A coluna de hoje foi escrita por uma convidada: lile é estudante de cinema e se familiarizou bastante com roteiro e planejamento em seu curso, por isso, ela traz dicas importantíssimas para a construção da sua história. Dá só uma lida! 😉
Como construir sua ideia em três etapas essenciais
Como escritora, pessoalmente, não há nada pior do que bloqueio criativo. É ainda mais terrível quando sou obrigada a parar um desenvolvimento porque não lembro mais onde ele quer chegar. Sendo assim, por mais empolgada que eu esteja para colocar as palavras em ação, tiro um tempo para planejar a construção da obra; felizmente, é um esforço que funciona. A boa notícia é que não é exatamente obrigatório seguir todas as etapas fielmente para ter um bom resultado — a não ser que seja um roteiro profissional de ficção, aí o buraco é mais embaixo. As sugestões a seguir seguem um padrão (menos a etapa 3), no entanto, você pode escolher a ordem mais mais confortável e até incorporar métodos próprios ao longo do caminho.
Etapa 1: O arco narrativo
Aqui é onde você vai organizar a base da sua ideia, simples assim. As palavras-chave são: apresentação (quem, situação), objetivo, dificuldade e resolução. É importante que você preencha todos esses campos antes de criar conexões entre eles, assim fica mais fácil de reverter o bloqueio criativo com os pontos principais definidos.
Exemplo do livro Jogador Número 1: Wade Watts (quem) vive em um mundo distópico (situação) e quer vencer a grande competição da realidade virtual OASIS (objetivo), lançada após a morte do criador. Em seu caminho, além de milhões de jogadores, há uma empresa determinada a herdar o império do bilionário falecido (antagonismo/dificuldade). Se quiser chegar até o final, Wade vai precisar usar todas as suas habilidades e confiar em suas melhores alianças no jogo (resolução).
Etapa 2: Protagonista(s)
Muitas pessoas se apegam a narrativas graças ao carinho que constroem pelos personagens. É recomendado que você capriche na construção, pelo menos, dos protagonistas. Pela internet há muitas perguntas que podem te ajudar nessa imaginação; não é necessário se aprofundar em absolutamente todas as características, destaque aquilo que terá importância na história. Aspectos físicos, sociais e psicológicos são camadas que facilitam o comportamento da pessoa naquele universo. Sabe quando vemos um vídeo e pensamos que “tal personagem faria isso”? Esse é o objetivo.
[1. Físico]: gênero, altura, peso, cor da pele, dos olhos, maneira de andar, sentar, falar, postura diante dos outros, etc. [2. Social]: classe social, profissão, vida familiar, casamento, relação com os filhos e pais, orientação política, etc. [3. Psicológico]: moral, ética, projeto de vida, conduta, sonhos, vida sexual, desejos, medos mais íntimos, traumas, etc.
Etapa 3: Divisão de eventos por capítulo/cena
Agora que a ideia e os personagens queridos (ou não) foram estabelecidos, vamos facilitar o desenvolvimento da narrativa. Nos estudos de cinema, costumam dizer que se o público não se interessar pelo seu filme nos primeiros quinze minutos, já era. Independente de ser longfic, shortfic ou capítulo único, tenha em mente que você precisa conquistar a pessoa que está lendo nas primeiras páginas. A apresentação (quem, situação) e o objetivo devem ser atraentes o suficiente para que a sensação de “Nossa, e agora?” se intensifique dali para frente. Finalize cada evento de forma que a empatia e a empolgação andem de mãos dadas até a última linha. Agora voltando à parte técnica — e ao final da coluna —, compartilho um método pessoal de divisão visando a importância do cliffhanger.
Para manter o controle da média de exposição e extensão, divido o capítulo 1 em sete cenas curtas (no caso de ter muitos personagens ou protagonistas em situações diferentes). Contudo, se as cenas 1.1 e 1.4 se tornarem mais longas, a divisão reduz para cinco cenas. Ao longo do texto, quando os eventos ficam mais intensos, é possível que a quantidade de cenas diminua; neste caso, se mantenha firme à média de exposição e extensão do capítulo. É importante que você mostre o que quer e saiba onde parar; mesmo que escreva capítulo único, cada parágrafo conta. Dessa maneira você pode dar destaque aos eventos sem deixar a leitura cansativa.
Espero que essas técnicas tragam um pouco de luz à sua produtividade. Ninguém merece ter que guardar uma obra de arte por um obstáculo que pode ser superado — com tempo e paciência, claro. Boa escrita!
– lile
