Aparatei em meu quarto, ainda sentindo o coração batendo forte em meu peito, minha boca seca e mãos suando.
Tudo parecia rodar ao meu redor e algo não estava certo.
Sentei na cama ainda sentindo meus lábios formigarem e em todo lugar que as mãos de George tocaram estavam quentes.
Aquilo parecia um sonho, ou um pesadelo, como se não tivesse realmente acontecido e, Deus, eu não estava preparada para aquilo.
Primeiro o pedido estranho dele, depois o gloss e o beijo. O beijo.
George Weasley havia me beijado.
Meu coração ainda parecia estar em minha garganta, tão forte que zumbia em meus ouvidos e pareci me afetar ainda mais lembrando que por fim, eu havia o beijado. Eu havia segurado seu rosto e unido nossos lábios feito uma louca. Porém, a sensação da sua boca na minha, da sua língua em minha boca e das suas mãos passeando por meu corpo me faziam arrepiar só de lembrar.
George Weasley havia plantado algo em minha mente que seria difícil esquecer.
Mas o que diabos estava passando pela cabeça dele quando pensou que isto seria uma boa ideia?!
Eu não conseguia raciocinar direito, não conseguia respirar direito, como se minha mente estivesse quebrada e tudo que eu conseguisse fazer fosse rebobinar.
Rebobinar para o momento em que George aprofundou o beijo e eu percebi que queria aquilo, que eu sonhava com aquilo havia meses. Que nada havia me preparado para aquilo e ao mesmo tempo, era tudo que eu estava esperando.
Fui até a cozinha e tomei um copo d’água, ainda respirando como se tivesse corrido uma maratona, minha cabeça zumbia como uma caixa de abelhas e a meus lábios ainda formigavam.
Deus, o que eu vou fazer agora?
Não sei quanto tempo fiquei parada na cozinha, segurando o copo e olhando para as petúnias de vovó sobre a mesa. Quanto mais meu cérebro repetia a cena, mais improvável e maluco tudo aquilo parecia. Não foi real, foi? E por que é que eu não conseguia sentir como se aquilo fosse uma situação triste?
Finalmente percebi que meus lábios se repuxavam em um sorriso, vez ou outra e então eu me lembrava que tudo aquilo era completamente surreal e eu não podia me dar ao luxo de ficar feliz em uma situação daquelas.
Eu precisava falar com alguém.
Eu provavelmente falaria com minha avó se ela estivesse viva.
Talvez com Gina, se ela não estivesse com um bebê de poucos meses para cuidar.
Hermione estava prestes a se casar e não seria eu que iria incomodá-la com algo tão banal quanto um beijo.
Para mim, não era banal. Mas eu sabia que outras pessoas tinham problemas e dificuldades maiores para se preocupar.
E então, percebi sozinha que iria ter que tirar o curativo sozinha: teria que conversar com Angelina.
A sensação ruim na boca do estômago me fez quase ter vertigens, porém, antes que eu pudesse sequer pensar em aparatar para a casa de Angie, ouvi um estalo seco na varanda de minha casa.
Era uma casa pequena e confortável, que ainda estou trabalhando para deixar com a minha cara, todas as paredes eram de madeira e a casa cheirava um pouco à tinta fresca. Na sala havia um sofá confortável azul marinho, uma estante de madeira com uma TV e um tocador de fita K7 e o piano de meu pai, as paredes eram de um amarelo claro que eu amava. Ali ficava também a porta de entrada da casa que dava para a varanda. Além bateu na porta e eu segui até lá finalizando a água que esquentava em minhas mãos em um só gole.
– Achei que tivesse dito para não vir atrás de mim. – Era George, ele estava com uma roupa diferente, como se tivesse tomado banho antes de vir. Como se pudesse lavar a culpa que estava em seus ombros agora.
– , será que a gente pode conversar? – Seus olhos carregavam culpa, ligeiramente arregalados e até um pouco brilhantes demais.
– Não, George. Não podemos, eu preciso de um tempo sozinha, eu preciso tomar um banho, preciso entender o que aconteceu.
– Me deixa...
– Não, Weasley. Não. Você sabe o que essa palavra significa? – Eu sentia minha garganta embolando, sentia meu mundo desmoronando e eu não queria fazer aquilo na frente dele.
Eu não podia deixar meus sentimentos vencerem dessa vez, dizer não a George era como retirar o pirulito de uma criança muito feliz, mas eu precisava ser forte.
– , por favor. – Ele deu um passo para frente e eu dei um passo para trás por instinto, eu precisava urgentemente me afastar dele, aquilo ali não ia terminar bem.
Seus olhos suplicavam, sua voz estava tão embolada e triste quanto a minha, as mãos unidas em sua frente em um pedido desesperado me faziam querer ceder.
Merda.
Tudo em relação à George Weasley me deixava fraca.
Nunca achei, em toda a minha vida, que eu fosse ter qualquer tipo de relação com ele que não fosse além de amizade profunda e verdadeira, mas as coisas mudaram depois do selinho. Uma chave virou e agora não consigo olhá-lo sem perceber seus lábios, seu sorriso bonito e principalmente seus olhos, o seu olhar havia mudado, era mais doce, gentil, ele me olhava nos olhos, e as vezes eu o pegava vagando pelo meu rosto, como se tivesse me admirando. Sempre com um sorrisinho no rosto.
Então vê-lo daquela forma, de alguma maneira me machucava, eu não queria ser o motivo da tristeza dele, assim como não queria que ele fosse motivo da minha tristeza. Sendo assim, cedi.
– Tudo bem. Entra. – suspirei derrotada. Ele não ficou empolgado, apenas assentiu e entrou na sala. – Mas eu realmente preciso tomar um banho.
Eu queria lavar aquela angústia do meu peito, queria fingir que George Weasley não tinha me beijado e que ele não estava agora sentado no meu sofá.
– Obrigado.
Tomei um banho longo, deixei a água lavar meus cabelos e meu corpo, fingi que estava sozinha em casa e levei o tempo que precisei, sem me apressar ou me preocupar com a conversa que viria. Eu realmente precisava esfriar a cabeça, mas saber que ele estava ali não servia muito como um calmante.
Saí do banheiro enrolada em meu roupão, e uma toalha na cabeça, segui para o meu quarto sem olhar para a sala, sem querer dar o braço a torcer de espiá-lo.
Escolhi minhas roupas confortáveis para ficar em casa, uma regata branca, uma calça de moletom e um cardigã felpudo.
George estava sentado no sofá, apoiando os cotovelos em seus joelhos e segurando a cabeça com as mãos, os dedos penetrando nos cabelos e a cabeça baixa, como se estivesse pensando demais em algo. E ele estava.
Eu não queria me sentar ao seu lado, não queria correr o risco de sentir o cheiro da sua pele tão perto de mim de novo. Meus lábios ainda formigavam.
Fiquei de pé, próxima da porta que dava para a cozinha que era separada por uma cortina de contas. Pigarreei.
– Então?
– . – Ele limpou a garganta. – Acho que eu posso começar com um... Me desculpa. Eu não sei aonde estava com a cabeça. Eu sei que estraguei tudo, que foi imprudente e idiota, então, por favor, só me desculpa.
Seu rosto estava virado em minha direção, mas não consegui falar nada, então ele prosseguiu.
– Eu agi por impulso, foi mais forte do que eu e eu não quero que isso estrague o que a gente tem, por favor, me ajuda a não deixar isso estranho entre nós.
Ele se levantou, estava inquieto e eu não confiava o suficiente em mim mesma para ficar próxima dele sem repetir o que tínhamos acabado de fazer. Minha pele se arrepiou sobre o casaco, lembrando das suas mãos grandes e firmes me segurando.
– Eu... Eu não sei se consigo fazer isso, George. Me desculpa.
– Tudo bem, eu entendo. – Sua voz estava magoada e ele olhou para os pés por um instante.
– Eu sei que não tenho moral nenhuma para falar, já que eu te beijei aquele dia lá no aniversário da Gina, mas... Isso foi tão diferente, tão consciente. – expliquei.
– Foi exatamente nesse dia que começou tudo, . Eu estou ficando louco desde esse dia. Você não pode me dizer que não sentiu nada nesse dia, não tem como. Alguma coisa aconteceu lá, eu sei que fiz de tudo para te convencer ao contrário na época, mas foi só porque eu vi que você estava realmente mal.
– O que você está querendo dizer? – Minhas mãos tremiam e tive que escondê-las atrás de mim, enquanto eu notava que os pés de George o traíam e o aproximava de mim.
– Eu quero dizer que algo mudou dentro de mim, . No dia que você me beijou. E desde então, eu não consigo mais te olhar do mesmo jeito, não como amiga.
– Está querendo dizer que a culpa disso tudo é minha? – Aquilo secou minha garganta, me deixou sem ar.
– Não, por Merlin, não é isso que estou dizendo! Acho que isso ia acabar acontecendo mais cedo ou mais tarde.
– O beijo? – minha voz saiu em um sopro baixo.
– A chave virar. E a gente começar a confundir as coisas. – Sua voz era séria, e ressonou dentro de meu peito como um trovão.
Pisquei várias vezes, tentando absorver o que ele havia dito.
– Você... Você estava confundindo as coisas? Estava pensando em mim de alguma outra forma?
George desviou o olhar novamente, passou as mãos pelo cabelo e andou um pouco pela sala antes de parar perto do piano.
Essa era uma informação que eu não tinha certeza se queria realmente saber, aqui podia mudar tudo e podia estragar tudo. Mas a curiosidade estava me matando.
– George?
Ele soltou um suspiro alto e levantou os olhos para mim novamente.
– Eu não sei, . Eu sempre te achei linda, sempre adorei passar tempo contigo e sempre fiz de tudo para defender a nossa amizade. Então eu não sei dizer se estava pensando em você de alguma outra forma. Aquele beijo foi errado, eu sei mas... Não sei, eu fiquei curioso.
– Curioso, George? Caralho! – Minha voz se alterou um pouco. Meu coração queria sair pela boca.
– Ah, , não faz isso comigo! Você também me beijou!
É claro que aquilo iria vir a tona, eu também estava atolada nessa merda até o peito. Sabia que a culpa não era só dele.
Mordi meu lábio inferior pensando no que dizer, George desviou o olhar novamente, passou a mão pelo piano deslizando até as teclas.
– Você também me beijou, você correspondeu ao beijo que eu dei. Você podia ter me empurrado e dado um tapa em minha cara na hora em que o relógio apitou e eu não te larguei, mas não fez.
– Eu... Não sei o que te dizer George, não sei o que estou sentindo e não sei o que você quer de mim. O que você quer de mim?
A confusão de sentimentos em minha cabeça era tão grande, tão perdida e instável que me deixava meio tonta, exatamente como eu me senti quando ele estava me beijando.
– Eu quero que não fique algo estranho entre a gente, sei que foi um erro, sei que você não queria isso, eu só queria poder voltar atrás e não ter feito, mas já que aconteceu, o mais certo agora é fingir que não.
Como ele conseguia formar frases tão completas e certinhas em um momento como aquele? Eu estava embasbacada pelo momento, eu, que sempre tinha as palavras certas na ponta da língua.
E eu estava mentindo. Eu queria aquilo, eu queria aquele beijo, eu queria as suas mãos passeando pelo meu corpo, eu só não conseguia admitir isso, já que ele queria esquecer.
– Você consegue fingir que nada aconteceu? – me peguei perguntando.
– Acho que só vamos saber se tentarmos.
Ele estava lindo, os cabelos não estavam compridos demais, e nem curtos demais, era um meio termo que combinava com ele, nada daquelas franjas arrepiadas para cima que eu detestava.
Usava uma calça jeans que havia se acostumado a usar em ocasiões não formais, uma Levi’s de tingimento tradicional com um leve desgaste nas coxas, uma camiseta de botões verde musgo com um suéter marrom por cima, apenas a gola da blusa aparecia.
– Tudo bem. – falei por fim, finalmente derrotada.
O que eu iria fazer? Me afastar dele para sempre? Me declarar e dizer que tudo que eu fazia agora era pensar nele e que minha vida não tinha cor quando estava longe dele? Que o seu calor me esquentava de maneiras que eu não conseguia explicar em palavras?
Eu não ia fazer George admitir algo pelo qual não sentia. Se ele disse que o beijo foi pura curiosidade, eu vou me contentar com isso. Dei as cartas para que ele se abrisse comigo, se ele não quer isso, não vou ser eu que vou querer. Nossa amizade é mais forte do que um simples beijo.
O problema é que aquele não foi um beijo simples, foi um beijo com camadas e muitas nuances, por exemplo, George não aprofundou o beijo apenas pondo a mão em minha nuca, ele me puxou para perto como se quisesse excluir qualquer espaço que tivesse entre nós. Foi um beijo urgente, um beijo que queria mais do que podia ter. Eu não podia estar louca de pensar que aquele beijo significava muito mais do que realmente era. Eu precisava de uma confirmação.
– Tudo bem? – perguntou ele, e eu pude notar o seu pomo de adão subindo e descendo.
– É, se você acha que vamos conseguir isso, eu vou acreditar.
– Não é uma questão de achar, é uma questão de conseguir. Eu não quero deixar de conversar contigo, ou deixar de conviver contigo, por causa de uma besteira dessas.
Besteira... Aquilo foi realmente uma besteira, uma tolice que apenas George Weasley teria a indecência de tentar. Por fim acho que foi um ato corajoso, ele pôs tudo a prova e no final, não sei se teve os resultados que queria.
Será que George conseguiu confirmar que não sentia nada por mim e preferiu pedir desculpas e voltar a ser como era? Ou será que percebeu a minha reação exagerada e veio pedir desculpas sem nem pensar direito no que aquilo significava?
– Você realmente acha que foi besteira, ou só está dizendo isso para tentar fazer as pazes comigo? – Arrisquei fazer a pergunta que estava me deixando doida.
Eu não era idiota, sabia que haviam sentimentos confusos em relação à George há muito tampo, mas nunca tinha parado para pensar se esses sentimentos eram recíprocos ou não. O que aconteceu antes, junto com a conversa de agora estavam me dizendo que talvez George estivesse tendo o mesmo problema que eu. Uma falha, uma loucura que precisava ser respondida. Talvez ele até tivesse conversado com Ginny e Harry sobre o assunto e a irmã fez o mesmo teatrinho que fez comigo meses atrás.
George levou um tempo para responder, enquanto meu cérebro fritava com mil e uma possibilidades de respostas. Ele se afastou do piano, olhou as cortinas, analisou o tecido azul do sofá com calma antes de pousar os olhos em mim novamente.
Seus olhos castanho-esverdeados desceram e subiram por mim, fazendo minhas bochechas esquentarem e por fim disse:
– Foi uma besteira ter feito daquele jeito.
Ele não respondeu minha pergunta.
– Não foi isso que eu perguntei.
Ele suspirou, passou as mãos pelos cabelos de novo.
– O que você quer de mim, ? Eu já pedi desculpas, já tentei dar uma solução plausível e já admiti que foi um erro meu.
– Eu quero entender o que te levou a fazer isso. – falei com calma, desencostando da parede e indo até a estante.
– Eu já te disse que não sei, . Eu só... A gente já estava ali, não pensei nas consequências.
Não era a resposta que eu queria, ele estava se esquivando. Não queria dar a cara a tapa.
George não teve muitos relacionamentos antes de Angelina, e muito menos relacionamentos depois dela. Eu não sabia como ele era quando estava apaixonado de verdade. Tenho as minhas dúvidas até hoje se em algum momento ele realmente foi perdidamente apaixonado por Angelina, então não estava em minha memória o modo como ele se portava quando estava apaixonado por alguém.
Por um lado, eu gostava da ideia de ele estar apaixonado por mim, porque isso não me faria uma idiota sozinha. Não que eu estivesse realmente apaixonada por ele, mas havia algo ali, eu não tinha mais como negar, não depois daqueles beijos. Mas ele estar apaixonado por mim levantavam questões mais sérias que eu não sei se estava pronta para assumir ou discutir.
Aquilo me deixava com a régua bem curta para boas opções.
Ou eu esquecia tudo, como estávamos ambos dispostos.
Ou eu colocava tudo a perder e voltava a beijá-lo ali mesmo.
Havia tanta coisa em jogo, sua família, nossos amigos, sua ex-namorada, o meu ex-namorado, o que as pessoas iriam pensar e por fim, o mais importante: George queria aquilo?
Bom, ele não pensou se eu queria aquilo quando agarrou minha nuca e aprofundou um beijo que era pra ser meramente um feedback de um produto...
– Me desculpa, . Tá legal? Eu fui um idiota, você foi lá na boa vontade me ajudar e eu caguei com tudo. – Ele se adiantou, sem conseguir esperar minha resposta. – Eu sei que não devia ter feito aquilo, mas eu fiz. Eu sei que não é uma justificativa você ter me beijado de volta e eu não devia ter jogado isso na sua cara.
George Weasley perdeu a fala, porque eu entrei no seu espaço previamente delimitado longe de mim e o beijei.
Não pensei em nada, apaguei tudo que havíamos conversado e uni nossas bocas ficando na ponta dos pés e puxando sua cabeça para baixo com as duas mãos.
O toque dos seus lábios era macio e quente e só percebi nesse momento o quanto eu sentia que precisava daquilo, meu peito parecia ter um dos fogos de artifício de dragão que ele vendia na loja e senti meus pés perderem o chão quando suas mãos envolveram minha cintura ao mesmo tempo em que sua boca abria espaço para minha língua.
Todos os pelos do meu corpo estavam arrepiados quando fechei os olhos e mergulhei de cabeça em todas as sensações, seus cabelos em meus dedos, o seu cheiro cítrico e levemente amadeirado, as suas mãos firmes na altura de minhas costelas e o sabor da sua boca, que eu não fazia ideia do quanto eu já sentia falta.
George não fingiu que não havia gostado da surpresa, soltou um murmúrio baixo de aprovação deslizando suas mãos pelas minhas costas e levou uma delas até minha nuca, separando nossos lábios e descendo seus beijos pelo meu pescoço. Um arrepio percorreu minha espinha ao mesmo tempo em que um gemido escapou por meus lábios quando sua língua tocou a pele sensível de meu pescoço e tudo aconteceu com tanta facilidade que eu sabia que tudo aquilo estava acontecendo por um motivo.
Eu estava apaixonada por George Weasley.
Cada toque seu ecoava em meu corpo feito a badalada de um sino alto, eu não tinha mais como negar as sensações. Sua boca subiu por meu queixo e voltou a colar na minha, nossas línguas se enroscando de volta em um pedido de urgência. Suas mãos voltaram a se prender em minha cintura e, com um movimento delicado, George me empurrou para o sofá.
Separamos nossas bocas na queda porém não deixei que ele falasse nada, puxei seu rosto para mim e ele acabou caindo sobre meu corpo no processo, nos acomodamos no sofá, ele por cima de mim e voltamos a nos beijar com avidez, cada partícula do meu corpo queria senti-lo, o seu cheiro me inebriava e nada mais no mundo parecia querer me parar.
Eu estava completamente apaixonada por George Weasley.
Eu sabia que tinha fugido antes, que aquilo parecia loucura que estar deitada com George por cima de mim não parecia ser uma possibilidade plausível há alguns minutos, mas eu precisava levar em consideração que meu melhor amigo beijava muito bem.
– G, a gente tá fodido. – finalmente quebrei o silêncio que nossos beijos causavam, enquanto ele descia seus lábios por meu queixo novamente.
Ele soltou uma risadinha pelo nariz.
– Cala a boca, . Não estraga.
– Desculpa, foi mais forte do que eu. – Soltei uma risada quando ele levantou o rosto em minha direção, as feições indignadas.
– Vem cá. – Ele puxou minha cabeça e selou nossos lábios. – Agora já foi, não dá mais pra voltar atrás, gastamos todas as fichas de fingir que não gostamos disso.
– Merda, você tem razão.
George se sentou pondo as mãos no rosto, posicionei minhas pernas em seu colo.
– Você está bem? Não tá doente? – perguntou, levando as costas da mão em minha testa. – Admitindo que estou certo, isso vai te fazer desmaiar.
– Há, há, há. Foi engraçado na primeira vez que você fez essa piadoca.
– Para, . Não precisa fingir que não gosta das minhas piadas.
Senti meu rosto esquentar e ele sorriu com a conquista, me sentei erguendo o tronco e ele pôs as mãos sobre minhas pernas.
– Tá bom, e agora como nós ficamos?
– A gente realmente precisa falar sobre isso agora? – perguntou ele, levando sua mão em minha nuca e puxando meu rosto para mais um beijo. Meu estômago revirou em êxtase, levando minha mão até seu peito subindo com calma até seu rosto enquanto, em um movimento rápido, George me puxou para seu colo, suas mãos passeando livres por minhas coxas.
Eu me sentia bem. Me sentia segura em seus braços, seja qual fosse a merda que teríamos que enfrentar, tenho certeza que vai ser mil vezes mais fácil com ele ao meu lado. Por mais que esses beijos não signifiquem grandes coisas, eu sabia que George sempre estaria ao meu lado, do jeito que ele sempre esteve. Não tinha mais como fugir disso.
– Sim. – Separei nossos lábios sorrindo. – Sim, a gente realmente precisa falar sobre isso. Você não veio até aqui para conversar? Mesmo eu pedindo para você não vir?
Ele suspirou alto, jogando a cabeça para trás.
– Aaaaaargh.
– Devia ter pensado nisso antes de me beijar. Agora eu preciso de respostas.
– ... – Ele levou as mãos no rosto que ainda estava jogado para trás. – Eu não consigo me concentrar em nada com você sentada no meu colo.
– Foi você que me puxou para o seu colo, seu otário.
– Eu não achei que você fosse querer abrir uma mesa de diálogo em uma hora dessas.
Soltei uma risada, saindo de seu colo.
– Vem, vou fazer um chá.
Segui para a cozinha e ouvi um novo suspiro alto vindo dele. Coloquei leite para ferver, a chama sendo acesa com um toque de varinha, e separei algumas ervas para fazer o chá, pus o açucareiro no centro da mesa redonda de quatro lugares, onde cada cadeira era de um modelo e de uma cor diferente.
Separei duas canecas, coloquei uma colher de mel em uma das canecas e quando fiquei na ponta dos pés para pegar o potinho de canela em pó, senti a presença de George atrás de mim, alcançando o pote e me entregando, sua mão pousada em minha cintura.
– Nem vem, pode parar.
– O que foi? – Ele riu, cruzando os braços apoiando o quadril na pia.
– Tá dando uma de príncipe encantado pra cima de mim!
Pus uma pitada de canela na caneca que seria a minha.
– Eu só quis ajudar!
– E a sua mão na minha cintura foi o que? Estava perdendo o equilíbrio dos teus dois metros de altura?
Ele soltou uma risada gostosa, daquelas altas e abertas, espiei seu sorriso por um segundo antes de ir tirar o leite do fogão.
– Você está ficando doida, . Se eu soubesse que ia ficar tão afetada assim, não teria te beijado. – Ele me provocou, soltando uma risadinha.
– Por que eu fui corresponder à isso? – Pus o leite nas ervas que havia separado, deixando infusionar e peguei um pote com creme.
Eu não precisava perguntar a ele como ele queria o chá, eu sabia exatamente o que ele gostava, amargo e cremoso.
– Porque eu sou irresistível e você já sabe disso.
– Você é irresistível? George, você nem estava conseguindo formar uma frase enquanto eu estava sentada no seu colo. – bati o creme com uma colherinha e pus uma pitada de gengibre.
– Mas aí é golpe baixo! Não conta.
Soltei uma risada e ele acompanhou, peguei o leite infusionado e misturei em cada caneca a sua maneira. Levei as duas até a mesa e me sentei, colocando a sua caneca na frente da cadeira que eu queria que ele sentasse, de frente para mim.
– E então? – perguntou ele, bebendo o líquido e lambendo o “bigode” de creme que ficou em seu lábio superior.
– Será que podemos tentar entender o que está acontecendo e como vamos lidar com isso?
Ele sorriu.
– Eu tinha me esquecido de como você é mandona. – Ele costumava detestar isso em mim.
– George, é sério. Eu praticamente tive uma crise de pânico hoje, eu preciso que as coisas fiquem resolvidas entre nós. – Bebi um gole do meu chá, me sentindo imediatamente aquecida pelo mel e a canela que faziam parte da mistura.
– Tudo bem, desculpe. – Ele bebeu mais um gole do seu chá. – Olha, eu preciso ser sincero com você sobre algumas coisas, eu fui conversar com Angelina há alguns meses.
Meu coração disparou e eu me afoguei com o chá que estava em minha boca no momento, dei algumas tossidas e ele esperou eu me recuperar para continuar.
– Ela está realmente tranquila com o fato de que eu podia estar sentindo algo diferente por você, ela está muito bem com Oliver e muito convencida de que deveríamos ser um casal. Então, acho que você deveria ir falar com ela antes de qualquer coisa, ela vai ficar feliz de saber o seu ponto de vista, ela é sua melhor amiga...
Segurei minha caneca com as duas mãos, deixando o calor me aquecer de algum modo. Ele tinha ido conversar com Angelina sobre... nós?
Aquilo era sério de uma maneira que eu não esperava, e extremamente fofo de sua parte, afinal ele é ex-namorado dela.
– V-você foi falar com ela? – Mesmo assim, minha voz falhou ligeiramente esganiçada.
– É claro! Eu precisava conversar com alguém, você estava fora de questão e eu sei que Lee é meu melhor amigo, mas Lee é meio sem noção, ele nunca namorou ninguém sério.
Aquilo me mostrava o quão desesperado George ficou com esse assunto.
– Uau – suspirei levando minha caneca até a boca. – Mais alguma coisa que eu deva saber?
– Sim, Neville está caidinho por você. Mas ele não vai fazer nada quanto a isso porque sabe que você está caidinha por mim. – Ele terminou a frase e piscou para mim, lançando um sorriso.
Joguei a colherinha em sua direção, fazendo ele se esquivar para o lado, dando uma risada alta.
– Agora é a sua vez. – acusou ele.
– Aquele dia na praia, as meninas fizeram um complô contra mim, falando que devíamos ficar juntos porque todo mundo basicamente já sabe que estamos... – Eu não queria usar a palavra “apaixonados”. – Gostando um do outro, e que só nós dois não estávamos vendo isso.
– Justo. Isso explica porque você estava tão estranha aquele dia.
– Ei! – tentei debater mas logo soltei uma risada. – Eu pirei, não queria admitir que estava sentindo algo por você. E na minha cabeça, eu até podia estar sentindo algo, mas você, com certeza não estava. Mas confesso que nesse dia você estava me encarando em vários momentos.
– Você estava gata pra caralho. – Essa revelação fez minhas bochechas esquentarem.
– Para com isso.
– É sério, não sei como não babei.
Tapei o rosto rindo e ouvi sua risada.
– Foi você que quis conversar! – Ele rebateu sozinho, provavelmente vendo a cara que eu fazia.
– Tá bom, e quanto à isso? – Apontei para nós dois. – O que é isso?
– Me diz você. – Ele finalizou a caneca, e largou as mãos sobre a mesa.
– Eu não sei o que é, Georgie. – Um sorrisinho brotou em seu rosto me ouvindo chamá-lo daquela maneira. – Mas nós estamos arriscando muita coisa aqui, então se não for algo minimamente sério, eu prefiro que a gente dê um passo para trás e realmente finja que nunca aconteceu.
– , você não tem noção do tempo que eu fiquei remoendo para saber se realmente te chamava para testar aquele gloss. Eu não fiz isso pra fingir que não aconteceu. – Seu tom era sério, sem um pingo de gracinha. – Até parece que eu iria conseguir esquecer algo assim!
Eu gostava da honestidade dele, do seu tom sério, e da tomada de decisão.
– Tudo bem, eu... Me desculpa, eu me assustei muito antes, minha cabeça estava uma bagunça.
– Relaxa, eu não fui a pessoa mais sensata no momento também.
Finalizei meu chá, balancei minha varinha e ambas foram para a pia e iniciaram o processo de se lavarem sozinhas.
Apoiei meus cotovelos na mesa, o encarando novamente.
– Você se importa se não contarmos pra ninguém ainda? – perguntei, com medo que ele achasse aquilo ruim.
George suspirou aliviado, soltando os ombros e parecendo derreter sobre a cadeira.
– Acho que a gente tem que entender o que isso é primeiro. – disse ele.
– Isso! Não tem porque ficar estressando as pessoas com algo que nem começou ainda. – dei de ombros, ele sorriu e se levantou vindo em minha direção com calma, agachou ao meu lado.
– Eu não sei o que é isso direito, mas eu gosto de você, . Não quero estragar nada, então, por favor, seja a bocuda que você sempre foi e me fala quando algo estiver errado. – eu conseguia ver as ramificações esverdeadas dos seus olhos, os fiozinhos de sobrancelha fora do padrão, o desenho perfeito dos lábios finos. Tudo unido em um conjunto que eu já conhecia tão bem e ao mesmo tempo nunca analisei com tanta destreza.
– Como se eu precisasse falar algo para você perceber que tem algo errado. – Girei os olhos para cima e sorri. Ele analisou minhas feições também e acompanhou meu sorriso com seus dentes bonitos.
– O jeitinho que você me humilha é sempre diferenciado. – brincou.
– Então, combinado? Vamos fingir que nada mudou por enquanto?
– Acho que tenho a ideia perfeita de como vamos selar esse acordo. – Suas mãos deslizaram por meu rosto, puxando minha cabeça para um beijo.
Flashback
A Toca – Meados de Junho de 1996
Ponto de vista:
– Ei, eu tive uma ideia para a loja de vocês! – falei me sentando na mesinha de centro, de frente para eles. George pegou um bloquinho que se acostumou a manter no bolso da calça para possíveis ideias que surgissem em um momento aleatório.
Os dois se aprumaram nos lugares, esperando eu falar.
– O que vocês acham de produtos protetores? Tipo chapéus que protegem de alguns feitiços simples, como um escudo mesmo, sabe? Agora que a guerra está declarada, as pessoas estão com medo... Vai vender como água.
George me olhou admirado, Fred me olhou orgulhoso.
– Brilhante.
– Chapéus, gorros, guarda-chuvas, capas... Talvez consigam vender até para o ministério, se for algo realmente confiável. – expliquei dando de ombro.
– Como você pensou nisso? – George perguntou, enquanto anotava tudo no bloquinho.
– Eu só pensei em como poderia sair daqui sem me preocupar tanto, vi Molly pela janela de manhã lançando seus feitiços protetores sobre o terreno e tive a ideia.
– Isso é bem interessante, . – Fred parecia realmente interessado e pensativo ao mesmo tempo. – Eu preciso de um minuto. Vem, George.
Ele se levantou depressa, como se uma epifania tivesse acontecido. Quando eles já tinham saído do quarto, ele voltou correndo e selou nossos lábios.
– Obrigada e desculpa.
Continuei meus estudos no quarto de Gina enquanto eles ficaram quase a tarde inteira pensando em protótipos e fazendo sei lá mais o que. Molly e Arthur me chamaram para ficar ali no verão e tenho a sensação de que eles não queriam que eu fosse embora. Certa noite eles me chamaram do quarto dos gêmeos e me explicaram a situação atual, é claro que eu já tinha noção da gravidade de tudo que estava acontecendo, porém aquela conversa realmente me deixou preocupada com minha avó.
– Eles não vão atrás de todos os familiares de todos os alunos de Hogwarts, mas você está em constante contato com Harry, querida. E conosco, confesso que gostaria que nossa fama fosse mais neutra nesse quesito, mas todos sabem que somos uma “família puro-sangue de traidores que ama trouxas”. – Sra. Weasley argumentou solidária.
– Não pretendemos te prender aqui, mas precisamos ter a noção de que é muito perigoso para você e a sua avó e ficaríamos muito mais tranquilos se você sempre estivesse sob nossos cuidados. – Sr. Weasley complementou.
– Você é da família, meu bem. – Suas bochechas sempre coradas me davam a sensação gostosa de que eu realmente era bem vinda ali em qualquer momento.
Depois dessa conversa, eu entrei oficialmente para a Ordem da Fênix. Molly não ficou satisfeita com isso, mas eu não podia simplesmente ficar ali sem ajudar em nada.
Depois do jantar, enquanto ajudávamos Molly a limpar tudo, Fred se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido:
– Dá uma olhada no Ron.
Guardei a pilha de pratos limpos no armário e disfarcei o olhar, com o canto dos olhos vi George passando por trás de Rony, que engolia um pedaço enorme de bolo de chocolate de uma só vez, e salpicou algo sobre sua cabeça. De repente, as orelhas de Rony começaram a ficar vermelhas, depois o pescoço e por último o rosto. Não era um vermelho normal, era um vermelho de alguém que segurou a respiração por três minutos inteiros, seu rosto se contorceu como se ele estivesse realmente se segurando para algo, como um espirro ou um bocejo e no segundo seguinte abriu a boca e soltou uma gargalhada que reverberou o ambiente inteiro. A risada era quase sobrenatural, alta, forte e contagiante, ele ria de perder o fôlego. Harry ria junto já entendendo o que aconteceu e era bem difícil segurar a risada naquele ponto, Ginny também ria do irmão.
O surto durou o que achei que seria alguns bons minutos, Rony foi perdendo a vermelhidão e sua risada foi se dissipando com calma, até apenas durar alguns risinhos fracos e ele finalmente recobrar a consciência de seus atos.
– Bloody hell. O que foi isso?! – perguntou exasperado e Fred fez uma reverência exagerada.
– É o nosso mais novo pó do riso, estará disponível para comprar na inauguração da nossa loja.
– Como vocês podem notar, ele é bem concentrado e o efeito é de apenas um minuto. É bom para quebrar o gelo e muito fácil de manusear. – George contribuiu para a propaganda, erguendo o frasco pequeno tampado por uma rolha.
– Achamos que nesses momentos difíceis, uma risada pudesse ajudar a alegrar o dia.
– Uma risada forçada não conta. – Rony defendeu-se fingindo-se de irritado, mas todos sabíamos que ele tinha gostado do produto.
– É forçada, com certeza, mas causa divertimento nos demais. E, qual é, dura um minuto! – George respondeu bagunçando os cabelos do irmão.
– Foi divertido meninos, acho que vai fazer sucesso. – falei por fim, sorrindo amigavelmente, vendo a guarda de Rony baixar. – Rony, você devia sorrir mais, faz bem pra pele, sabia?
– É, pode ser... – dessa vez, o vermelho que preencheu suas orelhas, era natural.
Naquela noite, Fred e George me chamaram para conferir todos os produtos que estariam na inauguração da loja, chamaram Harry também, já que ele era o maior patrocinador de tudo e o cara que havia dito que as pessoas precisavam sorrir um pouco mais.
Mostraram as ideias que haviam tido com a sugestão que dei anteriormente e, juntos, planejamos como seria a mudança para seu novo apartamento.
Tudo estava se encaminhando para algo novo e maravilhoso: eu estava matriculada em um curso preparatório de poções, Fred e George estavam animados com a inauguração, Harry e Ron estavam animados para o início das aulas, Gina me avisou que estava particularmente ansiosa com o novo ano e me admitiu que seu crush em Harry havia voltado com tudo nessas férias.
A vida era incrível.
A Toca – 25 de maio de 2002 – Casamento de Rony e Hermione.
Ponto de vista: George.
Todos os preparativos para o casamento de Rony e Hermione estavam devidamente prontos.
Tudo aconteceu com uma antecedência quase perfeita que eu diria que foi basicamente pela personalidade de Hermione e a sua persistência em manter tudo em ordem. Eu não a culpava, era o seu dia e tudo que ela sempre sonhou, tinha o direito de estar preocupada.
Eu estaria se o meu pretendente a marido fosse Ronald Weasley.
Arrumei minha gravata em frente ao espelho e passei a mão sobre o colete, ajeitando o lenço com a pontinha para fora do bolso do paletó.
Rony, Harry e Neville conversavam sobre algo que eu não prestava atenção quando Charlie abriu a porta.
– George? Pode vir aqui, fazendo o favor?
Franzi o cenho estranhando aquela pergunta, mas o acompanhei. Charlie me acompanhou pela escada e me enfiou em um quarto.
– O que foi?
– Eu preciso da sua ajuda com a mamãe. – Charlie estava nervoso, acho que nunca o tinha visto daquela maneira.
– O que eu ganho com isso? – perguntei cruzando os braços, fazendo-o girar os olhos nas órbitas.
– Ganha minha gratidão, agora cala a boca e escuta. – Tomou ar, se preparando. – Eu trouxe um acompanhante para o casamento.
– Acompanhante, Charlie? Se for ficar me tratando igual idiota eu vou sair daqui. – O fitei com as sobrancelhas arqueadas e ele bufou irritado.
– Eu trouxe um namorado para o casamento. – admitiu ele e eu sorri vitorioso. Eu já desconfiava disso desde o funeral da avó de , desde então Charlie estava estranho, mais quieto, mais cuidadoso com as palavras, menos expansivo e mais observador.
– Isso é incrível, irmão. E qual é o problema? – perguntei genuinamente curioso.
Falar sobre sexualidade na nossa família nunca foi algo que nós consideramos importante, assim como comunicar se nossos interesses amorosos eram nascidos trouxas, ou com a cor de pele diferente, nunca fomos ensinados que isso era ou seria um problema. Então ver Charlie namorando um homem não me surpreendeu ou me deixou apreensivo, assim como eu tinha a sensação de que ele também não parecia realmente preocupado com essa questão em especial.
– A mamãe. – Charlie disse como se fosse óbvio.
– O que tem ela? Você acha que ela vai... fazer algo?
– Eu acho que ela vai assustar o Markus.
Markus.
Tenho quase certeza absoluta de que esse era o primo de .
– Ele é trouxa?!
– É claro, George. É o primo da , achei que você fosse mais esperto.
Aquilo sim era motivo para um bafafá na família, nenhuma das outras pautas seriam realmente relevantes, nem mesmo o fato dele ser um trouxa, mas era motivo o suficiente para mamãe querer parar o casamento só para conseguir andar em volta deles feito um peru enfeitado e olhar de cara feia para cada pessoa que o olhasse com cara feia.
Eu estava feliz por Charlie, dava para ver que ele estava genuinamente feliz de finalmente ter encontrado alguém para aturar a sua esquisitice.
– Eu não estava preparado para essa informação, por mais que eu tivesse notado que vocês estavam de conversinha no funeral de Lucille, não achei que vocês fossem manter contato.
– É, eu também não.
– E como foi isso?
– Eu dei meu endereço à ele, mas não achei que realmente receberia uma carta. Demorou a chegar mas veio pelo correio. – Ele explicou ligeiro. – Isso não é relevante, o que é relevante é que você tem que me ajudar com a mãe.
– O que você quer que eu faça?
– Me ajuda a distrair ela, não deixe ela vir em cima de nós feito um urubu protetor.
Soltei uma risada.
– Ok, vou dar o meu melhor. Mas você vai ter que me apresentar ele, oficialmente. Como seu namorado.
– Tá bom, te apresento quando a estiver contigo, fica mais fácil de quebrar o gelo. – Ele disse dando tapinhas em meu ombro. – Falando nisso, você e a não estão juntos ainda?
Meu coração descompassou e pisquei várias vezes antes de responder.
– É... O que?
– Achei que já estariam junto nessa altura do campeonato, Markus acha que vocês namoram e eu não quis corrigir essa coisa estranha que vocês têm. É mais fácil deixar ele acreditar.
– Não. Não estamos juntos. – falei de maneira séria enquanto ele me analisava.
– Mas você bem que queria, hein? – Soltou uma risadinha infame e eu o empurrei para fora.
– Cala a boca, ou vou chamar a mamãe aqui agora.
– Qual é, G. Você olha pra ela como se ela fosse a única mulher do mundo inteiro. Eu nunca te vi assim com ninguém, nem com a Angelina.
– Não sabia que tínhamos vindo para cá pra falar sobre minha vida.
– Não viemos, mas agora que estamos, você bem que podia admitir... – Charlie ria enquanto eu o empurrava para fora.
– Admitir o que, cara? – Eu queria testar até onde ia a cara de pau dele.
– Que você sempre amou ela. – Ele disse sorrindo abertamente, passando pela porta e arrumando a gola da camisa como se eu a tivesse amassado, olhou para o lado e seu sorriso aumentou. – ! Caramba, cada vez que eu te vejo, você está mais linda.
Inclinei meu rosto para fora do quarto e senti meu coração parar por um instante, meu irmão não estava errado. Cada vez que eu via aquela mulher, mais linda ela estava.
Amarelo era definitivamente a sua cor.
O vestido era justo, o que acentuava suas curvas, e longo com uma bela fenda que dava para ver o marrom bronzeado de sua perna. O decote era redondo e acompanhava o formato dos seus peitos que pareciam ter sido perfeitamente medidos para ficar tão perfeitamente ajustados daquele jeito. Os cabelos estavam presos com algumas flores, talvez uma trança, eu não conseguia ver, mas vários fios escapavam em ondas na parte da frente.
A maquiagem em seu rosto era de tirar o fôlego, não sei explicar o que era o que e quais eram as cores usadas mas tudo nela fazia sentido. Tudo era perfeito e harmônico.
– Admite logo. – Charlie sussurrou para mim antes de ir abraçá-la.
Eles se cumprimentaram, os olhos de escapando para mim antes de ele a soltar, senti meu peito vibrar de ansiedade de tê-la em meus braços. Vai logo, Charlie.
Eles trocaram palavras que não prestei atenção, porque meus olhos corriam pelo corpo dela, subiam de volta para seu rosto, o sorriso incrível, depois descia para a fenda em sua perna e o subia para o pescoço com a correntinha de Fred. Tudo nela me atraía. Era difícil fingir que eu não a amava quando meu corpo tremia em êxtase só de vê-la por perto.
Charlie finalmente foi embora e, enquanto ele descia as escadas, olhei para os lados e para cima antes de puxá-la para dentro do quarto.
Minha boca voou em seu pescoço antes mesmo da porta se fechar, minhas mãos agarraram suas costas enquanto ela soltava uma risadinha que fez meu peito derreter.
– Você... está... – Fui distribuindo beijos por seu pescoço, subindo até chegar em sua boca. – Tão... Linda...
Nossos lábios se uniram e um beijo profundo se iniciou. As línguas se acariciando, suas mãos seguindo para os meus cabelos, guiando cada milímetro... como eu sentia falta daquilo. Queria que nunca mais saísse de perto de mim, queria poder acompanha-la em qualquer lugar, fazer qualquer coisa que ela pedisse, queria poder dizer a qualquer um que ela era minha.
– Você também. – Separou nossas bocas por um segundo e voltou a me beijar enquanto eu pressionava seu corpo contra a porta. Eu queria poder jogá-la na cama, subir minha mão pela fenda de seu vestido e fazer tudo o que queria fazer há meses, era difícil convence-la de fazer aquilo e era mais difícil ainda ter coragem de fazer. Era um muro que não estávamos preparados para derrubar, porém não posso mentir que não queria. era a mulher mais linda que eu já conheci, não era fácil fingir que não queria fazer coisas com ela, não quando eu sabia que ela também queria.
De qualquer modo eu nunca tentei forçar nada, nunca fui até onde eu sabia que ela permitia e sabia que ela também não queria ultrapassar essa barreira antes da hora.
Conversamos pouco desde a última vez, banalidades, notícias, novidades eram sempre bem vindas, mas quando o assunto era sentimento... Era mais fácil deixar como estava e trocar beijos e carícias até a próxima vez que tivéssemos chance.
– Eu estava com saudades. – Dessa vez foi ela quem desceu os beijos, fazendo com que eu não conseguisse me concentrar o suficiente para responde-la com palavras, então apenas um grunhido estranho de afirmação saiu por minha garganta.
Depois de alguns minutos de pegação intensa, sabíamos que teríamos que sair dali. deu um tapinha em meu nariz com sua varinha e depois fez o mesmo consigo, sua maquiagem voltou a ser o que era e seu cabelo voltou alguns fios para o lugar.
Os convidados chegavam e se acomodavam nas cadeiras embaixo da tenda que estava no jardim ao lado da casa. A família Weasley estava reunida, Bill e Fleur chegaram com minha sobrinha Victorie, Gina e Harry chegaram com o mais novo integrante da família James Sirius e Percy chegou com sua esposa Audrey que estava com uma barriguinha de grávida.
Minha família não brincava em serviço.
Charlie apresentou Markus à todos, foi um momento tenso que passou rápido quando nossos pais foram o abraçar com animação.
Minha mãe ainda lançou a pérola:
– Achei que tivesse algo de errado com meu menino, o mais bonito, ainda solteiro!
Aquilo gerou piadas, indignação, revoltas generalizadas e muitas bochechas vermelhas.
– Ele é meio chatinho, mas acho que consigo aturar! – Markus respondeu minha mãe de forma divertida e ali, ele percebeu que ganhou o coração de todos.
Charlie me olhava desesperado, com medo que mamãe fosse agarrar Markus em algum momento e levá-lo para algum canto escondido e enchê-lo de perguntas capciosas.
Eu e demos o nosso melhor em manter o clima agradável.
A cerimônia foi bonita, os padrinhos eram praticamente os mesmos do casamento de Harry e Ginny, então entrei com ao meu lado, todas as madrinhas estavam com o vestido igual, apenas mudando a cor. era, de longe, a mais bonita com seu amarelo contrastando com o tom quente de sua pele. Não fiz muito esforço para fingir não admira-la do outro lado do altar, meus olhos seguiam até ela de maneira automática. E cada vez que ela sorria em minha direção, quando me pegava a olhando, meu coração derretia mais um pouco.
Os votos de Hermione foram longos e detalhados, até certo ponto, bem emocionantes, já os votos de Ron foram esquisitos, particularmente curtos e estranhamente engraçados.
Eles eram um casal que eu gostava, gostava de como Hermione comandava meu irmão, mesmo quando fazia sem querer, gostava de como ele fazia tudo por ela, fazia tudo que ela pedia e fazia até mais do que ela esperava, creio que era a assinatura de todo Weasley: se juntar com um cônjuge mais forte do que você, alguém que você vai se ajoelhar e fazer tudo que aquela pessoa mandar. A única que não era assim era Ginny, mas como agora ela era uma Potter, dava pra dizer que a maldição foi quebrada, em sua parte.
– Você se lembra que no casamento do Harry e da Gina você achava que o Rony estava escondendo algo de você?! – perguntou, fazendo Hermione dar uma gargalhada alta. – O pobre estava literalmente planejando como pedir a sua mão!
– É verdade, coitadinho... – Hermione fez carinho na cabeça de Rony como se ele fosse um cachorrinho, e ele era o cachorrinho mais feliz do mundo.
– Mesmo quando estou fazendo o certo, eu saio como errado! – exclamou ele, fazendo todos em volta rirem.
– Psss. – Ouvi alguém chamar disfarçadamente, procurei o som e vi Angelina e Oliver em outra mesa, fazendo sinal para eu me aproximar.
Eles sabiam de tudo. Eram os únicos, não tinha como ir conversar com Angel sem dizer a ela tudo o que havia acontecido.
Fui até a mesa deles.
– E então?
– Por enquanto estamos na mesma.
Eles se entreolharam fingindo irritação.
– G, você sabe que isso não vai dar certo, né? – Angelina perguntou séria.
– Vocês precisam conversar. – Oliver adicionou.
– Porque? Tudo está ótimo!
– Tem certeza?
– É claro! Nunca nos demos tão bem.
– E você não sente falta de se dar bem com ela fora de lugares reclusos?
É claro que eu sentia, como já disse, eu queria ter em tempo integral em minha vida, mas nem tudo era do jeito que queríamos.
– Bom, sinto... Mas não precisamos apressar as coisas.
– Você já parou pra pensar que talvez ela esteja esperando uma iniciativa? – Oliver me perguntou e cada vez que ele abria a boca, minha vontade era de enfiar um canapé em sua goela.
– Eu só tenho medo, George, de que vocês se esqueçam de que estão apaixonados e deixem essa fagulha apagar sem nem ter começado, entende? – Angel explicou com calma, com a voz doce que usava quando conversava com alunos do primeiro ano.
Nossa fagulha não ia apagar, estava ali a tanto tempo que era impossível que isso acontecesse.
– Você não tem medo que ela encontre alguém? Alguém que esteja disposto a oficializar um relacionamento, alguém que queira mostrar para o mundo que eles estão juntos?
Aquilo apertava meu peito de forma dolorosa e eu ia matar Oliver Wood.
– Ela não... Nós decidimos isso juntos, foi inclusive ideia dela de que não contássemos a ninguém!
– Mas... Há quantos meses foi isso, George? Será que não está na hora de esclarecer as coisas?
Bufei passando a mão pelo cabelo.
Não era o tipo de intimação que eu queria ter naquele momento tão descontraído.
Que saco! Esses dois conseguiam entrar em minha mente com muita facilidade.
– Eu não... Com licença.
Me levantei e saí da tenda, aparatei no telhado da garagem, a tenda com a festa abafada tocava à minha direita e à esquerda, a horta de mamãe era palco para o coelho rechonchudo que vivia roendo suas verduras. Me deitei observando o céu azul misturado com rosa do crepúsculo que surgia junto com alguns pontinhos brilhantes de estrelas.
– Hey, Georgie.
Eu sabia que ela viria em algum momento. Aquele era o nosso lugar.
Ela se sentou ao meu lado e me encarou, com um sorriso delicado nos lábios.
– Algum problema, meu bem?
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo sua voz, voltando a encarar o céu.
– O que nós somos, ? Será que já temos a resposta pra isso?
– Eu gostaria de ter a resposta, mas acho que é mais complexo do que a gente imagina.
– Será mesmo? Será que não somos nós que estamos complicando uma equação simples?
Ergui meu troco e me sentei ao seu lado, meu coração deu um salto forte quando a frase escapuliu por minha boca sem alguma chance de filtro.
– E qual equação seria essa? – Seus olhos de chocolate me encararam com intensidade, eles estavam claros como avelãs naquele fim de tarde.
– Que eu te amo.
Percebi que seu peito parou de repente, e suas sobrancelhas se arquearam surpresas com a novidade que eu trouxe à tona sem aviso prévio.
– E não é amor de amigo , eu te amo como amigo desde os onze anos. Isso é diferente.
Era óbvio que eu não tinha me programado para aquilo, porém não era um sentimento de arrependimento que surgia em meu peito, era alívio por finalmente dizer aquilo em voz alta.
– Não vou fazer um discurso longo e profundo sobre o quanto eu te amo, porque você já sabe como eu me sinto e isso seria redundante e imensamente desnecessário para a minha autoestima. Mas eu te amo pra caralho, .
Sua mão apertou meu queixo, em seguida os dedos deslizaram por minha mandíbula e pararam próximos de minha orelha deficiente, ela fechou os olhos e uniu nossos lábios em um beijo lento e delicioso. Meu peito parecia querer rachar de tanta força que meu coração batia, o toque leve de sua mão fazia uma corrente elétrica passar por todo o meu sistema nervoso e o cheiro do seu perfume me abraçava.
Com toda paciência do mundo, ela separou nossas bocas, depositando selinhos em meus lábios que ainda formigavam quando quebrou o silêncio.
– Eu também te amo, Georgie. – Ela sorriu tocando sua testa na minha e seu nariz no meu. – Caramba, eu te amo demais.
Aquilo me fez sorrir, me fez sorrir feito um cachorrinho.
Nos beijamos mais uma vez antes de ouvir uma voz lá embaixo anunciando que logo a noiva jogaria o buquê.
– Você acha que está na hora de admitirmos para todos? Você está preparado para isso?
– Não sei se estou preparado, mas acho que está na hora, . Não quero mais te ver só escondido. Eu finjo que não me importo, mas quero estar com você em todos os momentos, sejam eles escondidos ou não.
– É, você está certo. – respondeu ela, e antes que eu fizesse a piada infame sobre ela estar doente, ela levantou o dedo em minha direção. – Não ouse fazer a piadinha.
Dei uma risada e ela me acompanhou.
– Vamos só... Esperar até amanhã, o que acha? Hoje é o dia da Mione e do Rony, eu odiaria roubar os holofotes ou estragar alguma coisa nesse dia tão especial.
– Claro, claro, você está certa. Não que sejamos duas celebridades, mas a mamãe sabe ser bem escandalosa quando quer.
– Me dói admitir isso, mas é verdade.
– Então... Amanhã seremos... Namorados?
– Não sei, isso é um pedido de namoro? Está bem mixuruca se quer saber.
Soltei mais uma risada. Por Merlim, eu amava quando ela me fazia rir assim sem pretensão.
– Lucille . – falei de maneira dramática, me ajoelhando em sua frente e rezando para que ninguém nos visse lá embaixo. – Você aceita namorar comigo?
ria abertamente, as bochechas levemente coradas e os olhos ligeiramente marejados.
– Sim, George Weasley. Eu aceito.
Então era esse o sentimento de amar e se sentir amado na mesma proporção.
O sentimento de ser visto de verdade, de saber que foi escolhido e que não foi confundido.
O sentimento de saber que quando e se eu precisar, essa mulher na minha frente vai fazer de tudo para me ajudar. Seja a ajuda para me apoiar ou me confrontar.
O sentimento de saber que ela me ama pelo que eu sou e pelo que eu fui, sem que eu precise tirar ou colocar algo para agradá-la.
E, por fim, o sentimento de saber que ela me ama e ama tudo que está atrelado à mim, que ela nunca vai reclamar de minha família, de meus irmãos ou do meu estilo de vida, que ela vai entender se um dia eu acordar sentindo a falta de meu melhor amigo e vai saber exatamente o que fazer para me alegrar. E eu farei o mesmo.
Eu amava de um jeito que nunca amei ninguém, e me assustava o fato de ela me conhecia tão bem assim.
Descemos de lá e fomos até a noiva para que pudesse se juntar às meninas solteiras para pegar o buquê.
Não prestei atenção em nada, as pessoas falavam comigo mas a única coisa que se passava em minha mente era que aquela mulher incrível que estava de braços erguidos e com um sorriso que me deixava tonto no rosto, havia aceitado namorar comigo.
Aquilo não parecia mais tão errado.
Uma fagulha de culpa ainda rondava em meu peito, uma fagulha que dizia ela é do Fred. Porém, meu peito também dizia que era dona do próprio destino e das próprias escolhas, e ela não era de absolutamente ninguém e coitado do cara que algum dia quisesse pensar diferente disso... Já vi aquela mulher ofender, esmurrar e gritar com pessoas, derrubá-las apenas com o dom da palavra e com olhares sagazes que viam tudo e todos.
Então, não era meu peito que diria se era minha ou não, ela era minha porque decidiu ser e eu a amava por isso.
Luna Lovegood pegou o buquê.
O baile começou, primeiro com a valsa dos noivos, depois os padrinhos, madrinhas e pais dos noivos entraram também.
Me aproveitei do momento para me aproximar de do jeito que eu queria, sentindo seu cheiro de baunilha espalhar pelo meu rosto, minha mão espalmada em suas costas e segurando a outra com firmeza e se houvesse um prêmio para casal com mais dentes a mostra, nós provavelmente venceríamos. Estávamos radiantes, felizes, satisfeitos e tudo o que eu pensava era como, pelas barbas de Merlin, aquela mulher tinha dado bola para mim. O gêmeo que sobrou e tinha uma orelha a menos. Eu era muito sortudo.
Depois de algumas músicas animadas que estavam fazendo todos no recinto dançarem, a banda começou a tocar uma música que fez jogar os braços em meu pescoço e deitar a cabeça em meu peito.
Hold up, hold on (Resista, aguente)
Don't be scared (Não fique assustado)
You'll never change what's been and gone (Você nunca mudará o que aconteceu e passou)
May your smile shine on (Que seu sorriso brilhe)
Don't be scared (Não fique assustado)
Your destiny may keep you warm (Seu destino talvez te mantenha aquecido)
'Cause all of the stars (Porque todas as estrelas)
Are fading away (Estão desaparecendo)
Just try not to worry (Apenas tente não se preocupar)
You'll see them someday (Você as verá algum dia)
Take what you need (Pegue o que você precisa)
And be on your way (E siga seu caminho)
And stop crying your heart out (E pare de chorar tanto)
Era lindo e triste ao mesmo tempo, tinha tantos significados que até achei meio estranho uma música como aquela estar tocando em um casamento, mas apenas aceitei o calor dela em meus braços. Acho que as músicas bonitas e tristes faziam parte de nós, era a nossa marca registrada de sofrimento e amor unidos como um só. A história da nossa vida.
Porque nós nunca iriamos parar de ter aquela tristeza intrínseca dentro de nós, aquilo nunca iria sumir, mas juntos o caminho era menos torturante, era um caminho que teria propósito e esperança, era o caminho que estávamos destinados a seguir desde o começo e só não vimos porque a nuvem de tristeza ainda rondava nossas mentes como um dementador alado.
E antes mesmo da música terminar, Hermione veio até nós.
– , será que você consegue me ajudar a ir no banheiro? Eu ia pedir para a Gina, mas ela está ocupada com o bebê e...
– É claro, Mione, deixa de ser boba.
enganchou o braço no dela e elas seguiram para dentro de casa.
– Resolveu assumir? – Ouvi a voz de Charlie atrás de mim e, infelizmente, não pude deixar de dar um sorriso.
– Acho que sim. – Ergui os ombros sem saber realmente como lidar com aquilo.
– Até que enfim! – Charlie apertou meus ombros me chacoalhando para frente e para trás, animado.
– É, na verdade é algo que estamos conversando há meses. Só estávamos meio inseguros, entende?
– Caramba, achei que não fosse viver para ver esse dia! – Ele ergueu as mãos para o céu.
– Eu também achei que não veria você trazendo alguém para casa, então estamos quites. – Pisquei para ele que abriu mais um sorriso.
– Verdade.
– Só não fala nada pra ninguém, vamos contar amanhã.
– É claro, deixa comigo.
– George? Charlie? – Era a voz do meu pai, logo atrás de mim, alta e firme, séria demais. Aquilo gelou minha alma, será que ele havia ouvido algo?
– Sim?
– Precisamos de vocês lá dentro. Agora. – Seu tom não ajudou em nada, mas se ele precisava de Charlie também, não era nada relacionado ao meu novo relacionamento com .
– O que houve?! – perguntei aflito.
– Hermione e sumiram.
Flashback.
31 de julho de 1997 - A batalha dos Sete Potter
Ponto de vista:
— Por favor, Fleur. Você vai se casar em algumas semanas!
— Eu nom casar sin noive!
— Ele vai ficar bem, eu te prometo.
Eu não era a maior fã de Fleur, assim como o resto dos Weasley’s, mas eu me preocupava com ela, sabia que ela estava planejando aquele casamento há muito tempo e que o estresse estava a consumindo, porque além de lidar com todos os problemas do casamento, ela ainda tinha que lidar com o preconceito gratuito de Molly e Gina. Que era um motivo pelo qual, se fosse comigo, eu já teria me despedaçado.
Ela engolia tudo, cada chacota, cada comentário que fingia não ouvir ou não entender, e eu sabia que Bill estava com ela a cada segundo mas às vezes era difícil aguentar aquela barra sozinha, sem apoio feminino.
Eu sabia que ela ficaria mil vezes mais preocupada se eu fosse no seu lugar na missão dos Sete Potter, porém seriam algumas horas de agonia no conforto da Toca ao invés de estar sobrevoando a cidade fugindo de ataques, e ainda se preocupando com seu noivo ao seu lado.
Mas eu não estava fazendo aquilo só por ela, Fred e George estariam lá, Harry, Rony e Hermione. Como, em nome de Deus, eu ficaria sozinha esperando feito uma donzela em perigo?
Outro detalhe importante era que eu desconfiava que Fleur estivesse grávida.
— Prromessas vazies nom me convencerram!
— Fleur.
Seus belos olhos se ergueram em minha direção, marejados de desespero, seu nariz estava vermelho e a boca tremia.
— Nós duas sabemos que você não pode ir, não com essa suspeita.
— Eu nom querr parrecer frraca!
— Você não é fraca, você é a mais forte de todas, você sabe disso.
Ela deu um suspiro alto, que fez com que as lágrimas escorressem por sua bochecha.
— Obrrigade.
— Em qual medo seu bicho-papão se transformou?! — Lupin perguntou-me exasperado quando o trestálio aterrissou nos terrenos da Toca e descemos dele. Ele não apontava a varinha em meu rosto, mas aparentemente éramos os últimos a chegar, levando em consideração que Olho-tonto estava morto.
Quando Lupin foi nosso professor, no quinto ano, ele sabia que a aula de Bicho-papão estava fora de nossa grade de aulas, mas achou divertido levar um para a sala de aula, apenas para ver como iríamos lidar com aquilo.
Eu o chamei em um canto e disse que não queria participar, e quando ele me indagou o porquê, eu apenas disse que não queria pesar o clima divertido que a aula estava, porém se aquilo fosse motivo de nota, eu lhe informei que podia ir em sua sala depois para enfrentar o bicho-papão sozinha. Ele concordou acho que mais por curiosidade do que falta de motivos para me dar uma nota.
— Minha avó, Fred, George, Angelina, Lee, Arthur e Molly mortos, empilhados em uma montanha de cadáveres em decomposição.
— Desculpe, eu precisava perguntar, fomos traídos.
— Olho-tonto está morto.
— Você não pode tirar do pescoço em nenhuma hipótese, seu panaca. — Ouvi Fred falando com George quando entrei no quarto onde ele descansava, a camisa ainda com resquícios de sangue.
Fred veio até mim, me abraçando com vontade antes de erguer meu rosto levando a mão em meu queixo.
— Você está bem?
Concordei com a cabeça e ele sorriu, depositando um beijo em minha testa.
— Vou lá ouvir as fofocas, deixar vocês mais a vontade... — disse ele se afastando, porém virou de volta quando chegou na porta. — , tem que falar berrando, ele está surdo feito uma mula.
George jogou uma almofada em sua direção e Fred escapou dando uma risada.
— Georgie! — Meus joelhos vacilaram e me acomodei ao seu lado. Incerta, tonta, confusa, completamente despreparada para aquilo. — Como você está, meu amor?
— Meu amor?? Eu precisei quase morrer para você me tratar bem, ?!
Aquilo me fez soltar uma risada de alívio.
— Eu precisava me certificar que era você mesmo. — brinquei, vendo-o contorcer o rosto em uma careta divertida.
— Por um momento, achei que tinha batido a cabeça.
— Não, não, são os anos andando com você e o idiota do seu irmão que tem o mesmo efeito.
George sorriu, mesmo que aquele movimento lhe trouxesse um pouquinho de desconforto.
— E então, como você está?
— Estou bem, um pouco surdo, um pouco preocupado, mas bem.
— Que bom então, vou te deixar descansar, tá bem? — Acariciei seu rosto por um segundo, e ele fechou os olhos.
— E você está bem? — perguntou ele, voltando os olhos para mim.
— Um pouco decepcionada que agora as pessoas vão conseguir distinguir você do Fred com mais facilidade, isso era um lance só meu, mas estou bem sim. – brinquei e ele sorriu, as feições cansadas.
— Você ainda acha que eu sou o gêmeo mais bonito?
— Sem sombra de dúvidas, G.
Fim do flashback.
Continua...
Encontrou algum erro de betagem na história? Me mande um e-mail ou entre em contato com o CAA.
Nota da autora: Não me matem, por favor. Tô tão desesperada quanto vocês!