Chegando para fechar sua noite com chave de ouro e avisar que amanhã é dia de sextar, vamos para mais uma coluna de hoje!
O COMEÇO É SEMPRE A PIOR PARTE
Como perder o medo de começar
“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, em posse de grande fortuna, deve estar procurando uma esposa.”¹
Se você, assim como eu, também é um(a) leitor(a) voraz – ou nem tão voraz assim, mas ainda assim, um(a) leitor(a) -, deve ter reconhecido a frase acima. Quando um livro tem um começo marcante, ele é ligeiramente mais conhecido no meio literário e, consequentemente, você não precisa ter lido a história para saber exatamente a qual obra literária o trecho citado se refere.
E, estrelando com Jane Austin hoje, o tema da nossa coluna nessa noite quente de quinta feira é exatamente essa: como saber começar a pior parte de uma história e, melhor ainda, como perder o medo de começar? A colunista que vos fala hoje é só mais uma, dentre todas as escritoras desse mundo, que sofre do mesmo mal: eu simplesmente travo na hora de começar uma nova história! Esse mal me aflige tanto que eu já cheguei a desistir de escrever e segui em frente.
Mas, como nem tudo é sobre autossabotagem, uma hora a gente precisa bater a perna no chão e tomar uma atitude contra tudo aquilo que vem te impedindo de dar vida a personagens e universos incríveis que vivem nessa cabecinha de fanfiqueira. Uma hora a história precisa sair, o que implica exatamente em saber que, uma hora você vai ter que saber como começar!
O primeiro passo importante para iniciar essa jornada de chutar bem longe o medo de começar, é reconhecer que nem sempre um bom começo precisa ser marcante. Jane Austin foi brilhante criando o começo de Orgulho e Preconceito, porque, até quem não leu, reconhece que o trecho bem no começo dessa coluna, é dessa obra atemporal de amor e ódio. Mas isso não significa que todo começo de livro ou fanfic precisa seguir a mesma fórmula. Há diversos livros por aí que tem um começo bem simples e monótono, mas que não significa que a história é chata ou não vale a pena. Quer ver um exemplo?
“Quando acordo, o outro lado da cama está frio.”²
Para quem tem uma memória de Dory como eu, as chances de acertar a frase acima são bem pequenas, mas não impossíveis, porque eu sinceramente não sou capaz de duvidar da memória de um fã. Essa frase foi retirada do livro Jogos Vorazes e foi exatamente o que deu início a milhares de tributos por aí. Ela não é tão marcante quanto Orgulho e Preconceito, mas isso não impediu a trilogia de ser um estouro pelo mundo todo, não foi? Vamos seguir um outro exemplo:
“Enquanto estou aqui sentada, com um pé em cada lado do parapeito, observando as ruas de Boston a doze andares abaixo, pensar em suicídio é inevitável.”³
Esse não é um começo exatamente marcante, do tipo que você consegue lembrar de primeira, mas é um começo que atiça a curiosidade de quem está começando a ler. Há milhares de livros e todos eles vão ter tipos de começos diferentes, um melhor que o outro, ou um pior que o outro. Alguns denunciam a essência da história, enquanto outros, não. Para criar um bom começo, primeiro você precisa decidir exatamente como ele combina com o resto da história que você vai criar. Uma vez iniciada, todo o resto se desenrola, como a água fluindo em um rio.
Começar não é um bicho de sete cabeças, mas reconheço que pode ser desgastante. Uma coisa que eu costumo fazer e que me ajuda um pouco nessa jornada frustrante, é escrever diversas frases de início diferentes, ler em voz alta e identificar se alguma combina ou flui melhor na narração. Lembrando que o tempo da narração – primeira ou terceira pessoa – também interfere nesse processo, ok?
Caso nada disso funcione para você, folhear algumas páginas e ler as primeiras frases pode ajudar. Ainda, há uma ferramenta no google chamada prompts, que basicamente são comandos de escritas que te desafiam a escrever exatamente o que ele está propondo. Ele pode te dar um cenário, um plot ou uma frase pronta para você começar. Espero que essa coluna tenha te ajudado de alguma forma, mas se não, tudo bem. O caminho para perder o medo de começar pode ser um longoo processo!
Um beijo e até mais!
¹ Trecho de Orgulho e Preconceito, escrita por Jane Austin
² Trecho de Jogos Vorazes, de Suzanne Collins
³ Trecho de É Assim que Acaba, de Colleen Hoover
– Aurora C.
