Três meses se passaram em que e estavam em um relacionamento casual escondido de Chan. Ela estava apaixonada e tinha certeza daquilo no dia em que pela primeira vez, quase foram pegos. Mas, demonstrar os sentimentos ou apenas ser possível que outras pessoas o lessem, era algo que não criava expectativa. Ele era uma incógnita, uma máquina sexual e só. Embora muitas vezes ele demonstrasse cuidado e preocupação por ela, do jeito dele... Nem que ela fosse um guru, teria como a saber lê-lo. Ela não era tão boa em ler as pessoas como ele, e até sabia que era o tipo que precisava de palavras e não gestos, para compreender algumas coisas. Ele não iria dar à ela palavras, porque para não se envolver mais do que já vinham fazendo era melhor. Ela tinha um sonho bonito, um desejo de vida comum, e sem muita confusão. Não queria contato com o mundo do pai, mas o mundo do pai dela era também o mundo de . Então, embora tão parecidos, eram também diferentes em suas perspectivas. Qual a razão de nutrir algum tio de esperança, então? Eles não deveriam ficar juntos, nada parecia se encaixar muito para aquilo. E o único dia em que quase foi pego, dentro de todos os anos de trabalho para o Chan, foi o dia também em que ele percebeu que era hora de dar um basta.
Como toda vez, estava estacionada próxima ao lugar do delito e já dirigia tranquilo ao encontro dela. Mas, havia algo que estava deixando a mulher tão preocupada que não notou que atrás de si, há alguns metros, havia um carro a observando e seguindo. Em sua mente ela só conseguia pensar:
“De quantas maneiras possíveis você ainda vai foder mais a sua vida, ?”. A pior coisa que poderia lhe acontecer naquele momento havia acontecido, e ela ainda estava apaixonada. Era uma tola mesmo! Quando o carro de surgiu ao lado dela, ele baixou o vidro percebendo a mulher aérea e irritado esbravejou:
— Porra , tá dormindo!?
— Que susto, ! Que merda!
— Vamos logo! Vê se acorda! – ele bronqueou e deu partida devagar para não fazer barulho.
bateu no volante puta com o modo como ele a flagrou, desatenta. Deu partida logo atrás dele, e então alguns metros à frente percebeu o carro atrás de si, e emparelhou com Tae, já assustada. Gritou para ele através do vidro:
— Estamos sendo seguidos!
— E você não percebeu isso antes? – esbravejou novamente.
Agora ele estava realmente revoltado por falhar na única coisa que ela tinha como função ali: despistar. Não tiveram tempo de continuar discutindo por que os tiros foram ouvidos. Na tentativa de protegê-la, ele gritou:
— Acelera!
obedeceu e ganhou à dianteira enquanto atrás, o carro de mantinha a velocidade para dar tempo de fugir. Ela olhou pelo retrovisor o carro sendo alvejado de tiros por dois homens não identificados atrás. Não era a polícia. Certamente, uma gangue ou algum rival do seu pai.
Não poderia ver levando os tiros e não fazer nada. Ela entrou numa rua paralela e retornou na contramão. Entre um prédio e outro, estavam as duas ruas, e havia um beco por onde poderia surpreender o carro inimigo e assim fez. Quando ela embicou no cruzamento, o carro de Tae passou e ela acelerou com tudo na tentativa de bloquear o outro carro com o seu, mas melhor do que ela previu, o seu carro bateu bem no meio do
Hyundai que os perseguia o encurralando na calçada. bateu a cabeça no volante e cortou um pouco sobre o cílio. Observou os caras desmaiados no outro carro, e sem esperar para saber se viveram ou morreram, ela deu ré e tomou a posição em direção a . Assim que viu o que havia feito, parou o carro, mas não podia sair dali. Observava aflito ao retrovisor, até que ela dirigiu até ele novamente emparelhando.
— Tudo bem? – ela gritou do seu carro observando se encontrava algum sinal de ferimento nele.
— Vamos embora! – não respondeu se estava bem, só conseguia se sentir bravo pelo sangue que escorria do rosto de .
Chegaram ao galpão e foram recebidos pelos seguranças do desmanche, que assim que perceberam que algo havia dado errado mandaram chamar Chan na sua residência que ficava acima da oficina. Quando Chan surgiu observou o rosto de e iria bater em , mas os capangas carregando no colo deixaram os outros dois perceberem que ele havia levado um tiro.
— ! – correu até ele desesperada.
— Sai daqui. – ele ordenou: — Anda logo, ! Sai!
Ela ficou assustada parada ao ver os caras de Chan levarem para o galpão.
— Subam com ele! – Chan ordenou aos homens indicando para levar o rapaz à sua casa.
E então ele notou os olhos da filha, marejados e culpados.
— Foi minha culpa! Eu não prestei atenção se estavam seguindo a gente, pai! – ela murmurou chorando.
Chan se aproximou da filha pegando em seu rosto para observar o ferimento.
— Está machucada em mais algum lugar?
— Não! – ela chorava tirando as mãos cuidadosas dele de seu rosto: — Eu
tô legal, eu tive que bater no carro deles pai! me mandou fugir e se deixou pra trás sendo alvejado!
— Era a polícia? – Chan perguntou estranhando a situação.
— Não! Acho que era uma gangue... Sei lá.
— Tem uns caras novos no pedaço... Não achei que fossem se meter comigo, eu avisei a eles! – Chan vociferou e olhou para a filha que ainda estava andando de um lado pro outro com as mãos à cabeça desesperada — ... Vocês dois, o que está acontecendo?
— Ah pai, fala sério! Vamos subir! Ele
tá com a porra de uma bala no corpo!
Ela falou brava fugindo do pai e indo para casa. Chan seguiu-a e quando ela entrou na casa, estava deitado no sofá da sala e um dos caras da equipe arrancava a bala de sua perna.
— Porra o que você tá fazendo? – ela gritou tentando ir para cima do homem, mas um dos capangas a segurou.
— Ele sabe o que esta fazendo, . – ouviu a voz do seu pai — Não podemos levar o para o hospital ou a polícia se mete no meio. O Xian é médico.
— O que? – ela o olhou surpresa e ainda brava: — É pré-requisito para você que seus bandidos tenham faculdade é?
gritou e saiu da sala em direção ao seu quarto. Ela bateu a porta, foi direto para seu banheiro e tomou banho. Em seguida ela mesma fez seu curativo. Quando saiu do quarto, não havia movimentação de ninguém e nem os resmungos de dor de podiam ser ouvidos. Abriu a porta do quarto do pai e estava vazio. Retornando à sala, viu deitado com uma mão à testa, e sem graça e preocupada ela se aproximou. Puxou uma cadeira para se sentar perto dele:
— Ei... Você
tá legal? – ela perguntou e já sabia que ele iria dar uma resposta mal educada pela pergunta idiota.
Mas só a olhou de cima a baixo à procura de ferimentos nela, e acenou silencioso que estava legal.
— Está ferida em algum lugar?
— Não. Foi só um corte na testa quando bati neles.
— Que porra estava pensando ao fazer aquilo, ? – começou a brigar — Eu mandei você fugir!
— Eu não ia te deixar pra trás sendo alvejado, ! Se eu tivesse fugido você poderia estar morto agora! – ela gritou e ele desviou o olhar do dela, e praguejou baixinho. — Me desculpe... Foi minha culpa e...
— Esquece. – ele a interrompeu e então a olhou curioso: — Desculpe gritar com você lá embaixo.
— Tá...
Os dois ficaram em silêncio se olhando, então perguntou observando a expressão de quem segurava o choro no rosto de :
— Porque estava tão distraída hoje? Tá rolando alguma coisa?
— Não é nada. Eu só... Não prestei atenção. – ela desconversou.
— Seu pai vai te deixar ir agora, pode ficar tranquila.
— Eu não sei se eu quero ir... – confessou.
— Como é que é? – se esforçou para se sentar a olhando incrédulo e irritado por imaginar as razões que ela teria para ficar: — Você vai abandonar seu sonho na oportunidade perfeita por qual razão, posso saber?
— Eu não sei se eu quero ir, só isso! – mentiu ela se mostrando instável.
— ...
A voz de deixava explícito que ele iria dizer algo que ela não queria ouvir. Ela imaginou mesmo que ele fugiria no primeiro momento que ela demonstrasse querer escolhê-lo, mas no fundo de seu coração esperava ser correspondida de alguma forma.
— Hoje mais cedo o seu pai me perguntou sobre nós.
— E o que você disse?
— Eu neguei, é claro! Viram a gente num carro, te reconheceram e bateram para ele, mas Chan acreditou em mim.
— Ele me perguntou há pouco também.
— Você negou não é?
— Eu deveria? – ela perguntou sentindo a garganta embargar e começando a ficar brava por demonstrar “zero” sensibilidade ao que eles vinham vivendo juntos.
— Quer saber o que ele me disse? – perguntou ao notar que ela se abalava e não esperou resposta: — Que apesar de eu ser o garoto de confiança dele aqui, ele não tem a menor vontade de me chamar de genro, .
— Tá, mas e você? – ela perguntou brava e impaciente: — Você não sente nada? Nem a porra de um carinho, por mim!?
— ... – ponderou entre ser duro demais ou duro o suficiente: — Eu sabia que não daria certo nós trabalhando juntos, mas imaginei que você seria mais racional ... Eu tenho sim um carinho por você, nos tornamos amigos ou algo do tipo, mas é só isso .
E a lágrima que ela segurava não se conteve em rolar. Ela movimentou a cabeça numa afirmativa silenciosa e saiu dali em direção à saída da casa. Iria comunicar ao seu pai que estava caindo fora, mas nem foi preciso, ele apareceu pela varanda e a observou chorando. Olhou para a filha, de cima a baixo, preocupado, mas se manteve silencioso, sabia que ela iria dizer algo.
— Eu não vou ficar mais aqui.
— Eu não pretendia mesmo deixar você continuar com isso. Mesmo que você quisesse ficar, com o você não trabalha mais. E nem com ninguém, na verdade. Se quiser tocar a sua oficina, eu te dou todo apoio, mas se eu estiver certo sobre o que eu penso... Não vai ser prudente por enquanto.
— E o que você anda pensando pai? – perguntou sarcástica.
— Aquele filho da puta estava transando com você, não é? E agora você está apaixonada... E ele não, porque como eu sabia: ele não é homem pra você.
— Então saiba que a culpa disso é sua por nos colocar juntos, antes de tentar repreendê-lo de alguma forma.
— Não vou fazer nada com ele, eu gosto do como um filho. Ele é meu garoto de confiança aqui.
— Só não gosta dele como genro... – ela soltou em tom de voz acusador para o pai.
Preferia acreditar que não a queria pelo o que Chan dissera a ele, e não por falta de algum sentimento.
Uma semana depois, ainda estava afastado das atividades que não poderia fazer, e estava partindo. Havia se despedido do pai em casa, e entrou ao escritório da oficina, onde esboçava novos desenhos para futuros
customers.
— Ei... – ela pronunciou e ele a encarou sorrindo e indicou a ela que entrasse — Eu
tô indo nessa...
— Se um dia você quiser... – ele falou com sua expressão de pouca emoção: — Eu adoraria visitar o seu vinhedo e rir de você vestida de camponesa pisando em uvas.
riu. Queria se manter firme e sem nenhum tipo de abalo por aquela despedida, mas foi inevitável não rir.
— É claro... Vai ser bem vindo, . – ela sorriu e olhou para os projetos dele na mesa: — Estão muito bonitos... Quem sabe um dia eu não encomende um?
— Eu posso te fazer uma miniatura para se lembrar de mim e do momento de sua vida sem lei, se quiser. – ele brincou.
— Eu não vou precisar de uma miniatura de carro para me lembrar de você, .
Havia algo oculto naquela frase. sentiu pelo tom de voz dela, que agia como se nunca fosse de fato se despedir de . Ela sorriu e sem dar um aperto de mão, um beijo ou até mesmo um abraço, acenou para ele e deu as costas saindo do escritório arrastando a mala.
— Boa sorte, . – ele desejou sincero se escorando no encosto de sua cadeira de trabalho a observando sorrir e partir.
Era definitivo, ele nunca mais veria a única mulher por quem se percebeu apaixonado ao levar aquele tiro. A única que o fez, pela primeira vez na vida, não pensar só nele. Ele abriu mão de ser um motivo para ela ficar, para que vivesse sua vida de sonhos e vinhos.