguns dias atrás.
— Eu aceito.
Ele me encarou com a testa franzida. Giulia soltou ele do abraço de novo e pediu para descer do seu colo, animada para se juntar às outras crianças. Ele deixou ela no chão e acompanhou-a com os olhos, antes de se voltar para mim de novo.
— O quê?
Umedeci meus lábios e parei na frente dele. Minha lesão ainda me faria ficar algumas semanas sem treino. Eu podia passar um tempo com a minha família depois, logo antes de poder voltar para a minha rotina. Mas, apesar de todos aqueles motivos reforçarem a minha decisão, eu sabia que o que me fez aceitar o seu convite foi simplesmente o fato de que queria poder passar mais tempo com ele antes de voltarmos a nos falar virtualmente por estar em lados diferentes do mundo.
— Eu aceito o seu convite — expliquei, sorrindo. — Vou te acompanhar pela Liga das Nações.
Ele me surpreendeu com um abraço e torci para que nós não estivéssemos chamando tanta atenção. Assim que ele me soltou, ele estalou um beijo na minha bochecha e toda a euforia me fez não ligar que ele ainda estava completamente suado e me sujando junto.
— Tem certeza? — ele quis certificar.
Revirei os olhos e bati em seu ombro com um soquinho fraco.
— Claro que tenho — respondi, mas levantei um dedo, declarando uma condição. — Mas vou avisando logo: não vou gastar um centavo nas viagens. É tudo por sua conta.
: um compilado para encerrar a primeira fase da @ligadasnacoes. vejo vocês na próxima! 💖🥰
curtido por bruninho1, gabiguimaraes10, lucarelli8, biancaqueiroz e mais 50.568 pessoas
@biancaqueiroz: te amo, ! divirta-se na segunda fase. ps: eu tô apaixonada na terceira foto 🥺
@lucarelli: @thiaguinho canta uma música pra assumir esses dois!!!
@neymarjr: @ não quebra o coração do meu parça hein 🤪🤙🏻👊🏻
@gabiguimaraes10: saudadesss, estão lindos nas fotos
@lari23: a fofa da giulia parece filha de vocêsss q amor!!
@helenak4: espero que a seleção jogue bem melhor na segunda fase
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— Você é o namorado da minha tia? — Malu perguntou, encarando Bruno.
Me engasguei com o gole de guaraná, escutando a risada do meu melhor amigo se divertindo com a pergunta da minha sobrinha. Bianca, que estava sentada do outro lado, de frente para mim, me olhou com um sorriso travesso, como se quisesse dizer alguma coisa silenciosamente, tipo: “viu? Até uma criança percebe”, mas ignorei completamente a sua provocação.
— Ah, eu… — Bruno tentou responder.
Malu estava sentada entre nós na mesa, Edu do outro lado, perto da mãe. Tínhamos combinado de levar Bianca e as crianças para o aeroporto, então, depois do jogo, nos despedimos do restante do pessoal, buscamos as coisas deles no quarto do hotel e fomos direto para o aeroporto, onde resolvemos comer alguma coisa antes deles embarcarem no avião de volta para Recife. Eu não tinha conseguido aproveitar muito a companhia dos meus sobrinhos e da minha irmã, mas prometi que, antes de voltar para a minha rotina de treinos, eu passaria em casa para vê-los novamente.
— Malu, come logo — interrompi, apontando para o prato dela cheio de batata frita, impedindo que Bruno respondesse alguma coisa.
Ele olhou para mim e deu de ombros. Não era a primeira vez que uma pergunta daquele tipo era feita para nós dois; sempre contornamos essa questão dizendo que éramos amigos e a maioria das pessoas entendiam a mensagem explícita por trás da resposta, mas Malu era uma criança. Não havia como explicar que éramos amigos com benefícios sexuais e eu nem sei se ela entenderia.
— Você gosta dela, não é? — Ela tornou a perguntar para Bruno, jogando duas batatas fritas na boca, sem desistir.
Bianca riu. Soltei um suspiro e fuzilei-a por estar se divertindo com aquela situação, mas eu já devia esperar. Malu era sempre mais arteira que Edu, que estava entretido com o celular e suas próprias batatas fritas com molho demais.
— Sim, eu gosto — Bruno respondeu, com serenidade e um sorriso no rosto. — Ela é minha melhor amiga.
Malu assentiu, voltando para a sua comida. Ela mal terminou de tomar um gole de seu refrigerante, quando falou de novo.
— Mainha diz que amigos podem ser namorados.
Bruno riu gostosamente e eu joguei um pedaço de batata frita em cima de Bianca.
— Sua mãe não está errada — me intrometi. — Mas eu e Bruno não somos namorados, Malu.
— Mas…
— Não.
Ela bufou e voltou a se concentrar em comer as batatas. Bruno balançou a cabeça para mim, os fios do cabelo loiro escuro caindo em cascata pelo boné. Não era um disfarce muito bom que o impedia de ser reconhecido, mas até o momento, ninguém tinha nos abordado. Pegamos o lugar mais fundo do restaurante justamente pensando nessa possibilidade.
— Mas qual o problema? — Bruno perguntou para Malu, que voltou a olhar para ele. — Você queria que eu fosse o namorado da sua tia?
Minha sobrinha deu de ombros, terminando de mastigar.
— É, seria legal ter um tio, né? — Ela respondeu, a voz carregada de sotaque. — A tia ta ficando velha.
— Ei! — protestei.
Ela gargalhou e eu comecei a fazer cócegas nela de brincadeira, beijando as suas bochechas logo em seguida. O comentário não me ofendeu. Ela era apenas uma criança reproduzindo algo que com certeza tinha ouvido antes.
— Malu, deixa a sua tia em paz — Bianca disse, ainda rindo.
Soltei-a e deixei ela terminar de comer o restante da comida. Edu chamou a atenção dela para alguma coisa no celular e Malu esqueceu o assunto, distraída.
— Ela é bem inteligente — Bruno comentou.
Bianca concordou e engatamos em um assunto qualquer, aproveitando o restante do tempo. Quando todos nós terminamos de comer, pagamos a conta e fomos para a área de embarque no exato momento em que uma voz no microfone anunciou o voo dela.
— Não esquece de me ligar quando chegar — pedi, abraçando a minha irmã com a maior força que eu tinha, não querendo ser capaz de largá-la.
Bianca retribuiu o abraço, enquanto Bruno se despedia das crianças em uma conversa que eu não conseguia prestar atenção, mas não me preocupei. Ele tinha um talento nato para lidar com aqueles projetos de mini adultos.
— Não vou — ela me prometeu de volta, se afastando do abraço um minuto depois.
Senti seu toque na minha bochecha e nós duas trocamos um sorriso.
— Boa viagem para a segunda fase — Bianca me desejou. — Vai me mandando notícias.
Assenti e deixei-a se despedir de Bruno.
— Venham cá.
Me abaixei na altura das crianças e abri os braços, recebendo-as um de cada lado, me sentindo completamente bem ao ser preenchida naquele abraço coletivo.
— Eu amo tanto vocês — murmurei, apertando-os contra mim, escutando suas risadas. Afastei-os o suficiente para que eu conseguisse olhá-los. — Cuidem da sua mãe, está bem?
Os dois concordaram e beijaram as minhas bochechas. Aproveitei a brecha para um último abraço e, quando a voz anunciou o voo novamente, deixei-os em paz.
Bianca segurou a bolsa de costas dos dois e, com um aceno de despedida, assisti eles irem direto para o embarque, até não estarem mais no meu campo de vista. Soltei um suspiro e senti Bruno segurar a minha mão, apertando seus dedos contra os meus, em um conforto silencioso muito bem-vindo.
— Devíamos sair daqui antes de sermos flagrados? — ele sugeriu, depois de um tempo.
Eu ri, mas concordei, olhando ao redor. O local até estava bem tranquilo; considerando que ali todo mundo parecia ter pressa demais para sair ou chegar, era uma vantagem a nosso favor. Começamos a caminhar direto para a saída, decididos a pegar um táxi.
Uma hora depois, estávamos no meu quarto do hotel.
— Você devia arrumar suas coisas — Bruno avisou, tirando os sapatos. — Nós vamos viajar para São Paulo antes de ir para o país da segunda fase.
— Tudo bem — concordei, andando até o frigobar, tirando uma garrafinha de água. — Você tem certeza que tá ok eu acompanhar vocês mesmo? Aparentemente, ninguém tá levando esposa ou algo do tipo.
Ele deu de ombros, sem parecer preocupado com a questão. Bebi alguns goles de água, matando a minha sede, guardando a garrafa de volta no frigobar.
— Ninguém tá fazendo questão por isso, — ele respondeu. — Além do mais, você se dá bem com todo mundo. Não tem problema.
Concordei com um aceno, aceitando encerrar o assunto. Ele realmente não teria me convidado para acompanhá-lo pela Liga se tivesse algum problema.
— Ainda é dia dos namorados — lembrei. — Quer fazer maratona de comédias românticas e pedir pizza?
Depois que ele ficou descalço, também me livrei dos meus chinelos. A brincadeira de comemorar o dia dos namorados tinha começado há um tempo, quando percebemos que passávamos o dia sozinhos. Ele começou a tradição de me presentear com alguma coisa e passávamos a noite juntos, com delivery de comida e maratonas de filmes. Geralmente, eu também costumava presenteá-lo, nada nunca muito elaborado, só para manter a tradição. Mas nossa discussão deixou minha cabeça cheia e me esqueci completamente que o dia dos namorados estava chegando.
— Podemos pedir pizza — ele respondeu, se aproximando de mim. — Mas tenho outra ideia em mente para encerrar o dia.
Eu mal tive tempo de processar a sua frase; sua boca se chocou contra a minha e eu ri no meio do beijo, mas coloquei minhas mãos em volta do seu pescoço, sentindo falta daquele contato íntimo. Sua barba roçou a minha pele, suas mãos apertaram minha cintura, me puxando ainda mais para si, como se já não estivéssemos próximos o suficiente um do outro. Intensifiquei o beijo, descendo uma mão para espalmar o seu peito, começando a empurrá-lo devagar até a cama. Nossas mãos começaram a explorar o corpo um do outro, sempre parecendo a primeira vez que faziam aquilo, porque a sensação era sempre nova. Eu nunca me acostumava com os arrepios que ele me causava quando desenhava círculos na minha barriga ou quando dedilhava os dedos pela minha clavícula. Ele nunca ia direto para os meus seios primeiro e nunca invadia o meio da minha saia, procurando desesperadamente me agradar. Ao invés disso, Bruno gostava de me explorar através dos toques das mãos, do que sua boca podia alcançar.
— Parece que não te toco há meses — ele confessou, assim que quebramos o beijo em busca de ar.
O sorriso se espalhou pelo meu rosto e finalmente chegamos perto da cama. Eu estava prestes a empurrá-lo direto contra o colchão, mas ele foi mais rápido e me puxou junto. Nós dois caímos, eu por cima dele, mas essa posição não durou muito. Ele logo inverteu, ficando por cima de mim.
Ele tentou não ceder o peso do seu corpo sobre o meu. Seu rosto estava bem próximo e eu comecei a acariciar a sua bochecha, dedilhando os meus dedos nos seus lábios, meu coração acelerado e minha respiração subindo e descendo em uma lentidão impressionante. Fiz uma nota mental de não me irritar mais com ele; seus beijos e toques eram muito melhores do que distância e silêncio.
— Você está me olhando como se… — ele começou a dizer, alternando seu olhar entre meus lábios e meus olhos.
Quando ele não completou a frase, franzi o cenho, confusa.
— Como se o quê?
Bruno soltou um suspiro e abriu um sorriso para mim, balançando a cabeça em seguida. Sua boca escapou dos meus dedos e trilhou um caminho até o meu pescoço, beijando cada pedaço da minha pele.
— Nada — ele sussurrou, desistindo do que ia dizer.
Eu estava prestes a insistir, mas ele começou a tirar minhas peças de roupas, me provocando em cada pedaço. Abri minhas pernas, deixando-o se encaixar no meio, uma posição mais confortável para explorar os meus seios.
Nossos gemidos se misturavam, nossas mãos se perdiam um no corpo do outro, sua barba loira escura roçava a minha pele. Seu sorriso beijava o meu, mas mesmo inebriada de completo prazer, meus pensamentos ainda estavam presos na frase não completa.
Eu esperava estar errada, mas podia jurar que sabia qual seria o final da frase. Como se.
Você está me olhando como se estivesse apaixonada.
🏐
Dois dias depois
São Paulo - SP
Desviei da bola mais uma vez, curvando o meu corpo, com as duas mãos apoiadas nos joelhos. Minha respiração estava ofegante e eu conseguia sentir as gotas de suor escorrendo pelos meus seios e meio das costas. Eu não sei como eles conseguiram me convencer para uma rodada de exercícios e treino, sendo que, para começar, eu nem era jogadora de vôlei. Mas desafio era desafio e aqueles idiotas sabiam que eu não recusava.
— Cansou, ? — Cachopa caçoou.
Porra, eles nem estavam ofegantes.
Ou tinham pegado pesado comigo mesmo ou eu realmente estava em desvantagem. A minha rotina de treino de ginástica fazia muita falta; meu corpo estava começando a se acostumar à falta de incentivo e rodada de treinos diários.
— Eu não… — tentei falar, mas parei.
Recuperei meu fôlego e levantei meu corpo. Estávamos no Ginásio Sesi, em São Paulo; eles tinham uma semana sem jogos e optaram por treinar ali um pouco, antes de finalmente viajar para a segunda fase da Liga das Nações. Como eu não tinha nada melhor para fazer e não era muito fã da cidade, Bruno me arrastou para seus treinos também.
— Aqui — Lucarelli apareceu ao meu lado, estendendo uma garrafa de água para mim.
Ele estava tão suado quanto eu. Sua pele até brilhava um pouco, mas ele não estava nada ofegante, que inferno.
— Obrigada.
Aceitei a garrafa e não hesitei em abrir e beber muitos goles, matando a sede que eu nem sabia que estava sentindo até ele me oferecer a água. Minha respiração normalizou, mas eu tinha gostado da sensação de treinar novamente. Não era só o meu corpo que sentia falta daquela rotina exigente que eu tinha, minha mente também era uma grande fã de distração e, depois da minha última transa com Bruno, dois dias antes de vir para São Paulo, eu estava mesmo precisando me distrair. Os meninos eram uma ótima opção para isso.
— Já recuperei o fôlego — respondi a Cachopa, que riu.
Leal jogou a bola na minha direção e eu tentei agarrar antes que ela fosse direto para o chão, mas não consegui. Ela passou raspando pela minha mão e meu pulso latejou, bem onde consegui a lesão leve que me afastou da ginástica. Não havia mais faixas no meu pé e pulso e, na teoria, era para eu continuar me recuperando sem nenhum tipo de esforço, mas…
— Você é a pior paciente do mundo! — Franco disparou, aparecendo no meu campo de visão.
Ele não tinha uma expressão muito boa e, quando olhei diretamente para ele, havia um dedo indicador em riste apontado para mim. Ele parecia ter um instinto que avisava que eu estava meio que exagerando e, embora não fosse meu médico oficial, sentia-se na obrigação de cuidar de mim tanto quanto cuidava dos jogadores.
— Eles me desafiaram! — acusei, ao mesmo tempo em que me defendia, como se fosse uma criança pega no flagra.
Os meninos riram e eu fechei a minha expressão. Peguei a bola no chão, que tinha caído bem aos meus pés e atirei direto em Cachopa e Alan. Os dois desviaram perfeitamente, o que resultou em um xingamento inaudível da minha parte.
— Você não sabe o significado de “recuperação”? — Franco me questionou, os braços cruzados na altura do peito.
Deixei um suspiro escapar e devolvi a garrafa de água para Lucarelli.
— A gente só estava se divertindo — Luca defendeu.
Franco lançou um olhar feio para ele.
— Parem de desafiar ela, estou falando sério — ele repreendeu. — não pode fazer movimentos repetitivos até se recuperar totalmente da lesão, ou o período de recuperação vai se estender e você — apontou para mim. — Vai ficar de fora das próximas competições.
— Aí, Franco — Leal chamou. — O que você caracteriza como “movimentos repetitivos”? Porque eu tenho certeza que ela e Bruno…
— É melhor você não completar essa frase — eu interrompi, cortando-o.
Risadas preencheram o ambiente ao meu redor e Franco revirou os olhos. O médico da seleção estava prestes a se virar e ir embora, me deixando com esses completos idiotas, mas ouvi a voz de Bruno questioná-lo, fazendo ele parar de andar.
— O que está havendo?
Então, Franco se virou para mim novamente.
— Sua… — ele tentou dizer, mas parou por um instante. Fez um gesto com a mão, apontando para Bruno e para mim logo em seguida. — Vocês precisam definir o que é essa relação de vocês. São amigos? Namorados? É…
— Franco.
Ele parou de falar assim que me ouviu dizer seu nome. O médico desistiu de achar um termo para se referir a mim para Bruno e, com um olhar, silenciei a zoação dos meninos que eu tinha certeza que iria começar. Isso era sempre uma piada.
— A está sentindo um desconforto no pulso de novo, porque não sabe ficar parada — Franco me acusou.
Umedeci meus lábios e encarei o médico.
— Eu não estou sentindo…
— Você não para de mexer o pulso. — Ele completou a acusação, antes que eu pudesse me defender.
Parei de mexer meu pulso e bufei. Eu só tinha que acabar aceitando que ele tinha razão e eu era mesmo a pior paciente do mundo, mas ele era um médico muito bom por observar aquele ponto. Além do mais, eu conseguia lidar com um desconforto.
— Valeu, Franco — murmurei, derrotada.
Ele sorriu e saiu de uma vez.
— Se serve de consolo, você jogou bem melhor hoje do que da última vez — Alan disse.
Cachopa concordou com um aceno e os dois saíram do meu campo de visão, se juntando a Thales e Maique.
Lucarelli deu de ombros e os seguiu, como se tivessem entrado em um acordo silencioso para me deixar lidar sozinha com Bruno. O capitão se aproximou de mim e nós dois estávamos suados.
— Espero que você não esteja prestes a me repreender — comecei, derrotada. — Às vezes, você é tão péssimo paciente quanto eu.
Ele riu, parando na minha frente.
— Você devia ouvir mais o Franco — ele aconselhou. — Entendo que ele não é o seu médico, mas deve significar alguma coisa que ele se preocupe com você.
Alcancei o braço dele, tocando a sua pele.
— Sim, é… — concordei com um aceno. — Ninguém da sua equipe tem obrigação comigo. Fico impressionada que eles me tratam como se eu fosse…
— Da família? — Ele completou.
Abri um sorriso, concordando de novo.
Bruno beijou a minha bochecha e fui tomada pela mesma sensação familiar de dois dias atrás. Às vezes, eu sentia que meu corpo e minha mente me traíam e eu não gostava dessa confusão que eu estava sentindo. As coisas eram tão bem definidas entre nós que eu nunca me preocupei com nada — até então.
— Eles têm todos os motivos do mundo para te tratarem assim, — Bruno murmurou.
Sem saber o que responder, eu simplesmente abracei-o, suado e tudo. Então, uma bola atingiu nossos braços e quando olhei na direção de quem jogou, Thales e Maique levantaram as mãos em um pedido de desculpas silencioso. Alan, atrás deles, fez um joinha com o polegar. Ignorei-os com um revirar de olhos.
— Podemos sair daqui? — pedi, sentindo minha barriga roncar depois de uma sessão de exercícios. — Estou morrendo de fome e seus amigos acabaram comigo.
Sua risada vibrou pelo meu corpo inteiro.
mais tarde
Teatro Bradesco - São Paulo
Os flashes das câmeras capturaram nossas imagens. Ao meu lado esquerdo, estava Bruno, seguido de Thiaguinho e sua namorada, Carol. Do meu lado direito, Lucarelli fechava a fila. Depois de muitos sorrisos, poses e luzes de flashes me cegarem, nós demos espaços para outros convidados prestigiarem o cantor.
A entrada do teatro estava decorada com coisas pessoais e marcantes da carreira de Thiaguinho. Aquela noite era um evento de gala, exclusivo para famílias e amigos, com a intenção de comemorar seus 20 anos de carreira. Eu optei por usar um vestido longo preto, de um ombro só. Meu cabelo foi um penteado rápido que deu para fazer no quarto do hotel, o pescoço brilhando com um colar de pingente pequeno, imitando um diamante. A maquiagem também era leve e eu sentia que podia vir melhor preparada, mas eu não saia por aí carregando roupas de gala dentro da mala, então depois de ser tranquilizada por Bruno e Lucarelli que eu estava dentro do tema solicitado do evento, aceitei a minha aparência.
Os dois estavam vestidos de ternos pretos impecáveis. Não havia muito esforço em ser homem.
— Aqui.
Me virei para Lucarelli, aceitando a taça de coquetel que ele me estendeu, pegando de algum garçom que passou oferecendo. Bruno estava em algum lugar, cumprimentando uma lista de conhecidos que ele tinha, mas Luca resolveu ser um pouco introspectivo hoje e me fazer companhia.
— Obrigada. — aceitei a taça e bebi um gole, passando os olhos pelo local.
— Como está seu pulso?
Dei de ombros, fazendo pouco caso. Depois do almoço, Bruno me obrigou a passar rapidinho em Franco, que examinou o meu pulso e determinou que meu desconforto valia duas doses de aspirina de 8 em 8 horas. Ele insistiu em colocar a faixa, mas eu jamais aceitaria vir com aquela coisa no pulso em pleno evento de gala.
— Franco exagerou um pouco — respondi, recebendo um olhar cético. — Estou bem.
Ele bebeu o próprio coquetel e começamos a andar, socializando o mínimo que podíamos, mas sendo famoso e estar presente em um local também cercado de famosos, não havia muito como fugir do papo sociável.
— Falei para os caras pararem de te desafiar — Lucarelli continuou, depois que cumprimentamos um ator conhecido. — Você melhorou, mas continua sendo péssima no vôlei.
Esbarrei meu ombro no dele, empurrando-o devagar só pela provocação, tomando o cuidado de não me sujar com o líquido do coquetel.
— Por que não arranja um flerte por aqui e me deixa em paz?
Ele sorriu para mim, uma resposta clara de que ele não faria isso. Dei as costas para o jogador bem a tempo de Bruno reaparecer, com Thiaguinho em seu encalço.
— Eu quase pensei que você não conseguiria comparecer — O cantor disse, me recebendo com um abraço rápido.
— E perder esse show? — brinquei, sorrindo. — Alguém me convidou para acompanhar a Liga das Nações de perto, então…
Thiaguinho riu.
— Que bom que você aceitou, ! — ele disse. — É sempre um prazer te ver.
Ele cumprimentou Lucarelli também, os dois trocando abraços e engatando em uma conversa que eu não tinha a menor ideia do assunto. Meu melhor amigo aproveitou aquela distração e parou do meu lado, a mão pousando na minha cintura. Bebi mais um gole do meu coquetel, quando ele aproximou o rosto do meu ouvido.
— Já disse como você está linda?
A voz baixa que ele usou me indicava que aquela conversa era só nossa. Umedeci meus lábios e comprimi o sorriso, encarando qualquer pessoa que estivesse no meu campo de visão. Não havia muita gente ali.
— Não — respondi, puxando na memória. — Mas você pode dizer.
Ele riu baixo, a respiração batendo contra a minha pele. E, merda, eu torcia para ele não ouvir as batidas fortes do meu coração.
— Você está linda, — ele murmurou no meu ouvido, beijando a minha bochecha levemente. — Mas ainda prefiro você sem roupa.
Bati meu cotovelo contra o abdômen dele, sendo impedida de responder a sua gracinha por Thiaguinho, que se virou para nós dois.
— É uma pena que sua irmã não tenha conseguido vir — ele lamentou. — Mas espero que ela possa aceitar o ingresso do meu próximo show como cortesia.
Caramba, a Bianca ia me agradecer por isso pelo resto do ano. Ela realmente não conseguiu estar presente aqui no evento, mas sei que ela lamentou tanto quanto ele, ainda mais sendo uma fã.
— Você faria mais uma mulher feliz no mundo — respondi, arrancando risadas dos três — E me faria mais feliz se cantasse Ponto Fraco hoje.
Ele olhou para mim e Bruno e, embora sua expressão quisesse dizer alguma coisa, da sua boca não saiu nada sobre.
— Considere feito.
Ele se despediu rapidamente, informando que já estava na hora de subir ao palco e que poderíamos nos sentar. Segui Bruno e Lucarelli para as escadas, que lembraram as escadarias dos musicais da Broadway e nos sentamos nas primeiras fileiras, de frente para o palco enorme. Fiquei sentada entre os dois e, enquanto a apresentação não começava, resolvi começar a perturbar Lucarelli um pouco, já que esse também era o seu passatempo favorito.
— E ela? — sussurrei para ele, apontando para uma mulher que ainda não havia sentado, do outro lado do palco.
Luca olhou na direção que eu apontava e depois desviou, me encarando.
— Falei que não ia flertar com ninguém hoje — respondeu.
— Por que não? — insisti. — Você merece se divertir, sabia?
O jogador de vôlei arqueou uma sobrancelha, cruzando as mãos no colo.
— Como você e o Bruno se divertem? — ele provocou, sem perder a chance.
Soltei uma risada, e Bruno, que tinha ouvido o que o amigo falou, segurou a minha mão e beijou a minha palma.
— Ter uma amizade colorida traz muitos benefícios — Bruno comentou.
Parecendo verdadeiramente interessado, Lucarelli encarou nós dois com um brilho de diversão nos olhos. Não sabia o que aquela situação parecia, mas era melhor que não pensassem que ele estava segurando vela.
— Deixa eu adivinhar — Luca começou. — O sexo é o principal deles?
Soltei minha mão de Bruno e encolhi os ombros.
— Essa é a primeira premissa de uma amizade colorida, certo? — eu respondi, apontando o óbvio.
Bruno riu, achando engraçado o rumo que a conversa estava tomando e o sorriso no meu rosto demonstrava o quanto eu me divertia.
— Além do mais, está comprovado cientificamente que o sexo também tem vários benefícios — ele completou.
— Reduz o estresse, melhora o humor… — citei, antes de ser interrompida por Luca.
— Estão dizendo que eu estou estressado e mal humorado?
Sua expressão iluminou uma confusão. Agora ele nos encarava com um misto de ofensa e humor.
Me ajeitei na cadeira, sentindo os dedos do meu melhor amigo apertarem os meus.
— Na verdade, você é o cara mais de boa que eu conheço — respondi, soltando o ar pelas bochechas. — Só estou dizendo que você pode se divertir, sabe?
— Com sexo?
Fiz um som positivo com a língua. O capitão da seleção se remexeu na cadeira ao meu lado e soltou a minha mão.
— Que tal aquela, então? — ele apontou discretamente para uma mulher que passou por nós há pouco, se juntando com um grupo de pessoas.
Eu não a conhecia. Pelo menos, não de tão longe. A iluminação não estava 100% ali.
— Eu transaria com você, mas como você mesmo pontuou, seria estranho — eu disse para Luca, dando de ombros, esperando ele avaliar sua nova opção.
Bruno virou o rosto bruscamente para mim, se dando conta do que eu tinha acabado de dizer.
— Peraí… o quê?! — ele soltou, olhando de Lucarelli para mim.
Luca começou a rir da reação de Bruno, descansando a mão na barriga.
— Achei que vocês fossem só amigos.
As pessoas começaram a tomar seus lugares nos assentos disponíveis. O som da orquestra tocando baixinho indicou que a apresentação iria começar. Luca recuperou o fôlego ao meu lado.
— Bem — eu disse, dando de ombros, encarando Bruno com um sorriso. — Nós também somos, certo?
Ele não conseguiu responder. Thiaguinho subiu no palco no mesmo instante começando a sua apresentação e, pelas próximas horas seguintes, Bruno não segurou mais a minha mão.
A voz de Alan preencheu meus ouvidos. Parei de deslizar o dedo na tela do celular e levantei o rosto na direção dele, que estava segurando uma garrafa de água na mão e um pedaço de sanduíche na outra. Ele apontou para o meu pulso, indicando sobre o que estava falando.
— Infelizmente — respondi, mexendo a mão com o pulso enfaixado no ar. — É só uma faixa ortopédica para diminuir o desconforto.
Ele assentiu e sentou-se ao meu lado na arquibancada vazia. Eu ainda estava morrendo de sono, mas me acostumei com a rotina de horário de Bruno, então acabava me levantando junto com ele, sem conseguir dormir de volta. Para não ficar sozinha na casa que ele comprou recentemente aqui em São Paulo, preferi acompanhar o treino.
— Aqui — ele me estendeu o sanduíche e a água. — Bruno disse que você não comeu muito no café da manhã.
Guardei o celular no bolso da calça e aceitei a comida, um sorriso de agradecimento surgindo nos meus lábios. Dei uma mordida, sentindo o gosto de queijo derretido e só então me dei conta de que eu estava realmente com fome.
— Onde você conseguiu isso? — indaguei para Alan.
Ele riu e deu de ombros.
— Com a Sandra, da cantina — respondeu. — É o meu favorito e ela sempre faz questão de preparar um para mim quase todas as manhãs.
— Não está fora da sua dieta? — Dei outra mordida, tendo a plena certeza que aquilo realmente não estava na dieta deles.
Quando se é um atleta, tudo é controlado. O peso, os tipos de comidas que podemos consumir, as horas dormidas, o tempo de treino… Mas, como toda regra, sempre havia uma exceção.
— Não tem como dizer não para aquela mulher — Alan disse, dando de ombros, como se fosse justificativa suficiente.
Soltei uma risada e aceitei, terminando de comer o sanduíche e bebendo metade da garrafa de água, me sentindo até um pouco mais desperta. Ainda estava desejando uma cama, mas eu podia lidar com o resto do dia, principalmente porque eu sabia que Bruno ia me arrastar para outro evento mais tarde.
— Obrigada pelo sanduíche — falei, recebendo um aceno positivo dele. — Está fugindo do treino?
Quando olhei para a quadra, Bruno estava treinando levantamento com Lucão, enquanto os outros se dividiam nos saques e bloqueios, várias bolas juntas ao mesmo tempo. Alan deu de ombros, seguindo de um suspiro longo.
— Não tenho orgulho de admitir que estou muito preguiçoso hoje — ele disse, me fazendo rir. — Além do mais, Bruno está meio irritado. Um capitão não pode liderar uma equipe de tão mal humor.
Franzi o cenho, encarando Bruno. Fora o fato de que ele demorou a me acordar hoje e quase nos atrasamos para chegar ao ginásio, seu humor estava bem normal para mim.
— Ele está? — perguntei, estranhando.
Antes que Alan pudesse responder alguma coisa, Lucarelli apareceu ofegante, sentando-se do meu outro lado livre e agora eu estava sentada entre os dois.
— O que está acontecendo com Bruno? — ele disparou.
Alan se virou para nós dois.
— Viu? Eu disse que ele está irritado.
Balancei a cabeça e umedeci meus lábios, encarando um Luca suado.
— Do que você tá falando?
O ponteiro da seleção respirou fundo. Ele deixou os ombros caírem em derrota e roubou a garrafa de água da minha mão, que Alan tinha trazido para mim.
— O Alan acabou de dizer — ele respondeu, depois de beber o resto da água toda. — Ele está irritado. Tipo, muito irritado. Não vejo Bruno irritado desde…
— Desde o dia em que o capitão do time da Argentina chamou a para sair depois de ter nos derrotado por 3 sets a 1? — Alan completou.
Virei meu rosto para ele quase de maneira brusca; o que ele tinha acabado de dizer não fazia o menor sentido.
— Isso — Lucarelli concordou.
Mexi as mãos, calando-os e levantei um dedo indicador.
— Bruno não ficou irritado com isso — retruquei. — Além do mais, eu disse não para o argentino.
Eu me lembrava daquele convite. Não recusei por causa de Bruno, mas porque meu interesse pelo argentino não tinha sido mútuo e eu não gostava de perder tempo com ninguém, muito menos fazer alguém perder seu tempo comigo. Os garotos estavam dizendo uma coisa, mas eu me lembrava de outra.
— O que os olhos não veem, o coração não sente, certo? — Alan provocou.
Soltei um suspiro, esfregando o rosto com as duas mãos. Dormi mal a noite inteira, meu cérebro estava lento demais para acompanhar o raciocínio daquela conversa. Quer dizer, eu sabia que eles gostavam de me provocar com tudo que envolvia Bruno; eu não devia estar cedendo a mais uma vez que eles estavam fazendo aquilo.
— Que tal se eu ignorar vocês agora? — falei, decidida.
Lucarelli tocou o meu ombro, dando duas batidinhas, como se estivesse me consolando.
— Se enganar nem sempre é a melhor tática de defesa — ele respondeu, me fazendo revirar os olhos.
— Ser um idiota também não — retruquei.
Ele riu e encolheu os ombros.
— Como vocês se conheceram? — Alan indagou.
Olhei na direção de Bruno novamente, que ainda estava com Lucão, mas os dois pararam os treinos de levantamento e estavam conversando sobre algo, enquanto bebiam água. Como Bruno estava de costas para mim, eu não conseguia ler a sua expressão.
— Olimpíadas do Rio, 2016 — respondi.
— Ela gostava de assistir aos nossos treinos fechados — Lucarelli explicou. Tinha sido sua primeira participação como parte da equipe oficial de vôlei, então o conheci na mesma época. — Como também era atleta, tinha fácil acesso.
Me lembrava daquele dia como se fosse ontem. Não só porque finalmente consegui uma medalha em uma Olimpíada, mas porque eu estava passando por um momento familiar bem ruim envolvendo o meu irmão, Gabriel. Apesar de ter feito uma performance decente o suficiente para ter conquistado uma medalha de prata e me colocado em segundo lugar entre as melhores, deixei que os problemas pessoais me afetassem. Por isso, além de treinar tanto e exigir muito de mim mesma, quando não estava fazendo isso, estava assistindo a algum treino do time masculino de vôlei. Em um desses treinos, Bruno começou a se aproximar sem que eu percebesse.
— E aí vocês embarcaram em uma amizade com benefícios de cara?
Me permiti soltar uma risada, batendo meu ombro contra o oposto da seleção.
— Não — respondi. — Minha vida estava bem difícil naquela época. Nos tornamos amigos sem que eu percebesse e mantemos contato à distância. Carreiras diferentes, cidades diferentes.
Não sei como conseguimos aquilo. Nossas carreiras dificultavam manter relações à distância com gente nova, mesmo que fosse uma amizade, mas sempre achei que, por nós dois sermos atletas, compreendemos a rotina um do outro e não havia cobrança por contato ou resposta. Lucarelli veio no pacote, mas só começamos a manter contato um com o outro quando meus encontros com Bruno se tornaram mais frequentes de acontecer.
— Vou dizer uma coisa, — Alan começou, olhando para mim com um sorriso genuíno. — Nunca vi ninguém ter o que vocês dois têm. Eu sei que é comum dois adultos transarem sem compromisso, mas não estou falando só disso. Acho que você deveria começar a perceber que isso não é só uma amizade.
Engoli a seco, coçando a minha bochecha. Meu estômago embrulhou quando entendi sobre o que ele estava falando, mas eu não queria me permitir a pensar demais na ideia. Sabia o que todo mundo achava da nossa relação; recebia comentários o tempo todo.
— E, como alguém que acompanha vocês desde o começo como um amigo leal, concordo com o Alan — Lucarelli completou.
Meus ombros caem com um suspiro silencioso. Esfreguei o rosto mais uma vez e soltei um xingamento baixinho, sem querer me permitir a me aprofundar demais nos meus pensamentos e no que eles tinham acabado de dizer. Dizem que as pessoas de fora costumam enxergar a situação melhor do que quem estava dentro, então eu não sabia o que dizer. O que pensar. O que fazer.
— Se eu for chutar o motivo dele estar irritado — Lucarelli começou. — Diria que ele está com ciúmes.
Virei o rosto na direção dele, encarando-o com uma ruga bem no meio da testa.
— Não seja idiota — murmurei, achando a ideia meio absurda. — Bruno não é ciumento e, definitivamente, não comigo.
Ele umedeceu os lábios, levantando as mãos em uma rendição exagerada, trocando um olhar com seu colega de equipe do meu outro lado. Bufei, revirando os olhos, achando que era um assunto ruim demais para ter em uma manhã daquela, quando meu tempo de processamento estava bem, mas bem lento.
Deixei Alan e Lucarelli para trás e saí da arquibancada pela escada lateral, andando até meu melhor amigo, disposta a esquecer a conversa que acabei de ter com os dois. Tudo o que eu precisava era só entender um pouco o que estava acontecendo com Bruno.
— Oi, — Lucão me cumprimentou com um sorriso fechado.
Bruno se virou na minha direção, uma toalha branca pequena enrolada ao redor do pescoço, a camisa de treino colada ao corpo devido ao suor. Não sei porque me senti nervosa, mas esfreguei minhas mãos discretamente uma na outra.
— Oi — cumprimentei-o de volta, devolvendo o sorriso. — Posso roubar o Bruno um pouquinho?
Ele assentiu. Deu um tapinha leve no ombro de Bruno e saiu, me deixando sozinha com ele. Deixei um suspiro escapar dos meus lábios e coloquei as mãos no bolso de trás do short jeans.
— Aconteceu alguma coisa? — ele me perguntou, sua ruga característica de preocupação aparecendo.
— Eu poderia perguntar a mesma coisa — respondi, mexendo os ombros. — Por que os meninos estão me dizendo que você está irritado?
Ele relaxou a expressão, a ruga sumindo. O capitão da seleção limpou o suor do rosto com a toalha, olhando rapidamente para onde eu estava sentada antes, encontrando seus dois colegas de time.
— Ah, é isso — ele disse.
Pisquei meus olhos, levantando as duas sobrancelhas; aquela resposta não bastava para mim.
— Não estou irritado — Bruno continuou, se defendendo. — Só acordei um pouco…
— Bruno, para de me enrolar — reclamei, agoniada com a sua demora de responder.
Ele bufou; uma coisa que raramente fazia.
Passou o pano pelo rosto de novo e relaxou os seus músculos, o rosto baixo, sem olhar para mim. Não tinha ideia do que estava acontecendo, mas se ele conseguia perceber quando eu estava agindo estranho, não era diferente de eu também perceber a sua mudança de humor. De manhã não estava tão evidente; mal prestei atenção em qualquer coisa por causa do sono, mas agora, um pouco mais desperta, minha atenção estava melhor.
— Só estou cansado — ele murmurou, forçando um sorriso para mim que não chegou aos seus olhos.
Respirei fundo e me aproximei um passo, ficando tão perto dele que eu podia sentir a sua respiração na minha pele. Segurei seus braços, apertando seus músculos, obrigando-o a olhar para mim. Quando seus olhos encontraram os meus, sustentei o seu olhar.
— Bruno — murmurei. — Nossa amizade é uma via de mão dupla, certo?
Ele franziu a testa, confuso.
— Sim? — respondeu, em tom de pergunta, meio incerto.
— Você cuida de mim o tempo todo. Às vezes, só quero cuidar de você um pouquinho também. O que está acontecendo? — questionei, investigando. — Você está estranho.
Ele soltou o ar pelo nariz e pousou uma mão na base da minha cintura.
— Como você disse, isso aqui é uma via de mão dupla — ele apontou para nós dois. — Você também cuida de mim, .
Deixei a frustração escapar em forma de suspiro e tirei as mãos do bolso, espalmando-a no peito dele, sentindo o seu suor grudado no uniforme de treino. Ainda perturbada pela conversa com Alan e Lucarelli, a pergunta escapou da minha boca antes que eu tivesse a chance de frear.
— Lucarelli acha que você está irritado porque está com ciúme. Mas isso não faz sentido, certo?
Sua mandíbula travou e seu peito subiu e desceu em uma respiração lenta.
— Por que eu teria ciúme? — ele rebateu, a voz baixa.
— Eu…
— Você sabe que é livre para ficar com quem quiser, certo? — continuou.
Abri a boca para responder, mas não saiu nada. Encarei o seu rosto, em busca de algo que me fizesse entender porque ele estava dizendo aquilo de repente; não encontrei nada além de uma expressão suavizada e olhos castanhos escuros me fitando com intensidade. Seus dedos queimaram em contato com a minha pele na base da minha cintura.
— Do que você está falando, Bruno?
— Só estou dizendo que se quiser ficar com mais alguém do time, você é livre para fazer isso.
Senti meu corpo inteiro tensionar.
— Você está falando sério? — disparei, a voz contida em uma pequena irritação.
Mas que porra estava acontecendo ali? Ele não gostava sequer da ideia de me ver saindo com ninguém de seleção nenhuma, muito menos com alguém que dividia um posto dentro do próprio time. Ele nunca me impedia, claro, mas isso não significava que ele gostava. E eu não entendia aquilo como ciúmes; era mais um acordo silencioso que nós tínhamos. Nunca ficar com alguém que era nosso conhecido em comum.
Mesmo assim, nunca fiquei com ninguém além de Bruno. Nunca senti vontade. E não achava que aquilo mudaria no momento.
Ele percebeu a minha mudança e alisou minha cintura por cima do pano da minha camisa.
— Só não quero que você se sinta impedida de fazer qualquer coisa por minha causa — ele explicou, virando o rosto na direção da arquibancada, onde eu estava sentada antes e onde os meninos ainda estão.
Quando seu olhar pousou em Lucarelli, as peças do quebra cabeça começaram a se juntar e fazer sentido. Tracei uma linha do tempo e percebi que meu comentário no evento de Thiaguinho deve ter feito ele confundir as coisas.
— Ah, entendi, certo — dei duas batidinhas contra seu peito e suspirei, afastando a irritação, fazendo-o me encarar de volta. — Você acha que eu tenho vontade de ficar com o Lucarelli ou algo assim?
Ele não respondeu imediatamente, mas seu silêncio já me dava um indicativo de qual seria a sua resposta.
— Você não devia ter levado o meu comentário a sério.
Ele levantou uma sobrancelha pra mim.
— Você disse que transaria com ele, se isso não fosse estranho. Como queria que eu entendesse as coisas? — Bruno rebateu.
— Como uma brincadeira? — respondi com tom de pergunta retórica, porque era bem óbvio. — Conheço o Luca há tanto tempo quanto conheço você. Nós somos apenas amigos.
Ele encolheu um ombro.
— Nós também somos — retrucou, com a voz calma. — E olha só como estamos agora.
Seus olhos apontaram para os nossos corpos próximos um do outro, em pleno ginásio, aos olhos de qualquer um que já sabia sobre nosso caso. Um argumento muito bom, mas que podia ser rebatido.
— Ok, mas isso não significa que eu transo com todos os meus amigos — expliquei.
Ele soltou outro suspiro, percebendo como sua frase deve ter soado como uma sugestão ofensiva. Não que eu tenha me ofendido; conhecia ele o suficiente para saber suas intenções, me magoar intencionalmente não é uma delas.
— Eu sei, eu só…
— Eu disse que seria estranho porque considero o Lucarelli como um irmão — comecei a explicar. — E ele também me considera da mesma forma. Não tenho intenção nenhuma de ficar com seus amigos.
— Que também são seus.
— Só alguns deles — concordei.
Ele riu, o que me deixou mais tranquila. Eu queria muito evitar outra discussão e desentendimento. Não ficaria um clima muito agradável se nós dois começássemos a nos estranhar agora, viajando juntos entre países e fases da Liga das Nações.
— Ok, eu admito que agi como um idiota?
Levantei um ombro, piscando os meus olhos.
— Bem, dizem que as pessoas agem assim mesmo quando estão com ciúmes — provoquei, recebendo um peteleco levemente no nariz.
Ele me abraçou e devolvi o contato físico, mesmo com ele suado. Quando meu celular começou a vibrar no bolso, me afastei dele e peguei o aparelho, verificando a janela de notificações.
— É sua mãe — avisei a Bruno, mostrando a tela para ele. — Está nos convidando para um almoço em Campinas antes de irmos embora.
— Recebi a mesma mensagem de Aline — ele disse. — Você não precisa ir, se não quiser.
Eu sabia quais eram as intenções da mãe dele, mas não me importava. Depois de um certo momento, comecei a levar tudo na brincadeira.
— E recusar um convite da Dona Vera? — Lancei um olhar para ele, indicando que não era uma opção. — Nem pensar!
Ele gemeu, deixando os ombros caírem em uma derrota bem clara, cravada pelo meu comentário decidido.
— Ela vai encher tanto o meu saco por sua causa — reclamou.
Comecei a rir e voltei a abraçá-lo, nem um pouco compadecida com o seu sofrimento. Ele já era grande o suficiente para lidar com a própria mãe.
🏐
mais tarde no mesmo dia
local desconhecido - São Paulo
— Posso te pagar uma bebida?
Me virei na direção da voz masculina ao meu lado, encontrando um cara que eu nunca vi. Ele estava segurando um copo na mão esquerda, um sorriso meio estranho no rosto e seus olhos não paravam de me encarar, esperando por uma resposta.
— Ah, não, obrigada — recusei, forçando um sorriso nos lábios.
Continuei ali, esperando o barman entregar as minhas bebidas. Leal, Leandro e Bruno estavam perto do palco, em uma área segura de fãs e pessoas que poderiam reconhecê-los facilmente. A voz da dupla sertaneja Maiara e Maraisa tocavam ao fundo, em contraste com a multidão presente e animada.
— Você está acompanhada? — O homem insistiu.
Cocei minha bochecha, acostumada com abordagens inoportunas de homens insistentes. Comecei a desejar que o barman não demorasse muito mais, ansiosa para dar o fora dali e me enfiar dentro da área VIP com os meninos. Eu não estava nem um pouco a fim de lidar com homens que não gostavam de ouvir um “não”.
— Na verdade, sim — respondi, sem ter escolha.
Olhei para o bar, procurando pelo barman que deveria vir me entregar o meu pedido. Tinham sido somente dois copos de whisky puro, um sem gelo e outro com. Estávamos ali há quase duas horas e eu não tinha bebido o suficiente para me sentir bêbada; mesmo assim, podia sentir o álcool na minha corrente sanguínea, me privando de ter pensamentos muito claros sobre qualquer coisa.
O homem continuou me encarando, seu olhar queimando a minha nuca de um jeito muito desconfortável. Quando voltei a olhá-lo novamente, ele levou o copo até a boca, bebendo um gole de seja lá o que estivesse bebendo.
— Você parece familiar — ele disse.
Contive um suspiro; eu ouvia muito aquilo, claro, e pessoas que costumavam acompanhar esportes acabavam me reconhecendo, mas eu não tinha muita certeza se aquele cara era o tipo de pessoa que assistia a qualquer esporte, com exceção do futebol. Forcei outro sorriso sem graça, sem a menor intenção de responder e quase respirei de alívio quando o barman finalmente apareceu com meus dois copos de bebida.
— Aqui.
— Muito obrigada — murmurei, pegando os dois copos com cuidado.
Me virei para seguir o lado oposto do que o homem estava; fiquei esperando para saber se ele ia continuar sendo inconveniente e me seguir ou algo do tipo, mas quando olhei para trás, ele escolheu ser inoportuno com outra pobre mulher, que estava do outro lado, bebendo sozinha.
Deixei meus ombros caírem, mais relaxada, e continuei seguindo o meu caminho, desviando de pessoas dançando, bêbadas e agitadas. Eu mal consegui chegar até a área VIP, quando Leal me interceptou.
— Ah, encontrei você! — ele exclamou, menos bêbado e mais sociável do que eu. — Por que não bebemos um pouco juntos no bar?
Estranhei a sua pergunta, levantando as duas sobrancelhas na sua direção. Havia um sorriso estranho no rosto dele, que eu não conseguia decifrar. Nós dois estávamos parado perto de um corredor, pouco próximo da pista, mas fora do caminho dos outros.
— Acabei de lidar com um cara inconveniente — respondi. — Não estou a fim de lidar com cantadas e flertes ridículos.
Ele riu e balançou a cabeça, pegando um dos copos de bebida da minha mão, já que eu estava buscando para ele mesmo. A outra era para Leandro.
— Ninguém vai mexer com você, eu prometo — ele garantiu.
— Tudo bem — concordei, por fim. — Mas ainda preciso entregar a bebida de Leandro. Eu te encontro no bar.
Tentei passar por ele, mas Leal segurou meu braço com uma rapidez impressionante, a força derrubando o copo da minha outra mão, sujando um pouco do meu vestido. Um som de surpresa escapou da minha boca, cacos de vidros se espalhando no chão ao redor dos meus pés.
— Caralho, Leal! — reclamei do estrago, me sentindo mais alterada do que eu estava, passando as mãos ao redor do meu vestido, onde a bebida molhou. O cheiro forte e característico do whisky impregnou em mim. — O que deu em você?
Ele olhou para mim com uma expressão culpada e arrependida.
— Desculpa, — murmurou. — Não foi a minha intenção. O Leandro pode pegar a própria bebida, não se preocupe.
Respirei fundo, decidindo que não valia a pena me irritar.
— Vou ao banheiro.
Me afastei mais rápido dessa vez, impedindo-o de me puxar de novo. Me movi através do mar de pessoas amontoadas e tentei enxergar o corredor do banheiro, mas para chegar até ele, eu passava pela área VIP. Mesmo que as pessoas não conseguissem entrar sem ter o acesso permitido, ainda dava para observar muita coisa dali. Principalmente ter a visão lateral do palco e de quem estava cantando.
Eu estava prestes a seguir o meu caminho, mas meus pés cravaram no chão. Senti a minha boca secar e meu coração acelerou mais do que o normal quando meus olhos pararam em Bruno e… alguém abraçando-o. Normalmente, era uma visão comum. Pessoas se abraçavam o tempo todo e, a julgar pela área que ele estava, deveria ser alguma conhecida cumprimentando-o.
Mas minha teoria caiu por terra quando os dois se beijaram. Me aproximei o suficiente para reconhecer que era a ex-bbb Kalimann alguma coisa e entendi a atitude de Leal. Ele estava tentando me impedir de voltar e me deparar com aquela cena.
— Merda.
Alguém murmurou atrás de mim e me virei, me deparando com Leal. O tom tenso da sua voz confirmou as minhas suspeitas, mas eu não disse nada quando seus olhos desviaram de Bruno para mim. Minhas mãos tremiam e meus pensamentos se bagunçaram; peguei o copo da mão de Leal e revirei todo o conteúdo, sentindo o líquido queimar a minha garganta, mesmo que eu estivesse acostumada com o conteúdo da bebida.
— …
Levantei um dedo indicador, balançando a cabeça, empurrando o copo de volta para ele, limpando o canto da minha boca com a costa da mão.
— Não.
Minhas mãos não pararam de tremer. As vozes das cantoras sertanejas chegavam até mim e tudo o que eu queria era me afundar em algum lugar. Meus olhos lacrimejaram e, só para me maltratar um pouco mais com a visão, virei o rosto o suficiente para flagrar meu melhor amigo e a ex-bbb rindo juntos, próximos demais um do outro. Eu me sentia uma completa idiota por estar reagindo daquela maneira; o acordo não tornava ele exclusivo para mim. Bruno ainda era livre para ficar com quem bem entendesse e quisesse, mas… só, porra.
Sabendo que Leal me seguiria, voltei para o bar e pedi outra dose ao barman. Ele me atendeu mais rápido dessa vez e virei tudo, pedindo outra e mais outra e mais outra, até Leal aparecer ao meu lado e segurar a minha mão, me impedindo de virar mais um copo. Àquela altura, eu já estava bêbada o suficiente para nublar meus sentimentos, mas a visão continuava vívida na minha memória.
— Vou te levar para casa — ele disse.
Eu não tinha forças para protestar, mas tentei.
— Não. Eu não…
Ele empurrou o copo cheio de volta para o barman. O sorriso simpático do homem me fez perceber que eu estava começando a exagerar e deveria aceitar a oferta de Leal. Ele estava bem mais sóbrio do que eu agora.
— Vou te levar para casa — Leal repetiu, com mais firmeza, sem deixar espaço para protesto da minha parte. — Vem.
Aceitei a sua ajuda e desci do banco do bar, sentindo sua mão me guiar pela cintura, abrindo caminho entre as pessoas. Alguma coisa em mim doía. As vozes se misturavam uma à outra. Estava calor demais e comecei a ficar enjoada, mas a sensação melhorou quando eu e Leal conseguimos chegar ao lado de fora e o vento gélido soprou contra o meu rosto e, sem esperar, meu corpo se curvou sozinho na calçada e vomitei tudo. A mão de Leal continuava na minha cintura e não vi o momento em que ele conseguiu chamar um táxi; o carro apareceu na nossa frente e eu entrei, ele entrando logo depois, nós dois no banco passageiro da parte de trás.
— Beba um pouco.
Não sei o momento em que ele conseguiu uma garrafa de água também; estava totalmente alheia aos detalhes ao meu redor, mas aceitei e bebi alguns goles.
— Obrigada — murmurei, quase sem voz.
Então, inesperadamente, comecei a chorar. Não um choro compulsivo, mas um silencioso, as lágrimas descendo sem que eu percebesse. O álcool na minha veia não me deixava processar com clareza que porra eu estava sentindo e como deixei tudo aquilo acumular até ver os dois juntos.
Eu não conseguia entender o que estava diferente agora. Já soube e já vi Bruno ficando com outras pessoas antes; constantemente, ele estava morando na Itália, quando precisava jogar pela equipe italiana de vôlei, enquanto eu continuava no Brasil, morando no Maranhão. A distância era o fator que nos fazia ficar meses sem ver um ao outro pessoalmente. Era normal nós dois ficarmos com outras pessoas nesses períodos, então não deveria me afetar.
— Me desculpa — murmurei para Leal. — Eu me sinto tão idiota.
Ele não era obrigado a ficar cuidando de mim naquele momento, no entanto, desde que vi Bruno com Kalimann, ele não saiu do meu lado. Talvez com medo demais de que eu fizesse alguma coisa, mas o que eu faria?
— Ei, você não é idiota! — ele protestou, deixando que eu deitasse meu rosto em seu ombro. Ele me abraçou desajeitadamente. — Está tudo bem.
Não estava, mas foi gentil da parte dele dizer aquilo.
— Isso é tão clichê, não é? — Umedeci meus lábios, limpando meu rosto com uma mão só. Eu esperava conseguir esquecer um pouco dessa noite amanhã pela manhã, consequência do álcool.
— O quê? — ele disse. — Se apaixonar pelo seu melhor amigo?
Engoli a seco, meio surpresa com o que ele tinha dito. Leal pareceu ter sentido que meu corpo ficou rígido de repente, porque continuou falando:
— Acho que está na hora de parar de se enganar, — sugeriu, um tom gentil na voz. — Ou você vai acabar se machucando. O que você viu hoje é só uma amostra do quanto isso pode te destruir.
Levantei o rosto, me afastando do ombro dele. Meu peito subia e descia em uma respiração desregulada, a mente acelerada demais para eu conseguir pensar em alguma coisa no meio de tanta informação. Parecia que havia um quebra cabeça de mil peças deixada de lado por falta de percepção de onde elas deveriam estar e só agora eu conseguia encaixá-las.
— O quê? Eu não…
— Você não se sentiria tão afetada com o que viu se não amasse aquele cara — ele me interrompeu, as sobrancelhas erguidas. — Você sabe que eu estou certo.
Dizem que o que os olhos não veem, o coração não sente, certo?
Mas eu tinha visto. E meu coração tinha sentido. E não encontrei argumentos para rebater o seu comentário, porque ele estava certo.
Porra. Ele estava muito certo.
Continua...
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Nota da autora: Olá para você que chegou até aqui! Estou muito feliz que finalmente consegui tirar esse casal de Sexto Set do papel para dar mais uma história digna aos dois, porque até eu fiquei com gostinho de quero mais depois de ter escrito aquela oneshot hot. A Liga das Nações veio com tudo, me inspirando para finalmente dar o pontapé inicial que eu estava esperando para presentear vocês com mais um pouco de Bruninho, então, cá estamos HAHAHA espero que gostem e embarquem nessa loucura comigo! Um beijo e até a próxima e não esqueçam de deixar suas opiniões na caixinha de comentários! <3 <3