Capítulo 1
— Você precisa tentar pelo menos um ano querido… é o que diz aí.
Bomi, a mãe lhe deu alguns tapinhas nas costas enquanto apontava para as folhas dispostas sobre a mesa na frente de .
Ele piscou os olhos diversas vezes, enquanto os presentes no recinto o observavam em silêncio.
— A hal-abeoji não tinha como ter me deixado de herança algo menos… — Ele pareceu pensar nas palavras — Intenso? Nós nem tínhamos uma convivência diária.
— Sua avó era uma mulher muito generosa, querido, e ela certamente viu potencial em você para lhe deixar a casa de chás como herança . Você deveria ser grato, essa casa de chá é uma tradição da família e ajudou a sua avó a nos criar, eu e seus tios.
olhou para os papéis mais uma vez, sentindo o peso daquela situação. Ele nunca tivera uma relação próxima com sua avó e, para ser honesto, não fazia ideia de como tocar um negócio como uma casa de chá. O nome soava bonito, mas ele sabia que, na prática, não passava de um lugar pequeno, antigo e malcuidado, que mal conseguia manter os poucos clientes regulares.
Além disso, o próprio empreendimento em que ele vinha trabalhando há anos já não estava na melhor fase. Os últimos meses tinham sido difíceis para ele e sua equipe, com projetos estagnados, despesas em alta e a constante pressão de reverter os números. Ele mal conseguia se imaginar dedicando tempo e esforço para algo que era tão distante de sua realidade, um negócio tradicional que parecia ter saído de outra época e que, sinceramente, não tinha o menor apelo para ele. “Um ano… como vou manter essa casa de chá de pé por um ano?”, ele se perguntou, o estômago se apertando com a ideia. Não fazia ideia de onde começar ou como atrair mais clientes para um lugar que mal conhecia.
suspirou fundo, voltando os olhos para o testamento sobre a mesa. As palavras da avó estavam ali, de forma direta e sem rodeios: ele teria que manter a casa de chá funcionando por pelo menos um ano. Apenas depois disso, caso desejasse, poderia vendê-la. Ele leu a cláusula mais uma vez, como se procurasse uma brecha, algo que pudesse alterar aquele plano e o livrasse do compromisso. Mas não havia escapatória.
Em seguida, ele pegou as folhas do contrato de aquisição da casa de chá. O papel já começava a amarelar nas bordas, e as letras finas e firmes da assinatura de sua avó pareciam relembrá-lo de seu olhar determinado. percorreu os olhos pelas cláusulas, detalhando a transferência do imóvel e as condições de manutenção. Sentiu o peso da responsabilidade crescer a cada linha lida.
A ideia de abrir mão de seu próprio negócio — que já estava em uma situação delicada — para salvar um outro empreendimento, tradicional e decadente, parecia insana. Mesmo assim, algo o prendia ali. Talvez fosse o olhar de sua mãe, esperançosa de que ele preservasse uma parte da história da família.
Ele soltou o ar lentamente, encarando as folhas em suas mãos e perguntando-se se aquele ano realmente traria o fim da casa de chá — ou se, quem sabe, mudaria algo em sua vida também.
bufou, largando as folhas sobre a mesa com um certo desdém. Pegou a caneta e girou-a entre os dedos, lançando um olhar frustrado para sua mãe, que apenas lhe respondeu com um sorriso encorajador. Ele soltou mais um suspiro pesado, balançando a cabeça.
— Tá bom… vamos acabar logo com isso, já que eu não tenho escolhas mesmo — murmurou, mais para si do que para qualquer outra pessoa. — Um ano. Só um ano… — repetiu, tentando se convencer de que seria algo rápido.
Ele pressionou a caneta contra o papel, assinando de forma decidida, mas com uma ponta de ressentimento. Feito isso, empurrou as folhas para o lado, cruzando os braços e se recostando na cadeira. Sentia-se exausto só de pensar no que viria pela frente.
***
caminhava ao lado da mãe pelas movimentadas ruas de Seul, o paletó dobrado sobre o braço, tentando se acostumar com a ideia que acabara de aceitar. A cidade estava viva como sempre, cheia de ruídos e pressa, mas seu pensamento estava longe, preso na casa de chá que em breve veria com outros olhos — agora como seu novo e incômodo fardo.
Bomi caminhava a seu lado com um sorriso discreto, aproveitando aquele raro momento em que ele parecia mais próximo do que o usual. Quando as ruas largas deram lugar a uma viela mais estreita e tranquila, as construções modernas ficaram para trás, e pequenas casas e comércios tradicionais surgiram, trazendo um ar acolhedor e nostálgico.
Depois de alguns minutos, eles pararam em frente a um prédio antigo, com telhados tradicionais e uma pequena placa desgastada que dizia “Casa de Chá Seonghwa.” observou o local em silêncio, notando os detalhes envelhecidos da fachada e as marcas do tempo. Não era nada grandioso, mas havia um certo charme na simplicidade do lugar.
— Aqui estamos — disse Bomi, interrompendo seus pensamentos. Ela puxou um chaveiro do bolso e estendeu a chave para ele, sorrindo. — A partir de hoje, é sua responsabilidade, .
Ele pegou a chave com uma expressão indefinida, encarando o metal frio em sua mão. Esse simples objeto agora simbolizava o peso de uma tradição que ele mal conhecia. Com um suspiro resignado, ele olhou para a mãe, que lhe deu um aceno incentivador, antes de se virar para a entrada da casa de chá. Era o começo de um caminho que ele jamais esperou trilhar.
enfiou a chave na fechadura, hesitando por um momento antes de girá-la. A fechadura rangeu e a porta se abriu lentamente, revelando o interior da casa de chá. Ele entrou no local, seguido de perto por sua mãe, e procurou o interruptor. Ao acender as luzes, uma claridade suave iluminou o espaço.
Ele deu alguns passos à frente, deixando o olhar vagar pelo salão silencioso e nostálgico. As mesas baixas de madeira escura, as almofadas simples, as luminárias de papel, tudo parecia como uma pintura que havia parado no tempo. Havia prateleiras decoradas com pequenos potes de chá e chaleiras tradicionais, uma coleção de xícaras artesanais e alguns objetos que provavelmente pertenciam à sua avó.
O ar carregava um leve aroma de ervas e madeira, uma fragrância que parecia ter impregnado o lugar ao longo dos anos. não sabia exatamente o que sentia; era um misto de desconforto e fascínio, uma sensação de estar em território desconhecido, mas que de algum modo o atraía.
Ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos enquanto observava o ambiente. Tentava imaginar o que sua avó havia visto ali, o que a fizera dedicar a vida àquele lugar. O silêncio parecia esperar por ele, como se o local aguardasse sua decisão de fazer algo novo ou simplesmente deixá-lo definhar.
Ele caminhou lentamente, passando os olhos pelos detalhes da decoração. Uma estante de madeira desgastada estava repleta de potes de cerâmica, cada um etiquetado com nomes de ervas e misturas que ele mal reconhecia. Suas mãos instintivamente tocaram a borda de uma chaleira de ferro, o metal frio e pesado em contraste com o ambiente delicado ao redor.
Ao lado, pequenas xícaras de cerâmica pintadas à mão estavam dispostas cuidadosamente, como se aguardassem silenciosamente o próximo chá a ser servido. Ele passou o dedo pela borda de uma delas, sentindo a suavidade da superfície. Observou as luminárias de papel penduradas no teto, cujas luzes difusas lançavam sombras suaves, criando uma atmosfera quase etérea.
Cada canto do lugar parecia carregado de memórias, como se sua avó ainda estivesse ali, guiando cada detalhe. sentiu um leve aperto no peito ao perceber o cuidado que ela tivera com tudo aquilo. Ele se perguntou se, algum dia, seria capaz de entender o valor desse lugar da forma que ela parecia entender. Por ora, só o que enxergava era um peso e uma incerteza que ele ainda não sabia como carregar.
suspirou e deu uma última olhada ao redor. Passou as mãos pelos bolsos, como se ainda procurasse algo ali dentro que pudesse magicamente resolver a situação. Sabendo que não era o caso, apagou as luzes e fechou a porta atrás de si, girando a chave com um leve rangido que ecoou pela viela silenciosa. Quando se virou, encontrou a mãe parada do lado de fora, esperando pacientemente. O sorriso suave em seu rosto contrastava com a expressão carregada de .
— É um pouco… opressor, não é? — ele murmurou, enfiando as mãos nos bolsos, sem saber exatamente como descrever o que sentia.
Bomi assentiu com compreensão, dando-lhe um leve aperto no ombro.
— Eu sei que parece muita coisa agora, mas tudo bem, . Você não precisa fazer tudo de uma vez. — Ela afagou seu braço, num gesto reconfortante. — Sua avó também começou sem saber muita coisa, sabia? Ela aprendeu devagar, com o tempo… e eu sei que você é capaz de fazer o mesmo.
soltou um riso sem humor, balançando a cabeça.
— Acho que hal-abeoji tinha uma ideia exagerada de quem eu sou. Não faço ideia de como tocar um lugar desses, mãe. Já tenho problemas o suficiente no meu próprio negócio…
Bomi o olhou com ternura e se aproximou mais, segurando suas mãos com delicadeza.
— Ela te conhecia mais do que você pensa, . E, mesmo que não seja fácil, talvez isso te faça ver as coisas de outra forma… Talvez te faça descobrir algo novo, quem sabe? — disse ela, sorrindo com uma confiança tranquila que parecia acalmá-lo, ao menos um pouco.
Ele soltou um suspiro longo, encarando a fachada da casa de chá por um momento antes de olhar novamente para a mãe.
— Bom, acho que só me resta tentar.
ajeitou o paletó no braço e suspirou, lançando um último olhar para a casa de chá antes de se virar para a mãe.
— Vou te deixar em casa — disse ele, tentando soar firme, como se aquilo fosse apenas mais uma tarefa a ser feita.
Bomi assentiu com um sorriso leve, e os dois começaram a caminhar. O trajeto foi silencioso, ambos envolvidos em seus próprios pensamentos. sentia o peso da responsabilidade pulsando a cada passo, enquanto sua mãe o acompanhava com uma presença tranquila e reconfortante.
Quando finalmente chegaram à porta do apartamento dela, Bomi parou e se virou para ele, os olhos brilhando de um jeito suave.
— Entra, meu filho… — convidou ela, a voz baixa e calorosa, mas com uma nota de preocupação que ele não pôde ignorar.
hesitou, olhando para o chão e mexendo nos punhos da camisa. Não queria mostrar fraqueza, nem admitir que precisava de ajuda. Mas antes que ele pudesse encontrar uma desculpa para recusar, a mãe deu um passo à frente e segurou sua mão com carinho.
— Acho que temos muita coisa para conversar, querido — disse ela, os olhos cheios de compreensão e afeto. — Ficaria muito feliz se você me deixasse tentar consertar as coisas, juntos.
a encarou por um momento, sentindo o peso daquela oferta sincera. Um nó em sua garganta o impedia de responder, mas, de algum modo, a presença dela ali o fazia sentir que talvez, só talvez, ele pudesse encontrar uma saída. Com um aceno silencioso, ele aceitou o convite e entrou na casa dela, abrindo caminho para uma conversa que poderia mudar o rumo das coisas.
Continua...
Encontrou algum erro de script na história? Me mande um e-mail ou entre em contato com o CAA.
Nota da autora: Não se esqueça de me dizer o que achou desse início hein?